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quarta-feira, 30 de março de 2016

Interpretação: Os Cegos do Castelo

Os Cegos do Castelo é uma composição de Nando Reis, ainda da época de Titãs, que tem um significado muito grande. Em entrevista, Nando Reis afirmou que a compôs na época em que estava largando seu vício em drogas, o qual atrapalhou até sua carreira no Titãs.




Pra mim, Os Cegos do Castelo é uma música que transmite, acima de tudo, esperança. Tem algo sobre perspectivas de vida nela, sobre seguir em frente. E seguir em frente implica necessariamente em superar algo que atrapalhava o caminho. Mas não é dessa pedra no caminho que a música fala, é do processo de superá-la. E talvez seja por isso que a letra comporte tantas interpretações.

O cenário que, imediatamente, cria-se em minha cabeça quando ouço Os Cegos do Castelo é de alguém que deixa para trás uma fase de sua vida, de erros e dores, em busca de dias bem melhores. Talvez isso esteja relacionado com o uso de drogas, talvez não. Mas isso nem é algo tão importante para o sentindo geral que a canção busca passar.

Eu não quero mais mentir
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço
E vou a pé até encontrar
Um caminho, o lugar
Pro que eu sou


Talvez essa estrofe seja a que mais explicite a questão do vício. Os espinhos seriam analogias para as drogas. Muitas vezes o consumo de drogas ilícitas, como muito ocorre com o álcool, é mais uma forma de escape do que qualquer outra coisa. Mesmo quem nunca consumiu drogas, pode identificar-se com essa fuga da realidade, todos somos tentados a escapar em algum momento.

Escapar do mundo real e do inferno que se imagina que ele é. E agora, já não enxerga mais a razão de sua fuga, não quer mais viver mentirar, se ferir sem motivo com coisas que parecem boas e só trazem dor. Então se despede da "cegueira" desse mundo irreal que no início parece uma vida de rei, mas depois só traz dores. E vai, caminha para reencontrar-se, acorda para a vida, para o que é.


Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou


Dormir, desligar-se do mundo a seu redor, mesmo acordado. Deprimido com a vida que leva, esperando apenas a morte, e em certas vezes pensando em apressá-la. Não quer mais dormir, quer aproveitar a vida, acordado, de olhos bem abertos, sentindo tudo, vivendo tudo. Nada mais de pensamentos suicidas. Aos poucos recuperando sua fé, recuperando sua esperança e deixando de lado aquele destino azarado que o esperava.

E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim
Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar, e de você e de mim


Não quer mais a solidão que tinha. Está pronto para recomeçar, dar um sentido e um futuro bom para seus dias. Quer achar e ser achado, cuidar e ser cuidado. Sente que com alguém especial será capaz de ser mais e melhor.

Dedico essa música a minha amada, que me "achou" e "permitiu-se ser achada" para que pudéssemos cuidar um do outro, deixando as tristezas para trás, e ser mais e melhores para nós mesmos. Amo-te!

domingo, 27 de março de 2016

Páscoa

Páscoa é uma data especial. Mesmo não sendo igualmente celebrada, tem uma importância histórica e religiosa maior que Natal e outras festas, afinal nascer todos nascemos, mas ressuscitar somente Deus.

Para os judeus, a lembrança a aliança com Deus, que o libertou da escravidão no Egito e que ao longo das eras os acompanhou em suas conquistas, sempre que mantiveram a fé nEle. Para os cristãos, celebra-se a ressurreição do próprio Deus feito homem, Jesus Cristo.

Passamos pelo chamado Tríduo Pascal: sexta-feira da Paixão e morte de Cristo, sábado da ‘espera junto ao túmulo’, e o domingo de Páscoa. Gostaria de fazer um convite especial a cada um, inclusive a quem não tem religião, ou segue uma linha religiosa diferente: Esteja onde estiverem, viajando, aproveitando o longo feriado da maneira que for, reservem alguns minutos, para pensar a respeito do significado da Páscoa, de tudo que essa importante data nos traz.

Cristo (Salvador, Deus, ou profeta, não importa no que crês) pregou a possibilidade de uma vida melhor para o povo. Não guerreou, não cometeu nenhum crime, apenas quis o melhor não apenas para quem o seguia, mas para todos sem exceção. Fazer o povo acreditar em sua própria capacidade, fez os poderosos da época temerem, e por isso o mataram com a pior morte da época: a morte em cruz. Ele sabia que isso aconteceria, mas não desistiu do que era certo, daquilo que era sua missão, e similar aos sacrifícios que povo na antiguidade fazia, entregou-se para perdão dos pecados da humanidade.

