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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Incompletos - parte 2

Abri os olhos. Melhor que nunca os tivesse aberto.

Tudo parecia estranho. Eu não sabia onde estava nem quem eram aquelas pessoas. Respirei fundo, devia ser um sonho. Só poderia estar sonhando, eu era um mero desconhecido no meio de desconhecidos. Nem a roupa que eu vestia eu reconhecia.

Um mundo de diferenças. Coloco a mão no bolso e há uma chave. Seria de onde moro? Será que ainda moro no mesmo lugar? Talvez valha a pena tentar.

Levanto daquele banco no qual estou sentado talvez há horas. Um banco numa praça, em um bairro distante que não lembro de ter passado algum dia em minha vida. Ando pelas ruas, movimentadas em busca de algum alento, algo que me lembre como cheguei ali e principalmente como sair.

Um ônibus passa com um nome conhecido no letreiro. Não é onde moro (se é que ainda moro lá), mas é algo. Pego o ônibus e algumas horas depois desço numa estação de trem,e quase uma hora de trem chego em uma estação de metro. Daí vou para meu destino conhecido.

Um lugar conhecido. Me sinto mais tranquilo, mas ainda curioso de o que acontecera até ali, de onde estivera, por onde passara. Chego ao edifício e entro direto, portas abertas e ninguém na portaria. No elevador, tiro a chave do bolso e a seguro forte, mentalizando que aquela chave abrirá a porta, e estarei em casa.

Chego no corredor, respiro fundo e coloco a chave na fechadura. Abro a porta e a luz que entra pela janela reflete nas paredes e por um momento nada enxergo. Não há o que enxergar, não há o que vê. Não há móveis, quadros, luminárias, cortinas, nada. Apenas um espaço vazio imenso. Dou mais alguns passos e vejo que o mesmo repete-se em todos os cômodos: nada.

A tranquilidade que tivera ao girar a chave esvaiu-se ao fim da última volta da fechadura. Estava novamente perdido, sem saber o que fazer. Do lado de fora, o sol já se põe. Em meus bolsos nada além de algumas notas de baixo valor,  moedas e o vale transporte que me permitiu chegar ali. Nem telefone, nem nenhuma informação.

Minha cabeça gira e deito no chão para não cair. Fecho os olhos, orando para tudo se acertar. Apenas isso. Quisera não ter aberto os olhos. E talvez não os abra mais.

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