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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Reflexão sobre o tempo

Esse texto que trago hoje, é uma história contada pelo Padre Fábio de Melo, scj, que acabou fazendo parte de uma das faixas do álbum Eu e o tempo. Um belo texto e uma bela reflexão, que compartilho com vocês hoje.



"Eu vivo nesse embate constante com o tempo. 

Eu me recordo que numa das noites em que eu mais pude aprender sobre o tempo, foi uma oportunidade que tive de passar uma noite com um amigo meu que estava doente. Numa fase terminal de câncer. Eu tinha ido para ali para ser útil aquela noite, cuidar dele. 

Eu me recordo que no meio da noite eu acordei com o choro dele, no meio daquele escuro. Aí fiquei assustado, e perguntei pra ele né: Robinho aconteceu alguma coisa? 

Ele me disse assim: Não! É que eu estou com um pouco de dor, já tomei o remédio. 

Aí estabeleceu-se aquele silêncio. Eu fiquei extremamente desconsertado, que na verdade eu estava ali pra cuidar dele. E eu acho que ele percebeu meu desconserto, e ele me disse assim: Meu amigo! Não se preocupe não, hoje só de saber que você está aqui dentro deste quarto, já torna minha vida um pouco mais feliz. 

Naquele momento eu experimentei o que não é do tempo. 

Porque o tempo é esta força que nos envelhece, que nos entristece, que nos mata, que nos leva embora, que nos distancia. E naquele momento eu experimentei a ausência do tempo, quando você pode ser inútil, quando você tem o direito de ser inútil para alguém, não fez o que deveria ser feito, mas o que me importa é que você está aqui do meu lado. 

Tão lindo, minha gente, quando na vida temos a oportunidade de criar essa brecha no tempo, quando nós conseguimos aliviar a nossa vida, a nossa existência a partir do amor que a gente ama, e os amantes sabem muito bem disso, quer fazer esquecer o tempo? AME! 

Por isso eu dizia aqui no início: Ele sacerdote das razões humanas – o tempo, eu sacerdote das divinas causas, que numa madrugada eu aprendi o verdadeiro significado do amor. Que concebe qualquer forma de inutilidade, não há problema. 

O importante é o que significamos um para o outro. Isso é amar. Obrigado! Obrigado por me fazer neste tempo de hoje, mais uma vez recordar, viver, que mais uma vez eu venci o tempo com a liturgia que o amor proporciona."

Padre Fábio de Melo, scj


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Análise: Um Dia Perfeito

Hoje trago minha análise de mais uma música do Legião Urbana: Um dia Perfeito.





Não sei dizer o que senti quando ouvi essa música pela primeira vez. Sua melodia tranquila, transmitindo uma paz serena, inicialmente me fez pensar no que passou pela cabeça de quem a compôs... Mas no fim isso é o que menos importa, não acha? Não sei o que quiseram expor, mas sei o que recebi, o que senti...

Quase morri
Há menos de trinta e duas horas atrás
Hoje a gente fica na varanda
Um dia perfeito com as crianças

"Quase morri / Há menos de trinta e duas horas atrás(...)". Esse é nosso dia a dia. Todo dia quase morremos, e nesse medo de "quase morrer", acabamos quase vivendo. Mas se ontem a vida nos castigou, hoje temos um dia mais tranquilo, mais sereno. "Não nos dão uma cruz que não possamos carregar". Passamos por dificuldades, apertos, tristezas, mas também temos nossos momentos de paz.

São as pequenas coisas que valem mais
É tão bom estarmos juntos
E tão simples: Dia perfeito

A grande mística da vida: São as pequenas coisas que valem mais. Tanta busca por querer mais, ganhar mais, tentar ser melhor nisso, naquilo, tanta ambição. Não é ruim querer o melhor, mas se nessa busca, certas vezes insana, deixamos de viver, de aproveitar o que temos, aproveitar as coisas simples que dão tanta satisfação, do que adianta? Acabamos por estar vivos para conquistar e nunca aproveitar o que conquistou, o que se tem de maior valor: estar vivo, estar ao lado de quem se gosta e que gosta de si. Algo tão simples para um dia perfeito...