Quantas vezes hoje em dia isso acontece? Pessoas que não temem defender o que é o certo, não temem querer o bem das pessoas, mesmo que sem recompensa alguma, ou pior sendo ridicularizadas, e até mesmo mortas por querer o bem aos demais? Mesmo assim não desistem. Por quê? Por que existe a “ressurreição”, aquele bem ‘plantado’ dará frutos, mesmo que demore mais do que 3 dias.

Permita “morrer” tudo aquilo que te faz mal a você e às pessoas a seu redor. Permita-se ressurgir para uma vida melhor onde cada pessoa a seu redor é importante. Não é fácil, mas é preciso. Se cada um fizer sua parte, teremos um mundo bem melhor para todos. Mesmo que essa “semente” demore para dar frutos, valerá a pena. Faça as pazes com quem estás brigado, agradeça e peça perdão. Leve uma vida mais leve para teu espírito. Com certeza, sua vida será bem melhor.

Uma Feliz Páscoa, de muita paz. E uma vida muito mais feliz a partir de agora e para todo sempre.






“Tenho andado a teu lado, junto a ti permanecido, Eu te levo em meus braços, pois sou teu melhor amigo.
  Ninguém te ama como Eu. Olhe para cruz, foi por ti, porque te amo”

                                                                                                                                                Jesus Cristo

quarta-feira, 23 de março de 2016

Tríduo Pascal - Hora de reflexão e oração

A palavra tríduo na prática devocional católica sugere a ideia de preparação. Às vezes nos preparamos para a festa de um santo com três dias de oração em sua honra, ou pedimos uma graça especial mediante um tríduo de preces de intercessão.

O tríduo pascal se considerava como três dias de preparação para a festa de Páscoa; compreendia a quinta-feira, a sexta-feira e o sábado da Semana Santa. Era um tríduo da paixão.

No novo calendário e nas normas litúrgicas para a Semana Santa, o enfoque é diferente. O tríduo se apresenta não como um tempo de preparação, mas sim como uma só coisa com a Páscoa. É um tríduo da paixão e ressurreição, que abrange a totalidade do mistério pascal. Assim se expressa no calendário:

Cristo redimiu ao gênero humano e deu perfeita glória a Deus principalmente através de seu mistério pascal: morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida. O tríduo pascal da paixão e ressurreição de Cristo é, portanto, a culminação de todo o ano litúrgico, logo estabelece a duração exata do tríduo.

O tríduo começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor na quinta-feira, alcança seu cume na Vigília Pascal e se fecha com as vésperas do Domingo de Páscoa.

Esta unificação da celebração pascal é mais acorde com o espírito do Novo Testamento e com a tradição cristã primitiva. O mesmo Cristo, quando aludia a sua paixão e morte, nunca as dissociava de sua ressurreição. No evangelho da quarta-feira da segunda semana de quaresma (Mt 20,17-28) fala delas em conjunto: "O condenarão à morte e o entregarão aos gentis para que d'Ele façam escarnio, o açoitem e o crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará".

É significativo que os pais da Igreja, tanto Santo Ambrosio como Santo Agostinho, concebam o tríduo pascal como um todo que inclui o sofrimento do Jesus e também sua glorificação. O bispo de Milão, em um dos seus escritos, refere-se aos três Santos dias (triduum illud sacrum) como aos três dias nos quais sofreu, esteve no túmulo e ressuscitou, os três dias aos que se referiu quando disse: "Destruam este templo e em três dias o reedificará". Santo Agostinho, em uma de suas cartas, refere-se a eles como "os três sacratíssimos dias da crucificação, sepultura e ressurreição de Cristo".

Esses três dias, que começam com a missa vespertina da quinta-feira santa e concluem com a oração de vésperas do domingo de páscoa, formam uma unidade, e como tal devem ser considerados. Por conseguinte, a páscoa cristã consiste essencialmente em uma celebração de três dias, que compreende as partes sombrias e as facetas brilhantes do mistério salvífico de Cristo. As diferentes fases do mistério pascal se estendem ao longo dos três dias como em um tríptico: cada um dos três quadros ilustra uma parte da cena; juntos formam um tudo. Cada quadro é em si completo, mas deve ser visto em relação com os outros dois.

