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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Carta 5

Não sei se chegará a ler essa página. Talvez quando ler, você veja os textos mais recentes ou de curiosidade os primeiros e nunca chegue a ler este que deveria ser o único que deverias ler realmente.

Houve tempo em que doces palavras lhe foram escritas, com promessas que tinham mais por objetivo me fazer acreditar que a ti. Eu que precisa crer que esse caminho era o melhor para mim. E entre essas tentativas de crer, entre essa vontade de ser ao mesmo tempo outro e eu mesmo, encontrei você. Mas o tempo, se não o melhor remédio, é um grande amigo para o amadurecimento, e para nos abrir os olhos diante de situações da vida.

Já critiquei, já pedi perdão, já perdoei sem que o mesmo fosse pedido, já agradeci, mas hoje quero apenas esclarecer o ponto em que cheguei. Em certas ocasiões te culpei, crendo que você mudara, ou se apresentara como uma pessoa, mas que com o tempo não se mostrara ser como eu pensava, entre outras inverdades. Você sempre foi você, em cada dia em cada situação, nunca escondeu quem era, ao contrário de mim, que quereria não só parecer, mas ser alguém que eu nunca conseguiria. E de fato você foi o que eu procurava naquele momento, era o espelho não do que eu era, do que eu sou, mas o que gostaria de ser e não podia. E não pude, pelo simples motivo que por mais que eu tentasse, não era eu e nunca eu seria. A pessoa certa para me mostrar que eu estava errado, e no fim a pessoa errada para o “eu certo”.

No fim a ajuda foi mútua, encontrei meu rumo e você o seu. E isso é o que realmente importa. Tem minha gratidão.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Copa 2014

Hoje começa a "tão esperada" Copa do Mundo no Brasil. E muitos já comemoram por motivos diversos.

Alguns, fãs de futebol, comemoram  pelas belas partidas que serão jogadas, com um futebol bonito que já não encontramos em nossos campeonatos. Seleções como Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, Portugal, entre outras, com seus craques mostrarão o espetáculo diverso do futebol europeu. Argentina, Chile, Uruguai, México, mostrarão a força e a garra da América Latina. Camarões, Nigéria, Costa do Marfim jogarão para que o mundo veja que o futebol africano tem força mas também habilidade enquanto Japão, Coréia do Sul, farão o mundo ver que o futebol asiático também tem vez, assim como a Oceania com a Austrália. E claro, os fãs de futebol não esperam a hora para ver o clássico mundial entre Bósnia e Irã.

Quem não gosta de futebol, comemora com os inúmeros dias em que, seja por causa de jogo na cidade ou jogo do Brasil, terão o expediente reduzido, e alguns dias até de folga. E esses, assim como os fãs de futebol, torcem avidamente para que a seleção Brasileira chegue às finais, o que significaria mais dias de folga até lá.

Tem aquelas pessoas que não gostam de futebol, mas gostam da seleção. Não sabem a diferença entre um escanteio e um lateral, não fazem ideia do que é impedimento, mas gostam de ver a seleção jogar. "É a pátria de chuteiras" alguns dizem. Podemos não ter saúde, educação, segurança, mas se a seleção ganhar, está tudo bem...

E, excepcionalmente nessa copa, teremos aqueles que estão comemorando o início da copa para manifestar. Sim, a copa serviu de bode expiatório para grupos políticos se unirem com os manifestantes legítimos e organizarem uma série de protestos contra governo, contra copa, contra o sol, a terra, a lua e tudo que tem direito.

Não sou contra manifestar, concordo que essa copa foi um desperdício de dinheiro que o governo sempre alegou não ter, quando questionado sobre melhores hospitais, escolas, polícia preparada, e melhores salários para os profissionais que realmente importam. Só acho o momento inoportuno, afinal se era para manisfestar, teria que ter começado lá no início, quando fomos escolhidos para sediar a copa, impedir que o dinheiro fosse gasto. Agora que foi, acho que a melhor manifestação seria nas urnas, não votando na mesma corja de sempre, que vive desviando nosso dinheiro para seus bolsos.

"Esta será a Copa das Copas", diz a propaganda. Concordo com isso, tenho certeza que essa copa será inesquecível, não por motivos bons, infelizmente. E no fim, com a derrota da seleção, quem estava a favor vai ficar contra e todos dirão que não valeu a pena o dinheiro gasto, e a bagunça gerada pelo evento...

