Translate

quarta-feira, 8 de março de 2017

Quadrado

Ele era uma pessoa em um quadrado. Não sabia há quanto tempo estava no quadrado, nem quem o colocara ali. Não se importava, o quadrado era bom, era agradável, era seguro. Não se importava com as cores vivas e alegria a seu redor, ali era bom, ali era seguro!

O mundo aguçava sua curiosidade e às vezes ele saía do quadrado para olhar o sol de verdade. Mas ele não sabia o que era a verdade. De dentro do seu quadrado ele olhava tudo, conhecia tudo e não vivia nada.

Um dia algo o chamou atenção fora do quadrado e ele aceitou ficar fora um tempo, experimentar como era vida na prática, se era como ele via. E parecia bom, estava animado com quem conhecera ali, parecia melhor que qualquer previsão. E seu quadrado parecia pequeno para um mundo tão vasto que ele passava a enxergar.

Mas as coisas começaram a não acontecer como previsto, como deveria ser, pela lógica. E pouco a pouco ele percebe que seu quadrado era realmente o lugar mais seguro para si. Passa cada vez mais tempo nele, e ergue uma parede. Continua sua vida como antes, as saídas para o mundo, mas sempre ciente da segurança do quadrado, agora fortificado. Já não pensava em viver fora dele, mas agora tinha ciência melhor da vida fora dele, volta e meia arriscava uma saída um pouco maior sem se descuidar de sua fortaleza de uma parede só.

Sob a luz do sol e o cheiro da grama viu cores, cheiros, sabores e sensações. Mas não era para si, não daquela vez. Dessa vez pertencia a outro, mas isso não o fez levantar uma parede, mas tomar uma decisão precipitada: se há o que é bom para outros, para ele ter deveria ser como os outros. Ignorou as palavras que ouviu e tentou ser do mundo para o mundo ser para si. Se errara fazer do mundo fora do quadrado uma utopia de perfeição, maior erro foi tentar ser diferente para estar dentro. Esteve dentro, mas não feliz. Aguentou o quanto pode antes de voltar a segurança de seu mundo e erguer duas paredes, para nada enxergar a seu redor.

Vira o que era ruim. Contudo também experimentara o que era bom, e isso o impediu de trancar-se por completo nesse agora quase cubo. Tentou repetir a alegria de outrora, mas nada nem ninguém a igualara, nem de sonhos, nem de planos, nem de realidades. Não tinha muita margem para riscos, mais duas paredes e se fecharia por completo num cubo do qual não teria forças para romper.

Talvez nem tudo fosse bom. Talvez precisasse de tempo, nem todas as tardes seriam ensolaradas, nem as conjunções e encaixes tão perfeitos. talvez precisasse insistir. E insistiu o suficiente para não desistir, e agora o ex-quadrado era praticamente um cubo, uma caixa sem tampa em que ele ainda se sentia seguro, mas nem tanto feliz. Mas os momentos ali eram bons, eram calmos e ele lembrava do que fora aprendendo desde o início, lembrava de palavras de pessoas boas, pessoas que marcaram de alguma forma, e ajudaram-no fora dali.

Permitiu-se mais do que sonhar, permitiu-se realizar e unir-se a alguém que tinha seu próprio "cubo" e juntos fizeram  um paralelepípedo, não para viverem dentro, mas juntos repousarem da bagunça do mundo.

5 comentários:

  1. boa noite ! Eu sempre tive experiências na net bastante interessantes. Sempre disse também, as pessoas vêm a vão. Nos sentimos abandonados, mas você é diferente. você veio e não foi. Muito bom. Ter notícias suas, simplesmente é um privilégio.
    Pra vc todo o carinho.
    beijãooooooooo

    ResponderExcluir
  2. Me identifiquei com esse texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que se identificou, Anônimo, fico feliz com isso. Ficarei mais feliz ainda quando e se um dia quiser se identificar. Espero que tenha te feito pensar tanto quanto fez a mim, quando o escrevi. Sinta-se a vontade para visitar e comentar, Anônimo!

      Excluir
  3. Nossa lindo texto... Me identifiquei muito
    ...

    ResponderExcluir
  4. olá querido amigo! Gostei muito do seu texto. bjs

    ResponderExcluir

Caro leitor, fique a vontade para dar sua opinião: