Hoje, 20/7/2016, completam 18 anos da morte de meu avô materno. Não, não foi meu primeiro "contato com a morte", quatro anos antes sua esposa, minha avó, falecera, e fora um choque grande para mim, que mesmo sabendo da doença dela ainda não me dera conta da mortalidade das pessoas que eu gostava. Chorara muito quando minha avó morrera sem ter noção do que sentia, vira meu avô chorar entre pedidos de ir também. Não fora fácil.
Naquela manhã de segunda-feira, quando meu avô se fora, tudo foi um pouco diferente. Na noite anterior o médico viera vê-lo, lhe prescrevera um calmante para que ele dormisse melhor e prometera voltar em alguns dias para vê-lo. Realmente ele dormira bem melhor, o suficiente para não despertar mais. Olhos fechados, expressão indolor e serena. Apenas dormira e acordara junto a Deus.
Enquanto isso eu também dormia e fora acordado, em meu horário habitual para ir para o colégio, de uma maneira nada habitual: minha mãe me acordou dizendo que eu não iria ao colégio pois meu avô havia morrido. Nem me dei tempo para pensar, levantei e disse que iria sim ao colégio.
Postura errada? Não sei, só sei que a ficha foi caindo durante o café-da-manhã e e junto as primeiras lágrimas. Mesmo assim, fui ao colégio, ao contrário dos dias habituais não fui de ônibus, meu pai me levou de carro. Tentei levar meu dia normalmente, por mais difícil que fosse e voltei para casa. Vazia. Todos haviam ido ao enterro. Assim como acontecera quando minha avó faleceu, eu não fora. Mas dessa vez, a sensação ali fora diferente.
Quatro anos antes, eu ligara a TV e fora fazer um bolo. Por que? Porque isso me lembrava minha infância quando na casa de minha avó: eu na sala brincando e vendo TV enquanto ela fazia um bolo para o lanche. Bolo, assim como todos os domingos que íamos visitá-la, ela fazia e que eu nunca conseguira repetir tal sabor.
Dessa vez nada eu precisaria para lembrar de meu avô, pois nos últimos quatro anos ele morara com a gente, dormira em meu quarto, sentara naquele mesmo sofá que ali na sala estava. E até a noite passada ele ali estivera. Ao contrário do que eu mesmo imaginara, não chorei naquela tarde, nem mais por sua ausência física, mesmo tudo ali ainda me lembrando dele. Fiz minhas atividades de colégio e curso técnico, sem nada mais pensar. Ao entrar no quarto onde ele dormia, e dormira para sempre, parecia-me ainda sentir que ele estava ali, descansando depois de almoçar. Não consegui olhar para a cama, mas se olhasse possivelmente ainda o veria tamanha sensação de sua presença.
Não fui o melhor neto do mundo, nem tentei sê-lo, nem pensava nisso. Mas pela diferença de idade para meu primo que nascera apenas três anos antes da partida dele, sou o único que me recordo bem, e tenho em mim mais dele do que os 25% que garantem a genética. Tenho o que vi, ouvi, aprendi e vivenciei. Acertos, erros e histórias de alguém que viveu em outros tempos e lugares de forma sincera com seus princípios e convicções.
E hoje, 18 anos depois de sua partida, deixo minha lembrança e prece para que junto a Deus possa interceder por nós, entre uma prosa e outra com os amigos do céu, onde com certeza está contando suas trovas e histórias, próprias, de Bocage e dos inúmeros livros que leu em seus 91 anos de vida, bem vividos.
Nos espere, vô, junto a todos os "nossos" que aí já estão. Mas nos esperem pacientemente, sem pressa, ou alarde. Ainda temos por aqui muitas histórias para viver e podê-las contar para vocês aí no Céu.
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