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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Morte do rouxinol dourado

Não sei ao certo quando ele nasceu. Sempre que saía o via ali, no alto daquele galho cantarolando feliz. A princípio não identificara direito que pássaro era, nem tempo tinha para isso tão corrida era minha manhãs.

Em meu retorno, cheguei algumas vezes a procurá-lo, mas nunca o achava no fim do dia. Mas ao amanhecer ali estava ele, com suas penas douradas a cantarolar sua melodia. Nem sempre conseguia ouvi-lo tamanho barulho da rua, mas via que ele cantava mesmo assim. Procurei a respeito e descobri que era um rouxinol de penas douradas, raro naquele ambiente. Deveria ter algum ninho por perto.

E assim ele passou a fazer parte de minha rotina: todas as manhãs ao acordar, ia até a janela e ficava a observá-lo ao longe por alguns minutos. Ao sair de casa, dava uma olhada para árvore e o via em meio ao ofuscante sol. E seguia o meu dia, muitas vezes enquanto estava no ônibus ficava imaginando se um dia conseguiria ouvir seu canto.

Havia dias que amanheciam chuvosos e mesmo assim ele estava no topo da árvore, com toda sua bela "penagem" encharcada, mas sem sequer se importar, estava ali com seu imponente cantar.

Em meio ao barulho dos carros, sob o sol quente ou chuva torrencial, todas as manhãs ele estava ali cantando e isso me motivava a não desistir, não me deixar vencer pela preguiça ou problemas e continuar meu caminho.

Não sei quanto tempo se passou, talvez semanas ou meses... Um dia acordei e não o vi mais. E o mesmo se repetiu nas semanas que seguiram. Pode ser que ele tenha encontrado outra árvore longe do alcance de meus olhos, mas dentro de mim eu senti que não era bem isso. Seu tempo tinha acabado.

Talvez por causa dessa sensação, misto de tristeza e gratidão pela inspiração que ele me dera, um dia desses pensei que o vira, voando longe, e pela primeira vez escutei seu canto, que para meus ouvidos parecia uma bela canção de despedida.

Voe amigo pássaro, voe para onde seu canto é preciso, mesmo que nunca seja ouvido, você nunca deixa de cantar. Mesmo depois que seu tempo acabe.




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