Corre, corre, corre
Que vai chover!
Olha a chuva!

Esse trecho me lembra coisas simples de infância: brincar na calçada e de dentro de casa gritarem: "Vem pra dentro, que vai chover!" E que criança que não gosta de correr na chuva? Ou algo mais: Correr para tirar a roupa do varal antes que chova. Olha a chuva!

Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar!

Terminando com algo para se pensar: Não se deixar embrutecer. As situações da vida que nos castigam, fazem-nos perder aquela inocência e confiança pueril. É triste que acabemos por embrutecer nosso coração, e igualmente triste isso ser quase que necessário para conseguir sobreviver no mundo atual. Mas é preciso manter um pouco de fé em dias melhores, precisamos acreditar nos nossos ideais, convicções, acreditar em nossa essência boa, mesmo que diante de situações e pessoas nem tão boas. Maltratarão nossos corações, sofreremos. Sim, podem até maltratar, mas o nosso espírito, nossa fé em Deus, nossa fé no que é certo, ninguém vai conseguir quebrar. Se cada um não se deixar influenciar pelo caminho errado, pelo mal que há no mundo, as coisas podem começar a mudar. Não é fácil resistir, remar contra a corrente do que parece mais fácil e cômodo. Porém podemos engrossar a corrente oposta, do bem e da paz. Podem maltratar nosso coração, que nosso espírito ninguém conseguirá quebrar.


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Uma manhã

Mais uma manhã começa, e o despertador é cruel. O desligo e paro alguns segundos tentando recordar o que estava sonhando. Já se esvaiu, não me lembro.

Levanto com cuidado para não acordá-la. Ela merece dormir mais um pouco. A olho com ternura e fico tentado a dar-lhe um beijo de bom dia. Mando de longe e sem som para não despertá-la.

Começo minha rotina matinal lenta: higiene, remédios, um pão (árabe ou de forma), um pouco de tv. Gosto de ver um pouco pela manhã, desde que seja algo que me faça rir um pouco e começar o dia bem. Escovo os dente, troco de roupa e desço.

Inicio a minha caminhada matinal, em geral são de dez a quinze minutos até o metrô, tempo que uso para orar, quase sempre começo um terço que só termino já no meio da viagem. Mas hoje quero fazer diferente, caminhar sem pressa, nem que leve vinte ou até trinta minutos.

Deixo a mente fluir para longe, mais longe do que qualquer pensamento. Um enorme branco inunda minha mente e uma paz o meu ser. Já não sinto meu corpo, que parece flutuar no ar. De súbito uma forte dor toma conta de meu corpo, mas da mesma maneira que veio parece se dissolver naquele mar de paz.

Abro os olhos e enxergo pessoas que não conheço falando comigo como se conhecidos fossem. Um lugar totalmente desconhecido e as pessoas insistindo em falar comigo. Olho nos olhos de uma delas e digo: Desculpe, não te conheço. Ela me olha assustada e repito: Desculpe, eu não te conheço!


Em prantos ela se vai e os demais me olham com cara assustada. "Por que do susto? Não conheço a nenhum de vocês!" - digo. E um a um vão indo embora, através de uma porta que não consigo enxergar. Bem ao longe enxergo o último deles indo e tento segui-lo. Não sei porque, mas sinto precisar sair daquele lugar, por mais tranquilo e pacífico que seja.

Ando, mas parece não haver saída, parece que caminho por horas e horas, e apesar disso não estou cansado, me sinto cada vez mais disposto.

De repente o cenário parece que está mudando, vejo o que parece ser uma porta com vidro, coloco a mão nela, mas não há como abrir. Mesmo parado sinto meu corpo se mexendo, mas permaneço ali parado com as mãos na porta. Ela se abre e atrás de mim aparece uma multidão. Dou um passo e me vejo na estação que sempre desço para ir trabalhar. As pessoas passam por mim e eu apenas as observo, sem saber como cheguei até ali.

Caminho até o trabalho, pensando no que aconteceu, sem encontrar resposta. No trabalho, sento em "minha cadeira" e olho meu celular. Um "Bom dia"  com um emoticon me mostra que nada mais importa.

