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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Cansado ou refém

Estou cansado. Cansado de não ter controle sobre meus próprios passos, sobre o que posso ou não fazer, o que posso ou não comer, onde posso ou não ir.

Não, não há ninguém que me impeça... Além de eu mesmo, de minhas limitações que aos poucos fui adquirindo, de forma que a cada passo levemente diverso, já devo esperar as consequências.E elas chegam mesmo quando não espero, quando não imagino que possam vir.

Estou cansado. Cansado do mundo e daqueles que acham ser de menor valia a dor alheia, de achar que tudo varia de acordo com a sensibilidade da dor para cada um. Sei o tamanho da dor, sei o tamanho do incômodo, e essa não varia de acordo com uma "sensibilidade maior" a dor que eu tenha ou não.

Estou cansado de opiniões do tipo: "isso é psicológico", "toma um calmante que ajuda", "você se aborrece muito?". Estou cansado de não compreenderem que algo que tem um fundo ou um simples gatilho emocional é tão sério quanto algo independente do psicossomático. E pode ser ainda mais sério porque não vai melhorar com um simples comprido ou tratamento de curto prazo.

Estou muito, mas muito cansado de ver o quanto eu estava errado. Já fui assim, já fui dessas pessoas que creem que o emocional nada vale para "vida física", para saúde corporal. Já acreditei ser imune a sentimentos, sensações, pensamentos e emoções. Não sou perfeito, sou um ser falho, e essa foi minha primeira grande falha: crer no que não sou. Guardei dentro de mim tantas coisas, querendo parecer o inatingível, o sensato que resolveria os problemas de forma racional, alguém capaz de resolver sua vida sem sentir, antes de pensar em emoções.

Hoje sou refém do que me tornei, após anos e décadas de contenções e poucas "explosões": alguém que alguns acham anti-social, outros contido emocionalmente, mas nada mais que um refém, não das emoções já não tão contidas (nem tão explicitas também), mas do meu próprio corpo e limitações. Refém do que como, sapiente que mesmo que nunca varia um só alimento, posso ter dias bem ruins. Variar um simples tempero pode vir a ser algo temerário e de arrependimento. Refém de tentar não me abalar nem mesmo nos dias ruins, pois isso pode ser um gatilho para disparar algo muito pior.

Refém de emoções e porções... Enquanto o mundo, ou quase todo mundo não consegue entender a real dimensão de tudo isso, a pura incerteza dos dias...

2 comentários:

  1. Poxa Carlos, imagino o quanto deve ser ruim viver com uma doença crônica , que limita sua alimentação, imagino pelos livros e pelos relatos dos pacientes, mas saber mesmo só quem vive essa realidade. Espero que a doença entre em remissão e que vc tenha dias melhores. Força amigo!

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    1. Obrigado pelas palavras, é preciso ter fé mesmo. Fico feliz com sua visita, e espero que não fiques apenas neste desabafo. Tem alguns textos bons também. Volte sempre! Kkk

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