Acordo e mais uma manhã chuvosa. Nas duas últimas noites, chuva de verão em pleno inverno. Ruas lameadas, pessoas que tentam limpar suas calçadas e uma infinidade de outras pessoas que aproveitaram a chuva para tirar seus casacos do armário. Não que esteja frio, pelo termômetro que vi no caminho, a temperatura caiu para incríveis 18° C.
Pela janela do ônibus sinto o leve vento que traz algumas gotas de chuva. Não me importo, não suporto andar no ônibus todo fechado por causa da chuva, dando uma sensação incômoda de abafado. Pessoas "encapotadas" andam aceleradamente sob seus guarda-chuvas.
Me permito olhar ao longe, sem foco. O ar úmido entra por minha narinas e minha mente gira, mas não de uma maneira ruim. Não, dessa vez não apago, mas sinto uma paz inundante, me sinto muito, mas muito distante dali, mesmo sem saber onde. Não tenho medo, não tenho receio do que está acontecendo. A sensação de paz é enebriante.
Vejo lugares que nunca vira, campos, casas, uma cidade iluminada e pessoas ordenadamente caminhando e se cumprimentando. Uma edificação me chama a atenção, por ser a única com placa na frente: uma velha placa de madeira talhada repousa sobre o portal. A inscrição "//" chama minha atenção por sua excentricidade.
Caminho em direção a edificação e ninguém parece perceber minha presença. Não há porta, mas uma escuridão esconde o que há lá dentro. Novamente não tenho medo ou receio, e entro.
Me vejo em uma sala de estar, nem pequena, nem muito grande. Não me parece desconhecida, mas com certeza não é um lugar habitual. Olho um calendário que está ali perto, e percebo que algo não está certo: mais de dez anos atrás. Pessoas chegam na sala, mas elas não me veem. E eu não as escuto, apenas as vejo sentar no sofá e conversarem. Tento imaginar qual seria a conversa, talvez alguma que acontecera ou não. Sim, nunca acontecera, sei disso, só não sei como sei.
Eles se levantam e saem da sala, indo pelo corredor. Tento segui-los, mesmo imaginando aonde foram, mas acabo sendo levado para outro lugar. Um jornal pendurado na banca me indica que outro tempo também. E dali começo um travessia infinita de portas e tempos... Lugares desconhecidos, cenas nunca vividas, até encontrar um portal com o mesmo símbolo "//", que me leva para fora do prédio.
Ouço um barulho forte como uma buzina, e quando me viro, estou de volta ao ônibus. No mesmo lugar que estava. Passara horas em minha mente e poucos segundos ali.
O tempo era cada vez mais relativo...
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