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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Começo do fim - parte 2

Talvez a melhor forma de começar seja indo bem no passado. Sempre gostei de ler e ler bastante. Minha maior alegria quando criança foi perceber que mesmo ainda com dificuldade, eu conseguia juntar as letras e ver algo além daqueles cartazes coloridos nas ruas.

Aprendi a ler, escrever e na escola incentivavam muito isso. Com o tempo fui escrevendo em cadernos textos  que ninguém nunca leria, nem mesmo eu. Descobri que algumas pessoas gostavam de ler, e de textos avulsos fui às cartas. 

Sim, cartas. Ainda estava longe da era digital de emails e afins. Cartas e mensagens entregues pessoalmente ou via correios mesmo. E não posso mencionar cartas sem lembrar de uma pessoa a quem mandei muitas por um bom tempo. Uma amizade longa e duradoura, que até hoje mantenho. Improvável no início e certeira no fim.

Lembro como curiosa foi a forma que nos aproximamos. Por causa do período de greve no colégio,  alguns professores resolveram dar aulas extras no fim do dia para repor a matéria, para quem se interessasse. Aconteceu de um dia ambos irem para aula, mas a mesma tinha sido cancelada e não sabíamos. Como a mãe dela estava fazendo aula de idiomas a noite, ficamos conversando enquanto ela aguardava a mãe. Descobri que ela gosta de ler, adorava receber cartas, e, no fim, descobri uma grande amizade depois de quase um ano estudando juntos. Sentávamos em lados opostos da sala, dentre quase quarenta alunos, era pouco provável que tivéssemos aquela conversa em outras circunstâncias.

Uma amizade que venceu esses quase vinte anos de hiato. Ela foi a única pessoa daquela época que esteve em meu casamento, e com quem ainda hoje converso, mesmo que esporadicamente. Foi um incentivo a escrever, talvez o primeiro do ponto de vista escrever para que alguém leia. Um começo feliz e uma amizade duradoura.

Cara amiga, meu muito obrigado. Este texto é seu.

continua

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Começo do fim - parte 1

Para tudo há um começo, meio e fim. E aqui não seria muito diferente, este pode ser realmente o começo do fim.

Não sei ao certo se será o fim ou apenas um hiato bem prolongado. A inspiração tem me faltado tanto quanto o tempo para escrever.Mas seria uma injustiça simplesmente parar sem escrever nada, sem uma despedida. Tudo que aqui está escrito, a própria ideia de escrever é fruto de toda uma história, onde personagens reais me inspiraram e tantos outros me incentivaram a escrever, desde aquele pequeno incentivo no colégio, ainda no primário, até agenda com dedicatória me incentivando a escrever ali um pouco cada dia.

Mas tudo isso, irei contando aqui, aos poucos, com hiatos ou semanalmente. Pode ser que existam textos intermediários que quebrem a sequência desta "série", mesmo que a intenção seja não ter. Não tenho nem quero ter o controle das palavras, quero deixar fluir normalmente sem qualquer limitação.

Então é hora. Hora de "começar o fim".

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Contaminado

Eu não tinha nada além de mim mesmo. Preso em um mundo onde nada fazia sentido.

Fui uma criança feliz. Não sei dizer até quando o peso morto da vida não existia sob meus ombros, mas foi bem mais cedo do que normalmente acontece com as pessoas. Isso quando acontece.

Bem cedo comecei a ver que o mundo não me agradava, me incomodava. Criei um mundo para mim e personagens para viver o que eu não queria. Fui vários personagens: estudante, irmão, filho, primo, sobrinho, amigo, colega. Vários personagens que me permitiam não "me expor" e me sentir mais seguro. Mas isso não me fazia mais feliz, me poupava tanto de dores quanto de alegrias externas. Internamente só me afogava em mim mesmo.

Novos mundos surgem, aproximando os que estão longe, afastando quem está perto. Para mim era apenas mais uma oportunidade de tentar ser agora o mais importante dos personagens: eu mesmo. Mas ali era ainda mais fácil ser outro, ser outros, ser muitos ao mesmo tempo. E meu mundo, meu infinito particular, já era um lugar tão aconchegante que eu já não quereria sair de lá. E ao invés de abrir uma porta, aproveitei o ambiente propício para levantar muros cada vez mais altos e fortes.

Dentro dos muros eu adoecia sem perceber. Minha mente já começava a se deteriorar, enquanto meu corpo era pouco a pouco envenenado. Entorpecido por esse veneno fui tentando continuar. Assim como ainda continuo.

Hoje, mesmo querendo voltar a ser eu mesmo, não o posso, não totalmente. Por tanto tempo tentei ser tantos outros que hoje já não sei quem eu sou. Me sinto uma mistura disforme de todos os personagens que criei, ao mesmo tempo não sou nenhum deles, nem eu mesmo. Corpo e mente envenenados por tudo que não vivi como eu mesmo, por tudo que ficou guardado e foi apodrecendo por dentro, contaminando. Hoje estou apenas sobrevivendo...


terça-feira, 17 de setembro de 2019

Outro lugar

O tempo não tem sido meu amigo quando o assunto é escrever. Não tem me sobrado tempo para escrever, assim como tive outrora e isso me faz muita falta. Me falta também um pouco de inspiração, me sinto longe, cada vez mais longe de quem está do outro lado da tela, daquelas pessoas (Deus as abençoe) que ainda passam por aqui e leem algo.

