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quarta-feira, 29 de julho de 2015

O valioso tempo dos maduros

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro. 

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos. 

Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.

‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… 

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, 

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, 

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!"


Mário de Andrade


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Três

Essa é uma história em três e ao mesmo tempo três em uma.

Seus personagens se misturam em um só sentido em um só sentimento, que a princípio se desconhecia totalmente e só no fim do terceiro ato se "decifrou". Apesar de falar de três, isso se estende a alguns poucos personagens que não serão citados, mas que igualmente parte de tal aprendizado, tal descoberta.

Para um ponto de partida, pode-se escolher aproximadamente uma década atrás. Na época nada se percebia, fora uma situação normal de um elemento novo em meio a velhos conhecidos. Vindo a aproximação, vem em conjunto a simpatia e com o tempo essa simpatia virou zelo e bem querer. Não sabia o que sentia dentro de si, era algo diferente até então, mas ao mesmo tempo não se importa. Estava bem, se sentia bem, era algo que transmitia paz, ao que se dedicava sem sentir. Poderia almejar ir além, mas não o fez, talvez porque assim tinha de ser e foi. Existem situações que não precisam explicação e essa era uma delas. Existem outras inexplicáveis como desentendimentos que trazem a si uma culpa não compreendida, mas assumida pelo bem de tudo. Pelo bem do que não sabia nomear, mas sabia que fazia bem.

E por querer bem, desistiu de tentar corrigir, apenas retornou ao ritmo normal, e como algo forte que já era, retomou seu rumo sem grandes sequelas, e avançou ao tempo até os dias atuais, mesmo com a distância, apoiado em importantes pilares: confiança e respeito.

Oriunda de época próxima, dessa vez veio de um lugar "distante", tal como uma brisa que primeiro sopra agradável para depois ganhar ares de ciclone e abalar as estruturas. Não acreditava no que começava a surgir, ao mesmo tempo tão semelhante e querendo seguir caminho diverso. Antes que pudesse entender o que começava a sentir, ele já era nomeado, e crescia já sob uma alcunha tão imponente de algo que deveras não conhecia, nunca de fato sentia em tal intensidade e velocidade. Se antes deixara crescer despreocupadamente, agora se planejava passos maiores que os pés. Indas e vindas, acertos e desacertos, desencontros e afastamento longo. Da fogueira intensa e incendiária ficou a brasa que aquecia o coração, não o deixando congelar de vez.

Não queria ser mais quem era. Queria ser outro, queria ser como os outros. Mas furtiva e estúpida ideia; fugir de quem era não era solução, e pouco se suporta tal situação. Em vez de melhorar só traz mais dor. Quer afastar-se de tudo, não quer mais buscar, apenas viver devagar, como um dia depois do outro.

Quando menos espera, alguém com quem outrora já conversara e não dera conta de que estava em situação semelhante a sua: desacreditado em dias melhores, mas vivendo. Desconfiados se aproximaram, e aos poucos começaram a alimentar o que sentiam, ainda receosos das marcas até então sofridas, mas esperançosos de cicatrizar dores passadas. Não eram perfeitos, não tentavam ser, nem exigiam que o outro fosse, só queriam estar ali juntos, construindo cada passo de uma vez.

Com o tempo começou a entender o que sentia ali, tão semelhante a tanto que sentira antes, tão diverso, tão complicado e tão simples. Talvez se entendesse o que sentira desde lá o início, poderia ter atitudes diferentes. Provável que não, o entendimento de hoje é fruto de toda maturidade adquirida errando, acertando mesmo que não entendendo, nem sabendo como agir.

Hoje é grato por cada pessoa que se tornou pilar de uma época, base para o aprendizado de algo tão importante. Três faces de um mesmo sentimento, que não se extingue, apenas se transforma em algo cada vez maior, mais simples e mais puro, cada um de um jeito diferente, como diferente são as pessoas, e inúmeras seriam as faces, de inúmeras intensidades e características, se inúmeros fossem os personagens. Somos diferentes. Graças a Deus.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

Iris

E eu desistiria da eternidade para tocá-la
Pois sei que você me sente de alguma forma
Você é o mais próximo do paraíso que chegarei
E eu não quero ir para casa agora

Somos eternos e a eternidade nos pertence. O que nos une é eterno como eternos são os dias, eterna são nossas almas. E nessa eternidade de nossa curta existência terrestre, eu sinto cada passo, cada pensamento como se meu fosse. O paraíso nos espera, não estamos nada perto, estamos caminhando e o construindo a cada dia. E o que construirmos será a morada eterna de nossas almas, de nossos sentidos.

E tudo que eu posso sentir é este momento
E tudo que eu posso respirar é sua vida
Porque mais cedo ou mais tarde isso acabará
E eu não quero sentir sua falta esta noite

Cada momento como se fosse único. Assim vivemos assim temos de viver. Reféns do mundo a nossa volta, reféns de nós mesmos e libertos para sermos tudo e nada. O começo e o fim, o alfa e o ômega. Respire fundo, sua vida seus sonhos, seus planos, isso ninguém poderá lhe tirar. O que conquistou é teu, mora em ti e isso não acaba.

