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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Envelhecer...



 “Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.

A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.

O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido…é sim não poder voltar a cometê-las.

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.

Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.

O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.

Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.

A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.

Nada passa mais depressa que os anos.

Quando era jovem dizia:

“Verás quando tiver cinquenta anos”.

Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada.

Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.

A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.

Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.

Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.

Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.

Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.

Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.”


Albert Camus

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Pensamentos

 Não somos uma constante... Entre altos e baixos seguimos em frente… Porque também não temos muita escolha... Não nascemos multimilionários, então temos que seguir…  

 Muitas vezes me senti só mesmo quando acompanhado… Em vários momentos da vida, em momentos que hoje vejo que foram altos, baixos, médios…  Já me questionei e por vezes me pego ainda questionando o porquê de tudo... Já cansei e deixei de pensar besteira por medo... Hoje eu nem tenho medo… Talvez o medo maior seja/fosse do "insucesso" da besteira.  Já tive medo da "punição" divina se algo fosse feito. Mas hoje nem penso mais em dar um fim absoluto a tudo porque não me cabe decidir isso. Não cabe a ninguém. O fim é algo orgânico e natural... Aguardarei sem pressa.

 Os faladores de "capa de livro" diriam: seja grato pelo que tem… Tem gente em situação pior, etc. Mas cada um sabe onde seu calo mais aperta. A gratidão pelo que se tem, pelo que se pode conquistar, vem muito mais das atitudes e do continuar do que ficar pensando em ser grato.  Não peço nunca um fardo menor... Só peço e tento pensar que estou sempre no momento baixo… Que em breve vai subir... Mas por vezes parece que demora tanto... Quem sabe somos como carne... Se ficar macerando no tempero pelo tempo certo fica ótima... Se passar disso fica passada e ruim. E o tempo máximo/certo é impreciso... Se dois pedaços de carne não são iguais, imagina pessoas... Analogias nos ajudam muito... No fim, não nós entendemos tanto quanto entendemos o cozinhar, por exemplo: precisamos mesmo entender porque estamos aqui?  Por que precisamos encontrar um porquê para tudo? Se não tenho resposta para todos, melhor não procurar respostas para nenhum.

 Tem um show do Legião Urbana, que em determinado momento Renato Russo diz: “As pessoas dizem que tenho as respostas... Mas eu não sei qual é a pergunta!" Cada dia eu me convenço mais que não quero saber a pergunta. Nenhuma.

 Da mesma forma, outro dia, vi um bate-papo do filósofo Pondé com o religioso Caio Fabio. O primeiro é um ateu declarado. Caio Fábio disse que Deus precisa de mais pessoas como Pondé que dizem que Deus não existe, porque de fato Ele não existe. Não é uma existência palpável, Deus não existe. Deus é. Na mesma ideia, Nietzsche escreveu que Deus está morto. Porque matamos a ideia de Deus querendo explicá-lo e encaixotá-lo em dogmas, regras, templos e vicissitudes humanas. E se Ele é, e somos partes de um todo, então somos, sem porque, sem precisar de por quê.

 Há uma linha tênue entre essa lógica e a alienação e passividade. Tem que estar do lado da lógica…  Não há um porquê, mas se pode fazer algo para melhorar, façamos… Se está ruim reclame, faça sua parte. Mas não procure um porquê, uma justificativa divina ou cármica para isso, só vai aumentar a dor e o sofrimento.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

A gente se acostuma...


 

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.


A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.  E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.


A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.  Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.


