Juntamente com o deserto e com a oração, o jejum parece ser uma das meditações privilegiadas de todo o tempo quaresmal, de revisão de vida e de busca sincera de Deus. Por isso, como vimos ao falarmos do deserto, eles geralmente estão unidos. Todos os que se retiram ao deserto para encontrar-se com Deus, jejuam.
Os profetas Joel e Isaías nos indicam o verdadeiro sentido desta antiga prática penitencial:
“... voltai para mim de todo o coração, fazendo jejuns, chorando e batendo no peito! Rasgai vossos corações, não as roupas!Voltai para o Senhor vosso Deus...” (Joel 2,12-13)
”Acaso o jejum que eu prefiro não será isto: acabar com a injustiça qual corrente que se arrebenta; acabar com a opressão qual canga que se solta; deixar livres os oprimidos, acabar com toda espécie de imposição? Não será repartir tua comida com quem tem fome? Hospedar na tua casa os pobres sem destino? Vestir roupa naquele que encontras nu e jamais tentar te esconder do pobre teu irmão?” (Is 58,6-7
Iluminados por estas palavras compreendemos porque, com o tempo, o jejum como abstinência de comida tem dado lugar ao jejum como símbolo e expressão de uma renuncia a tudo aquilo que nos impede de realizar em nós o projeto de Deus, convidando-nos a transformá-lo em um gesto de solidariedade efetiva com os que passam fome (os que jejum pela força), trabalhando pela eliminação de toda injustiça na vida pessoal e social, e pela libertação de toda opressão, exploração e corrupção.
Naturalmente, seria mais fácil limitarmo-nos a “cumprir” com o jejum de alimentos proposto pela Igreja. Mas necessitamos descobrir estes “outros” jejuns como meio adequado para modificar aquilo que mais nos custa. Talvez se trate de falar menos, de fazer menos gastos supérfluos, de perder menos tempo na frente do televisor para dedicar-se a alguém que necessita de nossa assistência, etc.
Por esta razão o jejum tem que estar unido a esmola, ao gesto caritativo, que é também uma ação preferencial da Quaresma, segundo a tradição Cristã. Se jejuarmos somente para sofrer ou demonstrar que somos fortes, estaríamos desvirtuando sua verdadeira finalidade.
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