Mas a noite, nada aconteceu. As horas passavam e nenhum sinal dela. Não sabia o que fazer, não havia com quem falar, não havia como falar com ninguém. As ruas ainda às escuras, telefones, rádios e afins sem sinal de vida. Esperaria...
Desmaiei de cansaço enquanto esperava. Amanheceu, e a energia havia sido restabelecida. Liguei para todos os telefones buscando informação dela e nada. Ninguém atendia, isso quando tocava. A maioria dos números aparentemente não existiam. Já estava na dúvida se eu existia. Fui a alguns lugares onde poderiam ter notícias e nada. Segundo me diziam as pessoas que eu procurava também não existiam.
Voltei até em casa e mais algumas coisas haviam sumido. Móveis, eletrodomésticos, e outras coisas desapareceram. Nesse momento eu não tinha mais dúvida: havia enlouquecido.
Saí de casa novamente, peguei o ônibus e fui até onde trabalho. No caminho ruas pouco movimentadas, pessoas consertando o que havia sido quebrado no dia anterior. Cheguei no prédio em que eu trabalhava, dessa vez pude entrar, e já para minha surpresa, conseguira entrar. Bom sinal, isso não mudara, parecia que eu existia. No setor em que eu trabalhava, pouca gente tinha vindo, dos demais ninguém lembrava nem quem eram. Na verdade parecia que algumas pessoas ali não estavam reconhecendo outras. Sinceramente vi alguns desconhecidos também, mas depois de tanta coisa não seria isso que me assustaria.
Tirando os desconhecidos, novas apresentações (entre pessoas que já se conheciam, com toda certeza), o dia foi normal. Todos ali tinham o problema semelhante ao meu: alguém havia sumido e não conseguiam de modo algum encontrar qualquer informação a respeito.
E os dias foram se passando, a cidade sendo reconstruída. E eu a espera de alguém que não retornava. Dia a dia fui perdendo a alegria de viver. Já não vivia, apenas estava vivo...
Assim estou até hoje, aqui, sentado, escrevendo esse texto. Já pensei em dar o fim em tudo, mas assim como muitos que tentaram descobrir que não posso. Se a violência foi varrida do mundo naquele dia, a morte também o foi. E junto com tudo isso a vida também. Me sinto um zumbi, condenado a repetir dia-a-dia meus afazeres sem ter prazer nenhum nisso."
Fechou o caderno e olhou para o sol que batia em seu rosto. Era hora de prosseguir, já desabafara, escrevera, mesmo sem sentir melhora alguma, levantou. Quem sabe outro dia, escreveria mais, novas ideias viriam.
Enquanto atravessava a ponte sobre a linha férrea, olhou para baixo. Sabia que se pulasse não morreria, mas quem sabe se machucaria o suficiente para desacordar, e nunca mais acordar... Lhe faltava coragem. Na última vez que tentara algo tão agressivo se ferira, e ainda guardava no seu corpo cicatrizes e consequências disso. Não podia morrer, mas podia se ferir muito, não era imune a isso. Dentro de si repousava o medo misto de não ter sucesso e tê-lo. Sabia que era errado o que pensara em fazer.
Perdido nos pensamentos não percebeu que o guarda-corpo cedera bem no momento que o trem passou...
(Continua)
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