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quarta-feira, 19 de março de 2014

A Casa - Sala 1

Este texto é o segundo da série que começa com:

http://erranteescritor.blogspot.com.br/2014/03/a-casa-introducao.html

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Atravesso a porta e depois de uma grande luz, percebo que estou deitado em minha velha cama de solteiro, arrumado como se fosse sair. Por que estava ali? Depois de alguns momentos extrema estranheza, olho para meu velho celular e me dou conta que voltei quase 10 anos no tempo. Lembro do dia, lembro do que aconteceu, mas os fatos conhecidos pararam por aí.

Poucos segundos depois, o celular toca, uma mensagem de um velho número que fora conhecido:

"Pode descer, já cheguei"

Se o número era conhecido, a mensagem era inédita. Se estivesse realmente certo, era algo que de fato nunca acontecera. Atiçado pela curiosidade, me despedi de quem estava em casa e desci. Em frente ao prédio, um carro preto estava parado. O vidro do carona baixa, e me chamam.

Ainda incrédulo, mas sem querer transparecer, vou até lá e entro. Dou um beijo em sua testa, ela ri e me pergunta aonde vamos. Ainda organizando meus pensamentos para entender o que acontecia, digo que estou com fome, e sugiro a ida ao shopping perto onde poderíamos comer algo enquanto conversávamos, depois disso poderíamos ir onde ela quisesse. Ela concordou e em pouco minutos estávamos na praça de alimentação, aguardando nosso pedido ficar pronto.

Não sei com que cara eu estava, mas ela insistia em perguntar se eu estava bem, se aquela cara de espanto era emoção em vê-la. A princípio não respondia nada, apenas dava um leve sorriso. Ela começou a falar dos planos que tinha para fazermos, até que eu a interrompi:

- Desculpe, não quero atrapalhar seus planos, mas preciso falar. Você não vai entender nada, por isso só peço que me ouça. Até alguns minutos atrás eu estava uns 10 anos no futuro, e esse dia nunca aconteceu e se foi assim, foi por algum motivo que deve ser respeitado. Não sei se isso faz parte de um universo paralelo ou se tudo está ocorrendo apenas em meu subconsciente, mas acho que sei porque estou aqui. Eu precisava estar aqui para te agradecer por me ensinar a acreditar, a esperar e também a querer viver. Obrigado por me ensinar a sair da inércia, a aprender a rir e chorar. O mundo seguiu adiante, e você também deve fazê-lo. Não importa o que isso significa, um dia você vai entender.

Chorando ela levantou, coloquei uma bala na boca, fechei os olhos e lhe dei um abraço.

Quando abri os olhos novamente, eu estava novamente numa sala escura, agora menor, com uma única cadeira de frente para uma porta.

Dentro de mim, sentia que agira certo na última sala. Não seria justo agir diferente, há muito aceitara que tudo que aconteceu fora como devia ser.  Não tinha tomado nenhuma decisão, no passado não houvera opção e agora eu já não era mais o mesmo, assim como tenho certeza que a pessoa que estava ali na minha frente, hoje me dia não era também aquela pessoa que eu via. Agora imaginava o que aconteceria atravessando essa porta. Será que eu viveria mais momentos que não aconteceram?

Fiquei mais alguns minutos sentado, imaginando o que me aguardava atrás dessa nova porta. Respirei fundo e abri a porta a minha frente. Que seja o Que Deus quiser.


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