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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Mais um dia...

Começa mais um dia e não sinto mais a "diferença de eras". Não olho mais para trás pensando no passado, nem fico vislumbrando o futuro incerto, entre sonhos e devaneios inúteis.

Cumpro minha rotina matinal e saio. Não, hoje não terei trabalho. Alguém, que não foram os trabalhadores, decidiu que hoje devemos parar para pressionar a empresa a nos dar o que ela já daria, mas que por pura política não dará até "ser pressionada" por greves. A mesma ladainha diária, o mesmo todos os anos, passados e futuros. Mesmo assim vou até lá, checo que ninguém entrou nem entrará hoje.

Resolvo caminhar um pouco, feliz pela temperatura ter baixado o suficiente para ficar suportável andar pelas ruas. Os dias quentes ficaram para trás, pelo menos por hora, o que indica ser um bom momento para fazer o que necessário for pelas tumultuadas ruas dos arredores.

Enquanto caminho, meu telefone chama. Sinto sua vibração, mas não atendo. Quando chegar a algum lugar seguro, atenderei ou olharei quem ligou. Maior parte das vezes ou são pessoas que se enganaram ou propaganda de operadoras, querendo me oferecer algum plano mega-ultra-bom, que me fará pagar mais que minha média de cerca de R$ 10,00 por mês. Não vale o risco de sequer esboçar reação de que estou com telefone.

Paro em uma loja, onde quero comprar algumas coisas e lembro do telefone. Quando pego para olhar quem ligou, ele toca novamente. Por que está me ligando? Já não sei precisar a quanto não nos falamos, mas tenho certeza que nada tenho a falar com aquela pessoa. Mesmo assim atendo, não sei bem se por educação ou curiosidade. Do outro lado uma torrente de informações, desde pedidos de desculpas à promessas de dias diferentes, algo que já escutara antes, e mais de uma vez.

Me desligo completamente do que estou ouvindo e minha mente vai ao longe, enxergando possíveis consequências de quaisquer palavras que eu diga. Enxergo como se toda aquela cena tivesse acontecido antes, em cada detalhe. Será que já aconteceu realmente e por algum motivo estou revivendo aquele momento? Ou estou tendo algum surto premonitório estranho?

Enxergo fatos, consequências, consequências de fatos, um emendando no outro sem que cessem ou se atropelem. Já não escuto mais aquela irritante voz chorosa... Será que já a ouvira antes, ou tudo não passa da minha imaginação? Não sei, não faço a mínima ideia, só sei que não há nada de bom no que vejo. Tristeza, destruição, vida de pessoas que ainda nem conheço sendo tristemente ruim. Sim, ainda não conheço, porque a sensação é de que farão parte da minha vida em algum momento, só não sei quando. E o principal naquele momento não me vejo bem, nada bem.

"Ei, você está me ouvindo?" - clama a voz ao telefone. Sim estou ouvindo, pelo menos agora. E tudo que posso dizer é a verdade. Não sei explicar o porque (seria difícil explicar sem parecer louco que enxerguei a consequência de minha resposta), mas não há palavras para um futuro bom que eu possa dizer. As desculpas podem ser aceitas, quem sou eu para condenar alguém, mas de todo o restante nada posso dizer além de "siga teu plano, siga teu rumo".

Sim, fui xingado e caluniado de todas as formas, porém senti-me bem. Foi o certo a se fazer, e no fundo senti que o certo foi adiado inutilmente. Deveras teria sido o dito anos atrás, quando algo similar acontecera, ao tocar o telefone de casa e ludibriado pelas palavras não enxergara como agora.

Ao terminar a chamada, olho para o telefone e vejo que não há qualquer chamada perdida ou recebida. Será que eu que liguei? Não, nenhuma chamada efetuada, nem mesmo aquele número nos contatos. Número? Lembro que o número fora desativado há tempos, tenho certeza disso. O que acabara de acontecer?

Ainda confuso, guardo meu telefone e continuo caminhando dentro da loja. Já não sei mais o que iria comprar ali, e na verdade pouco importa. Apenas tento entender o que se passou naqueles poucos minuto em que fiquei ali, parado com o telefone na mão.

O desenlace mental definitivo. Algo que deveria ter sido feito anos atrás, e agora enxerguei com clareza. Nada depois daquele dia fora significativo, ou tivera base suficiente, apenas desgastante. Mas o enlace mental ficara adormecido desapercebido. E agora rompera-se, anunciando dias melhores. De certa forma sentira isso naquele momento, enquanto caminhava pela minha mente agora passavam-se cenas desconhecidas de erros e acertos, mas coisas novas, erros novos, acertos novos. Uma vida que eu teria pela frente, com menos um peso a carregar.

Não, caro leitor, aquela chamada não acontecera, nem nenhuma outra após aquele dia, porém a mudança estava feita. Se eu já não era mais o mesmo depois daquele fatídico dia, desde o qual comecei a ter esses "estalos", agora tinha certeza que mais algo mudara em mim. Não sinto mais a "diferença das eras".

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