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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nada de novo aconteceu - Cap.3

Pela primeira vez em anos, encosta a caneta no papel. Já não sabe como começar, só sabe que precisa escrever. Lágrimas começam a brotar e da mancha criada por uma que caiu no papel começa:

"Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Sei o porquê delas, mas por outro lado já deveria estar acostumado. São meses, anos, décadas dessa situação. Na verdade, já não sei quanto tempo passou desde aquele dia estranho e obscuro.

Me preparava para ir trabalhar, olhei pela janela e vi o céu extremamente escuro. Na rua pouco movimento, alguns poucos carros e ônibus passavam, algo estranho para aquela rua naquela hora. Mesmo estranhando saí e fui trabalhar, imaginando que se o dia continuasse assim retornaria mais cedo para casa. Mal sabia que tudo a partir dali seria diferente.

Dentro do ônibus, a caminho do trabalho, ouço um grande estrondo. Todos no ônibus ouviram, o motorista também, parou o ônibus e todos olharam assustados para fora. O céu antes negro como betume, tinha uma grande mancha alaranjada. Pessoas corriam assustadas pelas ruas. Eu não corri, imaginei que não havia para onde correr. Saí do ônibus e tentava entender o que acontecia, quando senti como se uma onda me derrubasse. não sei se era um tipo de pulso, ou um vento estupidamente forte. Não fui o único atingido, pessoas iam ao chão, vidros de prédios e carros quebravam,  árvores partiam-se. Os postes que não foram ao chão estavam torcidos.

Olhei novamente para o céu, e mancha alaranjada parecia se dissipar na negritude celeste. Fui surpreendido por outra onda que agora me jogara longe. Antes que eu conseguisse me levantar uma terceira onda me arrastou por alguns metros. Inexplicavelmente o céu começou a clarear como se nada tivesse acontecido. Ao cena de destruição: pessoas ao chão, placas, árvores, vidros, tudo destruído por aquele estranho pulso. Graças à temperatura amena daquela manhã, havia saído de casa com um casaco, o que me impediu de esfolar-me contra o asfalto quando fui arrastado. Foi um pulso forte, pois afetou a rede elétrica, mesmo está sendo subterrânea. Teria acontecido esse fenômeno só ali, ou em outras partes da cidade também?

Levantei, caminhei até onde trabalhava, não que o trabalho importasse naquele momento, mas precisava parar em algum lugar, e por mais fortes que fossem esses pulsos, não derrubaram nenhum prédio. Dentro deles estaria mais seguro que ao ar livre. Todas as vidraças do prédio onde eu trabalhava estavam destruídas e logo na porta fui avisado que não haveria trabalho. O prédio estava sendo evacuado.

Sem trabalhar, sem ter ônibus, metro ou qualquer transporte funcionando, o que eu iria fazer? Só me restou caminhar até em casa. Com sorte levaria cerca de duas horas para chegar em casa, mas ficar ali não era opção. Quereria chegar em casa, ter certeza que tudo estava bem por lá, usar o telefone fixo e ter notícias dela. Andei sem parar, e conforme avançava minha esperança de que o incidente ocorrera só ali ia se dissipando. Por todo o caminho a cena era igual: gente assustada e destruição. Já não queria pensar em mais nada, apenas chegar em casa.

Chegando, a portaria do prédio quebrada, subi as escadas. Abri a porta do apartamento e o primeiro susto: tudo estava diferente. Diferentemente vazio o apartamento. Nada na sala, nada na cozinha... Os quartos estavam aparentemente intactos. Não não estavam! uma cama de solteiro do quarto de hospedes sumira! A sapateira também!. A comoda do outro quarto também! Aos poucos reparei que mais coisas sumiram, em todas as partes da casa.

Lutava para entender aquilo. O telefone não funcionava, claro, precisa de energia e ali estava igualmente sem. Estaria enlouquecendo, bati com a cabeça na queda? Não, não, estava são. Restava aguardar a noite chegar, ela chegar.

Mas a noite...

Continua

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