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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Estatueta

Para alguns aquela sala pareceria o ápice de algo sem graça. Para mim, era um canto de recolhimento e descanso, um lugar perfeito para ficar por horas e horas. A limpeza e clareza eram impecáveis: Paredes, teto e piso brancos como neve, e apenas um feixe de sol entrava por uma pequena janela.

Todos os dias ali entrava, sentava e ficava olhando ao longe. Todo ambiente era como uma gigante tela em branco que me permitia pintar mentalmente o quadro que eu quisesse, as cores que eu quisesse, as histórias que eu quisesse. E no dia seguinte, ali estava novamente tudo em branco, para começar de novo e relaxar com isso.

Um dia encontrei uma estatueta de vidro e a coloquei em uma prateleira bem alta, de forma que a luz do sol passava por ela e enchia as paredes de cores. Não sei ao certo o porquê de colocá-la ali, nem mesmo onde consegui tal objeto. Só me lembro de todo dia, entrar e ficar olhando para ela, lá no alto enchendo o lugar de cores. Já não imaginava tanto, nem criava tantas histórias para preencher aquela sala vazia, pois as cores vindas do sol atravessando a estatueta me distraiam.

De tempos em tempos, o brilho começava a sumir, e eu precisava me esforçar para alcançá-la, tirar a poeira e novamente sentir a alegria das cores inundando o local. Mesmo assim, com o tempo, o vidro foi ficando fosco por dentro, já não refletia as cores com o mesmo vigor. As paredes também estavam começando a ficar surradas, como não costumavam ficar. Precisava limpar e renovar aquele espaço que já não conseguia ter a serventia de outrora.

Saí do "lugar comum", da segurança daquele espaço que tanta alegria me trouxera. Pintei as paredes, e conforme pintava via as marcas, as lembranças de alegrias e tristezas que tivera, e que ali ficaram gravadas. Por vezes, olhava saudoso para aquela estatueta, que tanta cor trouxera àquele espaço e agora se tornara tão triste para mim. Se as paredes estavam renovadas, ela merecia também um novo espaço que pudesse iluminar, trazendo cores e alegria.

Certo dia entrei na sala, já renovada e não vi mais a estatueta, nem mesmo vestígio dela. Aquele espaço não a pertencia mais, nem ela ao espaço. Da mesma forma que um dia ali esteve, deve estar refletindo o sol de outro espaço que necessite dela.

Sem a distração de suas cores, pude voltar a imaginar histórias, paisagens e cores, nas alvas paredes da sala. Reaprendi a sonhar, a criar, sem o limite refrativo daquelas cores. Isso me distraí, me constrói.

Me faz feliz.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Padre Zezinho,scj responde ao Pastor Agenor



Em resposta Pastor Agenor Duque, Padre Zezinho, scj, usou sua página no Facebook para responder à polêmica com a imagem de Nossa Senhora. Leia seu pronunciamento na íntegra:
Ecumenismo é o respeito que um crente em Deus tem pelos outros crentes, mesmo que não orem nem creiam do mesmo jeito. Basta-lhes saber que o outro ama o mesmo Deus e que Deus também ama os outros crentes. Neste sentido são irmãos de fé. E, espero, irmãos na caridade que Jesus nos ensinou a viver.Tenho 76 anos e, pela sua atuação na TV, o pastor Agenor Duque está a menos tempo pregando a fé cristã! Também não conheço seus escritos e sua formação em filosofia, sociologia ou teologia. Realmente não sei qual é a sua vertente cristã!
Mas recentemente ele nos brindou com uma agressão totalmente desnecessária ao ridicularizar uma de nossas imagens de Maria. Temos muitas imagens dela através do mundo mostrando que a mãe de Jesus é mãe para negros, índios, europeus, esquimós, árabes, escravos e libertos, porque a vemos vestindo a dores, as vestes e as cruzes de quem sofre.
O pastor Duque também se veste de mendigo e supostamente quer dizer alguma coisa com aquelas vestes de quem sofre e não visa riqueza nem lucro!
Mas recentemente ele COMPAROU A IMAGEM DE NOSSA SENHORA APARECIDA COM UMA GARRAFA DE COCA-COLA, simbolicamente deixou cair a garrafa dizendo que aquela garrafa não ora, nem ouve, nem pode ajudar a sua plateia-assembleia! É claro que estava ridicularizando nossas imagens e símbolos e também nossa Bíblia, porque a nossa Bíblia e as Bíblias que imagina que ele usa também não falam porque são feitas de papel.
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Quis dizer que é mais fiel a Jesus do que nós católicos porque ele não pede oração à mãe de Jesus nem acredita na intercessão dos santos do céu, embora ele mesmo na TV intercede por seus fiéis como santo pastor da terra que ele afirma ser! Quem ora pelo seus fiéis está intercedendo. Maria faz a mesma coisa no céu onde o Filho a levou. Ou será que o pastor acha que Jesus ainda não levou sua mãe para o céu???
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1-Esse tipo de pregação ridicularizando Maria raramente dá certo. Até mesmo entre seus ouvintes e fiéis haverá crentes chocados com o desrespeito do pregador pela mãe de Jesus que entre católicos é representada em mais de 300 imagens através do mundo. Mas é a mesma mãe vestida de outras vestes, como o pastor Duque faz com seu terno, ou com sua túnica de saco!
2- Se um advogado católico quiser processa-lo por desprezo à religião e aos símbolos da outra igreja ele terá enorme dificuldade em provar que não agrediu a nossa fé.
3- Uma coisa é repercutir um vídeo de outra igreja e mostrar o que eles estão pregando; e outra coisa é vilipendiar um culto de outra igreja. Num caso é informação reproduzida da internet e outra é fazer uma pregação induzindo os fiéis da sua Igreja a agredirem a outra!
O pastor Agenor Duque, que se veste de mendigo humilde, nos ofendeu e chamou-nos de ignorantes porque ousamos representar Maria negra em veste azul.
Acho que ele não lembrou que ele também é uma imagem exótica, quando ele mesmo entra naquele palco vestido de mendigo para anunciar sua igreja!
Fonte: Facebook

