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quarta-feira, 4 de março de 2020

Filme: Coringa

Tenho escutado diversas críticas ao mais recente filme do Coringa, mas não quis tirar conclusões precipitadas antes de assistir e refletir sobre o filme.

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Uma das críticas que mais se repetem tem sido que o filme enaltece o criminoso, torna o infrator um exemplo a ser aplaudido e não a ser combatido ou criticado, como o personagem sempre foi. Porém, essa versão do Coringa interpretada magistralmente por Joaquin Phoenix traz mais do a simples história de um personagem icônico dos quadrinhos, traz uma visão do mundo da perspectiva de baixo, do marginalizado, do discriminado.

E meio a uma greve dos coletores de lixo, o povo vive em meio a sujeira e as pragas que isto atrai, enquanto os ricos passam em suas limusines e carros de luxo no caminho entre suas mansões e os salões de festa, bailes e teatros de requinte. A mídia se mantem acima, noticia as mazelas que ocorrem, mas não deixa de, em sua busca por audiência, ridicularizar os desafortunados, os doentes, talvez em busca de manter seu apoio às castas altas da sociedade.

Enquanto isso, o personagem principal, com problemas mentais, tenta levar sua vida em meio a seus devaneios; ora vive o mundo real ora vive em seu próprio mundo e pensamentos. É agredido, ridicularizado e, em um transporte público mata seus agressores. Sua imagem é vista como uma resposta ao Sistema que oprime, e utilizada em manifestações populares. Busca um ricaço da cidade, para quem sua mãe trabalhou e que poderia ser seu pai. Mais uma vez é ridicularizado, ouve insultos a si e a sua mãe.Em um desfecho, ele é convidado a ir a um programa de auditório, cujo apresentador outrora admirado, o havia ridicularizado, utilizando imagens de uma apresentação mal sucedida em um clube de humor. E ali, pela primeira vez se apresenta como Coringa, e talvez pela primeira vez em toda estória, faz um discurso realmente sensato contra toda discriminação que sofreu, por não ser da elite, por não ser famoso, por ser um doente mental. Ele critica todo Sistema que "dita" o que é certo, o que é errado, quem deve viver e quem pode morrer. "O que você consegue quando cruza um doente mental solitário com uma sociedade que abandona ele e trata como lixo esse cara? Eu digo o que você consegue: consegue a merda que merece!" E mata o apresentador. Chegou ao programa com ideia de fazer seu discurso e se matar em um grande final trágico, mas mudou de ideia depois de ser novamente criticado e matou o apresentador.

Não. Nada do que passou justifica ter se tornado um assassino. Tampouco quero rotular o personagem de "vítima da sociedade". É um criminoso, que assim como foi no filme, deve ser preso e sofrer as sanções adequadas por seus crimes. Mas o grande escopo do filme, a meu ver, não é o criminoso e sim a situação da sociedade representada ali, um fiel retrato de nossa sociedade atual: os ricos e poderosos ficam protegidos e isolados das mazelas, junto a mídia buscando audiência ambos sem  se preocupar com quem atingem para manter seus status e do outro lado os pobres, os excluídos, os doentes que vivem a realidade de uma cidade violenta e em caos; uma parcela da população que é utilizada de fantoche pelos mais poderosos, na maioria das vezes sem qualquer reação, seja por ignorância (humildade, simplicidade) ou por medo. Como diz um verso da música de Renato Russo: 

"(...)
Nos querem todos iguais
Assim é bem mais fácil nos controlar
E mentir, mentir, mentir
E matar, matar, matar
O que eu tenho de melhor, minha esperança
(...)"

Uma sociedade desigual, que ignora os problemas dos menos favorecidos (como a nossa), e uma revolta desses (que nos falta). Esse, para mim, é o resumo do filme em uma frase. Querer fazer igual o diferente, esse é o grande erro de nossa sociedade, de nosso mundo.

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