Para alguns aquela sala pareceria o ápice de algo sem graça. Para mim, era um canto de recolhimento e descanso, um lugar perfeito para ficar por horas e horas. A limpeza e clareza eram impecáveis: Paredes, teto e piso brancos como neve, e apenas um feixe de sol entrava por uma pequena janela.
Todos os dias ali entrava, sentava e ficava olhando ao longe. Todo ambiente era como uma gigante tela em branco que me permitia pintar mentalmente o quadro que eu quisesse, as cores que eu quisesse, as histórias que eu quisesse. E no dia seguinte, ali estava novamente tudo em branco, para começar de novo e relaxar com isso.
Um dia encontrei uma estatueta de vidro e a coloquei em uma prateleira bem alta, de forma que a luz do sol passava por ela e enchia as paredes de cores. Não sei ao certo o porquê de colocá-la ali, nem mesmo onde consegui tal objeto. Só me lembro de todo dia, entrar e ficar olhando para ela, lá no alto enchendo o lugar de cores. Já não imaginava tanto, nem criava tantas histórias para preencher aquela sala vazia, pois as cores vindas do sol atravessando a estatueta me distraiam.
De tempos em tempos, o brilho começava a sumir, e eu precisava me esforçar para alcançá-la, tirar a poeira e novamente sentir a alegria das cores inundando o local. Mesmo assim, com o tempo, o vidro foi ficando fosco por dentro, já não refletia as cores com o mesmo vigor. As paredes também estavam começando a ficar surradas, como não costumavam ficar. Precisava limpar e renovar aquele espaço que já não conseguia ter a serventia de outrora.
Saí do "lugar comum", da segurança daquele espaço que tanta alegria me trouxera. Pintei as paredes, e conforme pintava via as marcas, as lembranças de alegrias e tristezas que tivera, e que ali ficaram gravadas. Por vezes, olhava saudoso para aquela estatueta, que tanta cor trouxera àquele espaço e agora se tornara tão triste para mim. Se as paredes estavam renovadas, ela merecia também um novo espaço que pudesse iluminar, trazendo cores e alegria.
Certo dia entrei na sala, já renovada e não vi mais a estatueta, nem mesmo vestígio dela. Aquele espaço não a pertencia mais, nem ela ao espaço. Da mesma forma que um dia ali esteve, deve estar refletindo o sol de outro espaço que necessite dela.
Sem a distração de suas cores, pude voltar a imaginar histórias, paisagens e cores, nas alvas paredes da sala. Reaprendi a sonhar, a criar, sem o limite refrativo daquelas cores. Isso me distraí, me constrói.
Me faz feliz.
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