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segunda-feira, 24 de março de 2014

A Casa - Sala 5

Este texto é o sexto texto da série que começa com:

http://erranteescritor.blogspot.com.br/2014/03/a-casa-introducao.html

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Caminhando em direção a porta, ficava imaginando o que me esperava. Já não tinha a curiosidade das primeiras salas, nem a ansiedade de outras. Havia revivido momentos, vivido outros que não tinham acontecido e tive a chance de vivenciar com a maturidade que hoje tenho.

Eu tinha apenas mais uma cápsula. Essa deveria ser a última porta, uma última sala. Era hora de abrir a porta, ver o que me esperava e seguir adiante. Não passava pela minha mente o que poderia haver ali.

Abri, e estava na porta de um shopping perto de casa. O telefone toca:

- Me atrasei, mas já estou chegando.

Por alguns momentos fiquei feliz por ouvir aquela voz. Então me dei conta que dia era aquele. Meu Deus! Não pode ser! Não! Eu não posso viver esse dia de novo por mais especial que tenha sido. Não posso correr o risco de estragar esse dia, nem de alterar uma linha sequer dele. Tomei imediatamente a pílula, e dessa vez não fui diretamente para sala de antes. Fiquei como espectador da cena. Não sei se alguém ali conseguia me ver, mas mesmo assim me escondi e fiquei observando a chegada dela, e o momento que a encontrei, e juntos passamos entramos no shopping. É. Foi um dia bom, que de certa forma mudou minha história. Não precisava mudar nada, nem quereria mudar nada. Assim como no fim nada mudei nada desde que entrei naquela casa.

Uma leve tontura e estava de volta àquela casa, agora no salão inicial onde aquela simpática senhora me aguardava.

- Fez um belo passeio?

- Sim. Até por onde não precisava.

- Acontece com todos. Sempre tem alguns lugares que não entendemos porque, mas nos é útil ver.

Respondi apenas com um sorriso e agradeci a oportunidade de relembrar, de reviver, de ter a chance de dizer o que nunca disse, de ter a certeza que eu fiz o melhor que poderia naquele momento, para o que eu sabia, para quem eu era. Ela sorriu de volta e me disse que ficasse a vontade, ela tinha alguns afazeres para terminar.

Era hora de partir, não sabia quantas horas se passaram desde que ali entrara. Já devia ter passado da hora de ir, retornar a meu lar, a minha vida tão abençoada.

Saí pela porta frontal, e quando estava na rua olhei para trás. A casa bela e vistosa, de entrada estilo antiga, ainda estava lá, só que com aspecto de abandonada, com madeiras pregadas em suas janelas e portas.Será que eu havia sonhado com tudo aquilo? Será que tudo se passara apenas na minha imaginação?

Um papel foi trazido pelo vento e caiu à minha frente. Peguei o papel e li:

Dê uma nova chance aos pensamentos. Descubra outras decisões. Tente.

E no verso estava rabiscado:

Você conseguiu.

Mesmo que ninguém acredite, sei que aquilo foi real, ao menos dentro de mim.

Hora de voltar para casa, retomar minha vida, agora com mais certeza ainda que vivi tudo que precisava viver. Só queria chegar em casa, abraçar minha esposa, e viver cada dia na certeza que só teria uma chance de fazer o que deveria ser feito...

Nunca mais passei em frente aquela casa, nunca mais vi as pessoas que estavam naquela fila. Talvez a casa tenha sido demolida, tenha sido feito um prédio em seu local. Talvez aquelas pessoas tenham seguido seu rumo longe dali... Seguiram adiante, como o mundo seguiu.

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