O título desse texto está meio perdido, pois o assunto não fala de nenhum outro lugar além do interno. Dentro de mim mesmo. Hoje quero compartilhar algo ruim, mas que mudou minha percepção de algumas coisas, e uma delas foi a dor.

Dor lancinante, praticamente insuportável. Parecia que doía até a alma. E mesmo assim, mantive-me o mais calmo que se se possa imaginar nessa situação. Eu acho que a dor era tão grande que já aceitava até o fim. Sem drama, sem maiores alardes. Apenas aceitava o que viesse.

E em um momento senti que acontecera. No auge da dor que me consumia, senti meu corpo perder totalmente o peso, inteiramente. Já não havia dor, já não sentia nada. Absolutamente nada. Sem qualquer tipo de alegoria ou ficção. Não sentia, não ouvia, não via nada. Por um tempo que não sei precisar tudo que havia para mim era o nada, a simples ausência de tudo. Não vi tudo escuro, nem claridade ofuscando a visão, nem vi meu corpo inerte abaixo de mim, como tanto relatos afirmam. Para mim é como se não tivesse corpo, não tivesse pensamentos, não houvesse nada a meu redor, apenas o vazio. E uma paz.

Uma paz que não sei descrever. Parecia algo que me envolvia e ao mesmo tempo saía de mim. Alguns segundos de pura paz, sem qualquer outra sensação. Segundos que pareceram minutos...

Depois senti como se caísse, e estava de volta, sentindo tudo, inclusive aquela dor sem mensuração.

Isso aconteceu algumas vezes na ocasião. Não sei onde estive, nem se estive. Pode ter sido mera alucinação de febre ou uma partida real para algum lugar, mas me mandaram de volta.

Sei que tudo que aconteceu naquelas horas, mudou minha percepção do que é dor. Para sempre.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

121 anos...

Ser Vascaíno é algo tão especial e importante que mereceria até um registro na identidade. 

O Vascaíno é diferente de todos os demais torcedores, porque o Vasco é diferente de todos os outros clubes. 

Torcer para esse clube é muito mais do que simplesmente vangloriar-se das inúmeras vitórias ou contabilizar troféus. Ser Vascaíno transcende os limites materiais. Não se trata de ter um escudo crivado por glórias no lugar do coração. Ser Vascaíno é ter uma Cruz de Malta tatuada na alma. É mais do que ter um clube, é ter um propósito, um ideal de vida. É selar um compromisso irrevogável com a luta pelo justo. 

Tu, Vasco, não nasceste em berço esplêndido como teus co-irmãos. Foste criado no subúrbio, cresceste com a força dos pobres, dos negros, dos operários, dos renegados, dos marginalizados. Não tens o Cristo pela frente a abençoar-te porque já vieste ao mundo abençoado pela cruz que reluz em teu peito. Não foste acolhido pelos abastados, mas acolheste sob teus braços toda qualidade de gente. 

Ahh... meu Vasco querido, de grandeza imensurável, não importa o recorte que se faça da história, ou o tempo em que te olhem, só é possível enxergar-te imenso. Fecho os olhos e lembro-me do que não vivi. 

Vejo agora pela frente as temidas Camisas Negras, que mudaram o curso da história. Trouxeste, àquele tempo, a novidade. Não eras um time de "Players", não disputavas os "Matchs" contra seus rivais. Vieste à cena ensinar que o jogo deve ser jogador por todos, com a missão de popularizar o esporte, inventar a maneira brasileira de jogá-lo Respeitavas e, ao mesmo tempo, equalizavas as diferenças. Incomodavas por isso. 

Os demais entendiam que as diferenças não poderiam conviver em um mesmo campo. Ingleses não misturam-se com brasileiros. Brancos não dividem o "Field" com negros. Doutores não dividem a bola com estivadores. O pobre é o pobre e o rico é o rico, e assim que as coisas devem ser. Impuseram-te barreiras, normas, regras estúpidas, tudo para impedir-te de cumprir sua razão de ser. Declinaste então da disputa em nome de seus princípios. Evidente que tu não aceitarias perder tua essência e tua razão social. 

Mas agradeças aos rivais pela mesquinharia. Agradeças por todas as barreiras impostas. Foi justamente aí que mostraste tua grandeza a todos. Se teu combalido campinho não servia de palco para as pelejas, ergas então teu castelo com as pedras atiradas. 

Se os rivais soubessem que as medidas arbitrárias serviriam apenas para unir-te mais ainda a teu povo, talvez tivessem desistido antes. Tua gente estava disposta a lutar, com ainda mais afinco, em todas as batalhas que viessem pela frente. E foi assim na base da luta e do amor de seus torcedores que construíste teu palco. 

Agora tu eras grande por dentro e por fora. Viraste naquele instante o Gigante da Colina, pronto para conquistar tudo que houvesse para ser conquistado. 


quarta-feira, 14 de agosto de 2019

"O Arroz de Palma"


Trecho do livro de Francisco Azevedo. 

"Família é prato difícil de preparar.
São muitos ingredientes.
Reunir todos é um problema...
Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
Às vezes, dá até vontade de desistir...