Interessa saber que tanto na sexta-feira como na sábado santo, oficialmente, não formam parte da quaresma. Segundo o novo calendário, a quaresma começa na quarta-feira de cinza e conclui na quinta-feira santa, excluindo a missa do jantar do Senhor 1. na sexta-feira e na sábado da semana Santa não são os últimos dois dias de quaresma, mas sim os primeiros dois dias do "sagrado tríduo".

Pensamentos para o tríduo.

A unidade do mistério pascal tem algo importante que nos ensinar. Diz-nos que a dor não somente é seguida pela alegria, senão que já  contém em si. Jesus expressou isto de diferentes maneiras. Por exemplo, na última ceia disse a seus apóstolos: "Se entristecerão, mas sua tristeza se trocará em alegria" (Jo 16,20). Parece como se a dor fosse um dos ingredientes imprescindíveis para forjar a alegria. A metáfora da mulher com dores de parto o expressa maravilhosamente. Sua dor, efetivamente, engendra alegria, a alegria "de que ao mundo lhe nasceu um homem".

Outras imagens vão à memória. Todo o ciclo da natureza fala de vida que sai da morte: "Se o grão de trigo, que cai na terra, não morre, fica sozinho; mas se morrer, produz muito fruto" (Jo 12,24).

A ressurreição é nossa páscoa; é um passo da morte à vida, da escuridão à luz, do jejum à festa. O Senhor disse: "Você, pelo contrário, quando jejuar, unja-se a cabeça e se lave a cara" (MT 6,17). O jejum é o começo da festa.

O sofrimento não é bom em si mesmo; portanto, não devemos buscá-lo como tal. A postura cristã referente a ele é positiva e realista. Na vida de Cristo, e sobre tudo na sua cruz, vemos seu valor redentor. O crucifixo não deve reduzir-se a uma dolorosa lembrança do muito que Jesus sofreu por nós. É um objeto no que podemos nos glorificar porque está transfigurado pela glória da ressurreição.

Nossas vidas estão entretecidas de gozo e de dor. Fugir da dor e as penas a toda custa e procurar gozo e prazer por si mesmos são atitudes erradas. O caminho cristão é o caminho iluminado pelos ensinos e exemplos do Jesus. É o caminho da cruz, que é também o da ressurreição; é esquecimento de si, é perder-se por Cristo, é vida que brota da morte. O mistério pascal que celebramos nos dias do sagrado tríduo é a pauta e o programa que devemos seguir em nossas vidas.

Fonte:http://www.acidigital.com/fiestas/pascoa/triduo.htm

quarta-feira, 16 de março de 2016

Semana Santa

Próximo domingo é Domingo de Ramos. Neste dia celebramos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, uma imagem que pode parecer um pouco contrastante: o povo o recebe com festa, e dias depois, ouve-se uma multidão gritando que crucifiquem-no e libertem o assassino Barrabás.

O que pensar numa situação dessas? O que podemos refletir? Talvez quem leia a história superficialmente considere o povo volúvel ou extremamente manipulável, o que não seria de todo uma mentira (assim como se falássemos o mesmo do povo atual). Porém gostaria de convidá-los a uma reflexão um pouco mais profunda da história, ates de falarmos da importância desse dia no calendário litúrgico.

Jesus Cristo conhecia seu destino quando voltou a Jerusalém, tinha certeza que morreria, mas confiou na sua missão, confiou que teria que passar por isso. Por outro lado, Cristo não era o único que sabia de sua iminente morte, fora alertado antes de ir do clima que encontraria, e o perigo que correria se isso fizesse.

O povo já o via como um Salvador, mas não da forma que Ele era. A maioria o enxergava mais como um revolucionário que livraria Jerusalém do poderio romano, algo que em parte agradava a todos, inclusive aos "sacerdotes" e escribas que funcionavam como um poder local. Porém para esses não agradava nem um pouco a ideia de que o povo aclamasse Cristo como um salvador e possível novo rei de Israel. Sair do poderio romano seria um bom negócio contando que eles que compunham a elite ficassem no poder. Só que viram que isso não aconteceria, pois Jesus inflamava as multidões, e aqueles que até então eram simples vassalos que obedeciam sem pensar, estavam ficando cada vez mais auto-confiantes e se a situação continuasse, com ou sem Cristo, poderiam se rebelar por conta própria e com cada vez mais força. Já havia alguns movimentos de revolta, inclusive Barrabás era líder de um deles, e se mais e mais pessoas acreditassem em si, tais movimentos poderiam tomar dimensões incontroláveis para a elite que, mesmo com o poder romano acima, mandava naquela região.

