Apesar de nunca ter sido nenhum viciado, sempre gostei de jogos eletrônicos. Sou da época em que se saia da escola e ia até o bar/padaria/doceria para jogar fliperama. Nada melhor do que zerar o jogo e colocar suas iniciais na tela, para fazer seus amigos babarem de inveja. Não, nunca fui fera nisso, nem colocava meu nome no hall da fama dos fliperamas, mas gostava de jogar com aqueles que chamava de amigos.
Sempre fui um atrasado tecnologicamente em matéria de games, e não me envergonho disso. Quando todos meus colegas já tinham seus nintendinhos ou o brasileiríssimo "Phantom", eu estava ganhando meu velho Atari, que claro não era ATARI, e sim um Dactar. Me divertia por horas com os cartuchos multijogos (4, 16, 32). Por horas mas não todo dia, geralmente dia sim, dia não. E estava feliz assim. Quando todos já tinham seus playstations, NeoGeo e similares, alguns já começavam a ter seus consoles de 64 bits ou já jogavam em PC, eu ganhei meu 16 bits: Mega Drive. Iniciei minha paixão por jogos de esportes: futebol, basquete, corrida, jogos olímpicos etc. Claro que tinha alguns RPG, Sonic (ter um console Sega e não jogar sonic era como ter um Snes e não jogar Mario). Levei também um pouco do gosto do Fliperama para lá com jogos de luta. Lembro que o primeiro jogo de luta que joguei no MD foi MK3, por causa de uma promoção na época que ganhei o Mega Drive. Você enviava uma carta para a TecToy (que produzia o console) e eles te mandavam o Mortal Kombat 3. Não acreditei nisso, mas mandei a carta e sim, eles enviaram o jogo.
Junto com o Mega Drive entrei no mundo de códigos secretos que bombavam em revistas, jornais e entre colegas. Segredos do jogo que os programadores colocavam e que facilitavam a vida dos jogadores (como dar um fatality com um botão) ou liberavam partes diferentes do jogo (o juiz cachorro no SuperStarSoccer).
Já na faculdade, deixei um pouco os consoles de lado, e com o tempo fui me adaptando aos jogos de Dos e windows no 386 de terceira mão que ganhei. Anos depois, comprei com o dinheiro que guardara do tempo de estágio um PC que pudesse rodar os programas que me ajudariam a estudar (EWB, MatLab, Maple, CAD etc), e que também me possibilitaram voltar no tempo, com os emuladores de fliperama, de atari, e também de jogar consoles que nunca tive. Claro, sem deixar de lado minhas duas paixões: jogos de corrida e de esportes.
Já burro velho, trabalhando e casado, no auge dos consoles de nova geração (X-one e Play 4), comprei um console de geração anterior (Xbox360), para distrair a mente nas horas vagas.
Você deve estar se perguntando porque estou escrevendo essa história chata que a ninguém interessa. Há um motivo por trás disso e contarei a você que teve a paciência de acompanhar até aqui. Sou da geração que começou a ter contato com essas coisas, e talvez uma das últimas que teve uma vida de verdade. Joguei jogos eletrônicos, gostava e ainda gosto, mas joguei muito mais jogos de tabuleiro, brinquei ao ar livre, em parquinhos na praça, joguei bola, pisei na grama, em areia suja. Caía, fazia careta para por mertiolate, mercúrio cromo ou iodo e voltava a brincar.
Na escola, corria o recreio inteiro, jogava bola na educação física, voltava para casa suado quando não sujo. Mas eu vivi, me diverti, e hoje me arrependo apenas de não ter suado ainda mais, me sujado ainda mais, caído e levantado mais. Tenho pena de nosso jovens com suas caras enfiadas sempre nas telas da TV, computador, celulares. Jovens e crianças que não sabem o que é viver fora de seus Smartfones, tablets, computadores. E quando deixam seus equipamentos, sentam-se na frente da Tv, como zumbis guiados pelas telas.
A vida não é um jogo eletrônico, em que quando se perde, pode-se apertar o "start" e voltar ao começo. A vida precisa ser vivida e cada dia não tem volta. Não tem nenhum "save" que possa fazer você voltar ao momento anterior do seu erro, nem nenhum "cheat" que torne as coisas mais fáceis para você. Ela precisa ser vivida a cada dia. No "jogo da vida" só se tem "uma vida" e o "game over" é eterno. E pelo que vejo no mundo, fome, violência e juventude manipulada e perdida em suas telas, já nos deram "GAME OVER"... O jogo realmente já acabou. Para sempre.
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