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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Idas e vindas

Há um tempo coloquei aqui um belo texto sobre amizades, e também em outras ocasiões comentei sobre pessoas que vem e vão em nossas vidas, cada uma a seu tempo, com seu papel determinado, pelo tempo que no fim é necessário, pelo tempo que permitimos que estejam, pelo tempo que elas se permitem estar.

O texto de hoje não fala exatamente de amigos que mesmo longe sempre estão perto. Tenho amigos assim, que mesmo se eu ficar anos sem falar com, tenho certeza que a conversa fluirá como se não conversasse há apenas algumas horas.

Hoje gostaria de falar daquelas pessoas que sumiram de nossas vidas por algum motivo, e com o tempo esquecemos o porquê. Pode ser um "amigo" que não se demostrou ser mesmo amigo, uma paixão que não deu certo, um colega que se afastou e você não lembra porque. Todos tivemos pessoas que passaram por nossas vidas e por um exato motivo não seguiram o caminho que imaginávamos.

Há quem guarde lembranças, rancores e esses não esquecem jamais. Outros, como eu, esquecem muitas coisas que já não importam, talvez por crer que não mais verão tais pessoas, talvez por crer que com o tempo a causa deixe de existir ou ser fruto de um mal entendido.

Nesse ponto o caro leitor deve estar intrigado: o que aconteceu para levar-me a escrever um texto ao mesmo tempo tão profundo, filosófico e confuso?  De fato, você está com a razão, algo acontecido me fez lembrar do assunto.

A modernidade tem feito com eu pudesse ter contato com  pessoas que há muito eu não conversava e por razões diversas. Alguns amigos que realmente o tempo fizera eu perder contato, alguns colegas que foi realmente bom ter notícias, pessoas que trabalharam comigo, outras que estudaram comigo, pessoas que conheci durante meus anos de vida e que agora posso manter contato quando preciso. Mas a modernidade trouxe consigo também aquelas pessoas que "sumiram" por um motivo específico: relacionamentos que não foram para frente, amizades não amistosas e afins.

De minha parte, não me oponho ao diálogo com ninguém, por mais que algum dia determinada pessoa possa ter me magoado. Tenho por princípio que em qualquer relação humana, amistosa ou não, tem seu sucesso ou insucesso como responsabilidade de ambas as partes, seja por incompreensão, falta de dedicação, por erro etc. Não quero fazer uma tese psicológica sobre relações humanas, com seus sucessos e insucessos, então voltemos ao assunto.

De algumas dessas pessoas que "ressurgiram do limbo" (plagiando a expressão de um amigo), eu realmente não me recordava ao certo porque "tinham ido para o limbo", às vezes tão rapidamente quanto surgiram no meu caminho na época. Sou grato a tecnologia que permite ter contato novamente com essas pessoas, pois fazem parte de um aprendizado que tive e que ficou esquecido. Sou grato a essas pessoas por me lembrarem do que foi esquecido, pois em alguns casos, ao longo da conversa, eu pude lembrar do motivo dessa partida até então sem volta.

Claro que vem a decepção que ao longo do tempo em certos aspectos a pessoa não tem aprendido nada, não tenha mudado. Sou chato o suficiente para alertar as pessoas de determinadas atitudes e visões da vida que não acho certas. Não sou o dono da verdade, creio que o errado possa ser eu, mas se a pessoa não é sequer capaz de argumentar sua visão, seu ponto de vista, suas atitudes, realmente sua partida foi acertada.

A todas essas pessoas que descrevi aqui, dedico esse texto.

Carta 6

Apesar de tanto tempo, essa é apenas a segunda carta, mais de 5 anos depois daquela manuscrita, e entregue. De certa forma me pergunto um pouco por que escrevê-la, afinal tudo que havia a ser dito o foi, a seu tempo.

Talvez uma expressão que ouvi outro dia seja a perfeita para iniciar este escrito: mal entendido. É, foi essa expressão que usada para descrever toda uma série de acontecimentos e não acontecimentos, fazendo todo um discurso de possível ciclo incompleto. Eu não usaria essas palavras, pois um ciclo mesmo curto pode estar completo, o que a meu ver é o caso.

