Continuando com o tema músicas, mais uma "titânica", agora de Arnaldo Antunes: Não vou me adaptar.
É uma música interessante, e duvido que alguém nunca tenha se questionado sobre as mudanças em sua vida, lembrado da infância, como era, o que é agora. Gostaria de comentar cada estrofe.
Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia
Engraçado para mim esses versos iniciais, afinal mesmo há pouco tempo falei isso : não caibo nas roupas que eu cabia! Perdi muito peso recentemente e na verdade eu até caibo, mas sobra.
Mas isso me lembra mais do crescimento mesmo, talvez seja uma das primeiras percepções que temos que estamos crescendo, vamos precisando de roupas maiores, e um belo dia encontramos uma velha roupa esquecida no fundo do armário, e na hora de experimentar não cabemos.
Ser criança, ter alegria nas pequenas coisas. Crescemos e estudos se intensificam, depois trabalho, preocupações do dia-a-dia, e por mais alegria que tentemos passar em casa, muitas vezes nos falta a energia infantil, aquela alegria inocente e pura da criança.
Os anos passam e nem sentimos, os amigos de infância vão se reduzindo, seguindo seus rumos. Quando se é criança se tem aquela ideia de "melhor amigo", tive um, dois, talvez três no meu primeiro grau (hoje chamando ensino básico eu acho). Com o tempo foram se afastando e "quem eu queria bem me esquecia". Talvez pensem o mesmo de mim, talvez os fatores de comunicação agiram contra, fazendo com que a procura não tivesse retorno.
Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Quando criança, pensava como era a vida de adulto e dizia isso: Não vou me adaptar. E não me adaptei, creio que criei minha própria forma de ser. Essa estrofe retrata bem esse pensamento: a impressão de que ninguém te ouve, que você não ouve ninguém. Mas será mesmo que algo foi dito? Não sei, muitas vezes toda vontade que tive foi de largar tudo e seguir meu rumo, o que eu achava ser certo. Mas sempre fui muito respeitador e preocupado com as pessoas que se preocupam comigo. Creio que isso "me atrasou um pouco", freou o crescimento pessoal e profissional que eu pudesse ter tido. Mas conquistei meu espaço, e se olhar para a vida que eu tinha até poucos anos atrás, e imaginar voltar a tê-la, creio que hoje eu diria: não vou me adaptar.
Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
É que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho
Não tenho mesmo mais a cara que eu tinha, aquele rosto alegre, olhos brilhantes. Hoje tenho uma cara que luto para não ficar muito barbada, olhos fundos e óculos. Aquele rosto que toda preocupação que tinha era arrumar os brinquedos antes de banhar-se e dormir. Engraçado pensar nisso, não acha?
Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!
Em algum ponto com certeza eu falei, o que ninguém ouvia, não apenas nos devaneios que todos temos de falar sozinhos (eu tenho muitos). Fico feliz que ninguém ouviu, ninguém atendeu aquele pedido pueril: não quero crescer. Tinha uma infância ótima, uma adolescência regular, mas ambas foram épocas necessárias para que eu chegasse ao hoje como sou. Tiveram seu tempo, suas características, surpresas. "Os anos se passaram enquanto eu dormia", sim passaram e foram para meu bem.
Quero continuar dizendo diante de cada situação : "Não vou me adaptar!" Se for um momento feliz, de alegrias, quero continuar trabalhando para que novos momentos como esse aconteçam, não vou me adaptar àquele momento e parar no tempo. Se for triste, não vou me adaptar a ele e esquecer de ser feliz.
É isso que essa música me inspira: lembranças do passado, e certezas para o futuro.
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