Os evangelhos nos contam que os próprios apóstolos acreditavam numa revolta armada, tanto que um deles, Judas Iscariotes, vendo que isso nunca aconteceria, entregou por algumas moedas (e por insatisfação com a situação) Cristo aos soldados dos sacerdotes. Para o império romano nada do que ali estava acontecendo importava muito: seu exército tinha poderio suficiente para aniquilar toda aquela região se preciso fosse. Mesmo assim, Pilatos, governador e representante do império na região, demostrou certa simpatia por Cristo. Alguns livros não canônicos atribuem tal simpatia ao fato da esposa de Pilatos ser simpatizante das ideias pregadas por Jesus. Por outro lado, o Pilatos não enxergava ameaça alguma naquele que lhe entregavam e pediam a crucifixão. No fim para ele pouco importava, poderia negar a crucifixão de Cristo e mandar um destacamento para conter os desgostosos. Mas esses eram a elite, os "sábios" que dali tomavam conta; o imperador e seu governo tinha mais com que se preocupar. Mal ou bem a elite local não questiona o poder de Roma nem suas ordens. Pilatos lavou as mãos e entregou para que fizessem o que quisessem. Eles que se divertissem e os soldados que quisessem também. Em palavras atuais: que se danem, não to nem aí.

Nesse domingo celebramos o término de uma fase de espera, e o início de uma semana de reflexão, cujo ápice se dará no tríduo pascal com a Instituição da Eucarística, a morte em cruz e a Ressurreição de Cristo, já no Domingo de Páscoa. Será uma semana em que temos que deixar para trás as tentações, os erros e entrarmos triunfantes para uma vida nova. Não será indolor, assim como Cristo teve de morrer na Cruz para ressuscitar em seu poder e Glória, nós também temos que deixar morrer em nós o que de mal ainda há em nossos corações e nossas vidas. Temos que aprender a perdoar, não por palavras e mas de coração a quem nos fez mal. E principalmente perdoar a nós mesmos, deixar os pesos das dúvidas, dos erros, do pecado, de tudo que nos faz mal fisico e espiritualmente.

Vamos entrar nessa Semana Santa de de alma limpa e coração aberto para que possamos junto a cristo, ressuscitar para uma vida melhor.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Este Pranto








Em meio a Quaresma, hoje gostaria de escrever um pouco sobre essa bela música e a história por trás dela. Ouvi essa história na última quinta-feira, na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Rua da Alfandega, no Centro do Rio de Janeiro. Quem contou foi o diácono Melquisedeque, que toda quinta-feira celebra a Adoração ao Santíssimo naquela igreja.

Waldeci (autor da música¹) sempre foi um rapaz participante das atividades da igreja, tendo sido batizado, crismado, feito sacramento da comunhão.

Com o tempo cresceu e começou a ficar seduzido pelo que o mundo oferecia, através de "amigos" nem tão amigos assim. Começou a deixar de lado não apenas suas participações na igreja, como também sua própria fé. Entregou-se ao mundo, começou a consumir drogas, álcool, procurar sexo fácil com prostitutas e festas onde tudo era permitido.

Acabou contraindo uma doença terminal, e nesses momento, aqueles "amigos" percebendo que ele não tinha nada mais a contribuir, o deixaram de lado. Sentindo-se sozinho, e próximo da morte, lembrou-se da vida que tinha antes de "cair no mundo". Quis se reaproximar da vida que havia deixado, nem que fosse para morrer em paz com Deus.

Conversando com o padre, disse que havia composto uma canção, pois sentia-se exatamente como o filho da paródia do filho pródigo: havia deixado a segurança do que lhe fazia bem, pelo desconhecido do mundo de facilidades, em busca da felicidade que nunca encontrara. Disse ao padre que o considerava ali a própria presença de Cristo, e gostaria de confessar-se, com os versos de sua composição, e no fim falaria de seus pecados:

Muito alegre eu te pedi o que era meu,
partir, um sonho tão normal
Dissipei meus bens e o coração também,
no fim meu mundo era irreal

Entregar-se ao mundo que lhe dizem ser bom, um sonho tão normal de ser feliz. Deixar para trás, tudo que tinha, acreditando que poderia ser feliz. Uma felicidade inexistente, um mundo irreal, pois longe de Deus não ha felicidade real.

