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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Tendo a lua...

O ano terminando e ouço uma música antiga, que fala um pouco do que precisamos fazer para termos um ano realmente novo e diferente.



Eu hoje joguei tanta coisa fora
E vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim

Trecho perfeito para um fim de ano: Jogar coisas fora, se desapegar do passado, dos problemas que passaram, das pessoas que deixaram uma parte de si, mas que foram e devem ficar apenas como uma lembrança de dias bons ou ruins, de um aprendizado. Ficam as lembranças de tanto que se passou, tanto que se viveu. A vida continua, novos momentos vem e devem ser aproveitados ao máximo por serem únicos.


O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que eu fiz
Querendo ver o mais distante sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu

O céu de Ícaro, o céu de quem sonha, tem mais poesia que o céu lógico e racional de Galileu. Lembra-se o quanto se quis voar, sem ter asas para tal. A razão e o sentimento se dividem, até o momento em que, assim como com Ícaro, as asas derretem e sem voar, com os pés no chão, se quer ver mais distante, mais adiante.

Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.

A lua, observada de longe pelos homens desde os tempos em que nem sequer era possível sonhar em alcançá-la. Tão poetizada por escritores, sonhadores e amantes, merecia não a visita da rigidez estereotipada dos militares e sim de quem já flutua em sonhos e pensamentos...

E leve, flutuante seguir a vida, deixando o peso do que passou pelo caminho, guardando consigo o que é estritamente necessário: lembranças e aprendizados.

Que o novo ano seja assim: repleto de lembranças, que sejam boas e se não forem, virem aprendizados e perspectiva de dias melhores.


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Símbolos Natalinos


No dia de Natal comemora-se o nascimento de Jesus Cristo. Na antiguidade o Natal era celebrado em várias datas diferentes, pois não se sabia com exatidão quando de fato Jesus havia nascido. Somente no século IV que o dia 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial. Na Roma Antiga era também comemorado o início do inverno. Portanto, acredita-se que haja uma relação deste fato com a oficialização da data.

As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, pois este foi o tempo que os três reis magos levaram para chegarem até a cidade de Belém e entregarem os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Hoje, é comum que as pessoas montem as árvores e outras decorações natalinas no começo de dezembro e desmontá-las até 12 dias após o Natal.

O Natal, como uma expressão de fé e de cultura, possui inúmeros símbolos. E é através destes que a comemoração ganha o seu significado. Muitos são os símbolos natalinos, mas apesar de serem facilmente reconhecidos em todos os lugares do mundo, nem todo mundo conhece seus verdadeiros significados.

Árvore de Natal
A árvore natalina é um dos principais símbolos – sendo mais antigo que o próprio sentido do Natal. Aproximadamente dois milênios antes do nascimento de Cristo, os povos indo-europeus já utilizavam-a com fins religiosos, pois acreditavam que elas eram uma expressão da energia de fertilidade da ‘mãe natureza’.

Simbolizando, antes de tudo, a vida, a tradição é a mais antiga da época e começou com os egípcios, que traziam galhos verdes para dentro de suas casas no dia mais curto do ano no mês de dezembro. O costume de ornamentar a árvore surgiu do hábito dos druidas, os ‘conselheiros’ decoravam velhos carvalhos com maçãs douradas para as festividades deste dia.

A primeira referência a uma ‘árvore de Natal’ é datada no século XVI. Na Alemanha, famílias ricas e pobres decoravam as árvores próximas a suas casas com papel colorido, frutas e doces. A tradição se espalhou rapidamente pela Europa e chegou aos Estados Unidos pelos colonizadores alemães. Logo, o símbolo passou a ser popular em todo mundo.

Pinheiro – a única árvore que não perde suas folhas durante todo o ano. Permanece sempre verde e viva. Usada pela primeira vez pela rainha Elizabeth, o pinheiro foi o destaque de uma grande festa de Natal da família real. Por conta dos inúmeros presentes e não podendo recebê-los todos pessoalmente, a nobre pediu que fossem depositados em baixo de uma árvore no jardim. Daí o costume, comum até os dias de hoje.

Bolas coloridas – simbolizam os frutos da ‘árvore vida’, ou seja, Jesus Cristo.

Papai Noel
A maioria dos pesquisadores afirmam que a figura do bom velhinho foi inspirada no Bispo Nicolau. Nascido na Turquia, o ‘homem de bom coração’ ajudava, anonimamente, pessoas que estivessem passando por dificuldades financeiras. Era comum ele passar pelas casas e deixar sacos com moedas de ouro próximas às chaminés.

A igreja católica canonizou o bispo Nicolau após inúmeras pessoas atribuírem milagres à ele. Já a sua associação com o Natal começou na Alemanha e rapidamente espalhou-se pelo mundo. Nos Estados Unidos, ganhou o nome de Santa Claus, no Brasil é chamado por Papai Noel.

O esteriótipo de Papai Noel que conhecemos hoje, com roupas vermelhas e barba longa e branca foi obra do cartunista alemão Thomas Nast, apresentada na revista Harper’s Weeklys, em 1881.