Não houve mal entendido, tudo foi muito bem entendido, o que houve foi uma opção de não encarar o que poderia ser um desafio, uma vida diferente e possivelmente melhor. De minha parte isso ficou muito bem entendido, de minha parte houve uma escolha consciente, sensata, sincera. Enxerguei uma repetição de erros recentes, opções anteriores erradas e saí deles. Optei por uma coisa chamada felicidade a longo prazo, em troca do prazer momentâneo e de futuro incerto.

Não existe sensação de não completitude. Tudo que sobra, tudo que resta hoje é o desejo. Desejo que siga seu caminho feliz.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sonhei

Sonhei que via teus olhos cheios de promessas. E quantas promessas... Fiquei sem jeito de rir, meu riso de felicidade poderia soar como incredulidade, já que fazias promessas. E quantas...

Não ri, apenas sorri e quem riu foi você. Um riso lindo, e um sorriso mais belo ainda. No abraço, esqueci meus anseios, minhas dúvidas, meus problemas e senti que poderia dormir em paz. Senti uma paz tão grande que achei que o sonho acabaria ali.

Cada palavra, cada frase exagerada que você dizia me transmitia paz,  me deixava alegre por simplesmente estar vivo, para estar ali ouvindo. Como eu gostaria de lembrar as palavras ditas... Palavras doces, logo para mim, errado errante... Sempre...

Acordei, querendo vê-la, mas não estavas ali. Aguardarei o momento certo, e já não me importa o humor, não importa se estarás sorrindo como no sonho ou com ar de cansada.  Só quero vê-la, sentir tua presença junto a mim, sem palavras, em um silêncio que sempre entendemos.

Tão estranho o sonho, tão estranho sonhar... E você me anima a acordar todo dia, para vê-la... E enquanto a hora não chega, sonhar acordado contigo. Sempre.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pra Você Guardei o Amor

Hoje é um dia especial. Há dois anos um passo foi dado. Um passo que mudou minha vida, de uma forma que eu nem sei explicar.

Na ocasião, uma pessoa que conhece bem perguntou como eu me sentia. Pergunta certíssima, pois quem me conhece sabe o quanto sou resistente a mudanças, o quanto penso antes de qualquer situação, certas vezes até demais. Lembro que respondi: Não sei como me sinto... Era uma sensação de "Será que a 'ficha não caiu?'". Foi algo tão natural para mim, não senti a mudança em minha vida, apenas estava feliz e nada mais. E assim continua, o dia-a-dia, cada minuto. Naturalmente alegre, naturalmente feliz.

Gostaria de compartilhar com vocês uma música do Nando Reis, que é uma marca na minha história. É minha homenagem a ela, é nossa música.



"Pra você guardei o amor
 Que nunca soube dar
 O amor que tive e vi sem me deixar
 Sentir sem conseguir provar
 Sem entregar
 E repartir

 Pra você guardei o amor
 Que sempre quis mostrar
 O amor que vive em mim vem visitar
 Sorrir, vem colorir solar
 Vem esquentar
 E permitir

 Quem acolher o que ele tem e traz
 Quem entender o que ele diz
 No giz do gesto o jeito pronto
 Do piscar dos cílios
 Que o convite do silêncio
 Exibe em cada olhar

 Guardei
 Sem ter porquê
 Nem por razão
 Ou coisa outra qualquer
 Além de não saber como fazer
 Pra ter um jeito meu de me mostrar

 Achei
Vendo em você
Explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo os meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que o arco-íris
Risca ao levitar

Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar

Guardei
Sem ter porquê
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
Explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porquê
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar

Achei
Vendo em você
Explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar"

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pós-copa

Estou escrevendo antes da "grande final da copa", assim minhas palavras não ficarão influenciadas pelo resultado. Porém, escrevo após a derrota da seleção brasileira e sua eliminação, mas sem nenhum sentimento de tristeza ou revolta. Na verdade um certo alívio tardio, porque a derrota, e da maneira que foi, pode nos fazer enxergar além da possível alegria de uma conquista.

