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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Nada de novo aconteceu - Cap.1

Mais um dia amanhece, e nada há ao redor. A casa, outrora cheia de móveis, decorações e eletrodomésticos, agora persiste em um deserto de um único colchão, a velha TV, uma geladeira pequena e um fogão. Dezenas de metros quadrados para coisas que cabem com sobra naquela sala. E de fato, salvo o fogão que está na cozinha, tudo se encontra ali, ao alcance de seu assento, seu colchão surrado, que um dia estivera em sua cama.

As portas dos demais cômodos são mantidas trancadas, só sendo abertas para faxina semanal. Seu dia-a-dia nessa casa se restringe ao triângulo banheiro-cozinha-sala. Poderia usar o quarto, o armário embutido que ali se encontra, mas prefere manter suas poucas roupas em um baú perto do colchão onde dorme. É um baú de boa qualidade, colocando seu travesseiro sobre ele, ainda pode-se sentar, quando se cansa de ficar sentado no chão.

E assim ele passa seus dias quando chega em casa após o trabalho: um banho, cozinha o suficiente para a barriga parar de roncar e deixá-lo dormir, depois aguarda o sono chegar lendo um pouco ou se distraindo com algo na TV. Por vezes adormece ouvindo rádio em seu celular, já que todos os outros rádios que tinha, já não se encontram mais ali.

Como chegou nessa situação? Nem ele mesmo sabe, às vezes acha que foi acontecendo aos poucos, certas vezes tem a certeza que tudo foi abrupto demais. Ele tinha uma vida completa, e de um momento para outro não tem mais vida, apenas se mantém vivo... E por quê? Por falta de coragem suficiente para dar um fim nisso também. E teria como dar um fim? Já percebera desde aquele fatídico dia que isso também não adiantava; o fim já chegara para alguns e para os que sobraram não existia mais fim, nem começo, nem vida.

No peito a esperança que tudo mudasse novamente, quem sabe de repente como da última vez, ou aos poucos sem que ele perceba, como poderia ter sido.


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