Esse texto fala de três dias. Três dias que poderiam ser na vida de qualquer pessoa, na sua, na minha, na de alguém que você conhece. Ao ler o texto tente perceber em que época ele se encaixa em tua, em que situação. Podem ser três dias seguidos ou três aleatórios. São três dias de sua vida, três dias de nossas vidas.
Primeiro dia
Aparentemente era um dia como outro qualquer que tenha vivido e ao mesmo tempo mais um dessa nova fase. Uma fase que não sabia ao certo se deveria passar, se era certo ou errado, mas era uma tentativa de mudança, se boa a seguiria se ruim aprenderia algo. Mas hoje não pensava nisso, apenas caminhara até ali para esperar. Sim, mais uma vez esperar, como tanto esperara em outras épocas, outras fases, uma espera nem sempre frutífera, nem sempre correspondida, mas uma espera.
Os elementos eram outros, e ali repetira uma espera que já dera certo, em outra ocasião, com outro objetivo. E como tudo, a espera chega ao fim, não por cansaço ou desistência mas por chegada. Não era como pensava, não é como esperava e ali começa um misto de decepção e surpresa que perduraria por um bom tempo em alternância de intensidades; ora a decepção era maior, ora era a surpresa, até o dia em que uma deveria prevalecer, terminando com a outra.
Naquele dia a surpresa ofuscou a decepção o suficiente para permitir que outros dias existissem. Não havia culpados ou inocentes nesse efeito ludibriante, o próprio fato do sangue correr nas veias já era suficiente para justificar a situação. E assim o dia decorreu até o seu fim, na certeza que novos dias viriam a partir daqueles. Bons ou ruins o tempo diria. E as atitudes também.
Segundo dia
Como gado que sai para o matadouro, sair sabendo onde vai, sabendo o que pode acontecer. E quer que aconteça? Não e sim. O pensamento não importa, tampouco o raciocínio, pois se estes contassem deveras nada aconteceria. Racionalmente o nada seria o certo. Sem pensar o tudo está à sua espera. Não provoca, deixa que aconteça, que a sociedade o corrompa, que o senso-comum faça de si podridão.
Sente-se mal? Sem pensar em nada nem sente se é bom ou ruim, apenas age e deixa-se agir, como uma máquina programada para uma tarefa, como um bitolado em uma linha de produção. Age por agir, segue o que deve seguir, sem pensar, sem questionar.
Nesse dia a decepção paira não sobre o que há a sua volta, ainda não é tempo disso. Decepciona-se consigo mesmo, mas esquece de si durante um bom tempo. Tempos obscuros de aprendizado. Tempos em que esquece a face de seu pai, tempos em que esquece quem é.
Terceiro dia
Dias se passam, horas se passam, talvez meses ou anos. Ou talvez essa seja a sensação quando se esquece quem realmente é, se age contra seus princípios, se age contra seu caráter. Stephen King diria: quando esquece-se a face de seu pai.
Mas quando o caráter é forte, em algum momento ele prevalece, toma a frente. Satura-se de fugir de si e quer-se ter o controle que predera. E toda aquela surpresa que um dia existiu, desgasta-se sendo totalmente sufocada pela decepção, que agora exala de seus poros e é visível a seu redor. E tudo fica por um fio muito fino que ao menor peso será rompido.
Um grande peso chega e não há mais como segurar, nem que se queira, nem se quisesse realmente. Não existe transição, o momento é de realmente largar tudo e voltar a si, seu caminho, seu verdadeiro rumo. O que deveria aprender aprendeu, hora de seguir em frente. E nunca mais esquecer que é, nunca mais esquecer a face de seu pai.
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