A copa, o torneio, a seleção, o futebol. A alegria do povo, talvez a única alegria que nosso povo sofrido tem, sem segurança, sem o seu direito de ir e vir garantido, sem educação, sem saúde. A única alegria pode realmente ser o futebol. Por que tantos queriam privar o povo dessa única alegria, ainda mais com uma outrora possível conquista dentro de casa? Porque as conquistas entorpecem. O sentimento de alegria, de conquista é um poderoso entorpecente, não precisa pensar muito para chegar à essa conclusão. E entorpecidos, aqueles que apoiaram as manifestações contra os gastos abusivos da copa poderiam dizer: gastou-se demais, mas ganhamos. Agora, com a derrota, o pensamento provavelmente será: gastou-se tanto e nem ganhamos.

Pode ser que isso engrosse as manifestações, algumas verdadeiras, outras partidárias aproveitando-se da situação e outras igualmente hipócritas. Sim, hipócritas por serem formadas de pessoas que estavam torcendo e vibrando com a seleção e se revoltaram apenas pela derrota.

Talvez o leitor esteja se perguntando se torci contra a seleção nessa copa. Não, não torci contra, mas sinceramente não torci nem a favor. Sou brasileiro e com isso gosto como qualquer um de ver o nome de meu país exaltado no esporte que for, gosto de meu país ser lembrado como vitorioso, mesmo que seja apenas no futebol ou em outro esporte. Mas também sou realista e sei que o time não estava em condições de ganhar. Sou realista para saber desde que começou a se cogitar fazer a copa no Brasil que não tínhamos condições de realizar a copa, não teríamos condições de criar uma estrutura. Demos o "jeitinho" a copa terminou, mas a custa de que? O custo foi simplesmente o conhecimento da verdade. Das verdades.

Não somos imbatíveis no futebol, por isso perdemos sem jogar nada. Nosso futebol se igualou à nossa saúde, educação, segurança. Hoje sabemos que o governo teria sim dinheiro para investir em saúde e educação, teria sim dinheiro para renumerar melhor professores e policiais. O governo teria sim condições de dar a nós brasileiros uma vida digna, como muitos outros países dão a seus habitantes. Bastaria querer, como quis construir estádios onde não tem nem times de futebol, investir em em infraestrutura de estádios e segurança para os turistas-torcedores. A copa serviu para enxergarmos isso, sem a copa continuariam dizendo que não tem dinheiro para investir. Se teve verba para investir na copa, consegue verba para investir no bem estar dos brasileiros. Basta querer, basta perder o medo que o povo se torne culto, que o povo tenha condições de raciocinar no que é realmente melhor para si, para nós.

Apesar da derrota, apesar dos custos abusivos da copa, não saímos perdendo de todo. Que tenhamos aprendido e agora façamos nossa parte nas urnas, e cobrando daqueles que escolhemos e escolhermos para administrar nosso país.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Amigos do dia-a-dia

Algumas coisas não devem ser escritas. De fato certas coisas nem mesmo precisariam ou deveriam ser ditas. Mas algo sempre deve pautar todas as conversas e são confiança e sinceridade. Algumas coisas nunca precisaram ser ditas, questionadas, sequer conversadas, mesmo que com o tempo fosse natural a dúvida.

Quando existe, não preciso repetir minha admiração. Não escondo da mesma forma que prefiro que espero que não seja escondido de mim qualquer sentimento, positivo ou negativo. Com o tempo a gente aprende a lidar com alegrias, tristezas, surpresas e decepções. Tive amigos que se foram por minha culpa, por uma culpa desconhecida e também sem culpa de nenhum dos lados. Falo que sou um pouquinho anti-social, mas na verdade sou seletivo em excesso com amizades, o que afasta algumas pessoas. Sou observador, ouvinte, e opino se tiver certeza que devo. Preciso me sentir a vontade, preciso de confiança para interagir. Preciso que não haja dúvidas, pois aprendi que dedicação é importante, algo que nem sempre tive. Em prol de muitas amizades, aprendi a deixar de lado qualquer descrença, muitas vezes complicando-me por isso.