Família é prato que emociona.
E a gente chora mesmo.
De alegria, de raiva ou de tristeza.

O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita.
Bobagem!
Tudo ilusão!

Família é afinidade, é à Moda da Casa.
E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces.
Outras, meio amargas.
Outras apimentadíssimas.
Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.

Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo.
Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia.
Muita coisa se perde na lembrança.
Aproveite ao máximo.

Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete!

                    Família:
Feliz quem tem e sabe curtir, aproveitar e valorizar..."         
     Família é projeto de Deus!

Então...
Amem-se,
Perdoem -se,
Aceitem-se,
Tolerem-se
e vivam como se hoje fosse o último dia que vocês vão estar com a sua família."

domingo, 21 de julho de 2019

Razões do Coração



Sete anos desde aquele começo de noite em que dissemos diante da Igreja o que nossos corações já sabiam: o desejo de fazermos de nossas vidas uma só. Uma vida de aprendizado, de convivência, de amor. 




Que será de nossas vidas
Eu não sei te dizer
Só sei que quero te ter comigo
Enquanto acontecer...

Esse fogo em nossos olhos
Que não quer se apagar
Durante a noite ou em pleno dia
Teimando em queimar...

Dizem que o tempo sempre
Nos diz quem tem razão
Agora é tempo para
As razões do coração
Que são muito mais
Que não podem mais...

Esperar o pensamento
Ditador, comandar
Se for prudente
Não é dá gente
Que vive de amar
Que será de nossas vidas
Eu não sei te dizer
Só sei que juntos seremos tudo
Contra o que de mal vier...

Dizem que o tempo sempre
Nos diz quem tem razão
Agora é tempo para
As razões do coração
Que são muito mais
Que não podem mais...

Que será de nossas vidas
Eu não sei te dizer
Só sei que juntos seremos tudo
Contra o que de mal vier...



Compositores: Flavio Venturini / Luiz Carlos Sá

quarta-feira, 10 de julho de 2019

"A vontade de Deus só é válida se for igual a minha?"

Ninguém sabe ao certo qual caminho ou qual provações ainda vamos passar até que chegue o fim onde o bem triunfará.

Nada acontece sem o conhecimento e consentimento Divino. Temos o livre arbítrio para seguir o caminho certo ou não. Deus faz a parte Dele e nós devemos fazer a nossa.

A vontade de Deus sempre é válida infelizmente muita gente só enxerga e valoriza se for igual a sua própria...

quarta-feira, 3 de julho de 2019

E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?

Descobri esse texto aleatoriamente na internet. Foi publicado no Jornal Extra de 02/06/19, cuja autora é  Mônica Raouf El Bayeh.

Gostaria de compartilhar com vocês.








- Nossa! Que vacilo!

Diz aquele que nunca vacilou. Conhece alguém? Não. Não conhece. Não há quem nunca tenha pisado na bola. Quem não tenha mijado fora do penico.

Todo mundo tem essa mania. Sabe por quê? Porque o erro dos outros a gente tende a enxergar com nitidez. A julgar de forma rígida. A não compreender os motivos de tamanha burrada. Num julgamento cego de quem olha a capa, mas nunca leu o livro.

Se pudesse olhar por dentro, veria medos, aflições, traumas antigos, desespero, solidão. E aí, talvez entendesse os motivos de tanta dificuldade. Nada é a toa. Nada é de graça. Só que é preciso empatia para se colocar na pele do outro, sentir igual. Estar aberto para compreender.

Macaco senta no rabo e fala do outro. O descompasso alheio pula na nossa frente. O nosso, não. Jogue a primeira pedra quem nunca fez besteira. Quem nunca seguiu em frente fingindo ignorância. Disfarçando. Adiando.

Fazendo de conta que está tudo bem. Empurrando com a barriga. Você mete o pé na jaca com força. Quando vê, já foi. Já fez. Sem retorno. Sem conserto. Está feito. Fazer o que? Aprender e mudar dali para a frente. Repensar e fazer diferente. Entender como aprendizado.

Fez, está feito. De nada adianta remoer. Ruminar. Ficar se perguntando:

- E se eu tivesse feito diferente?

Não foi. A vida é o que a gente consegue fazer. Do jeito que dá. Da forma que se imagina certa. Dói ter errado. Dói mais ainda sofrer as consequências da burrada que fez.

Vida é dobrar lençol de elástico. Você dobra de um lado, desdobra do outro. Parece que está conseguindo. Quando vê, embolou tudo de novo. E precisa recomeçar. Sozinho, com ajuda dos amigos, dos parentes, de todo mundo que te é querido.

Se perceber que não consegue, busque ajuda. Há pessoas que vivem como cachorro atrás do rabo, se metendo nas mesmas situações. Um homem safado atrás do outro. Uma demissão atrás da outra.

Se metem em brigas sem grandes motivos. Reclamam sempre das mesmas coisas. Do mesmo tipo de pessoa, mas escolhe sempre igual. Nesse caso, uma terapia pode ajudar. Na terapia se descobre seus motivos, se repensa sua dinâmica, se joga uma luz sobre seus sentimentos.

