Um dia eu tava com minha troxa
De poca ropa pindurada
A viola calada
Vinha eu como um caboclo sem rumo
Sem prumo de sabê
Por onde eu caminhava
Pois naquele tempo
A minha vida num valia nada
Nada dava ceto
Foi quando olhei assustado pro chão
E ali perto vi a marca de dois pé
Como se arguem tivesse me acumpanhando estrada fora
Num jeito invisível
Eu quis inté corrê amendrontado
Mais uma vóiz tão doce me falô no ouvido:
-Num se assuste caboblo sô eu que tô aqui do teu lado
Eu quem? Eu mais assustado perguntei
Quem é que tá falando assim comigo?
E a vóiz ainda mais doce respondeu:
-Eu so o teu único amigo, e so como vancê ê filho de Deus
Também andei pro mundo, ele falo
-E fui como vancê ê um pobre vagabundo sem tê ninguém qui intendesse o meu amô
Também chorei, como vancê as veiz chora suzinho,
e já andei por esta estrada chei de espinho e na poera pise
As minhas dô, fui tropero, boiadero, capinadô, rocero, andei também como um esmolér
Já fui chamado de loco e mintiroso, já me tiveram na conta de
Um home perigoso, mais nunca em minha vida eu pirdi a fé, pro que eu tinha arguém como vancê tem eu agora pra acumpanhá estrada a fóra.
Um arguem invisível pra me dá o braço nas horas triste de cansaço, e é em nome desse arguem que eu agora tô aqui pra lhe acumpanhá.
Eu tô na tua vida caboclo tô na tua estrada, e memo ela cumprida, sufrida, dilurida, sem nunca lhe cobra nada.
Hei de enxugá suas ferida pra tudo canto que ocê andá
Falô isso e se calô e desde este dia os seus pé continuo no meu caminho
Eu num tava mais suzinho
As marca tava sempre lá
Os siná dos pé dele sempre pra me acumpanhá
Um dia a vida meiorô, tudo mudô, casei com uma cabocla linda
Que só vendo tivemo um filinho que era uma boniteza, e no meu rancho pobre agora era riqueza de alegria e de amô.
Mais como tudo na vida é passagero, minha muié tadinha, um dia caiu no disispero
Meu fio adoentô e em poco tempo aquelas duas criatura que era toda minha fartura, foi-se embora num sei pra onde, morreram, se acabô.
Chorei como quem chora de verdade, suzinho e aí me alembrei que de uns tempo pra cá no meu caminho a marca dos pé dele tinha desaparecido.
Eu tava tão abandonado, perdido como nunca tive antes
eu tava tão suzinho destante dele que dei inté prá eu me arrevortá
Cadê vancê? Eu pieguntei vancê jurô de nunca me largá, vancê jurô me acumpanhá pra todo sempre, e óia agora como me dexô ficá.
Nas hora que eu mais pricisei de vancê as marca do teus pá num apareceu e eu só vejo agora no chão molhado de tristeza as marca dos meu foi aí que depois de muito tempo a vóiz tão doce vortô pra me falá:
-Levamnta caboclo, aonde tá a tua fé?
A vancê pode me xingá pode até me escumungá, mais si percurá as marca dos meus pé vai encontrá, a sua é que num tá
Ele disse:
-Pode me xingá que nunca me amolo pois na horas que vancê mais pricisô caboclo, eu tava cum vancê no colo.