Vamos ver, e rezar para que tudo termine bem.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Nada de novo aconteceu - Epílogo

(...)

Perdido nos pensamentos não percebeu que o guarda-corpo cedera bem no momento que o trem passou. Sentiu uma dor imensa no momento em que o trem passara por ele. Não sabia se o trem lhe cortara, atropelara, não fazia ideia. Em sua mente atordoada pela dor só passava a esperança de que teria sua vida de volta.

A dor aumentava o suficiente para sentir que estava perdendo a consciência. "Que fosse de vez"- pensara. Em um momento via uma grande luz, como se o sol ofuscasse seus olhos. A dor que sentia foi sendo substituída por uma sensação enorme de paz interior. Seus olhos já não viam luz apenas uma suave e reconfortante escuridão.

Mergulhou nesse êxtase que passava em sua mente. Sentia como se não existisse mais peso, frio nem calor. Ouvia um som que mais parecia uma melodia interna. Parecia que brotava de si mesmo. O que ele era agora? Não sabia. Não sentia nada, nem mesmo seu próprio corpo quanto mais o que estava ao redor. Havia sem querer conseguido? Nesse mundo sem vida nem morte, havia morrido? Essa seria a sensação de morte? Não fazia ideia, nesse mundo onde o tempo já se tornara inconstante,  sentia que horas se passavam enquanto ele estava mergulhado naquela estranha, porém deliciosa sensação.

E se estivesse realmente morto, o que viria? Seria como cria em toda sua vida religiosa? E se fosse assim, quanto tempo passaria no purgatório? Será que conseguira a chance de purgar seus últimos pecados? Sim, afinal tinha consciência de não estar apto a um passaporte direto ao paraíso. O que tinha feito, feito estava. Não se preocupava com esses detalhes, apenas deixava fluir durante aquele tempo que ali estava, no que acreditava ser o meio do caminho. Talvez, "do outro lado", poderia ter uma visão maior, entender o que acontecera nos últimos anos, e principalmente, onde ela estava.

Horas, dias, semanas, meses depois (pelo menos essa era a sensação que tinha), abruptamente sentiu que ganhara peso novamente. E um peso absurdo que lhe deu uma pavorosa sensação de que estava caindo. Será que havia sido julgado nesse tempo inerte e "condenado a cair"? Não quis acreditar nisso, não por confiar cegamente em suas virtudes, mas sim por crer em um julgamento justo, onde pudesse ser ouvido, onde pudesse... Não importava, estava caindo seja lá pelo motivo que fosse e disso tinha certeza.

Não enxergava nada, a sensação daquela escuridão suave continuava. Melhor assim, não enxergar a queda o deixava mais tranquilo. E foi se tranquilizando ao longo do tempo em que sentia que estava caindo. Se acostumou com a sensação, e teve bastante tempo para isso, passou um tempo quase tão grande quanto o anterior naquela sensação, que parecia que ia aumentando, como se caísse cada vez mais rápido, mesmo sem sentir seu corpo.

Sentiu um "baque" como se tivesse chegado ao fim da queda e caído de costas no chão. Pouco a pouco sentiu um formigamento grande como se eletricidade o percorresse e começou a sentir seu corpo, seu coração batendo forte e um calor percorrendo todo seu ser. Abriu os olhos e viu o teto. Sim, o teto de seu quarto. Não entendia como poderia estar ali, mas estava deitado em sua cama, encharcado de suor.

Levou alguns minutos para recobrar as energias e se mexer, levantou e para sua surpresa tudo em casa estava em seu devido lugar, como era antes daquele fatídico dia. Voltou ao quarto, olhou o celular e viu a data: o exato dia em que tudo começara. Sonhara? Não pode ser, tudo parecia tão real...

Se arrumou e foi trabalhar. Precisava saber se tudo estava como antes. E estava. Parecia que nada havia acontecido. Se mais alguém tinha passado por tudo aquilo não sabia. Ninguém comentava, e ele resolveu que não comentaria nada também. "Deixa quieto" - pensou. Tentou ligar para ela, mas ela não atendeu. Algum tempo depois ele recebe uma mensagem: "Terei reunião o dia todo mais tarde conversamos. Te amo." Uma alegria subiu dentro dele. Não esperava a hora do dia terminar e voltar para casa.

