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Fernanda desperta com uma forte dor de cabeça. Não se lembra de nada, sequer de ter ido dormir, tudo que lembra é da enorme tristeza que sentiu depois de falar com ele.
Ah! Ele... Sabia que ele nunca a perdoaria. Como poderia, se ela mesma não a perdoara por ter mentido durante tanto tempo. Tantas mentiras e para que? Nada adiantou, nem adiantaria. Nunca...
Olha no espelho e pensa que apesar do que passou, não está de todo mal. Precisa ir trabalhar, não se lembra se fora no dia anterior, e isso poderia criar problemas para ela.
Ao chegar ao trabalho, uma colega a aborda ainda na porta:
-Fernanda! Quanto tempo não te vejo! Veio nos vistar?
- Como visitar, vim trabalhar! - disse ela sorrindo
- Deixe de brincadeira e suba comigo. Me diz como está no novo emprego?
Confusa, Fernanda olha para colega:
-Novo emprego? Que novo emprego?
- Tem mais de um ano que você pediu demissão porque tinha conseguido algo melhor, não sei onde. Será que não tem uma vaga lá para mim?
Agora, mais confusa ainda, Fernanda dá às costas para a ex-colega e volta a caminhar na rua. Não se lembrava de ter mudado de emprego. Não se lembrava de onde era, e naquele momento não se lembrou nem direito quem era. Distraída, atravessou a rua, e um carro avançou o sinal, e o pior aconteceu.
Sente seu corpo flutuar, perder o peso. Não sente dor, não sente nada. Escuta buzinas, sirenes, burburinho de pessoas, mas tudo que sente é uma sensação de paz, como não sentia há muito tempo. Fecha os olhos e adormece.
Quando abre os olhos, está deitada em um lugar silencioso. Uma pessoa olha para ela com cara de alegria e desespero:
-Fernanda, você acordou! Sou e, seu irmão.. Você está bem?
Imagina que essa tal de Fernanda deve ser alguém de sorte, ter alguém que se preocupe assim com ela. Ele continua falando e ela só sorri... O coitado deve estar confundindo ela com essa tal de Fernanda. Faz sinal para que ele se aproxime, ela tem medo de falar alto demais e interromper o silencio tão gostoso dali:
- Desculpe moço. Me nome é Léia, mas essa Fernanda deve ser alguém de sorte.
Ele se afasta... De novo essa história de Léia, assim como fora ao telefone dias atrás.
Fora do quarto, Julio conversa com o irmão mais velho que acabara de chegar e conta todo ocorrido, desde o telefonema confuso, o acidente e novamente ela dizendo ser Léia.
O irmão mais velho, olha com cara de assustado:
- Tem certeza que ela disse Léia mesmo? Absoluta certeza?
Diante da confirmação de Júlio, o irmão mais velho começa a contar uma história:
- Léia era nossa irmã, gêmea de Fernanda, que morreu ainda bem pequena. Você não lembra porque era pequeno também, a diferença de vocês é de pouco mais de um ano. Enquanto Fernanda nasceu forte e saudável, Léia nasceu pequena e doente, não chegou nem a sair do hospital. Mamãe ficou arrasada, nosso pai que tomou todas as providências de registrar, tirar certidão de nascimento e óbito, e cuidar do enterro. Nunca dissera para ninguém, além de mim que estava com ele, o nome que dera para a criança, e eu também nunca disse. Nem nossa mãe quis saber, sempre chamou-a de pequeno anjo. Não pode ser coincidência... Nem pode ser outro tipo de coisa...
Enquanto ficaram calados pensando, um alarme disparou. Eram os monitores de Fernanda, que partia. Uma equipe de médicos adentrou ao quarto, mas era tarde demais para Fernanda... Talvez não para Léia.
Continua
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