A terapia é um espaço de conhecimento. De enriquecimento. De redefinição de futuro. Se perceber que não consegue sozinho, peça ajuda. Não é vergonha nenhuma. Vergonha é deixar que a vida escorra pelas suas mãos.

Erros acontecem o tempo todo. Vivemos por ensaio e erro. Muito mais erros que acertos, às vezes. Faz parte. Fazer o que? A gente vai caindo, levantando, tentando de novo. Somos caminhantes com bolhas nos pés e na alma. Ainda assim, caminhantes porque outro jeito não há.



quarta-feira, 12 de junho de 2019

Me ensina a escrever



Não sei o que escrever. Me faltam palavras para expressar o que sinto. Tantas já foram escritas, ditas, usadas e reusadas para tentar dizer tudo que sinto a cada dia, a cada olhar, a cada momento. 

Por não ter palavras suficientes, deixo essa música de Osvaldo Montenegro em homenagem a minha esposa, confidente, melhor amiga e eterna namorada.

Um pedido. Me ensina a escrever o que sinto por você...








Meu amor
Me ensina a escrever
A folha em branco me assusta
Eu quero inventar dicionários
Palavras que possam tecer
A rede em que você descansa
E os sonhos que você tiver

Meu amor
Me ensina a fazer
Uma canção falando quanto custa
Trancar aqui dentro as palavras
Calando e querendo dizer
Não sei se o poema é bonito
Mas sei que preciso escrever

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Resposta...

Gosto de responder os comentários de meus leitores, afinal não posso desprestigiar os cinco leitores quase assíduos que tenho. O tempo não tem sido muito companheiro para me permitir escrever com a frequência que eu desejava, mas tenho tentado manter a média habitual de uns dois textos por mês.

O último comentário que eu recebi merece uma resposta especial, por não ter sido apenas um elogio e sim uma declaração de forte identificação com o que foi escrito. Não mereço todos os "louros" pelo texto, a música ajuda muito: Interpretação: Os Cegos do Castelo.

Agora, quero falar com você, que não disse quem é, mas que tem uma vida que se encaixa nessa canção.

Obrigado. Obrigado por passar por aqui por ler o texto. Talvez esse tenha sido o primeiro, talvez o único ou simplesmente mais um. Não importa que você seja um leitor, melhor dizendo leitora assídua (teu "grata" te entregou), ou apenas alguém que passou pelo blog. Agradeço por ter lido, ter dedicado um pouco do seu tempo para ler o que escrevi.

Fico muito feliz de ter escrito algo que você gostou, que você se identificou. Espero que o texto não apenas tenha se encaixado com o que viveu (ou vive), mas que também tenha te ajudado a refletir, a buscar um caminho melhor.

Costumo dizer que de alguma forma todos nós "fizemos uso de alguma droga", algo que nos inebriou de forma que paramos de pensar racional e emocionalmente, e fomos levados por um caminho que não foi o ideal para nós. Essa "droga" nem sempre algo "químico", pode ser um relacionamento ou um emprego, ou alguma coisa ou situação que insistimos tempo demais, e nos prendeu a uma "felicidade ilusória". Tão comum, tão normal que penso que quem não viveu nada disso, de fato não viveu. Fique feliz por ter passado por isso, você viveu alegria e tristeza em um único aprendizado.

Por isso recomece. Cuide de seu jardim, invista no teu lar, na tua vida, na tua felicidade. E se nada der certo, recomece de novo, por mais triste que fique não deixe-se esmorecer, pare, respire, cante uma canção e recomece.

Se der vontade de chorar, passe por aqui, leia algumas coisas, se for ruim, passe para o próximo. Pode ser que algo te anime, lhe faça pensar.

Se tiver alegre, passe por aqui, leia algo que lhe agrade e compartilhe essa alegria.

OS textos são seres estáticos por natureza, mas dinâmicos nas sensações que podem provocar, por isso digo, se precisar de ajuda, uma palavra ou conselho, ou simplesmente desabafar, sinta-se a vontade. Autorizando, seu comentário pode virar um texto. Ou ganhar um inteiro de resposta.

Como hoje.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Apenas um dia.

Acordei como em um dia qualquer, ainda meio atordoado por um sonho que tive. Isso durou bem pouco, em alguns minutos não lembrava mais o que sonhar e sinceramente parecia que nem mesmo dormira.

Olhei a meu redor, já passado o atordoar do sono, e percebi que algo parecia diferente, na verdade muito diferente. Aquele era apenas um dia, na verdade apenas o dia. Confuso ao escrever, mas fácil de explicar.

Por muitas vezes ouvira quem desejava ter apenas um dia e nada mais, por uma diversidade de motivos e razões. E eu um dia desejara isso por um motivo muito mais simples e por uma razão um tanto quanto simplória: apenas para ser. Sim, ser, existir e nada mais. E este era o dia que eu pedira.

Um dia livre de qualquer regra ou convenção social. Não, não era como "Uma noite de crime", filme em que durante uma noite todas as atrocidades podem acontecer sem qualquer impedimento ou restrição. Era algo mais simples: minhas próprias convicções eram minhas regras e só a elas eu deveria seguir, por um dia inteiro.

