Todos os dias vive o dilema entre tentar esquecer a vida que teve e sofrer menos com a falta ou viver nos sonhos que as lembranças trazem. Sonhos de ainda estar vivendo aqueles dias... Ah se ele soubesse! Se tivesse dado a devida importância teria sido ainda mais feliz do que foi.
E assim vai passando os dias, trabalhando exaustivamente para poucos momentos ter para ficar pensando. Mas o fim de semana chega e por mais que ele se dedique as tarefas domésticas, a casa vazia não demanda tanto trabalho assim. Ficar ali só aumenta suas lembranças de um tempo que já passou, que foi embora.
Coloca um velho caderno em branco e uma garrafa d'água na mochila surrada e começa a caminhar. Para onde? Não sabe, nem quer pensar nisso. Caminhará até se cansar, até sentir que aquele é o lugar e fará algo que há muito não faz: escreverá. Deixará no papel toda sua impressão do que passou, do que sentiu, do que vem sentindo. Nunca mais escrevera uma linha desde que tudo aquilo começou. Por quê? Talvez falta de vontade, talvez medo de realidade e fantasia se misturarem e no fim não saber mais distingui-las. Mas precisa por as ideias no lugar, e sabia que esse era o melhor método para si; mesmo que no fim estivesse convencido de uma história divergente da realidade, sua cabeça estaria em paz.
O sol não está forte, e ele começa a andar sem rumo, procurando manter a cabeça tão vazia quanto possa. Caminha por um longo tempo, perde a noção das horas, do quanto já andou. Nada disso importa, o cansaço que começa sentir em suas pernas não é nada perto da confusão que sua mente tem estado nos últimos dias, semanas, meses. Já não sabe ao certo, a noção de tempo está totalmente deturpada desde que tudo isso começou.
Olha ao redor e percebe que está bem longe de casa, está em um lugar que em outros tempos seria até perigoso estar andando. Pelo menos para nisso, essas "mudanças" serviram. Não haviam crimes de nenhuma espécie, parecia que todos os criminosos sumiram ou desistiram da vida de delitos. Talvez fosse isso, não havia mais "vida" de nenhuma espécie mesmo. Sabia disso, não era o único que não tinha mais vida, que apenas, sobrevivia e mantinha-se vivo.
Sentou-se em um banco naquele velho jardim. Não aquilo não era nem nunca fora um jardim, era um parque. Não, não era, era muito mais que um parque era grandioso era... Lhe faltavam palavras. Esquecera absolutamente como se chamara aquele lugar. Não importava, apenas quereria abrir seu caderno e começar a escrever. Uma história sem fim.
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