E eu não quero que o mundo me veja
Porque não creio que eles entenderiam
Quando tudo estiver destruído
Eu só quero que você saiba quem eu sou

O mundo... Ah! O mundo! Tão cruel e bondoso ele pode ser ao mesmo tempo. O mundo de julgamentos, o mundo de nossas próprias convicções e crenças. O mundo que julgamos ser o certo. O mundo que nos ensinaram ser o certo. O mundo que a nossa volta que não entende o que se passa dentro de nós, que se explica e complica, nos confunde e exalta. Que o mundo venha a baixo se preciso for. Eu sei quem sou. Eu sei quem és. Não esqueci a face de meu pai.

E não dá para lutar contra lágrimas que não vêm
Ou o momento da verdade em suas mentiras
Quando tudo parece como nos filmes
Sim, você sangra apenas para saber que está vivo

E em meio a tudo você chora, confuso, indeciso, inato. Sem lágrimas. O choro é interno, a tristeza sem sentido aparente, mas dentro você sabe porque. Seu consciente esconde mas no fundo você conhece a razão dos sorrisos e lágrimas que ninguém vê. Você sabe cada palavra, verdade escondida em suas mentiras, cada mentira oculta em suas palavras. Nossa vida não é um filme. Não temos roteiro, não temos refilmagem de cenas que não gostamos. É cada dia, cada tempo. E isso também passa, as alegrias e tristezas e você nem sabe mais se está vivo. E no fim o que sentes, dor ou alegria é que prova que você está vivo. Mais que o sangue que corre em tuas veias....


(Música Iris - Goo Goo Dolls)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Explicar

Nem tudo que se sente é fácil de explicar. Nem tudo que se entende se pode explicar.

Talvez esse seja um grande mal do mundo: explicar o que ninguém consegue entender, querer que outras pessoas entendam e sintam como você. É como tentar explicar a teoria eletromagnética a uma criança que mal sabe ler. Pode ser que um dia ela esteja apta a entender. Mas pode ser que não, pode ser que seu entendimento se desenvolva para área de humanas, biomédica e não para exatas.

Já tentei por muito tempo entender o que não estava a minha alçada, entender o que não me pertencia. Já tentei ser como os outros, tentei agir como os outros, tentei ver o mundo e sentir o mundo como os outros. Sempre que tentei ser diferente, sentir diferente, pensar diferente, entender diferente, me decepcionei, principalmente comigo mesmo. Foram passos de um aprendizado, que continua diariamente.

Falta-nos muito aceitação. Não do tipo "aceitar a situação e não lutar por algo melhor", mas aceitação da forma que se a mudança não vem de nós, não adianta sofrer pelos passos que os outros não dão, pelo simples fato que somos seres únicos e por isso não sabemos o que impede os passos alheios ou o que faz tais passos serem diversos dos teus próprios.

E nessa obsessão de tentar explicar-se, de tentar entender o mundo, de entender as pessoas, de tentar seguir as tendencias, esquecemos do principal: aprender a conviver com as diferenças, que são inúmeras. Diferenças de opinião, diferença de pensamentos, de "estilos", de religião, de gostos. E sem essa convivência realista, esse entendimento realista de nossas diferenças, afundamos em um mundo em que tudo passa a ser preconceito, em que tudo deixa de ser natural do indivíduo para ser uma imposição do senso-comum. E passamos cada dia um pouco mais a viver uma liberdade censurada, uma liberdade tolhida, em que quem se diz minoria se sente ofendido mesmo quando nenhuma ofensa existe, e quem não se sente oprimido acaba sendo ofendido sem direito a defesa.

Mais do que entender o próximo, tenho buscado sempre respeitar as diferenças de opinião, de gostos, de caminhos seguidos, passos dados ou não. Cada um sabe o que se passa consigo e cobrar ou exigir determinada atitude não cabe a mim. Tampouco, hoje, limito minhas ações ou atitudes pensando no que "os outros vão pensar". Certo ou errado, ajo conforme minha consciência errante e meus princípios. Cada um que me conhece me vê e entende de uma maneira diferente, porque são pessoas diferentes, com pensamentos diferentes e visões diferentes. Há pessoas que uma palavra basta para que entenda, outras apenas um olhar, enquanto outras nem com milhares de palavras seria capaz de entender. Por que isso acontece? Porque existem coisas que não são para serem explicadas, e sim para serem vividas. Por que? Como? Não sei. Apenas é. Apenas são. Inclusive essa afirmação.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Polêmicas sobre uniões homoafetivas...