Guirlanda
O adorno natalino, originalmente confeccionado com galhos de pinheiro, pode também ser feito com flores, frutas e/ou ramagens entrelaçadas, enfeites vermelhos, laços e velas. A guirlanda avisa que as festas estão chegando, além de darem as boas-vindas aos visitantes. Têm o mesmo significado de prosperidade, fertilidade e abundância que a árvore de natal.

Durante todo o mês de dezembro a guirlanda é utilizada nas casas. O uso de tal símbolo refere-se a Roma Antiga, pois para os romanos oferecer um ramo de planta significa um voto à saúde e expô-la nas portas favorece a saúde de todas as pessoas da casa.

Presentes
Existem muitas origens para este símbolo. Em uma delas é contado que São Nicolau – o mesmo que deu origem ao Papai Noel – presenteava os mais humildes no natal. Uma outra versão remete o ato de presentear entes queridos aos três reis magos, que presentearam o menino Jesus em seu nascimento. o motivo e o dia para dar presentes varia de cultura para cultura.

Os romanos, há mais de 1500 anos, tinham o costume de enviar presentes aos amigos no início do ano. Tal hábito coincidia com os festejos ao deus Janus – com duas caras ele olhava para o ano que começava e para o que terminava – daí as origens do reveillon e demais comemorações de fim de ano.

Sinos
Simboliza o respeito ao divino e representa o ponto de comunicação entre o céu e a terra. Remete também ao ambiente rural, o tempo da igreja matriz e seus sinos e toques de aviso e de convocação para a vida e para a morte.

Os sinos, durante séculos, foram utilizados para chamar as pessoas e anunciar tanto boas quanto más notícias. No mês de dezembro a boa notícia é o nascimento de Jesus Cristo.

Presépio
Um dos símbolos mais comuns no Natal dos países com uma maior concentração de católicos, é a representação do cenário onde Jesus Cristo nasceu.

A palavra presépio refere-se ao local onde o gado é colocado ao ser recolhido, ou seja, o curral. Em meados do século XIII, São Francisco de Assis fez uma pregação, em uma noite de Natal, acerca do nascimento de Jesus e com a autorização do papa decidiu montar um cenário.

A encenação apresentava o menino Jesus, Maria, José e os três reis magos em um presépio de palha rodeado por um boi e um jumento. A representação repercutiu em toda a Itália e em pouco tempo as famílias europeias da nobreza já tinham seus presépios em casa.

Vela
As velas de Natal representam a luz das estrelas que os três reis magos seguiram para encontrar o menino Jesus. Para os cristãos, as velas simbolizam o amor e a fé concedida a Deus. Há vários tamanhos e formatos, geralmente de cores vermelha ou branca.

Até a descoberta da energia elétrica há 100 anos, a vela, a lamparina e as tochas foram as principais fontes de luz. A chama dava segurança e calor, por isso na antiguidade alguns povos cultuaram o fogo como divindade.

Comidas
Natal, na maior parte do mundo cristão, significa comida. O alimento na mesa, para as sociedades antigas, era uma das formas encontradas para reverenciar a Deus e a Jesus. Geralmente, à mesa, era servido carnes de porco e de ganso – mais tarde substituído por peru e peixe. Uma série de bolos e massas fazem o acompanhamento.

Para algumas pessoas, a ceia natalina está ligada à última ceia de Jesus Cristo ao lado de seus discípulos. Porém, segundo a literatura, originou-se do antigo costume europeu de deixar as portas abertas no dia de Natal para receber viajantes e peregrinos, esses juntavam-se a família hospedeira e todos confraternizavam.

Estrela
Segundo a bíblia, assim que Jesus Cristo nasceu uma estrela surgiu no céu e anunciou a sua chegada à terra. A estrela também serviu de guia para os três Reis Magos (Baltazar, Gaspar e Melchíor) acharem o local em que Cristo nascera.

Astrólogos da Antiguidade tinham o costume de acreditar que alguns fenômenos da natureza aconteciam em razão do nascimento de um rei, motivo pelo qual teriam considerado a aparição da estrela como prelúdio do nascimento de Jesus.

Essa estrela recebeu o nome de Estrela de Belém e seu brilho intenso representaria Jesus como a luz do mundo. Hoje é lembrada pelo enfeite que é colocado no topo da árvore de Natal.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

CRÔNICA DO TEMPO - Rolando Boldrin


Pra mim, o mundo é um relógio, e o dinheiro é a mola que controla os relógios dessa vida.

Se o senhor tiver tempo pra ouvir minha historia eu começo lhe contando que toda minha vida foi um desencontro entre o tempo e as oportunidades.

Deus nosso senhor que perdoe-me a sinceridade mas até hoje não entendi porque é que pra tudo na minha vida eu sempre cheguei muito tarde ou muito cedo;

Pra começar nasci fora de tempo, sou de sete meses, e se foi cedo demais pra dar dores e tristezas a minha mãe com essa minha pressa de nascer, foi tarde de mais pra dar alegria ao meu pai coitado, ele morreu antes de me conhecer, ai começa o meu rosário com o tempo.