Não me arrependo. Com o tempo criei o hábito de preferir errar por confiar em quem demostrou que era de confiança do que desconfiar de todos. Melhor assim. Acho que no fim, talvez pela sinceridade de meus atos, os erros tem sido bem poucos.

Mesmo tendo um "q" de anti-social, gosto de conversar, gosto de convívio, gosto de me sentir bem onde vivo, onde passo meu tempo. Sempre tive por todo lado que passei algumas pessoas por quem acabei tendo um apreço maior, que me "ajudava" a tornar o lugar melhor, e isso em todos os ambientes: colégio, cursos, faculdade, estágios, empregos. Hoje sinto falta disso, ainda estou aprendendo a conviver sem.

Alguns dizem ser característica do signo, mas acho pouco provável ser, mas qualquer mudança na rotina sempre me foi difícil. Mudar de colégio, de turma, de emprego. Por um lado é bom, porque toda decisão acaba sendo bem pensada, mesmo que não seja a melhor decisão, sei que foi pensada. Lembro quando mudei de empresa há uns 4 anos atrás; quando fiquei sabendo que havia chegado um telegrama me chamando para fazer os exames médicos, minha primeira reação foi um sonoro: "malditos!". Eu havia feito o concurso há mais de 3 anos, depois disso já tinha feito outro, passado, fui chamado e já estava um ano trabalhando. Uma mudança a vista quando eu já estava ambientado.

Não foi difícil ambientar-me ao outro emprego. Um grupo grande fora chamado ao mesmo tempo, passamos cerca de três meses estudando diariamente no curso de formação e depois sim começou a labuta, que por suas próprias características tais como isolamento, rotinas a serem cumpridas, trabalho de turno e noturno etc, obrigava a mal ou bem uma interação grande entre as pessoas. No geral era um computador para ser dividido por todos o que impedia que as pessoas enfiassem a cara na tela e "ignorassem" o mundo ao redor.

Por isso também senti um bocado nessa mudança. Saí de um lugar ambientado, onde já tinha os elementos "seguros", as pessoas "referência", para entrar em um grupo que já estava fechado, que já se conheciam há bastante tempo. No princípio forcei um pouco para me encaixar, mas forçando eu não era eu. Deixei acontecer, e hoje somos todos uma equipe. Não um grupo, mas uma equipe de elementos que se respeitam e têm zelo, sem que haja uma "referência". Existe proximidades a isso, mas fora da equipe....

Um exemplo disso é que ao contrário de antes, quando almoçava ia em dupla, trio, às vezes em um grupo maior, desde que mudei de emprego, em geral almoço sozinho, não por "culpa" dos outros, mas por minha própria. Me sinto mais a vontade quanto a tempo, lugar... Não sei explicar.

Sinto falta de um "elemento de apoio" fora de casa. Alguém com quem me sinta a vontade para falar qualquer besteira que vier a mente, seja assunto sério ou não. Alguém que eu ouça, e que me ouça. Sinto falta de um amigo do dia-a-dia, como tantos que tive e ficaram em minha vida e como outros que seguiram seu rumo, sem que hoje eu saiba deles. Amigos que me foram tão importantes quanto espero que eu tenha sido para eles.

Estou aprendendo a viver sem... há mais de quatro anos...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Só hoje

Sei que não tem sido comum, um segundo texto na mesma semana, ainda mais no mesmo dia. Mas hoje, estou precisando escrever um pouco mais, desabafar mente e coração.

Diante de tanta necessidade, me faltam as palavras suficientes e precisas para isso. Recorri a uma música cantada pelo Jota Quest, que se chama "Só hoje". Retirei a letra do site : http://letras.mus.br/jota-quest/63462/

Por que escolhi essa música? Porque hoje preciso mesmo de alguém que me faça sentir parte do mundo além de minhas fronteiras, além do "meu infinito particular" como diz Marisa Monte.

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
(Que te faça rir)

Hoje eu preciso te abraçar
Sentir teu cheiro de roupa limpa
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia
Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

Deixarei apenas a música por enquanto. Os "desabafos" maiores, vou escrevendo até a próxima semana, e se não publicados antes, estarão no ar na próxima quarta-feira.

