Sim, gostaria. Infelizmente vivemos numa cultura onde a incompetência é valorizada, onde o saber menos, fazer menos é visto com mais bons olhos do que o oposto.
Isso começa de criança, quando na escola existem dois alunos: um que sempre tira boas notas e outro costumeiramente sempre com notas bem baixas. Imagine o exemplo: um aluno tira sempre entre 9 e 10 em suas avaliações, enquanto outro mantem sua nota entre 3 e 4. Acontece de numa prova ambos obtiveram o mesmo grau: 6,5. Ao entregar a prova a professora diz para o aluno de boas notas : "O que aconteceu? Precisa se esforçar mais para próxima". E esse aluno vai triste para casa pensando no que aconteceu para aquela nota "ruim" dentre tantas "boas" e em casa, ainda terá que enfrentar a mesma pergunta de seus pais: "O que aconteceu?". Enquanto isso, o aluno das notas baixas ganha um "Parabéns" da professora, e lhe diz "Continue assim", e ele vai feliz, satisfeito e orgulhoso por aquele feito, aquela nota boa dentre tantas ruins.
E isso prossegue durante toda vida da pessoa. Todo seu esforço e trabalho é visto como algo costumeiro e habitual dela, como se não passasse de sua "obrigação" devido a sua conhecida vontade de ajudar, de fazer o que é preciso, de modo a quando não faz algo é questionado do porquê.
Por outro lado, aquela pessoa conhecidamente displicente e inábil tem seu mínimo esforço reconhecido e parabenizado. Como exemplo, algo simples e fácil, representado em muitas histórias de filmes e afins: "colocar o lixo para fora." Uma pessoa sempre o faz, é seu hábito e costume, mas por algum motivo, um dia não colocou o lixo para fora. Resultado: no mínimo é questionado do porquê, e criticado. Outra pessoa é relapsa, nunca fez essa atividade (nem outras similares e simples), um certo dia chega, olha o lixo e o põe para fora. Resultado: é elogiado.
Esse comportamento de não valorizar aquele que usualmente é aplicado em suas obrigações, é algo até mesmo incentivado pelas religiões:
"Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido." (Lc 12, 47-48)
Esse é um trecho dentre outros que tem o mesmo sentido: o saber demais, o fazer demais nem sempre é bom. Muitas vezes a ignorância e incapacidade são mais valorizadas, pelo simples fato de culturalmente ou usualmente não se esperar nada da pessoa.
Com o conhecimento vem também a responsabilidade, essa é uma verdade muito dita. A responsabilidade de fazer certo, a responsabilidade simplesmente de fazer. E quando você faz, quando você se mostra competente, será cobrado para que faça sempre.
Se você pode viver sem os louros da vitória, com a consciência de fazer o que pode, se sentindo bem apenas por ser útil, aprenda, saiba e faça. Não será reconhecido, nem parabenizado, mas se sentirá bem consigo. Se precisa viver de elogios, só faça algo quando as pessoas esquecerem que você é capaz, assim você infla seu ego até ele ficar maior que sua consciência do dever cumprido. Mas não cometa o erro de perceberem que você pode mais, pois se perceberem, vão te exigir mais.
Porque menos, muitas vezes é mais. Infelizmente.
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