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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Símbolos da Quaresma: Quarenta dias

Na quarta-feira passada iniciou-se a Quaresma, que são os quarenta dias que antecedem a semana santa, o período pascal. Neste dia os fiéis que foram à celebração de cinzas, tiveram sua fronte marcada com as cinzas, iniciando esse período de penitencia e preparação para o momento ápice da Igreja Católica: a Páscoa.

Ao longo dessas semanas vou escrever um pouco dos significados dos símbolos desse período, desde o significado desse número de dias, passando pelo significado das cinzas com as quais somos marcados, o que significa o tríduo Pascal e terminando, já na semana santa com o próprio significado da Páscoa.

Quarenta é um número meio que cabalístico para a Igreja. Quarenta foram os anos em que Moisés atravessou o deserto com o povo liberto do Egito. Quarenta dias durou o dilúvio do qual Noé livrou um casal de cada ser vivente com sua arca. Quarenta foram os dias em que Cristo passou jejuando, orando e sendo tentado no deserto. O que podemos tirar de cada episódio? O que tem-se em comum? Sim, temos algo em comum: em todos os casos, esse período foi de preparação.

Durante os quarenta anos que o povo seguiu Moisés para longe do Egito, todos passaram por grandes provações, dúvidas, brigas, e no fim os que ali estavam já tinham passado por tanta coisa que estavam preparados para recomeçar suas vidas, enfrentar os desafios.

Noé construiu uma arca sem tamanho, reuniu várias espécies de animais e por quarenta dias aguardou pelo fim do dilúvio. Confiou e por sua fé a humanidade prosseguiu.

Cristo passou quarenta dias jejuando e orando. Jesus Cristo, que é Deus feito homem, quis colocar sua condição humana no limite para se preparar para sua missão: espalhar a palavra de Deus, e por fim lavar nossos pecados, morrendo na cruz. Foi tentado a "transformar pedras em pães" para saciar sua fome, foi tentado a "tentar" a Deus atirando-se do penhasco na certeza que anjos o viriam salvar e por fim adorar o diabo em troca de reinar sobre todos os reinos do mundo. (Escreverei um pouco sobre cada tentação em uma publicação futura).

Partindo da ideia dos 40 dias de preparação, quis a igreja instituir a Quaresma como os quarenta dias de preparação para Páscoa. Por tradição é um período onde três práticas devem ser intensificadas: jejum, esmola e oração.

Jejum é privar seu corpo de algo que sente-se falta. Através dessa "mortificação" busca-se a maior valorização do ser humano, uma forma de mostrar ao próprio corpo e instintos quem realmente o comanda.Jejum não é passar fome, muito menos provocar algum mal ao próprio corpo, apenas a privação dos exageros, das vontades, dos supérfluos.

Esmola não é necessariamente dar dinheiro aos pedintes nas ruas. É doar-se, mais que do ponto de vista material, mas com atitudes, ajudando a quem precisa. Talvez a palavra mais correta a ser usada seja caridade, ajudar a quem precisa.

Oração é a essência de todo católico. Muita gente confunde um pouco o sentido de orar, pensando que orar é uma forma de Deus se aproximar de nós. Creio que Deus é onipotente, não é minha simples oração que vai mudá-lo. Ao contrário a oração nos torna mais próximos de Deus, nos faz senti-lo mais perto. Ele está ali, sempre estará ali, a oração nos faz senti-lo. Mesmo quando oramos sem vontade, mesmo naqueles dias em que vamos à missa sem aquela vontade toda, é importante que não deixemos de orar, não deixemos de ir à missa. Um pouco que seja, aquela oração de "má-vontade" muda a gente. É como uma mãe que tenta alimentar seu filho doente que nada quer comer, mesmo com muito dificuldade força que a criança coma um pouquinho que seja. Mesmo que  pouco sabe que aquele pouco, engolido de má vontade, vai ajudar seu filho a ter forças para melhorar. Oração é a essência, é o alimento da alma. Deus, como bom Pai, ficará feliz se você estiver se alimentando, mesmo que pouquinho, mesmo que de pouca vontade, pois isso te dará força nas tribulações.

Pratique isso e estenda a prática além da Quaresma. Não importa qual sua crença, pratique o bem, ajude, seja autentico e autenticamente correto. Ore da forma que souber. Tenha sua fé, pois ela te sustentará quando tudo parecer sem solução.

Semana que vem, Cinzas. O que são e qual seu significado.

Caso queira sugerir algum tema, deixe seu comentário.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Cinzas

Quarta-feira de cinzas. Cinzas do carnaval que já queimou a energia de tantos foliões e o dinheiro de tantos outros. Cinzas com as quais são marcadas as frontes de quem vai a cerimônia de hoje, nesse início da Quaresma, os quarenta dias de preparação para festa maior da Igreja: a Páscoa.