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Amor de Índio.







AMOR DE ÍNDIO 
Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo o cuidado
Meu amor


Para captar melhor o sentimento dos autores desta belíssima canção, necessitamos mergulhar na mente de um índio.

Não só o ar, a água, o fogo que arde, também as montanhas e os animais, tudo é sagrado para ele.

No seu pensar, existe uma força maior que tudo rege e sustenta com sua força em perfeita harmonia.

O índio respeita tanto esse equilíbrio da natureza que até mesmo para subtrair um item, no intuito de saciar a própria fome, pede permissão para o espírito da floresta, antes de abater um peixe ou um animalzinho. Tirar uma vida só se for para suprir sua necessidade mais vital. Ao contrário do homem branco, ele procura preservar todas as coisas, não produzindo lixo, poluindo ou alterando o meio ambiente.

Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com arco da promessa
Do azul pintado
Pra durar

E esse amor entre eles é eterno, enquanto a chama da vida arder no interior de cada um deles. Muitas são as histórias de casais indígenas em que o homem prefere morrer junto à esposa a viver sem ela. Se estava escrito na constelação aquele enlace, deveriam viver juntos sempre e partir também acompanhados um ao outro.

O arco é para o índio sua defesa contra as feras bravias com as quais se defronta. O arco da promessa é uma referência ao arco-íris, que colore o horizonte azul, como o símbolo da promessa duradoura que Deus fez com os homens.

Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor
E ser todo

Neste exato momento, está ocorrendo um fenômeno mundial: o desaparecimento das abelhas (vejam mais sobre este assunto no link abaixo). Pouco a pouco, elas estão sumindo por conta dos agrotóxicos e outros fatores climáticos. Caso isso venha a ocorrer por completo, será iniciado um ciclo catastrófico para a humanidade. A abelha é tão importante que: “Se não existisse o homem no planeta, nada mudaria. Faltando as abelhas, sem a polinização, seriam extintas a flora e a fauna, não haveria florestas, lagos e rios. A terra seria um deserto”

Por saber o valor do mel e toda sua utilidade para a saúde, tanto os índios como as civilizações antigas as consideravam sagradas e em alguns países eram vistas como símbolo de riqueza.

Nos meses mais frios, o céu fica limpíssimo, e a vista do teto celeste noturno é espetacular. Contemplar o firmamento, enquanto se namora, talvez seja um dos momentos mais românticos que exista. Assim como todos nós, os índios também têm o hábito de fazer um pedido quando um estrela risca o céu.

Quando se faz um pedido com fé, tudo se realiza, como nosso destino, principalmente porque são duas mentes irmanadas e focadas no mesmo alvo.

E nada mais gostoso que estar no calor da pessoa amada. O tempo e tudo mais para, nada mais importa. Apenas queremos viver aquele momento único, todo inclusivo.

Todo dia é de viver
Para ser o que for
E ser tudo

Segundo as próprias palavras do Beto Guedes: “Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo” estes versos expressavam o lado primitivo e puro que ainda havia em cada uma das pessoas, como um canto de louvor à vida”.

Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado
Meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor

O amor é o sentimento mais lindo. Por amor é que realizamos tudo. Se não fosse o amor, seríamos apenas matéria.

Deus é o próprio amor, e Ele é que nos colocou no paraíso, com tudo disponível para vivermos.

O índio nos ensina até hoje que não é preciso muito para vivermos.

Mas na nossa ânsia de querer mais, fomos expulsos do jardim de Deus, passando a viver do suor do próprio trabalho.

Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver


Poucos sabem o valor de se dormir bem. É tão essencial que, além de descansar o corpo e a mente, faz com que a pessoa pense melhor e também emagreça. Quando dormimos bem, estamos contribuindo para previnir o aparecimento de doenças, além de promover o rejuvenescimento.
Na correria que exige nossas atividades diárias,  é muito difícil descansar. Com isso, o estresse logo se instala. Por isso, devemos estar ariscos e reservar nosso horário para garantir uma boa noite de sono.
Tomando cuidado com o ambiente da dormida, podemos alcançar o objetivo com seis horas de sono profundo, que podem ser mais eficientes do que oito horas de sono mais leve. Também não vamos exagerar, pois dormir mais que o necessário não é bom e pode ser prejudicial.
Quando dormimos bem, “alimentamos de horizontes o tempo acordado de viver”.

No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto

Para quem vive constantemente em contato com a natureza, cada mudança climática é percebida. Os índios e as pessoas mais sensíveis observam melhor as estações e podem senti-las em toda plenitude.

Por isso é que os quatro períodos climáticos são vividos de forma especial pelos amantes.

Quem ama quer estar agarradinho, principalmente com as temperaturas mais frias do inverno. Já o clima mais quente do verão é um convite pra sair do aconchego. Parece que o sol nos reenergiza, e é tempo de correr, de pular e de pescar. No outono, as noites são mais longas que o dia e são apropriadas para um “conhecer” melhor o outro. Aqui as temperaturas voltam a cair, assim como as folhas, e é tempo da colheita em muitas partes do mundo. Quando chega a primavera, inicia-se um novo ciclo. Tudo se enche de cores, como se a natureza fizesse festa.

Festa maior faz o índio quando as chuvas chegam. Eles até têm a dança da chuva, quando ela tarda para chegar. Quem mora nas cidades, na selva de concreto, não dá muito valor a este bem indispensável à natureza.

O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado


O amor entre os indígenas é tão puro e sublime que é determinado pelo encontro ocorrido entre eles desde o nascimento, segundo a configuração das estrelas no firmamento, no exato momento em que vieram a existir, como homem e mulher. Eles já crescem sabendo dessa predestinação e se enamoram, e se casam, e são felizes para sempre.

Para eles, o amor é sagrado.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Tocando em frente










Ando devagar porque já tive pressa 
Levo esse sorriso porque já chorei demais 
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe?
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei. 

Já tive pressa, achava que o tempo era curto para tanta coisa que pretendia fazer, que sonhava fazer. Tantos planos, tantas ideias, e o tempo tão curto. Tanta correria que acaba-se por esquecer de ser feliz. Tentar ser como o mundo, chorar as tristezas das quedas. Cresce, aprende, se sente mais forte e capaz. Principalmente porque não nos importamos mais em querer saber tudo. Nos contentamos com que nada sabemos


Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir

A verdadeira sabedoria só vem com o tempo, conhecer o tempo, o dia a dia e as manhas para viver. Saber que existe o gosto pronto da manhã, e o preparado fruto do trabalho da massa. É preciso amor para viver, paz para sorrir e a chuva para florir. Conhecer a importância tanto do dia de sol quanto de chuva, o valor do que a natureza nos dá e do que podemos transformar.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente 
Compreender a marcha e ir tocando em frente 
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou. 

Já não me importo com antigos sonhos, expectativas do que alguém um dia pensou como minha vida poderia. Já não me importo se eu poderia ter um emprego melhor, uma casa maior, ou riquezas a mais. Não me importo... nem mais perco meu tempo tentando ser "mais". Estou feliz, tenho o essencial e o essencial para mim me basta. Quero cumprir minha vida simplesmente, tocando em frente, corrigindo o rumo da boiada, sendo feliz simplesmente.

Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Todo mundo ama um dia todo mundo chora, 
Um dia a gente chega, no outro vai embora 
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz 
De ser feliz.

Pessoas vem, pessoas vão. Amores, amigos, colegas, pessoas que passam por nossas vidas, compõem nossa história, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. Permanecem o tempo que precisam e se vão. Reter mais tempo que necessário é um erro. Se preciso, voltarão por si mesmos. Chorei a partida e distância de amigos, tanto quanto sorri a chegada de outros.

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Ando devagar porque já tive pressa 
E levo esse sorriso porque já chorei demais 
Cada um de nós compõe a sua história, 
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
de ser feliz.

Já tive pressa. Hoje não tenho mais. Caminho e levo minha vida no passo da felicidade de cada dia, de cada momento. Já chorei, mas hoje sorrio, porque isso atrai muito mais coisas boas. Colhemos o que plantamos, e tento plantar sempre um sorriso, uma alegria, mesmo quando a dor é maior, a dificuldade também. O mais importante é que cada um de nós carrega o dom mais precioso: o dom de ser capaz de ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Conhecer e nunca deixar de aprender. Cada vez mais, cada dia mais.



*Composição: Almir Sater e Renato Teixeira