No caminho de volta para casa, um pouco mais acostumado que tudo voltara ao norma, e bem menos eufórico, começou a pensar o que se passara. Havia sonhado? Um sonho com sensação de anos? Não era possível. Será que atravessara algum tipo de dimensão, como nos filmes de ficção? Pensou em todas as hipóteses plausíveis e fantasiosas. Havia alguma explicação plausível? Provavelmente não. E continuou pensando até chegar em casa e abrir a porta.

Ao vê-la abriu um grande sorriso, deu-lhe um beijo e aconchegou-a em  seus braços por um longo tempo. Ainda em seus braços ela perguntou:

"-Como foi seu dia? Alguma novidade?"

Ele pensou um pouco e respondeu:

"- Não. Nada de novo aconteceu"

Pouco importava o que ele havia passado, se foi realidade, imaginação, sonho ou uma forma de ensiná-lo a valorizar a vida como ela é. O importante naquele momento é que para todos os efeitos, nada de novo aconteceu.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Nada de novo aconteceu - Cap.4

"(...)
Mas a noite, nada aconteceu. As horas passavam e nenhum sinal dela. Não sabia o que fazer, não havia com quem falar, não havia como falar com ninguém. As ruas ainda às escuras, telefones, rádios e afins sem sinal de vida. Esperaria...

Desmaiei de cansaço enquanto esperava. Amanheceu, e a energia havia sido restabelecida. Liguei para todos os telefones buscando informação dela e nada. Ninguém atendia, isso quando tocava. A maioria dos números aparentemente não existiam. Já estava na dúvida se eu existia. Fui a alguns lugares onde poderiam ter notícias e nada. Segundo me diziam as pessoas que eu procurava também não existiam.

Voltei até em casa e mais algumas coisas haviam sumido. Móveis, eletrodomésticos, e outras coisas desapareceram. Nesse momento eu não tinha mais dúvida: havia enlouquecido.

Saí de casa novamente, peguei o ônibus e fui até onde trabalho. No caminho ruas pouco movimentadas, pessoas consertando o que havia sido quebrado no dia anterior. Cheguei no prédio em que eu trabalhava, dessa vez pude entrar, e já para minha surpresa, conseguira entrar. Bom sinal, isso não mudara, parecia que eu existia. No setor em que eu trabalhava, pouca gente tinha vindo, dos demais ninguém lembrava nem quem eram. Na verdade parecia que algumas pessoas ali não estavam reconhecendo outras. Sinceramente vi alguns desconhecidos também, mas depois de tanta coisa não seria isso que me assustaria.

Tirando os desconhecidos, novas apresentações (entre pessoas que já se conheciam, com toda certeza), o dia foi normal. Todos ali tinham o problema semelhante ao meu: alguém havia sumido e não conseguiam de modo algum encontrar qualquer informação a respeito.

E os dias foram se passando, a cidade sendo reconstruída. E eu a espera de alguém que não retornava. Dia a dia fui perdendo a alegria de viver. Já não vivia, apenas estava vivo...

Assim estou até hoje, aqui, sentado, escrevendo esse texto. Já pensei em dar o fim em tudo, mas assim como muitos que tentaram descobrir que não posso. Se a violência foi varrida do mundo naquele dia, a morte também o foi. E junto com tudo isso a vida também. Me sinto um zumbi, condenado a repetir dia-a-dia meus afazeres sem ter prazer nenhum nisso."

Fechou o caderno e olhou para o sol que batia em seu rosto. Era hora de prosseguir, já desabafara, escrevera, mesmo sem sentir melhora alguma, levantou. Quem sabe outro dia, escreveria mais, novas ideias viriam.

Enquanto atravessava a ponte sobre a linha férrea, olhou para baixo. Sabia que se pulasse não morreria, mas quem sabe se machucaria o suficiente para desacordar, e nunca mais acordar... Lhe faltava coragem. Na última vez que tentara algo tão agressivo se ferira, e ainda guardava no seu corpo cicatrizes e consequências disso. Não podia morrer, mas podia se ferir muito, não era imune a isso. Dentro de si repousava o medo misto de não ter sucesso e tê-lo. Sabia que era errado o que pensara em fazer.

Perdido nos pensamentos não percebeu que o guarda-corpo cedera bem no momento que o trem passou...

(Continua)