Saí de casa, da mesma forma que faço todos os dias, após tomar meu ínfimo café da manhã. Não sinto fome para comer muito em um dia comum, ainda mais em um dia que eu poderia fazer o que minha vontade mandasse.

Apenas caminhava, como se o mundo não existisse ou em nada me influenciasse. Sem rumo, sem destino, sem caminho certo, fui parar em um lugar amplo, com um belo gramado e algo que parecia um grande e límpido lago. Apenas sentei-me sentindo a brisa úmida que batia em meu rosto, e enchia meu corpo de uma energia que não sou capaz de explicar.

Sentia meu corpo em êxtase como nunca antes. Poderia entrar no lago, nadar por horas, mas algo me impelia a fazer diferente, quase como uma atração inexplicável. Segui andando, até chegar em um belo lugar. Meu coração disparava, conforme caminhava cada vez mais perto. Olhava para as árvores que ali ficavam, a brisa que tocava meu rosto de forma suave e aquele doce aroma no ar. Depois de passear calmamente por aquele jardim, entrei na gruta enquanto a emoção tomava conta de mim. Já visitara outras grutas, mas aquela era a primeira vez que ia até ali. Mesmo sem saber o porquê, desejava muito estar ali. E neste dia eu podia, sem me preocupar com o tempo ou qualquer outro receio que sempre tivera de ir até ali.

O lugar era quente, mas um quente aconchegante e úmido. E cada vez que eu entrava mais, parecia que o rio que ali existia aumentava seu volume e eu me molhava sem medo ou culpa.Explorei aquele lugar como nunca fizera, até não mais poder. Saí pelo mesmo caminho que entrei e deitei ali junto ao jardim, apenas observando tudo ao redor.

Da mesma forma que fui impelido a estar ali, algo me incentivava a retornar. Olhei por uma última vez para aquele belo lugar: o jardim, suas árvores frutíferas, aquela energia boa que fluía daquele lugar. A gruta e seu rio corrente, mesmo sendo um lugar prazeroso de se estar, perdiam até sua importância comparada com o lugar como um todo.

Retornei ao gramado a beira do lago e me permiti novamente repousar um pouco ali. Já passara da hora da refeição, mas sinceramente não tinha fome alguma.  Naquele momento eu só pensava em descansar. Um dia inteiro esvaziando consideravelmente a mente, sentia falta apenas de algo para um dia perfeito: voltar para casa, para junto de quem amo.

Naquela noite dormi como há muito não dormia. E acordei sem saber se tudo que passara foi real, ou apenas um sonho...

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Eu Quero Ser Feliz Agora

Só um texto pra pensar... E agir....




Se alguém disser pra você não cantar
Deixar teu sonho ali pr'uma outra hora
Que a segurança exige medo
Que quem tem medo, Deus adora

Se alguém disser pra você não dançar
Que nessa festa você tá de fora
Que você volte pro rebanho
Não acredite, grite, sem demora

Eu quero ser feliz agora


Se alguém vier com papo perigoso de dizer
Que é preciso paciência pra viver
Que andando ali quieto
Comportado, limitado
Só cuidado, você não vai se perder

Que manso imitando uma boiada
Você vai boca fechada pro curral sem merecer
Que Deus só manda ajuda a quem se ferra
E quando o guarda-chuva emperra certamente vai chover

Se joga na primeira ousadia
Que tá pra nascer o dia do futuro que te adora
E bota o microfone na lapela
Olha pra vida e diz pra ela

Eu quero ser feliz agora



Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Máquina do tempo

Se o mundo voltasse... Reviver momentos... 

Finjo não saber que o tempo passa logo, finjo para tentar conter a saudade do que já se foi.

Ah que bom seria se o tempo voltasse...

Muita coisa viveria de novo, exatamente como foi, porque foi bom. Mesmo não tendo sido exatamente como sonhado, mesmo que muitas coisas tenho sido não planejadas ( e eu sou um eterno amante de planejar) reviveria com alegria. Sorri, sonhei com mundos que não estavam a meu alcance, mas também alcancei mundos inimagináveis a priori.

Reviver os passos seja como for. Lembrar do que foi bom, mas também quero tropeçar nas mesmas pedras do caminho.

E no fim, refazer a mesma rota que meu coração traçou, as alegrias que o inundaram e as tristezas que o moldaram, para chegar onde cheguei. A alegria de encontrar sem saber e a certeza de ter encontrado o que não buscava: o caminho da felicidade. 

Transformar alguns erros em acertos? Faz parte do aprendizado não repetir erros, mas a certeza da alegria final, não me deixaria mudar a rota...

Sei que é um sonho reviver... Pura ilusão... Mas deixar a imaginação flutuar em lembranças boas nos faz sorrir. Com a alma.



*Texto baseado na música Máquina do Tempo, composta por Aggeu Marques, interpretada por Flavio Venturini em : https://www.youtube.com/watch?v=ioIG_a2bZ0w

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Mas olhe...









“Mas olhe para todos ao seu redor e veja o q temos feito de nós e a isso considerado vitória de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais, e ficando do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
(...)”

Clarice Lispector

quarta-feira, 27 de março de 2019

Felicidade Realista




A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser
magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:
queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemos
conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar
pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente
apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes
inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos
sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o
que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.

Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você
pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um
parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando
se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção.
Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se
sentir seguro, mas não aprisionado.
E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,
buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e
um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato,
amar sem almejar o eterno.

Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,
instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde
só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas
desta tal competitividade.

Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as
regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo.

Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a
felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir
embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não
sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...

(Mário Quintana)

quarta-feira, 6 de março de 2019

Quarta-feira de Cinzas



O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo Testamento. As cinzas simbolizam dor, morte e penitência. Por exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas quando soube do decreto do Rei Asuer I (Xerxes, 485-464 antes de Cristo) da Pérsia que condenou à morte todos os judeus de seu império. (Est 4,1). Jó (cuja história foi escrita entre os anos VII e V antes de Cristo) mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6). Daniel (cerca de 550 antes de Cristo) ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: "Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza" (Dn 9,3). No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre cinzas (Jn 3,5-6). Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram a prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos compreendiam) de arrependimento.

O próprio Jesus fez referência ao uso das cinzas. A respeito daqueles povos que recusavam-se a se arrepender de seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Nosso Senhor proferiu: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21) A Igreja, desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo simbolismo. Em seu livro "De Poenitentia" , Tertuliano (160-220 DC), prescreveu que um penitente deveria "viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e coberto de cinzas". O famoso historiador dos primeiros anos da igreja, Eusébio (260-340 DC), relata em seu livro A História da Igreja, como um apóstata de nome Natalis se apresentou vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa Ceferino, para suplicar-lhe perdão. Sabe-se que num determinado momento existiu uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente saía do Confessionário.

Já no período medieval, por volta do século VIII, aquelas pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia o moribundo com água benta dizendo-lhe: "Recorda-te que és pó e em pó te converterás". Depois de aspergir o moribundo com a água benta, o sacerdote perguntava: "Estás de acordo com o tecido de saco e as cinzas como testemunho de tua penitência diante do Senhor no dia do Juízo?" O moribundo então respondia: "Sim, estou de acordo". Se podem apreciar em todos esses exemplos que o simbolismo do tecido de saco e das cinzas serviam para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem como a intenção de se fazer penitência pelos pecados cometidos contra o Senhor e a Sua igreja. Com o passar dos tempos o uso das cinzas foi adotado como sinal do início do tempo da Quaresma; o período de preparação de quarenta dias (excluindo-se os domingos) antes da Páscoa da Ressurreição. O ritual para a Quarta-feira de Cinzas já era parte do Sacramental Gregoriano. As primeiras edições deste sacramental datam do século VII. Na nossa liturgia atual da Quarta-feira de Cinzas, utilizamos cinzas feitas com os ramos de palmas distribuídos no ano anterior no Domingo de Ramos. O sacerdote abençoa as cinzas e as impõe na fronte de cada fiel traçando com essas o Sinal da Cruz. Logo em seguida diz : "Recorda-te que és pó e em pó te converterás" ou então "Arrepende-te e crede no Evangelho".

 Aceitando que nos imponham as cinzas, expressamos duas realidades fundamentais:

Somos criaturas mortais; tomar consciência de nossa fragilidade, de inevitável fim de nossa existência terrestre, nos ajuda a avaliar melhor os rumos que compete dar à nossa vida: "você é pó, e ao pó voltará" (Gn 3, 19).

Somos chamados, chamados a nos converter ao Evangelho de Jesus e sua proposta do Reino, mudando nossa maneira de ver, pensar, agir.
Muitas comunidades sem padre assumiram esse rito significativo como abertura da quaresma anual, realizando-o numa celebração da Palavras.

Existem muitos embasamentos bíblicos sobre as cinzas através das seguintes passagens: (Nm 19; Hb 9,13); como sinal de transitoriedade (Gn 18,27; Jó 30,19). Como sinal de luto (2Sm 13,19; Sl 102,10; Ap 19,19). Como sinal de penitência (Dn 9,3; Mt 11,21). Caso se interesse pelo assunto, você pode fazer  uma pesquisa através de todas estas passagens bíblicas, prestando a atenção ao texto e seu contexto, relacionando com a vida pessoal, comunitária, social e com o rito litúrgico da Quarta-feira de cinzas.

A primeira parte deste texto foi traduzido de um escrito do Padre Saunders que apareceu publicado no Arlington Catholic Herald, em 17 de fevereiro de 1994. O Padre Saunders é Presidente do Instituto Notre Dame para Catequese e Assistente de Pároco na Igreja Rainha dos Apóstolos em Alexandria, Virigina. (Cortesia do Website EWTN, 1998) .A segunda parte foi obtida do opúsculo SÍMBOLOS NA LITURGIA, Ione Buyst, Paulinas, 1998.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A Lista

Ouvi essa música  há alguns dias, e há muito não a ouvia.

Me levou a pensar. Sobre tanta coisa... Amigos que passaram, amigos que ficaram, momentos que vivi, sonhos absurdos, outros tão plausíveis que não se realizaram, nem sei o porquê. Mentiras sem sentido, verdades nunca ditas... Dúvidas não sanadas, mistérios sem sentido, segredos que nada tinham de secretos...

Me levou a pensar tanto que nem sei explicar tudo. Tanto que fiz e hoje não faria mais. Coisas que jurava para mim que nunca faria e hoje viraram rotina, defeitos que eu condenava e hoje vejo que eram minhas maiores qualidades...

