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quarta-feira, 11 de abril de 2018

O sem rumo

Poema "O sem rumo" - autor desconhecido, adaptado por Rolando Boldrin. E belamente interpretado pelo Sr Brasil também!




Um dia eu tava com minha troxa
De poca ropa pindurada
A viola calada
Vinha eu como um caboclo sem rumo
Sem prumo de sabê
Por onde eu caminhava
Pois naquele tempo
A minha vida num valia nada
Nada dava ceto
Foi quando olhei assustado pro chão
E ali perto vi a marca de dois pé
Como se arguem tivesse me acumpanhando estrada fora
Num jeito invisível
Eu quis inté corrê amendrontado
Mais uma vóiz tão doce me falô no ouvido:
-Num se assuste caboblo sô eu que tô aqui do teu lado
Eu quem? Eu mais assustado perguntei
Quem é que tá falando assim comigo?
E a vóiz ainda mais doce respondeu:
-Eu so o teu único amigo, e so como vancê ê filho de Deus
Também andei pro mundo, ele falo
-E fui como vancê ê um pobre vagabundo sem tê ninguém qui intendesse o meu amô
Também chorei, como vancê as veiz chora suzinho,
e já andei por esta estrada chei de espinho e na poera pise
As minhas dô, fui tropero, boiadero, capinadô, rocero, andei também como um esmolér
Já fui chamado de loco e mintiroso, já me tiveram na conta de
Um home perigoso, mais nunca em minha vida eu pirdi a fé, pro que eu tinha arguém como vancê tem eu agora pra acumpanhá estrada a fóra.
Um arguem invisível pra me dá o braço nas horas triste de cansaço, e é em nome desse arguem que eu agora tô aqui pra lhe acumpanhá.
Eu tô na tua vida caboclo tô na tua estrada, e memo ela cumprida, sufrida, dilurida, sem nunca lhe cobra nada.
Hei de enxugá suas ferida pra tudo canto que ocê andá
Falô isso e se calô e desde este dia os seus pé continuo no meu caminho
Eu num tava mais suzinho
As marca tava sempre lá
Os siná dos pé dele sempre pra me acumpanhá
Um dia a vida meiorô, tudo mudô, casei com uma cabocla linda
Que só vendo tivemo um filinho que era uma boniteza, e no meu rancho pobre agora era riqueza de alegria e de amô.
Mais como tudo na vida é passagero, minha muié tadinha, um dia caiu no disispero
Meu fio adoentô e em poco tempo aquelas duas criatura que era toda minha fartura, foi-se embora num sei pra onde, morreram, se acabô.
Chorei como quem chora de verdade, suzinho e aí me alembrei que de uns tempo pra cá no meu caminho a marca dos pé dele tinha desaparecido.
Eu tava tão abandonado, perdido como nunca tive antes
eu tava tão suzinho destante dele que dei inté prá eu me arrevortá
Cadê vancê? Eu pieguntei vancê jurô de nunca me largá, vancê jurô me acumpanhá pra todo sempre, e óia agora como me dexô ficá.
Nas hora que eu mais pricisei de vancê as marca do teus pá num apareceu e eu só vejo agora no chão molhado de tristeza as marca dos meu foi aí que depois de muito tempo a vóiz tão doce vortô pra me falá:
-Levamnta caboclo, aonde tá a tua fé?
A vancê pode me xingá pode até me escumungá, mais si percurá as marca dos meus pé vai encontrá, a sua é que num tá
Ele disse:
-Pode me xingá que nunca me amolo pois na horas que vancê mais pricisô caboclo, eu tava cum vancê no colo.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Gratidão

Sou grato.

Aprendi isso ao longo dos últimos anos, e parece que ultimamente ando consolidando isso em minha vida. Agradeço cada dia que acordo. Agradeço por ter conseguido dormir.

Agradeço quando acordo indolor. Se ao longo do dia a dor vier, agradeço pelas horas sem dor.

Agradeço quando a dor vem sozinha, mas já não maldigo quando vem acompanhada. É apenas minha nova forma de viver e tenho que me habituar. Estou aprendendo a isso: me habituar com o que é agradável ou não. Me habituar com a realidade tem sido uma das formas de não enlouquecer.

Agradeço por ter que ir trabalhar, mesmo que alguns dias tenha que me esforçar para isso. Agradeço por chegar no trabalho, mesmo que torcendo para que a hora passe e possa que voltar para casa. Agradeço por voltar para casa, por chegar em casa, por rever quem amo.

Agradeço por ter comida na mesa: por ter o que comer, pelo que posso comer, mesmo tendo tantas coisas boas que não posso. Já não me chateio tanto com isso. Agradeço quando como e fico bem. Quando não fico, tento identificar onde foi o erro, algo muito difícil. Agradeço mesmo quando não sei qual foi o erro... Acontece e devo seguir adiante.

Agradeço por ter onde deitar todas as noites, sob um teto, com muito mais luxo que tantos que vejo no caminho casa-trabalho-casa. Agradeço (e muito) quando o sono vem e durmo, pois, em geral é o único momento em que não penso em mais nada, não sinto mais nada.

Agradeço por estar vivo, antes de agradecer por viver. Estar vivo é uma necessidade, viver um detalhe posterior.

Agradeço por sorrir muito mais que chorar. Agradeço pelas alegrias serem mais frequentes que as tristezas.

Agradeço pelas pessoas que cruzam meu caminho: pelas que apenas passam, mesmo quando eu gostaria que ficassem; pelas que ficam, mesmo quando desejo que estejam apenas de passagem. Agradeço, pois sou um abençoado pelas pessoas que Deus pôs a meu lado, as que zelam por mim, as que me ensinam com bons e maus exemplos, as que me forçam a ser melhor do que sou, do que penso ser.

Aprendi a agradecer... Mas ainda tenho muito a aprender, pois sou humano e imperfeito. Muito imperfeito...