Fico feliz de ter passado mais um carnaval. Não sou apreciador da algazarra que é feita, mas respeito quem gosta disso. Por outro lado fico triste com a depravação que se tornou o carnaval para alguns. Afinal, justificam estes, no carnaval pode, no carnaval ninguém é de ninguém nem de si próprio. E homens que andam engravatados o ano inteiro aparecem vestidos de drag queens, "soltando a franga". Homens e mulheres banalizando a própria alegria, com futilidades.


No fim essa imagem resume o que vemos muitas vezes.

Desejo que você tenha aproveitado bem o carnaval, seja se divertindo (de verdade) ou descansado.


Carnaval...

Publico novamente um texto que escrevi um tempo atrás sobre o carnaval.


"A luz apaga porque já raiou o dia
e a fantasia vai voltar pro barracão
outra ilusão desaparece quarta-feira
queira ou não queira terminou o carnaval (...)"

Ah! Fim do carnaval! Quem me conhece sabe o quanto gosto da quarta-feira de cinzas. Fim do carnaval, da agitação... Início da Quaresma, e efetivamente do ano.

Pode parecer uma afirmação ranzinza, de aversão à festa, à diversão popular, mas acredite em mim, não é. O carnaval tem "duas importâncias" que admito e acredito: desopilação mental (para quem gosta) e prenuncio da Quaresma (para quem crê). Infelizmente essas duas características acabam perdendo a ligação entre si, diante da desestruturação social provocada tipo de festa que se tornou o carnaval.

Em sua origem recente, carnaval era a última festa antes de começar o segundo período mais importante da Igreja: a Quaresma, época de reflexão e preparação para Páscoa que só perde em importância para própria Páscoa. Usualmente não se comia carne durante a Quaresma, por isso fazia-se essa "festa da carne", carneval, carnaval.

Deturpado o sentido da festa, assim como a sociedade em si cada dia mais deturpada, virou uma festa de depravação, onde o culto à libido é maior que a própria vontade de se divertir verdadeiramente. Pessoas, sob a desculpa de ser carnaval, já não são donas de si mesmas, passam a ser de todos e ao mesmo tempo de ninguém. A dança, a música, tudo passou a ser apenas um complemento aos principais atores da festa: "pegação", sexo. No meio disso, ainda tem que só queira brigar...

Lembro de meus tempos de criança, tinha uma bandinha na esquina que tocava aquelas músicas antigas de carnaval. Minha alegria no carnaval era apenas ir até onde estava a bandinha, e comer pipoca doce e salgada misturada. Desde aquele tempo não era adepto de ficar no meio da muvuca, nem podia na época. Mas era algo alegre de se ver, algo civilizado onde no fim tudo que se via era confete, serpentina. Hoje, no melhor dos cenários, quando um bloco passa ficam toneladas de lixo de todos os tipos, e um cheiro insuportável de urina.

Sonho com a volta dos velhos carnavais, onde quem gosta pode se divertir sem medo, e sem ter que presenciar situações lamentáveis e odores tão lamentáveis quanto. E quem não gosta possa olhar e sorrir com alegria dos foliões de verdade.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Três dias

Esse texto fala de três dias. Três dias que poderiam ser na vida de qualquer pessoa, na sua, na minha, na de alguém que você conhece. Ao ler o texto tente perceber em que época ele se encaixa em tua, em que situação. Podem ser três dias seguidos ou três aleatórios. São três dias de sua vida, três dias de nossas vidas.

Primeiro dia

Aparentemente era um dia como outro qualquer que tenha vivido e ao mesmo tempo mais um dessa nova fase. Uma fase que não sabia ao certo se deveria passar, se era certo ou errado, mas era uma tentativa de mudança, se boa a seguiria se ruim aprenderia algo. Mas hoje não pensava nisso, apenas caminhara até ali para esperar. Sim, mais uma vez esperar, como tanto esperara em outras épocas, outras fases, uma espera nem sempre frutífera, nem sempre correspondida, mas uma espera.

Os elementos eram outros, e ali repetira uma espera que já dera certo, em outra ocasião, com outro objetivo. E como tudo, a espera chega ao fim, não por cansaço ou desistência mas por chegada. Não era como pensava, não é como esperava e ali começa um misto de decepção e surpresa que perduraria por um bom tempo em alternância de intensidades; ora a decepção era maior, ora era a surpresa, até o dia em que uma deveria prevalecer, terminando com a outra.

Naquele dia a surpresa ofuscou a decepção o suficiente para permitir que outros dias existissem. Não havia culpados ou inocentes nesse efeito ludibriante, o próprio fato do sangue correr nas veias já era suficiente para justificar a situação. E assim o dia decorreu até o seu fim, na certeza que novos dias viriam a partir daqueles. Bons ou ruins o tempo diria. E as atitudes também.

Segundo dia

Como gado que sai para o matadouro, sair sabendo onde vai, sabendo o que pode acontecer. E quer que aconteça? Não e sim. O pensamento não importa, tampouco o raciocínio, pois se estes contassem deveras nada aconteceria. Racionalmente o nada seria o certo. Sem pensar o tudo está à sua espera. Não provoca, deixa que aconteça, que a sociedade o corrompa, que o senso-comum faça de si podridão.

