Os Cegos do Castelo é uma composição de Nando Reis, ainda da época de Titãs, que tem um significado muito grande. Em entrevista, Nando Reis afirmou que a compôs na época em que estava largando seu vício em drogas, o qual atrapalhou até sua carreira no Titãs.
Pra mim, Os Cegos do Castelo é uma música que transmite, acima de tudo, esperança. Tem algo sobre perspectivas de vida nela, sobre seguir em frente. E seguir em frente implica necessariamente em superar algo que atrapalhava o caminho. Mas não é dessa pedra no caminho que a música fala, é do processo de superá-la. E talvez seja por isso que a letra comporte tantas interpretações.
O cenário que, imediatamente, cria-se em minha cabeça quando ouço Os Cegos do Castelo é de alguém que deixa para trás uma fase de sua vida, de erros e dores, em busca de dias bem melhores. Talvez isso esteja relacionado com o uso de drogas, talvez não. Mas isso nem é algo tão importante para o sentindo geral que a canção busca passar.
Eu não quero mais mentir
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço
E vou a pé até encontrar
Um caminho, o lugar
Pro que eu sou
Talvez essa estrofe seja a que mais explicite a questão do vício. Os espinhos seriam analogias para as drogas. Muitas vezes o consumo de drogas ilícitas, como muito ocorre com o álcool, é mais uma forma de escape do que qualquer outra coisa. Mesmo quem nunca consumiu drogas, pode identificar-se com essa fuga da realidade, todos somos tentados a escapar em algum momento.
Escapar do mundo real e do inferno que se imagina que ele é. E agora, já não enxerga mais a razão de sua fuga, não quer mais viver mentirar, se ferir sem motivo com coisas que parecem boas e só trazem dor. Então se despede da "cegueira" desse mundo irreal que no início parece uma vida de rei, mas depois só traz dores. E vai, caminha para reencontrar-se, acorda para a vida, para o que é.
Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou
Dormir, desligar-se do mundo a seu redor, mesmo acordado. Deprimido com a vida que leva, esperando apenas a morte, e em certas vezes pensando em apressá-la. Não quer mais dormir, quer aproveitar a vida, acordado, de olhos bem abertos, sentindo tudo, vivendo tudo. Nada mais de pensamentos suicidas. Aos poucos recuperando sua fé, recuperando sua esperança e deixando de lado aquele destino azarado que o esperava.
E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim
Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar, e de você e de mim
Não quer mais a solidão que tinha. Está pronto para recomeçar, dar um sentido e um futuro bom para seus dias. Quer achar e ser achado, cuidar e ser cuidado. Sente que com alguém especial será capaz de ser mais e melhor.
Dedico essa música a minha amada, que me "achou" e "permitiu-se ser achada" para que pudéssemos cuidar um do outro, deixando as tristezas para trás, e ser mais e melhores para nós mesmos. Amo-te!