Na última sexta-feira (26/6/2015) viu-se uma enxurrada de manifestações nas redes sociais, após a aprovação do casamento homossexual nos EUA. Favoráveis e "modistas" colorirão suas fotos de perfil, enquanto os não-favoráveis e alguns que não estavam nem aí, colocaram sua opinião a respeito. No fim algumas reclamações de ambas as partes. Eu fui um dos que critiquei, não os apoiadores, mas alguns "modistas" que sei que mudam de opinião conforme a tendencia, para parecer "politicamente correto", para não diferir de uma maioria.

Hoje estou escrevendo para deixar minha opinião a respeito e sei que serei taxado de todos os títulos existentes de preconceito. Mas antes de me julgar, peço que leia os argumentos, mesmo que difira da tua opinião, mesmo que creias ter argumentos melhores que o meu. Respeito quem pensa diferente, e quero que minha opinião seja respeitada.

Começarei sendo extremamente polêmico, com uma única frase, depois explicarei cada parte dela:
Eu tenho orgulho de ser um homem de pele clara,católico e heterossexual.

Pronto em uma só frase posso ser acusado de machista por ter orgulho de ser homem, de "racista" pela afirmação da cor de pele, de intolerante religioso por declarar minha religião e de "homofóbico" por me orgulhar de ser heterossexual.

Porém é o que ouvimos sempre das pessoas que dizem sofrer preconceitos. Elas dizem ter orgulho de ser negro, pardo, índio, de ser mulher, de ser de determinada religião, fazem marcha do "orgulho gay". Acho bom, acho válido e muito importante a pessoa ter orgulho do que é, de suas escolhas de suas convicções. Mas é preciso respeitar as diferenças para o outro lado também, pensar que só porque o outro não tem as mesmas opiniões, mesmo gosto, mesma opção sexual que você, por essa pessoa não ser do seu gênero ou da mesma "cor" que você, só porque ela é diferente não quer dizer que ela seja preconceituosa, não quer dizer que ela seja contra você ou o que você quer representar. Igualdade de direitos não quer dizer que todos tem que ser iguais ou que um grupo por se sentir menosprezado ou ser "minoria" precisa ter vantagens. Criar vantagens, regras para um grupo é desfazer a igualdade e começar a criar mais segregações. É difícil desfazer as diferenças que se criou com os anos? Sim é, mas não é criando mais diferenças que vamos resolver o problema. Por que criar cotas se somos todos iguais? Não é criando novas diferenças que vamos resolver as antigas.

Assim como não é dizendo para meninos e meninas que, mesmo fisicamente diferente, eles são iguais em "gênero" que se resolve preconceitos com opção sexual. Para que isso? Quem apoia essas cartilhas e orientações de "teorias ou teologias" de gênero, afirma que a pessoa já nasce homossexual. Se assim é, por que não deixar nossas crianças serem crianças, criar meninos como meninos, meninas como meninas e quando for o momento que sigam seus caminhos? Para que afrontarem casais, profanarem objetos religiosos em suas manifestações? Assim que pregam igualdade, se afrontam quem difere de sua opinião? Passou da hora de termos mais orgulho de sermos seres humanos, de sermos todos iguais e de nos tratarmos com respeito, respeitando as diferenças para sermos respeitados.

Pensamos diferente, temos opiniões diferentes, e eu não poderia terminar o texto de hoje sem dar a minha opinião: Sou contra o casamento homossexual.

Sim, sou contra, não apenas porque minha religião é contra, mas pelo próprio significado do casamento para mim. Para começar, considero o casamento civil mera formalidade burocrática, tanto que considero a data do meu casamento a data do casamento religioso. Visão minha, opinião minha, então do ponto de vista religioso nunca poderia haver uma casamento homo afetivo.

Uniões civis estão corretíssimas. Se duas pessoas estão juntas, dividem uma vida, nada mais justo que garantir os direitos aplicáveis a tal situação.

Mas casamento é diferente, é mais que assinar um papel e estar juntos, é formar uma família, e por escolha ou vontade divina ter ou não filhos dessa união homem-mulher, não corporal simplesmente, mas de almas. Adoção é válido, claro, podem adotar e em certos casos cuidar muito melhor que muitos casais héteros. Sim concordo, mas mesmo assim sempre dependerão de um homem e uma mulher para que essa vida seja gerada, mesmo se quiserem fazer fertilização (algo que sou tão contra quanto), precisarão de doação ou de um homem ou de uma mulher para tal.

Posso ser criticado por minhas opiniões, mas é preciso respeitar, mesmo que discorde. Por isso, caso discorde de alguma coisa, peço que deixe mais do que sua simples opinião e sim seus argumentos.

Somos todos iguais e todos temos nossas diferenças de opiniões. Mas todos somos seres humanos e devemos ser tratados com tal, sem ônus ou bônus de qualquer tipo, seja pela condição econômica, tom de pele, opção sexual ou religiosa. Seja pelo motivo que for, temos que ter orgulho de estarmos vivos e de nos respeitarmos uns aos outros, independente de nossas opiniões. Sempre.