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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Quando menos é mais

Quereria ser menos, quereria fazer menos, saber menos. Gostaria de ser como aquelas pessoas que não se esforçam para fazer nada, pois essas acabam sendo mais valorizadas. 

Sim, gostaria. Infelizmente vivemos numa cultura onde a incompetência é valorizada, onde o saber menos, fazer menos é visto com mais bons olhos do que o oposto.

Isso começa de criança, quando na escola existem dois alunos: um que sempre tira boas notas e outro costumeiramente sempre com notas bem baixas. Imagine o exemplo: um aluno tira sempre entre 9 e 10 em suas avaliações, enquanto outro mantem sua nota entre 3 e 4. Acontece de numa prova ambos obtiveram o mesmo grau: 6,5. Ao entregar a prova a professora diz para o aluno de boas notas : "O que aconteceu? Precisa se esforçar mais para próxima". E esse aluno vai triste para casa pensando no que aconteceu para aquela nota "ruim" dentre tantas "boas" e em casa, ainda terá que enfrentar a mesma pergunta de seus pais: "O que aconteceu?".  Enquanto isso, o aluno das notas baixas ganha um "Parabéns" da professora, e lhe diz "Continue assim", e ele vai feliz, satisfeito e orgulhoso por aquele feito, aquela nota boa dentre tantas ruins.

E isso prossegue durante toda vida da pessoa. Todo seu esforço e trabalho é visto como algo costumeiro e habitual dela, como se não passasse de sua "obrigação" devido a sua conhecida vontade de ajudar, de fazer o que é preciso, de modo a quando não faz algo é questionado do porquê.

Por outro lado, aquela pessoa conhecidamente displicente e inábil tem seu mínimo esforço reconhecido e parabenizado. Como exemplo, algo simples e fácil, representado em muitas histórias de filmes e afins: "colocar o lixo para fora." Uma pessoa sempre o faz, é seu hábito e costume, mas por algum motivo, um dia não colocou o lixo para fora. Resultado: no mínimo é questionado do porquê, e criticado. Outra pessoa é relapsa, nunca fez essa atividade (nem outras similares e simples), um certo dia chega, olha o lixo e o põe para fora. Resultado: é elogiado.

Esse comportamento de não valorizar aquele que usualmente é aplicado em suas obrigações, é algo até mesmo incentivado pelas religiões:

"Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido." (Lc 12, 47-48)

Esse é um trecho dentre outros que tem o mesmo sentido: o saber demais, o fazer demais nem sempre é bom. Muitas vezes a ignorância e incapacidade são mais valorizadas, pelo simples fato de culturalmente ou usualmente não se esperar nada da pessoa.

Com o conhecimento vem também a responsabilidade, essa é uma verdade muito dita. A responsabilidade de fazer certo, a responsabilidade simplesmente de fazer. E quando você faz, quando você se mostra competente, será cobrado para que faça sempre.

Se você pode viver sem os louros da vitória, com a consciência de fazer o que pode, se sentindo bem apenas por ser útil, aprenda, saiba e faça. Não será reconhecido, nem parabenizado, mas se sentirá bem consigo. Se precisa viver de elogios, só faça algo quando as pessoas esquecerem que você é capaz, assim você infla seu ego até ele ficar maior que sua consciência do dever cumprido. Mas não cometa o erro de perceberem que você pode mais, pois se perceberem, vão te exigir mais.

Porque menos, muitas vezes é mais. Infelizmente.



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