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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Pagliacci...

Este texto é continuação da série:

Texto anterior: http://erranteescritor.blogspot.com.br/2016/06/a-carta.html






Leio a carta várias vezes e não reconheço sua autoria. Vem em minha mente apenas a lembrança da ópera de Leoncavallo, Pagliacci. Procuro rapidamente para ouvir um trecho daquela bela ópera. Encontro a interpretação do gênio Luciano Pavarotti




Atuar! Enquanto estou preso pelo delírio
Não sei mais o que digo e o que faço!
Embora seja preciso que se esforce!
Bah, por acaso és um homem?

Tu és palhaço

Vista a fantasia e pinte a cara
As pessoas pagam,e querem rir

E se arlequim te rouba a colombina
Ria, palhaço, e todos aplaudirão!
Transformas em pantomimas o riso e o pranto
Em uma metamorfose o soluço e a dor

Ria, palhaço, sobre o teu amor destroçado
Ria da dor que te envenena o coração!


Por alguns momentos sinto a frustração de quem escreveu aquela carta, se sentindo um palhaço no meio das promessas e chances dadas. Sinto a frustração do palhaço, perdido em seus pensamentos e delírios. Ambos traídos, ambos tendo que parecer ainda felizes, mascarando-se de uma alegria inexistente para seguir adiante, sem que ninguém veja sua tristeza, frustração, decepção.

Identifico-me ali, em muitos momentos de minha vida, em que tive que "fingir estar bem e seguir adiante". Enxerguei meu passado na carta, como em muitos momentos eu tivesse que tê-la escrito. Senti-me como o palhaço da ópera, tendo que fingir estar bem, o show tem que continuar, as pessoas precisam rir... Ninguém além de você tem que pagar por seus erros...

Não escrevi a carta, não a recebi, mas por algum motivo ela estava ali.

Estava... Não está mais. Por mais que eu procure não a encontro mais. Como se nunca tivesse existido, desapareceu. Como se tudo que eu precisasse era lê-la e pensar.

Estou com sono. Preciso dormir. Deito ali mesmo, no chão vazio, e fecho os olhos, para não abrir mais, pelo menos não naquele mundo.


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Assim termina o texto e assim termina essa série. Onde será que está o personagem? Morto? Acordou de um sonho? Não importa. Deixo isso a cargo de você leitor decidir e imaginar o desfecho.

Essa série começou por um caminho, inicialmente até interessante, e foi ganhando um ar místico. E nem sei explicar o porquê. Foi fluindo e partiu para esse caminho, até chegar a esse fim: o personagem cansado de suas alucinações, sem saber o que é a verdade e onde está a verdade, finalmente descansa, sozinho, sem que nada ou ninguém o atrapalhe nisso. Essa era sua vontade real, bem antes daquela noite fria em que começou a se despedir de cada capítulo de sua vida, cada fato que ainda o prendia a sanidade. Terminou em sua despedida com essa bela música (Vesti la Giuba) extraída da ópera Pagliacci. Pode ser que um dia ele volte. Ou não. Só vai depender de vocês, se comentarem pedindo ele volta. Caso contrário descansará em paz.

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