Translate

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Você já amou muito um lugar?

 


“Um conselho: se você amou muito um lugar, não faça a besteira de ir visita-lo. Porque você vai visitar pensando que vai encontrar o tempo, mas o tempo não está mais lá. É melhor você ficar com a imagem da sua cabeça.” Rubem Alves






Quem nunca cometeu tal erro? Quem nunca fez tal coisa? Eu fi-lo e sei que são sábias palavras. 

E do alto de todo meu apreço pela rotina, e por repetições, me é duro dizer que é a pura verdade. Porque no fundo você não amou o lugar. Você amou como se sentiu naquele lugar, naquele tempo, naquela ocasião. Se voltar, nada mais será o mesmo. O tempo é outro, o momento, até você não é mais a mesma pessoa. 

Você volta e espera que se sinta da mesma maneira, mas isso não acontece. O que antes era uma grata surpresa, agora é uma espécie de monotonia, onde você percebe defeitos e problemas que não vira antes, mas possivelmente já existiam. A sensação do desbravamento se desfaz e em algum momento você vai pensar que "da outra vez, foi melhor". E foi, tanto que você "amou", tanto que ficou tentado a voltar e acabou sucumbindo a tentação.

Não vá, deixe na memória. Procure novos caminhos, novas direções. Pode ser que você dê a sorte de ter uma experiência ainda melhor a somar nas lembranças de bons lugares.

Sim, pode ser que retornando a um "lugar amado" você tenha uma boa experiência, talvez a conjunção de fatores te propicie isso, mas é um acaso, uma sorte nem sempre apurada. Se teve essa sorte, volte ao início e não faça a besteira de visitá-lo... A sorte acaba, mas as boas lembranças são eternas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Foste feliz?

 A bela música que cá coloquei na última semana traz um questionamento interessante: no final do embate (interno) entre o tempo (sempre implacável) e o amor, sendo de fato o fim da nossa vida nesta existência, Deus de seu lugar perguntará: foste feliz?

É algo realmente complexo, tenho certeza que se fosse meu momento, não saberia responder de prontidão, e se o fizesse de bate pronto não seria deveras sincero. Talvez minha resposta fosse: o que é a felicidade, meu Senhor? O que é ser feliz?

Vi durante minha vida, por inúmeras vezes, pessoas que aparentavam feliz, demostravam serem felizes em sorrisos, fotos, palavras, vídeos. Faziam questão de mostrar ao mundo pelas redes sociais uma felicidade que me parecia ser irreal. Algumas, mesmo pessoalmente, me pareciam felizes como nas histórias infantis. Me pareciam personagens de si mesmos.

Não questiono a capacidade de serem felizes, de encontrar a felicidade de alguma forma, mesmo diante de tantas coisas que eu via e vivia ao meu redor. Questiono os personagens, questiono a imagem, os rótulos e a constância de tal felicidade aparente. Pareciam felizes e pareciam ter todos os rótulos socialmente aceitos como "ser felizes".

Conheci pessoas que pareciam ter tudo que era preciso para estarem sempre felizes, mas não aparentavam estar. Vi pessoas que aparentavam estar felizes, mas viviam tomando remédios que me deixavam na dúvida se era uma felicidade real ou química.

Vi tantos com tão pouco,  que não apenas pareciam, mas transmitiam felicidade; outros abastados de motivos e eram realmente infelizes.

Diante de tudo isso, pergunto o que é ser feliz? 

Aprendi que a felicidade não está nas telas, nas fotos, nas imagens ou personagens que criamos para viver. A felicidade está dentro de nós, e mesmo assim é custoso encontrá-la, por vezes está tão fundo que só com muito trabalho a encontramos. A felicidade está no desprendimento. E isso aprendi com muitos erros.

Sim, puro desprendimento de imagens, rótulos e valores vazios. Um ponto em que você não se importa se algo vai aparentar inadequado ou tolo para os outros contanto que seja o que te faz feliz. Desprendimento a ponto de você renunciar a algo que desejaria para ver alguém feliz e ficar feliz de verdade com isso. Ter a empatia de ficar feliz por ver alguém bem, muitas vezes ver alguém seguir um caminho que você gostaria para si mesmo, mas não pode por algum motivo. E ficar feliz por isso. Abandonar invejas, rancores, ser sincero consigo e com os outros. Afastar-se das toxidades, por mais difícil que seja. 

Ser feliz não é um simples ser. É um aprendizado, um caminho de vida, um longo caminho. A felicidade plena só se alcançará realmente no último suspiro de vida, até lá é apenas felicidade em construção.

Após meu último suspiro, quando Deus me perguntar: "Foste feliz?", espero poder responder afirmativamente. Espero ter tempo de vida suficiente para poder responder um sim bem sincero.