Confiei no Teu amor e voltei
Sim, aqui é meu lugar
Eu gastei Teus bens, oh Pai,
E te dou este pranto em minhas mãos.

Mesmo no momento de tristeza, mesmo no momento em que todos o abandonaram, todos aqueles que ele confiara, para ir em busca desse sonho irreal... Mesmo nesse momento ele lembrou de quem nunca o abandona. Precisou cair, sofrer para valorizar e entender que ali é seu lugar, e apesar de ter esbanjado e abandonado toda graça , é recebido de volta.

Mil amigos conheci, disseram adeus
Caiu a solidão em mim
Um patrão cruel levou-me a refletir:
Meu pai não trata um servo assim

"Amigos", os falsos amigos que apenas estão interessados no que possa oferecer. Dividir a conta do bar, companhia para zoar, aprontar, não para viver de verdade. Abandonado, triste e solitário. Quem está com Deus, de verdade e coração, nunca está só.

Nem deixaste-me falar da ingratidão,
Morreu no abraço o mal que eu fiz
Festa, roupa nova, anel, sandália aos pés
Voltei à vida, sou feliz

Sentia-se ingrato por ter sempre recebido bençãos, e ter deixado de lado quem só o fizera bem, em troca de algo irreal. A marca do erro ficou no coração de quem errou, e de quem perdoou. Mas o mal e a tristeza, morreram no abraço. Um abraço de perdão, um abraço de amor. E agora, novamente sentindo-se parte da festa que é estar em paz consigo e com quem se importa realmente com ele, afirma que agora sim, voltou a vida e é feliz de verdade.

Convido você leitor, a refletir um pouco sobre essa música e essa história. Quantas vezes não buscamos a felicidade em um mundo irreal? Quantas vezes nossas atitudes e palavras nos afastam da verdadeira felicidade e de quem nos quer bem? Quantas vezes por amizades errôneas, abandonamos o que realmente somos, abandonamos nossa fé, para tentar nos "encaixar no mundo" que nos é apresentado?

Aproveitemos essa Quaresma para deixar para trás nossos pesos, culpas, toda aquela bagagem que tentamos carregar, tentando nos ajeitar no trem da vida. Vamos largar amizades que não nos levam a lugar algum, vícios e costumes que não nos levam a nada. Vamos abandonar a ideia de adaptar nossa vida a "o que todo mundo faz". E principalmente vamos abandonar de vez a ideia de tentar adaptar suas crenças, sua religião, à vida que você quer levar, ao mundo bagunçado que estamos vivendo, onde tudo de ruim é permitido e tudo de bom é ridicularizado.

Vamos fazer nossa parte, cobrar de quem pudermos fazer também. E vamos orar, para que os que ainda estão no caminho não se percam, e aqueles que desviaram retomem o rumo. Vamos orar principalmente por nossa Igreja, que assim como tudo, também começa a demostrar sinais de contaminação em alguns pontos e lugares. Vamos orar para que quem governa tenha sabedoria de olhar pelo bem dos governados e não apenas de seus bolsos e posses.

Que esse fim de quaresma seja uma época de reflexão e mudanças para todos






¹ Música composta por: Waldeci Farias / Dom Navarro

quarta-feira, 2 de março de 2016

Análise: Andrea Doria

Andrea Doria, do disco Dois, da Legião Urbana, é muito simbólica, e talvez por isso, seja difícil ter uma interpretação correta.

Andrea Doria - A Grande Dama Do Mar - era um grande barco super luxuoso (tipo um Titanic) que, em 1951, fez sua viagem de estréia dirigindo-se a Nova Iorque. Entretanto, no meio da noite, entrou numa densa neblina e o capitão, contrariando os procedimentos que deveria tomar nessa situação, continuou navegando em alta velocidade. Um outro barco (Stockholm) ia na mesma direção, porém em sentido contrário. O Stockholm ainda não tinha entrado na neblina quando o radar indicou um "objeto" próximo a ele. Como não enxergava nada à sua frente, continuou seu curso. O capitão do Andrea Doria achou que o sinal no radar fosse um barco pescador, já que não via luz alguma de outro barco e resolveu passar ao lado dele por puro exibicionismo... Quando os tripulantes dos dois navios viram o que estava acontecendo, tentaram evitar a tragédia, mas era tarde e "A Grande Dama Do Mar" acabou afundando, matando 52 pessoas.