Espero que leve vocês a pensarem tanto quanto levou a mim.








Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


Composição: Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Metade

Um texto para refletir. E nada mais.







Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade, não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia
A outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também

Composição: Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Escolhas, desejos e pedidos

"A vida é feita de escolhas".

Sempre ouvi essa frase, mas nunca dera realmente conta da profundidade e da realidade dessas palavras. As escolhas, os desejos, os caminhos direcionam nossa vida de tal forma que não tem-se retorno.

Uma via sem volta, por isso não creio serem adequadas o tanto de reclamações que ouço com certa frequência. Por isso evito reclamar o máximo que posso de coisas "não agradáveis" que possa vivenciar.

Minha vida é consequência do caminho que escolhi trilhar, dentro das opções que me foram dadas ao longo dos anos. E também das escolhas que não fiz, dos momentos que não agi, seja por indecisão ou por pura falta de condições psicológicas para escolher. E o lado psicológico atua e muito no caminho que trilhamos.

Tudo isso já foi repetidamente falado e discutido por muitos. Somos e sempre seremos consequências de nossas escolhas ou falta delas. Mas o que percebi ao longo dos anos é que nossos desejos e pedidos contam muito mais do que imaginamos. Vivo "na pele" isso.

Há quem diga e acredite ser a força do pensamento, da natureza etc, que atraímos aquilo que pensamos muito, que desejamos de verdade. Não sou esse tipo de pessoa, sou mais do tipo que acredita que existe um Ser maior, Criador, que houve nossas preces e nos dá as direções a seguir, bastando termos mansidão e empenho para enxergar o caminho a seguir. 'Deus faz a parte Dele e nós fazemos a nossa'.  E foi a Deus, que em muitos momentos que me senti fraco e sem esperança que pedi de todo meu ser, o que em cada ocasião julguei ser o melhor, o correto, o justo.

E fui atendido.

Contudo muito do que pedi não era atemporal, por mais que mesmo hoje não deseje o oposto, com certeza seria muito mais específico e detalhista em alguns pontos. Pode parecer ingratidão, por ter sido atendido e hoje crer que melhor seria que o fosse de maneira diferente. Porém, não me julguem sem conhecer a profundidade do que me refiro. E não vem ao caso detalhar, por não ser o escopo deste escrito.

Exemplificando, lembro-me de um episódio de uma série que gostei muito de assistir. Neste episódio existia um gênio que atendia os pedidos de quem o libertasse, porém atendia de forma bem objetiva. Um personagem pedira a ele: "Quero a paz mundial, quero viver em um mundo de paz". Em um estalar de dedos todas as demais pessoas do mundo sumiram, ele era o único vivente em toda a Terra. O mundo estava absolutamente em paz, porém ele estava só. E assim decorreu outras vezes no episódio até a conclusão do perigo em se pedir algo.

Só um exemplo ilustrativo. Não importa se você crê no poder da sugestão, ou no poder da oração, ou da força psicológica de seus desejos. Tome cuidado com o que deseja, tome cuidado o imaginar ou pedir aquilo que você quer. Você pode ser atendido e nem sempre da melhor maneira possível, mas poderá ser simplesmente aquilo que você queria naquele momento.

Pedi, mentalizei, desejei, e tive que me habituar com "as consequências". Sonhe por inteiro, deseje por inteiro, peça por inteiro. E seja feliz por inteiro.


sábado, 26 de janeiro de 2019

Fotografia de um amor

Uma homenagem a minha amada.

Gratidão por tua existência, por termos nos encontrado, nossos caminhos cruzado e se tornado um só. E juntos vamos aprendendo, ajustando, vivendo.

Não sou perfeito, mas tento ser sempre o meu melhor, e ser a cada dia melhor para ti e para mim.

Ser feliz ao teu lado me basta. Não almejo riquezas materiais, nem sonho com lugares impossíveis. Só quero estar contigo, na rua, na chuva, na fazenda, numa casinha de sapê. Quando chega o fim do dia, eu só penso em descansar, voltar pra casa, pro teus braços...

E aproveitando o rumo musical que o texto está tomando, Fotografia de um amor, de Flavio Venturini e Murilo Antunes:





Nada é mais forte que o amor
Que faz abrir o mar
E une os corações em um só lugar

Faz a primavera surgir
O sol de todas estações
E a vida se anuncia plena

Quando você me apareceu
A luz dos olhos teus
Brilhante de tão branca me cegou

A fotografia desse amor
Instantânea emoção
Que ficou no coração pra sempre

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Sapiência da idade

Escrito por Regina Brett, 90 anos de idade, em The Plain Dealer, Cleveland, Ohio
"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais solicitada que eu já escrevi."

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente, o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É maravilhoso estar na presença de Deus. Ele pode suportar,perdoa, amparar e amar.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você.

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo...

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa: morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Crônicas de Mago - Capítulo 7

Olhando o deserto a minha frente, começo a escrever. Não sei ao certo quantas linhas, palavras ou sequer o direcionamento que isto terá.

"Cai a noite e mais uma vez os pensamentos voam sem destino. Não me importa com sua direção, apenas quero um pouco de paz em meu coração, nada mais.

