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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Novo Mundo - Capítulo II

O início dessa história começa em:

http://erranteescritor.blogspot.com/2015/10/novo-mundo-prologo.html



No princípio a conversa foi como qualquer outra: apresentações, perguntas de praxe para se ter ideia de com quem conversava. E aos poucos ela foi apresentando sua personagem àquele rapaz, Paulo, que poderia ser outro personagem assim como Léia. Pensou que seria até bacana se fosse um personagem; dois personagens fictícios se relacionando num mundo virtual.

Parecia simpático, mas na verdade, no início, todos eram. Era um estudante quase da idade dela e estava no intervalo entre as aulas. Saíram do chat e continuaram a conversa no aplicativo de mensagens instantâneas. Ele mereceu esse upgrade. Por enquanto.

Pôde ver a foto dele. Não era nenhuma beleza excepcional,mas também não era dos piores. Colocou uma foto bacana que tinha no arquivo de Léia. E ele elogiou, mas também não mostrou um interesse exacerbado como a maioria dos rapazes fazia. De repente ele pede desculpas e sai, diz que tem que voltar para aula. Se despedem e por um momento ela fica parada. Peraí! Como assim ele pode ser tão desinteressado??? Léia era uma linda mulher, simpática, trabalhadora, um exemplo de mulher moderna, linda e com conteúdo. Como ele não caiu de amores como todos faziam, por Léia, sua personagem, e por ela mesma na "vida real"?

Por um momento ficou com raiva dele. "Darei uma bronca nesse mocinho" - pensou.

Ensaiou a bronca, mas quando conversou novamente com ele mais tarde, desfez a cara amarrada. Ele era realmente um doce de pessoa e seu jeito meio displicente e meio desinteressado a estava conquistando pouco a pouco. Resolveu lhe passar o número do telefone do trabalho. Quereria escutar a voz dele, que estava despertando tanto a curiosidade dela. Passou o telefone, mas nos dias que se seguiram nada mais falou sobre o assunto. Se ele tivesse um mínimo de interesse telefonaria.

Se surpreendeu quando uma semana depois, o telefone de sua mesa toca e uma voz educada fala:

- Boa tarde. Poderia, por favor, falar com a Léia?

No primeiro momento não se atentou o suficiente e estava começando a dizer que ninguém havia com esse nome ali. Mas parou no meio da frase e perguntou:

- Quem deseja?

Quando ele disse Paulo, seu coração disparou, e por alguns segundos ficou muda. Era ele, ele ligara. Nunca imaginara, desde a primeira vez que entrara em uma sala de bate papo que um dia, os mundos virtual e real se misturariam. Estava acostumada a lidar com situações complicadas e de nervosismo, mesmo diante de desconhecidos. Mas algo lhe dizia que ali era diferente. Mesmo assim, começou a conversar, dizendo que ela era a Léia, pedindo desculpas pela surpresa prosseguiu conversando.

E dia a dia as conversas iam ficando mais e mais frequentes. Quando ele não telefonava, ela o fazia, e pouco a pouco a história que inventara para sua personagem, ia se misturando com a própria.

Agora sua personagem já era parte de si, e mesmo no dia a dia não diferenciava nas conversas, atitudes e apresentações. Ela era Léia, assim como Léia era ela. E isso só intensificava mais ainda sua dependência em falar com seu "amigo virtual", seja por telefone ou pelo computador. Ela já se apaixonara por ele. Dentro de si, já o amava, e um dia o disse, para sua surpresa e também para a dele. "Sim, eu também te amo..."- disse ele. E ela estava nas nuvens, pois finalmente alguém que parecia ser uma boa pessoa a amava. Estava tão imersa em seus sentimentos que esqueceu-se que ele a conhecia como Léia, as fotos que ele vira não eram dela e sim de outra(s) pessoas.

E crescia a insistência dele em vê-la; ela também queria vê-lo, contar a verdade toda e ser feliz. Mas não sabia como fazer isso, e acabava despistando, arrumando um jeito, uma desculpa para que não se vissem. Trabalho até mais tarde, inclusive fim de semana, viagem a trabalho etc. Ele pedia que pelo menos se vissem pela webcam, quando não pudessem estar juntos, mas o medo dela era maior. Quereria contar pessoalmente que as fotos não eram dela, não assim, a distância, nem olha-lo nos olhos, sem dar-lhe um beijo de perdão. E sempre adiava, e quando ele aparentava uma mínima desconfiança, ela brigava com ele, argumentando que ele não confiava nela. E no fim ele que pedia perdão.

Por vezes soube que ele esteve na porta do prédio onde trabalhava, mas como ele sempre procurava Léia, sempre lhe diziam que não tinha ninguém ali com aquele nome. E isso se repetiu tantas vezes quanto ele lá esteve. E ela sempre lhe dizia que era gente nova na portaria, que não a conhecia pois ela viajava muito.

Ela quer vê-lo... Mas não pode. A vontade de estar com ele passa a ser tão grande quando o medo de contar a verdade e não sabe como agir. Saiu de férias do trabalho e sumiu, iria tentar esquecê-lo, ela começara mentindo e lhe faltava coragem para consertar.

O tempo consertaria tudo. O tempo, que tantas vezes ela dissera ser para relógio consertaria, dessa vez agiria a seu favor.

Do outro lado, semanas sem notícias de sua amada Léia, Paulo resolve que é hora de agir, descobrir a fundo a verdade disso tudo.

E se ela resolver aparecer, ele tirará a limpo tudo que descobrir...



Continua




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