Sabe-se que os militares mantiveram inúmeras “casas” de tortura, oficiais ou clandestinas, tais como a “Casa da Morte” em Petrópolis ou a “Casa Azul” no Araguaia. É provável que disso tenha derivado o título da música.
Se dez batalhões viessem à minha rua
E vinte mil soldados batessem à minha porta
À sua procura
Eu não diria nada
Porque lhe dei minha palavra
Teu corpo branco já pegando pêlo
Me lembra o tempo em que você era pequeno
Não pretendo me aproveitar
E de qualquer forma quem volta
Sozinho p'rá casa sou eu
Sexo compra dinheiro e companhia
Mas nunca amor e amizade, eu acho
E depois de um dia difícil
Pensei ter visto você
Entrar pela minha janela e dizer
- Eu sou a tua morte
Vim conversar contigo
Vim te pedir abrigo
Preciso do teu calor
Eu sou
Eu sou
Eu sou a pátria que lhe esqueceu
o carrasco que lhe torturou
o general que lhe arrancou os olhos
o sangue inocente
de todos os desaparecidos
O choque elétrico e os gritos
- Parem por favor, isso dói
Eu sou
Eu sou
Eu sou a tua morte
Vim lhe visitar como amigo
Devemos flertar com o perigo
Seguir nossos instintos primitivos
Quem sabe não serão estes
Nossos últimos momentos divertidos?
Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém
Abra os olhos e o coração
Estejamos alertas
Porque o terror continua
Só mudou de cheiro
E de uniforme
Eu sou a tua morte
E lhe quero bem
Esqueça o mundo, vim lhe explicar o que virá
Porque eu sou, eu sou, eu sou
É uma música mais longa do que o normal para a banda (6 minutos e 53 segundos) e possui uma letra repleta de simbolismos, cujo significado varia drasticamente à partir das experiências vividas por quem ouve. No entanto, todas as músicas da Legião são assim, e é isso que torna cada mínimo detalhe cada vez mais fantástico...
A letra gira em torno de questões e fatos ocorridos durante a época do Regime Militar no Brasil, apresentando a tortura, violência e opressão sofridas no período. Como pode ser percebido, inicialmente, a partir de "A pátria que lhe esqueceu".
A seguir, vemos a questão de aproveitar cada momento como se fosse o último: faça o que deseja e gosta, pois pode não haver outra chance. Hoje você come e bebe, mas amanhã seu corpo pode estar destinado à podridão em uma vala qualquer. Basicamente, "Carpe Diem"
(Quem sabe não serão estes
Nossos últimos momentos divertidos?)
Temas como revolta, vingança e rancor também estão presentes, pois "não devemos perdoar".
No entanto, isso não é nenhum passado, mas sim uma realidade vivida até os dias de hoje, pois "o terror continua, só mudou de cheiro". Assim sendo, estamos em uma situação parecida, mas nem um pouco divulgada pela mídia, pois civil torturado pelo estado "não vende jornal"... E cresce a criminalidade e as "vítimas da sociedade" são protegidas enquanto as vítimas da violência não contam com nenhum proteção real.
Vemos que somente de uns poucos anos pra cá essa discussão tem tomado contornos de verdadeiro movimento de massas, que apesar de tudo ainda tem muito a crescer. Naquele momento, ou seja, há quase vinte anos atrás essa ainda era uma discussão restrita aos círculos de familiares e militantes mais consequentes.
Além disso, ia-se na metade dos difíceis anos de 1990, auge da ofensiva ideológica contrarrevolucionária. Mesmo os artistas que nos anos 80 haviam minimante se preocupado com os destinos e a luta de nosso povo, ou caíam no esquecimento ou se vendiam para sobreviver.
Exatamente aí, nesse contexto, a banda lança essa canção-protesto. Que infelizmente continua atemporal...
Voltei a ouvir está música depois de ver tudo que vem acontecendo.Tá um clima estranho onde se bobear, um cara que afirma que não houve ditadura pode chegar ao poder. Renato tem razão, essa porra só mudou de cheiro e uniforme. Valeu pela sua contribuição, com certeza um acrescimo cultural importante.
ResponderExcluirTantos significados cobertos pelas poeiras. E com toda a mídia mentirosa de hj que só cegam ainda mais os jovens os impedem de ouvir e entender o real significado e a história por trás de nossa nação. Eterno Renato Russo
ResponderExcluirMas...como "não devemos perdoar, eu não anistiei ninguém". O que significa isso? Sempre achei essa parte estranha. Renato era contra o perdão de quem estava no exílio?
ResponderExcluirEntendo o trecho como se ele fosse vítima de tudo isso, de tudo que passou. E todos somos vítimas mesmo que indiretas da época e dos acontecimentos, vivemos a consequência de tudo que passou (e passamos, pois mudaram as caras , mas muito pouco as atitudes). Não devemos esquecer o que aconteceu, devemos aprender com os fatos e não "perdoá-los". Ele não se refere aos exilados e sim aos "exiladores". Ele não quer anistiar, perdoar, os culpados pelo terror que aconteceu.
ExcluirÉ isso que entendo.
Ele se refere à anistia dada aos militares no pós ditadura. Claro, a anistia foi tbm para todos os envolvidos nas revoluções durante o regime.
ExcluirQuem diria que mais de 20 anos depois do lançamento a letra dessa música estaria mais atual do que nunca. "O terror continua, só mudou de cheiro e de uniforme".
ResponderExcluirO nome vem da carta do tarô “a torre”, mas em francês “la maison Dieu”
ResponderExcluirGrato pela contribuição.
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