Próximo domingo é Domingo de Ramos. Neste dia celebramos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, uma imagem que pode parecer um pouco contrastante: o povo o recebe com festa, e dias depois, ouve-se uma multidão gritando que crucifiquem-no e libertem o assassino Barrabás.
O que pensar numa situação dessas? O que podemos refletir? Talvez quem leia a história superficialmente considere o povo volúvel ou extremamente manipulável, o que não seria de todo uma mentira (assim como se falássemos o mesmo do povo atual). Porém gostaria de convidá-los a uma reflexão um pouco mais profunda da história, ates de falarmos da importância desse dia no calendário litúrgico.
Jesus Cristo conhecia seu destino quando voltou a Jerusalém, tinha certeza que morreria, mas confiou na sua missão, confiou que teria que passar por isso. Por outro lado, Cristo não era o único que sabia de sua iminente morte, fora alertado antes de ir do clima que encontraria, e o perigo que correria se isso fizesse.
O povo já o via como um Salvador, mas não da forma que Ele era. A maioria o enxergava mais como um revolucionário que livraria Jerusalém do poderio romano, algo que em parte agradava a todos, inclusive aos "sacerdotes" e escribas que funcionavam como um poder local. Porém para esses não agradava nem um pouco a ideia de que o povo aclamasse Cristo como um salvador e possível novo rei de Israel. Sair do poderio romano seria um bom negócio contando que eles que compunham a elite ficassem no poder. Só que viram que isso não aconteceria, pois Jesus inflamava as multidões, e aqueles que até então eram simples vassalos que obedeciam sem pensar, estavam ficando cada vez mais auto-confiantes e se a situação continuasse, com ou sem Cristo, poderiam se rebelar por conta própria e com cada vez mais força. Já havia alguns movimentos de revolta, inclusive Barrabás era líder de um deles, e se mais e mais pessoas acreditassem em si, tais movimentos poderiam tomar dimensões incontroláveis para a elite que, mesmo com o poder romano acima, mandava naquela região.
Os evangelhos nos contam que os próprios apóstolos acreditavam numa revolta armada, tanto que um deles, Judas Iscariotes, vendo que isso nunca aconteceria, entregou por algumas moedas (e por insatisfação com a situação) Cristo aos soldados dos sacerdotes. Para o império romano nada do que ali estava acontecendo importava muito: seu exército tinha poderio suficiente para aniquilar toda aquela região se preciso fosse. Mesmo assim, Pilatos, governador e representante do império na região, demostrou certa simpatia por Cristo. Alguns livros não canônicos atribuem tal simpatia ao fato da esposa de Pilatos ser simpatizante das ideias pregadas por Jesus. Por outro lado, o Pilatos não enxergava ameaça alguma naquele que lhe entregavam e pediam a crucifixão. No fim para ele pouco importava, poderia negar a crucifixão de Cristo e mandar um destacamento para conter os desgostosos. Mas esses eram a elite, os "sábios" que dali tomavam conta; o imperador e seu governo tinha mais com que se preocupar. Mal ou bem a elite local não questiona o poder de Roma nem suas ordens. Pilatos lavou as mãos e entregou para que fizessem o que quisessem. Eles que se divertissem e os soldados que quisessem também. Em palavras atuais: que se danem, não to nem aí.
Nesse domingo celebramos o término de uma fase de espera, e o início de uma semana de reflexão, cujo ápice se dará no tríduo pascal com a Instituição da Eucarística, a morte em cruz e a Ressurreição de Cristo, já no Domingo de Páscoa. Será uma semana em que temos que deixar para trás as tentações, os erros e entrarmos triunfantes para uma vida nova. Não será indolor, assim como Cristo teve de morrer na Cruz para ressuscitar em seu poder e Glória, nós também temos que deixar morrer em nós o que de mal ainda há em nossos corações e nossas vidas. Temos que aprender a perdoar, não por palavras e mas de coração a quem nos fez mal. E principalmente perdoar a nós mesmos, deixar os pesos das dúvidas, dos erros, do pecado, de tudo que nos faz mal fisico e espiritualmente.
Vamos entrar nessa Semana Santa de de alma limpa e coração aberto para que possamos junto a cristo, ressuscitar para uma vida melhor.
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