Não sei se você criou o hábito de ler os textos toda semana ou se entra ocasionalmente, quando lembra. Mas não preciso dizer que hoje escrevo esse texto para ti, e quando ler, vai ter certeza disso, lembrará de hoje. Só hoje... e sempre.

Amizades

Compartilho com vocês hoje um belo texto de um escritor que conheci alguns anos na Paróquia que passei a frequentar quando me mudei. Que por sinal também era o pároco: Padre José Carlos.

Amizades são como jardins, se não cuidar elas morrem ou perdem seu encanto. Um jardim precisa de cuidados. Quando mais se cuida de um jardim, mais belo e vistoso ele fica. É bom ter ou passear por um jardim. Eles transmitem paz e faz um bem enorme para a alma, como as boas amizades. O jardim é algo tão bom, que Deus, ao falar do paraíso, comparou-o com um jardim, o Jardim do Éden. Para ter um jardim, é preciso empenho e dedicação. O Jardim do Éden foi construído com muito carinho. Carinho divino. Foram seis dias de trabalho, colocando cada coisa no seu devido lugar, e nó final de cada obra criada, Deus via que era bom e se alegrava com o Jardim que estava sendo criado. Os jardineiros, paisagistas ou quem gosta de fazer jardins, experimentam um pouco esse gostinho divino de criar um pedaço do paraíso. Cada gesto na criação de um jardim é um procedimento precioso. É preciso escolher o terreno, preparar o solo, escolher as sementes e semear; as mudas e plantar, depois adubar, regar e, à medida que as plantas vão crescendo é preciso podar, retirar galhos secos, aparar e modelar suas ramagens e, assim o jardim fica belo, dando gosto de ver e de estar ali, junto de um jardim. 

Assim também acontece com as amizades. Elas se assemelham muito a um jardim em alguns aspectos. Embora jardins nós possamos escolher e deixá-los de acordo com nosso gosto, as amizades à gente não escolhe e nem modela. Elas surgem naturalmente na nossa vida, numa ocasião qualquer, sem esperar, sem que nada tenha sido planejado antes. Porém, como as sementes, ou as mudas que irão formar um jardim, as amizades à gente não pode forçar para nascer. Amizades forçadas não duram porque não são amizades. Amizades são plantas nativas na nossa vida. É preciso deixar que elas nasçam e cresçam naturalmente, basta ter um terreno fértil e alguns cuidados. Amizades, depois que brotam, precisam de cuidados como se fossem plantas. Há planta que gosta de pouca água, como as orquídeas, e outras, como os lírios, que gostam de água em abundância. Há plantas que têm espinhos, mas suas flores compensam os espinhos, como, por exemplo, as rosas, e outras que só têm folhas, mas são igualmente bonitas a sua maneira. As amizades, como as plantas, precisam de certos cuidados. Na amizade é fundamental encontrar-se sempre, ou de vez em quando. Se isso não for possível, basta um telefonema, uma carta, um e-mail, um contato para mostrar que a pessoa não foi esquecida e para não sermos esquecidos.

Há amigos que ficamos anos sem se encontrarem e quando se encontram é como se tivessem se encontrado ontem. Essa é uma amizade cultivada a distância. Outros se encontram sempre, e cada vez que se encontram parece que estavam longe havia uma eternidade. São formas diferentes de cultivar amizades. Diferentemente dos jardins, nas amizades é preciso que ambas as partes interajam. Você faz a sua parte e deixa que o outro faça a parte dele. Se houver reciprocidade natural, ali existe uma verdadeira amizade. Porém, essa amizade acaba quando apenas uma parte é amiga. O livro dos Provérbios diz que há amigos que são mais chegados que irmãos (Pr 18,24). Quem é que nunca teve um amigo assim? Esses podem passar o tempo que for, estarão sempre lá, como se fosse alguém da família. Esses amigos são plantas raras nos nossos jardins e também precisam de cuidados.

(Pe. José Carlos Pereira)