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quarta-feira, 14 de março de 2018

O Frei, o Anjo e o Usurpador - parte 4

Epílogo

Mago saiu de seu feudo, depois de anos trabalhando ali. Era o momento de partir em busca de novos desafios, de busca por sobrevivência, e por isso começou sua caminhada ao longo de um vasto deserto.

Chegou a um povoado, e ali conheceu pessoas muito humildes que estavam a espera do retorno de um "anjo". Com o tempo, sentiu que havia algo muito errado no relacionamento entre aquelas pessoas e o tal ser alado. Ele mesmo nunca vira o tal ser, mas as pessoas ali juravam que não só ele existia como se comunicara com eles por diversas vezes. E via fotos, desenhos, textos atribuídos ao tal anjo.

Mago não sentia-se no direito de questioná-los, nem mesmo duvidar do que seria a palavra de um ser angelical, porém as imagens atribuídas ao anjo divergiam e algumas eram lugar comum em grandes murais que já vira. Aos poucos ajudou aquele povo humilde e ingênuo a perceber que nem tudo naquela história era verdade. Eles perceberam e descobriram mais detalhes que nem mesmo Mago havia enxergado. Depois de um tempo, Mago seguiu sua vida, seu caminho, deixando aquele pequeno povo ingenuo para trás.Soube que eles pressionaram o tal anjo, mas parece que não disse tudo que eles queriam, então o povo resolveu que o anjo deveria sentir o que eles sentiram. Mago achou isso uma grande besteira.  Ficou sabendo mais tarde que desistiram da vingança e cuidaram de suas vidas. Melhor assim.

Mago continuou sua caminhada pelo deserto e encontrou um frei que lhe deu a alcunha de andarilho. Em retribuição o frei virou Frei para ele. Conversaram por um bom trecho do caminho, fizeram alguns planos de visitar o vale das montanhas, um belo e desejoso lugar, mas chegaram em uma bifurcação, onde Frei decidiu subir a colina e voltar para seus seguidores, invés de seguir o amigo. Mago ficou triste, mas entendeu e aceitou.

Mago continuou sua caminhada, encontrou gente boa, gente ruim, mas ninguém que compartilhasse seu caminho, ou que lhe desse vontade de fazer caminho comum. Anos depois encontrou alguém que quis e com quem quis estabelecer aliança. Estabeleceu-se em um povoado, no qual foi muito bem recebido. Ali era querido, respeitado, amado e cuidado como nunca fora. Passou a querer, respeitar, amar e desejar cuidar como nunca antes. Onde fosse, agora, a levaria junto.

Quando tudo está tranquilo, algo vem para tirar sua tranquilidade, pensou Mago, e ele estava certo. Usurpador surge como uma fenix que renasce das cinzas, aparentemente em caráter amistoso, pois as pessoas a quem confiara o traíra. "Que coisa... O mundo dá voltas"- pensou Mago. Sem desviar um passo sequer de seu caminho, Mago permite que Usurpador se aproxime, conte suas decepções, como outrora, e Mago, crendo ajudar tenta o animar, esquecendo as antigas feridas. Dias depois, uma flecha quase o atinge, quando estava sentado em paz. Um aviso direto do povo do Usurpador, algo do tipo: deixe-o em paz, ele nos pertence. Cortou o contato que sobrevivera, certo de que mais uma vez fora usado.

Após alguns anos, durantes suas andanças, foi avistado por Frei, que há décadas não tinha sequer sinal, com a proposta de uma caminhada, e quem sabe pelo menos uma visita ao outrora desejado vale da montanha. O tempo passara, agora já tinha uma vida a seguir e tudo mais ficara no passado. Dessa vez, Frei que ficou triste, mas entendeu e aceitou.

Mago continua seu caminho, sem sequer ter ideia que é o elo de três histórias tão distintas, de três personagens com tão poucas semelhanças e que nunca se encontraram.

De Mago nada tem, além da alcunha. De andarilho pouco tem, além do persistente caminhar entre vales e desertos. Só está cansado e quer descansar... para sempre.


Aqui termina essa série. Mas começa a história de um novo personagem.

Mago voltará.


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