Sente-se mal? Sem pensar em nada nem sente se é bom ou ruim, apenas age e deixa-se agir, como uma máquina programada para uma tarefa, como um bitolado em uma linha de produção. Age por agir, segue o que deve seguir, sem pensar, sem questionar.

Nesse dia a decepção paira não sobre o que há a sua volta, ainda não é tempo disso. Decepciona-se consigo mesmo, mas esquece de si durante um bom tempo. Tempos obscuros de aprendizado. Tempos em que esquece a face de seu pai, tempos em que esquece quem é.

Terceiro dia

Dias se passam, horas se passam, talvez meses ou anos. Ou talvez essa seja a sensação quando se esquece quem realmente é, se age contra seus princípios, se age contra seu caráter. Stephen King diria: quando esquece-se a face de seu pai.

Mas quando o caráter é forte, em algum momento ele prevalece, toma a frente. Satura-se de fugir de si e quer-se ter o controle que predera. E toda aquela surpresa que um dia existiu, desgasta-se sendo totalmente sufocada pela decepção, que agora exala de seus poros e é visível a seu redor. E tudo fica por um fio muito fino que ao menor peso será rompido.

Um grande peso chega e não há mais como segurar, nem que se queira, nem se quisesse realmente. Não existe transição, o momento é de realmente largar tudo e voltar a si, seu caminho, seu verdadeiro rumo. O que deveria aprender aprendeu, hora de seguir em frente. E nunca mais esquecer que é, nunca mais esquecer a face de seu pai.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Valorizar

Tenho aprendido cada dia mais a valorizar mais e mais pequenas coisas, pequenos momentos, pequenas dádivas da vida.

Dizem que só valorizamos algo quando perdemos e comigo não foi muito diferente nem continua sendo diferente. Pequenas "surpresas" desagradáveis, pequenos e consistentes problemas de saúde que venho tendo nos últimos anos tem me ensinado o valor de cada mísero grão de arroz que coloco em minha boca, tamanha a limitação, para algumas coisas periódicas, tantas outras permanentes, que venho tendo.

Ao longo desse caminho passei por algumas fases até chegar onde estou hoje. Tive um longo tempo em que não sabia o que me fazia mal, nem qual era meu mal, pulando de médico em médico sem nenhum solução. Em resumo, fui a um primeiro que talvez um dia acertasse, mas todo remédio que me passava me fazia sentir ainda pior. O segundo, otimista demais, dizia que tudo que me receitava ia me fazer melhorar. O problema era que estava tratando algo que eu (ainda) não tinha e de tanto tratar o que eu não tinha, acabou agravando o que eu já tinha e me arrumando nova enfermidade.

Passada essa época "tenebrosa", finalmente fui a um médico que não apenas começou a tratar o que eu tinha como também disse abertamente que o monte de coisa que tomei erroneamente acabou com meu estômago. Vida que segue, passei por um período de aceitação de minhas limitações, inclusive do constante controle que eu teria de ter e as possíveis crises eventuais.  Nunca questionei "por que eu". Sempre digo que tudo é consequencia de nossas escolhas, e foi escolha minha me manter em um médico ou em outro pelo tempo que fiquei, assim como hoje é escolha minha comer algo que pode (ou não) me fazer mal, porque no fim mesmo mantendo uma alimentação saudável, o que não me fez mal hoje pode me dar algum desconforto em outra ocasião. É conviver.

Passar da aceitação ao hábito foi algo necessário. Valorizo cada coisa que eu como porque é o que eu posso comer. Fico privado de coisas que eu gosto muitas vezes, mas fico feliz porque um dia eu pude comer. Hoje fico apenas com vontade de dizer para pessoa: aproveite. Sem inveja, sem tristeza.

Porém também, certas vezes ando pela rua, e vejo como o real respeito pelo próximo é uma utopia, algo inalcançável. As pessoas não respeitam nem a si próprias, não respeitam sua própria saúde, como podem respeitar os outros? Gente fumando, comendo porcarias que só fazem mal a saúde, muitas vezes que já estão contaminadas, sendo vendidas sem as mínimas condições pelas calçadas. E essas pessoas seguem suas vidas como se fossem as mais saudáveis do mundo. Dessas, eu admito, tenho inveja. Sim, porque se eu pudesse ter uma vida dessas, comendo qualquer coisa sem nenhum efeito adverso, eu teria uma alimentação saudável como tenho hoje, mas com a certeza de não passar mal, afinal se o cara não passa mal poluindo seu corpo, imagina se não o fizesse.

Esse é apenas um exemplo de valorizar pequenas coisas, pequenos atos do dia a dia que não damos conta até o momento em que passam a influenciar nossa vida de forma significativa. Valorize sua vida, valorize o que você come, o ar que você respira, o sol, a chuva, as palavras que lhe são dirigidas, mesmo as mais rudes e duras. Valorize as palavras que saem de sua boca também. Valorize a si, e valorize quem está a seu redor.

A vida pode ser difícil mas nas pequenas coisas, pode valer a pena.