A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Homi não chora

 



Hoje aqui, oiando pra vancê, meu pai
Tô me alembrando quanto tempo faz
Que pela primeira vez na vida eu chorei
Não foi quando nasci pru que sei que vim berrando

E disso ninguém se alembra, não
Foi quando um dia eu caí e levei um trupicão
Era criança, me esfolei, a perna me doeu
Quis chorá, oiei pra vancê, que esperança
Vancê não correu pra do chão me alevanta

Só me oiô e me falô
Que isso, rapaz? Alevanta já daí
Homi não chora

Aquilo que vancê falô naquela hora calou bem fundo
Pru que vancê era o maió homi do mundo
Não sabia menti nem pra mim nem pra ninguém
O tempo foi passando, cresci também
Mas sempre me alembrando
Homi não chora
Foi o que vancê falou

O mundo foi me dando solavanco
Ia sentindo das pobreza os tranco
Vendo as tristeza vorteá nossa famía
E às vez as revorta que eu sentia era tanta
Que me vinha um nó cego na garganta
Uma vontade de gritá, berrá, chorá, mas qual
Tuas palavra, pai, não me saía dos ouvido
Homi não chora

Então, memo sentido eu tudo engolia
E segurava as lágrima que doía
E elas não caía, nem com tamanho de quarqué uma dor

Veio a guerra de 40 e eu tava lá
Um home feito, pronto pra defender o Brasil
Vancê e a mãe foram me acompanhar pra despedi
A mãe, coitada, quando me abraçô, chorô de saluçá
Mas, nóis dois, não
Nóis só se oiêmo, se abracêmo e adespedimos
Como dois Homi, sem chorá nem um pingo

Ah! Como me alembro bem, era um dia de domingo
Também quem pode se esquecê daquele tempo ingrato
Fui pra guerra, briguei, berrei feito um cachorro do mato
A guerra é coisa que martrata

Fiquei ferido, com sôdade de vancês, escrevi carta
Sonhei, quase me desesperei
Mas chorá memo que era bão nunca chorei
Pruque eu sempre me alembrava
Daquilo que meu pai me ensinô
- Homi não chora

Agora, vendo vancê aí desse jeito, quieto, sem fala
Inté com a barbinha rala, pru que não teve tempo de fazer
Todo mundo im vorta, oiando e chorando pru vancê
Eu quero me alembrá, quero segurá, quero maginar
Que nóis dois sempre cumbinemo de homi não chorar

Quero maginá que um dia vancê vorta pra nossa casa pobre
E nóis vai podê de novo se vê ansim pra conversar
Então vem vindo um desespero que vai tomando conta
A dô de vê vancê ansim é tanta, é tanta, pai
Que me vorta aquele nó cego na garganta
E uma lágrima teimosa quase cai

Óio de novo prôs seus cabelo branco
E arguém me diz agora pra oiá pela úrtima vez
Que tá na hora de vancê embarcá
Passo a minha mão na sua testa que já tá, já tá sem pensamento

E a dô que tô sentindo aqui dentro vai aumentando
Aumentando, quase arrebentando os peito
E eu não vejo outro jeito senão me adescurpar

O sinhô pediu tanto pra móde eu não chorar
Home não chora
O sinhô cansô de me fala, mas, mas pai
Vendo o sinhô anssim indo simbora
Me adescurpe, mas tenho que, que chorar.

Texto: Rolando Boldrin


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Tudo mudou...


Tudo mudou. 

Homens, coisas e animais mudaram de lã ou de pele. 

As palavras já não são as mesmas do tempo em que estudávamos gramática com os olhos míopes das professoras. 

Nádegas e pernas das mestras -- objeto direto do nosso desejo -- ofuscavam o interesse pela didática.
Olho o mundo de todos os ângulos possíveis e tudo me parece oblíquo. 

É a civilização globalizada, a cultura de massa, a sagração do factóide, a fragmentação dos idiomas.

Corta-se a palavra em frações microscópicas. 

A vida, o amor, a morte, a realidade:

Tudo agora virou fast food.


Texto: Francisco de Carvalho

 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Mudar o pensamento

 

Sempre quis acreditar que somos seres em constante evolução e, ao longo de meus dias, tive mais certeza disso.