Nada mesmo

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

My Way

Essa bela música que trago hoje já foi interpretada por diversos gênios da musica, dentre eles, o grande Frank Sinatra.




My Way (Claude François/Jacques Revaux/Paul Anka) é o título em inglês da canção francesa Comme d'habitude, que foi lançada pela primeira vez pelo autor, Claude François, em 1967, na França. Em 1968, Frank Sinatra lançou sua versão em língua inglesa, adaptada por Paul Anka e que virou um de seus maiores clássicos. É uma das músicas populares mais gravadas da história.

A versão em inglês manteve somente a melodia, pois o texto é completamente diferente da versão francesa original. A versão inglesa em resumo, conta a história de um único homem que tem a convicção de ter "trilhado seu caminho" conforme sua própria vontade após uma longa vida.

Essa música me faz pensar... E em poucos minutos, prestando atenção na letra, já sinto como se fossem minhas as palavras...

E agora o fim está próximo
Então eu encaro a cortina final
Meu amigo, Eu vou falar claro
Eu irei expor meu caso do qual tenho certeza

Eu vivi uma vida por inteiro
Eu viajei por cada e em todas as estradas
Oh, mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Arrependimentos, eu tive alguns
Mas então, tão poucos para mencionar
Eu fiz, o que eu tinha que fazer
E eu vi tudo, sem exceção

Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, ao longo da estrada
Oh, mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Sim
Teve horas
Eu tenho certeza de que você sabe
Quando eu mordi mais que eu podia mastigar

Mas, entretanto, quando havia dúvidas
Eu engoli e cuspi fora
Eu encarei tudo isso e continuei altivo
E fiz do meu jeito

Eu amei, eu sorri e chorei
Tive minhas falhas, minha parte de derrotas
E agora como as lágrimas descem
Eu acho tudo tão divertido

De pensar que eu fiz tudo
E talvez eu diga, não de uma maneira tímida
Oh não, não eu
Eu fiz do meu jeito

E o que é um homem, senão o que ele tem
Se não ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguem que se ajoelha

Os registros mostram
Que eu recebi as desgraças
E fiz do meu jeito

Sim, esse era meu jeito

Vivemos e um dia sentimos que estamos perto do grande fim do espetáculo da vida... Mas como foi que vivi? O que fiz? Como fiz... e por quê?

Ah sim! Vivi a vida, percorri caminhos, experimentei sensações. Arrisquei, acertei, errei, me arrependi, mas segui em frente, não me paralisei diante da tristeza dos erros, nem da euforia dos acertos. Fiz o que tinha de ser feito, mesmo quando não me era favorável ou agradável. Tentei ser mais do que podia, foi um risco, eu sei, mas senti que era preciso. Aprendi com meus erros, tive que engolir alguns, mas outros cuspi, e segui adiante.

Amei. Chorei e sorri com isso. Tive culpa nas derrotas, mas se antes chorei de culpa e tristeza, hoje, sorrio em meio as lágrimas, porque foi divertido. Foi vida vivida. Não, caro amigo, não, caro leitor. Não fiz de tudo. Talvez você ache que o que fiz foi tão pouco perto do que muitos fazem. Talvez aches que tanta gente vive mais intensamente, tem uma vida mais divertida, mais agitada. Mas eu vivi a minha vida, do meu jeito, da minha forma de ser. Se é tímida perto de tantos aventureiros, não tem importância. Vivi do meu jeito, da minha forma de ser, que nõ precisa ser igual a de ninguém.

"(...)E o que é um homem, senão o que ele tem / Se não ele mesmo, então ele não tem nada (...)". Tentar ser quem não é para parecer ser mais divertido, para parecer ser melhor para os outros... Se não se está de bem consigo mesmo, nada, nem a vida, tem validade. Se não é sincero consigo mesmo, passa-se a ser um arremedo de si mesmo, um escravo das palavras e vontade dos outros.

Tive tristezas e alegrias. Emoções do meu jeito, Eu fiz do meu jeito. "I did my way", Fiz o meu caminho.

Embalado na emoção dessa música, deixo mais um vídeo para vocês: Pavarotti, Carreras e Placido Domingo, em 1994, cantando My Way, e emocionando o próprio Frank Sinatra que estava na platéia assistindo.