O cansaço do meu corpo não é nada perto de como me sinto cansado mentalmente. Estou olhando para o local onde este texto será enterrado, olho para a fogueira que aquece um pouco esse inicio de noite e perco-me nos pensamentos.

Meus passos não foram precisos até então, mas foram os passos que me trouxeram até aqui. Qualquer passo que tivesse dado diferente poderia me levar a algum lugar que de fato eu não gostaria. E sou feliz sabendo onde cheguei.

Nesse texto gostaria apenas de deixar uma mensagem a quem encontrá-lo, tendo me conhecido ou não antes. Gostaria de deixar meu "Obrigado".

Agradeço a Deus pelas oportunidades que me permitiu viver, momentos alegres que me incentivaram a prosseguir, momentos tristes que me trouxeram grandes ensinamentos. Agradeço a vida.

Agradeço as pessoas que cruzaram meu caminho: as que ficaram e as que simplesmente passaram. Mesmo que eu não tenha entendido no tempo de partida, foi no momento preciso, e se for necessário nossos caminhos voltarão a convergir. Se não, leve minha gratidão, fique com o resultado dos momentos vividos e não com as lembranças. Me esqueça. Sim, esqueça. Não viva de saudosismos pelo tempo que passou. Viva o momento hoje, planeje o futuro se quiser, e deixe o passado apenas como uma marca, que te guia para os acertos e te desvia de repetir erros.

Viva. Sempre. Mas viva da sua forma, nunca querendo fazer da sua vida uma cópia da vida de outros. Tente ser mais, mas mais de você e não porque outros tentam mais, almejam isso ou aquilo. Almeje o que te faz feliz, mesmo que te digam que é pouco, mesmo que te digam que você pode mais do que está fazendo. Não adianta ser o que outros querem e ser infeliz.

Se está na dúvida, pare. Pare, pense e siga por onde realmente queres, por onde te faz bem. Os caminhos podem ser diversos e escolher sempre é difícil. Não tenha vergonha de voltar, de tentar, de começar de novo se não houver saída ou a saída não for bem a que querias. Faz parte da vida errar o rumo, faz parte da vida mudar o rumo.

Se está difícil, mas vês que o destino é o que esperas, o que queres, lute. Vale combater o bom combate, e chega a ser gratificante vencer após batalhas árduas.

Leia. Mas leia o que gostas, mesmo que muitos achem que deves ler outros textos, outros livros. E ganhe o hábito de escrever um pouco também, deixar fluir o que passa por tua mente. Às vezes escreverás pouco, outras vezes parecerá que não tem fim.

Não sou o dono da verdade, nem almejo sê-lo. Apenas passei por muitas coisas em um período curto, e minha mente sempre funcionou numa velocidade maior do que sou capaz de processar. Por isso deixo o que aprendi para quem se interessar, para quem puder ajudar."

Coloco uma cópia em uma garrafa e enterro. A cópia carbonada é jogada na fogueira e suas cinzas voam ao vento. Que cheguem a quem precisar. Que encontre quem precisar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Onde está o tempo?

Onde está o tempo que eu tinha? Onde estão meus dias? Sinto que os perco sem perceber...

Houve dias em que trabalhava, estuda algo, lia, escrevia e ainda tinha tempo para descansar vendo televisão, ou usando o computador...

Hoje acordo mais cedo, durmo mais tarde e já  não me resta tempo para quase nada. Pouco leio, pouco escrevo, pouco estudo, pouco vivo. Já não tenho energia ou disposição para quase nada.

Nem mesmo para terminar este texto...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Crônicas de Mago - Capítulo 6

Caminho como faço há muito tempo. Já não tenho mais a força de outrora, mas mantenho meus passo, mesmo que nem tão firmes, sem desistir.

Olho e ao longe vejo uma figura conhecida: Anjo. Vejo sem ser visto, e quem o acompanha também conheço, ambos personagens de velhas histórias contraditórias. Fazem parte de passos já dados, lições já aprendidas, e histórias já recontadas ou simplesmente esquecidas. Mas me traz uma certeza já antiga, de que nunca de fato tivera um escudeiro presente.

Houve tempo em um povoado chamado tukrO que se dizia que Anjo acompanhava um certo guerreiro, já há tempos. Questionara-o a respeito, que negou veementemente, com ressalvas de indignação com tal informação.

Hoje olho e sorrio. Talvez já o acompanhe desde a época que me prometera presença nos campos de batalha, mas cumpriu sua missão mesmo que em campos ilusórios. Fora um grande aprendizado sem dúvida, mesmo por vezes tendo meu escudo desamparado, caído ao chão me expondo ao perigo. Sobrevivi, isso foi o importante.

Olho novamente e não mais os vejo. Sento em uma pedra, e olho a vastidão a minha frente, um deserto conhecido, no qual me sinto seguro. Resolvo escrever algumas linhas com um velho carbono. Uma via será queimada, para que o vento decida aonde levar. A outra será enterrada nas areias, a espera que alguém a encontre. Não sei ao certo quantas serão escritas, talvez três, talvez trezentas. Talvez sejam todas de uma vez, ou uma a cada século... O importante é colocar no papel as palavras, e deixar que se decidam que rumo tomar.