Encontro um texto que já havia me esquecido. Não fora escrito por mim, nem mesmo tinha qualquer tipo de assinatura ou identificação. Poderia ser de tanta gente, assim como poderia ser direcionado para qualquer um. Mas se estava ali, me fora enviado em alguma ocasião, e agora, possivelmente algumas décadas (ou próximo a isso) depois, me deparo com aquelas linhas, ao mesmo tempo tortas e suaves, que dizem algo para alguém que não sinto ser eu. Sinto-me sem qualquer imersão nas palavras, me sinto um mero leitor que puxa pela memória tentando lembrar algo que já passou, assim como em um livro quando tentamos recordar algo do começo já estando no epílogo. Mas ao contrário de um livro, não se tem a chance de dar uma espiadinha nas primeiras páginas para recordar.
Não, não cabe decifrar, não cabe ao momento descrever ou reproduzir o que ali continha. Mesmo não me sentindo (ou talvez nunca tendo sido) o destinatário de tal mensagem, senti vontade de respondê-la, não almejando a possibilidade de chegar a quem a redigiu, mas simplesmente escrever.
"Qual surpresa tive a ler tão bela mensagem. Pode ser que eu a tenha recebido antes e respondido, ou pode ser que nem a mim tenha sido direcionado, mas merece uma resposta, a qual não me sinto capaz de criar. Mas ao menos posso tentar.
Ao ler essas palavras ignorei qualquer pista que me levasse ao real escritor. Não ter assinatura, deixa você no pleno anonimato que talvez fosse tua vontade. Talvez julgaste que pelas palavras te reconheceria tão bem que a assinatura seria supérflua.
Não importa, estou feliz de responder, estou feliz de escrever, mesmo que ao fazê-lo peque numa intromissão sem medida, por ser uma mensagem não direcionada a mim. Que eu tenha o devido perdão nesse caso.
Mas tua visão do mundo superou qualquer destinatário e seu triste tom de despedida me fez lembrar de tempos em que eu descri de mim mesmo. E talvez por isso, se minhas palavras chegarem até ti, podem ter serventia.
Sim, os dias são complicados, nos preocupamos muito com a opinião alheia, muito mais que deveríamos, mas teu foco foi o correto, em especial da pessoa principal a opinar. Precisamos disso, precisamos de alguém para dividir o fardo da escolha, da opinião, mesmo que diversa da nossa, alguém que defenderá nosso ponto de vista mesmo sendo contra. Tu tinhas e creio que ainda tens e isso manterá tua vontade de viver.
Não carregue tua cruz só. Jesus Cristo, o próprio Deus feito homem, teve ajuda para chegar ao Calvário. Tampouco peça uma cruz menor; Deus sabe o tamanho que aguentas e precisas. Peça forças e divida suas angústias com Deus e com os 'anjos humanos' que Ele colocar em teu caminho.
Força, foco e fé."
Acabo de escrever e deixo de lado o "papel e caneta". Que saudade tenho desses tempos em que era realmente papel e caneta. Fecho o texto que escrevi e salvo num arquivo. Junto ele ao arquivo que encontrara e ambos seguem para eternidade perdida dos bytes deletados.
Estas linhas que aqui deixo foi tudo que restou de toda essa história. O texto que encontrei? Já agora não me recordo o que tinha escrito. E agora essa resposta terá um fim igual: ficará perdida entre os bytes da internet, em busca de que inspire alguém a uma réplica, ou a ignorá-lo eternamente.
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