A história do Navio, não se encaixa totalmente com a música, Renato deu  um depoimento ao cantor Leoni, que o publicou no livro chamado Letra, músicas e outras conversas, de 1998. Nas palavras dele:

"Andrea Doria é um navio que afundou. A idéia era fazer uma imagem meio E La Nave Va (filme de Frederico fellini, passado num transatlântico)... Na hora de escolher o título da música, fizemos um monte mitologias para a coisa ficar legal. E, no caso, Andrea Doria é uma menina. A música é um diálogo entre uma menina cheia de vida, alegria e planos, e que sempre me deu força, mas, nesse instante, é quem está derrubada. Têm coisas que ela fala pra mim e têm coisas que eu falo pra ela - o mundo está horrível, mas nós vamos conseguir, vamos juntos, etc. Quando você entra no mundo adulto, se não tomar cuidado, deixa entrar o cinismo, fica jaded. E a música é uma conversa em cima disso, e termina justamente falando: 'A gente tem toda a sorte do mundo' - sem especificar, porque, bem ou mal, a gente não é favelado, não morre de fome. 'Sei que tenho sorte, como sei que tens também'".




Às vezes parecia
Que de tanto acreditar 
Em tudo que achávamos 
Tão certo...

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais 
Faríamos floresta do deserto 
E diamantes de pedaços 
De vidro...

A música retrata duas pessoas distintas. Ou talvez uma só lembrando de quem realmente é, mas que havia se esquecido. Seu passado, presente e futuro

A música mostra esse lado que muitos buscam: Mudar o mundo. Fazer a diferença. A primeira parte, nos mostra que foi fracasso o que ele queria, já a segunda, completa o pensamento primário, dizendo que ele queria fazer "milagres", queria fazer o que é impossível, pelo possível. Queria fazer a diferença.

Mas percebo agora
Que o teu sorriso 
Vem diferente 
Quase parecendo te ferir...

Ele percebe que há um sorriso diferente, que não é verdadeiro, não é um sorriso alegre, o que é diferente do que já foi um dia (tristeza talvez).

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...

Ele diz aqui, como algo sincero, que não gosta da tristeza que sente, queria ser como antes, queria ser forte. O  que tem é somente seu, de mais ninguém e não de outros, ou de uma sociedade. Não adianta fugir (da realidade?) e não sentir mais essa tristeza. É preciso ser honesto consigo mesmo e retomar seu caminho

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Aqui, vemos o despreparo que ele tinha para o mundo ao seu redor, o quanto ele se sentia imaturo para viver a vida, para trilhar seu caminho sem tropeçar.

Um dia ele achou que era só improvisar e o mundo seria um livro aberto, ou seja, era somente fazer algo fácil e não "reto" (combinado) que o mundo se abriria e se tornaria bom e perfeito...

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...

Essa parte completa a anterior.
Sentia-se fraco, tentando ser o que não era, seguindo o caminho fácil de deixar-se levar por algo que não era mais, "vendendo fácil, o que não tinha preço", negligenciando sem perceber o que sempre foi o mais importante em sua vida e sua própria vida.  Quantas coisas não vendemos mesmo não tendo preço? Momentos, memórias... Quantas vezes negligenciamos quem nos é deveras importante? Apenas por brincadeiras ou coisas fúteis?

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...

"Tudo sem sentido"... Sem razão, sem um porquê real. E ele sabe que não há explicação nem motivo para esse "comportamento errôneo".

Nessa parte, mostra o quão difícil é encontrar alguém verdadeiro, nesse mundo influenciável que a mídia nos trouxe. "Quero ter alguém/Com quem conversar/Alguém que depois/Não use o que eu disse/Contra mim". Falsidade, gente que se aproxima querendo vantagens. A eterna dúvida de confiar nas pessoas ou não; a eterna certeza de valorizar quem se confia de verdade.

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Nada mais vai feri-lo. Ele sabe de seus erros, e sabe as consequências que eles provocaram, e agora sabe que deve seguir adiante, fortificado, com o aprendizado.

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...

Tem o que ficou, e sempre terá quem é importante para si, quem tem certeza que pode e sempre poderá confiar, pois sempre estará consigo, pois já é parte de si.

Tem sorte, mais que sorte, é um abençoado, por ter em sua vida alguém especial. E ele sabe que seus erros deixam marcas, mas fortalecerá quem é de verdade. Terá a força como era antes...