Com certeza, hoje já não sou o mesmo que era há décadas, anos, semanas. Mudei minha forma de pensar sobre muitas coisas, abandonei velhos hábitos, “vícios” e pensamentos, e, é claro, adquiri tantos outros. E nada seria mais correto que mudar meus pensamentos e percepções.

Nasci antes dos anos 90, o que me faz de uma geração que viveu e conviveu com uma série de coisas que hoje seriam consideradas absurdo. Foi uma época sem limites, sem censuras ou noção. Os programas humorísticos abusavam de piadas envolvendo religião, cor de pele, identificação sexual, xenofobia e todo tipo de coisa que hoje enxerga-se como preconceito. Os programas de auditório buscavam ganhar audiência com pessoas seminuas se digladiando em uma banheira para pegar sabonetes, ou outros tipos de exposição tanto de imagem quanto de palavras. Crianças cantavam junto quando vocalista cantava da suruba que lhe passaram a mão na bunda, mas ele não “comeu ninguém”, ou sobre valer tudo, só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher, o resto vale.

Não há pessoa que tenha vivido nessa época que hoje não seja ao menos um preconceituoso em desconstrução. Nunca discriminei pessoas por qualquer característica individual dela, mas estava imbuído nessa atmosfera que tratava com naturalidade determinadas situações, manifestações ou humor. E, para mim, ainda hoje existe uma linha muito tênue entre o aceitável e o ofensivo. Aos “olhos atuais” passei por vezes pelo que hoje chamam de “bullying”, mas que na época era situação normal de intimidação a ser vencida com inteligência, e piadas a serem retribuídas.

Mudei meu pensamento (e continuo mudando) em relação à religião e religiões. Tenho ciência que há uma distância entre o que são doutrinas humanas e o que deve ser inspiração Divina. E isso em relação a qualquer doutrina que exista. Sigo uma, simpatizo com outra e respeito todas. Acredito que todas têm o seu valor e também seus defeitos, pois independente da religião, todas possuem um elemento muito falho e sujeito a distorcer o que é o correto: o ser humano.

No fim, sou fruto dos erros e acertos que me trouxeram até aqui, do que assimilei de bom e ruim, e do que busco filtrar. Creio que só de identificar o bom e ruim que assimilei, é um avanço, pois ao contrário do que alguns “imutáveis” dizem, nem tudo é “mimimi”. Nem tudo...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

De volta às origens

 

Chega um momento em que o mundo a seu redor te comprime de tal forma, que tudo que se deseja é expandir para romper essa pressão. Nesse momento olho a meu redor e procuro um porto seguro, um cais em que possa aportar, descansar a mente e recordar-me de tempos melhores, mesmo que em silêncio.

Um simples momento em que olhe de onde parti, o que eu era, para identificar aonde cheguei, orgulhar-me do que acertei e partir de novo, agora com ciência de onde errei. Lugares que conheçam mais do que eu aparento, ou aparentava, ser. Conheçam minha essência.

São poucos lugares assim. Bem poucos mesmo, que se fosse contar não gastaria uma mão para isso. E por muito tempo deixei de lado, mesmo com as lembranças, me afastei um pouco, deixei de visitar. Ao olhar hoje, percebo o quanto esses lugares queridos cresceram, alguns tanto, que agregaram outras áreas, deram origem a belos lugares de paz e alegria. Fico feliz com isso, assim como fico feliz ao perceber que apesar de tanto crescimento, continuam sendo um lugar de conforto, de paz para meus dias atribulados. Gosto de imaginar que de alguma forma fiz parte do crescimento desses lugares, mesmo que seja um pouco petulante de minha parte pensar assim

Lamento ter passado tanto tempo distante. Tenho ciência que muito do que passei, muito do que me fez mal, poderia ter sido mais suportável se me desse ao “luxo” de repousar, mesmo que por alguns minutos nesses recantos tão adoráveis, reiniciar a mente e o coração para retornar às batalhas.

Estou disposto a voltar às origens. Será preciso para sobreviver com sanidade.