 Já na idade de ir pra escola foi um tormento, minha mãe coitada corria pra lá e pra cá comigo de mão dada e sempre recebendo o mesmo desengano coitada,
"Não pode dona, só pro ano que vem é cedo ainda" ou então "Tarde mais dona as matriculas já estão todas fechadas".

Com o tempo eu fui crescendo, já mocinho eu procurava emprego, porta de oficina, serviço diferente, coisa de pequena paga e aquelas palavras do tempo me seguindo, sempre acontecendo comigo como um relógio do destino, "Olha moço não tem vagas, se você tivesse sido esperto... Agora o quadro de funcionários já está completo".

Eu me lembro que até pra o amor eu me atrasei, quando pra aquela garota que eu gostava me declarei ela falou pra mim, "Você chegou tarde demais, já dei meu coração pra outro rapaz".

Mesmo assim um dia me casei e desse casamento nasceu um menino muito bonito, foi a única coisa que me chegou na hora certa, porque ele foi a porta aberta para o meu riso, riso que eu já nem sabia mais como era o jeito; dei a ele o nome de Vitorio, ia ser meu grande vingador, pra me vingar do tempo, das horas, dos relógios e até dos segundos; pra me vingar dos donos desse relógio que é o mundo, o meu grande vingador...

 Vitorio foi crescendo como pode, logo já tinha cinco anos, e a vida, o tempo como um inimigo traidor sempre me espiando, um dia meu filho adoeceu como toda criança e eu trabalhava num faz de tudo, pra nada lhe faltar, num dia só fui camelô, entregador de encomenda, jardineiro, Tudo!

E chegava em casa cansado e cheirando mal de suor, pra lhe abraçar e lhe beijar, e o coitadinho doentinho dava dó, estava sofrendo.

Então trouxe o Medico para vê-lo, que logo me disse como homem bom que era, "Corre vá logo comprar esse remédio, quem sabe com isso ele não melhora".

Como eu não tinha dinheiro para o remédio, peguei um despertador lá de casa a única coisa de valor, pensando que podia vender ele num brechó, e sai correndo muito; até hoje não entendi porque ouvi uns gritos na rua "Pega ladrão" e gente se aproximando de mim, quem sabe pensando que eu fora de fato algum ladrão, e foi soco, abordoada e quando eu pude perceber já estava de pé na frente de um delegado.

Doutor, meu filho ta doente, ta morrendo, por favor eu tenho aqui a receita olha, e supliquei já chorando e o delegado já acreditando disse ao guarda, "pega o carro" leva o moço e me dando do seu dinheiro disse, "Corre compra o remédio do seu filho". E eu fui correndo e comprei o remédio e voltei como um raio, mas como sempre na vida eu corri contra o tempo, esse covarde...

 Quando abracei meu filho foi que eu vi, mais uma vez eu tinha chegado tarde...





quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O tempo....



A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

 Quando de vê, já é sexta-feira!

 Quando se vê, já é natal…

 Quando se vê, já terminou o ano…

 Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

 Quando se vê passaram 50 anos!

 Agora é tarde demais para ser reprovado…


 Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

 Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

 Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…

 E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.

 Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

 A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Autor: Mário Quintana

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Provocações




A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.

Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.

Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

- Violência, não!



Autor: Luis Fernando Verissimo

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

 Loucos e Santos




Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

 Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

 Oscar Wilde

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Guardar





Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Tabacaria - Fernando Pessoa



 Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
A roupa que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir a roupa que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Reescrevendo o tempo - parte 3





Eu sou o tempo
Você acha que eu passo rápido.
Que eu não volto.
Que eu não perdoo.
É verdade.

Mas agora eu estou aqui para a gente conversar com calma.

Você sempre pediu mais tempo e isso eu nunca pude dar.

Então, a humanidade criou este incrível mundo digital e você virou senhor de cada minuto.

Mas pelo que eu vejo,  o ano já está acabando e todos continuam correndo contra o relógio.

Por isso, eu gostaria de te dar um conselho: 
 
Pense menos em mim e mais em você.
 
É perdendo tempo que se ganha a vida.
 
Neste ano, quanto tempo você passou com a sua família?
 
Dando beijos?
 
Jogando conversa fora com os amigos?
 
O segredo do tempo não está nas horas que passam.
 
Está nos momentos que ficam.
 
Porque são eles que vão contar a sua história.
 
Eu sei disso.
 
Eu sou o tempo.


(Texto: Nizan Guanaes)

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Reescrevendo o tempo - parte 2

O tempo. O que é tê-lo ou não?

Tal ilusão é essa de ter-se o controle do tempo. Ele segue seu próprio rumo sem  nenhuma satisfação. Não pretende alegrar ou desalegrar ninguém, apenas segue seu rumo indiferente de qualquer pessoa ou situação.

O tempo, belo tempo longo para os jovens, curto para os mais velhos. Malfadado tempo que passa sem sentirmos e nos deixa mais velhos e se descuidarmos, não mais experientes.

Tempos de paz, tempos a mais. Tempos que deixamos para trás como lembranças de dias bons, como aprendizados de dias ruins. Lições eternas que entranha em nós.

Tempo que nos deixa marcas, mas que marcamos também, deixando um pouco de nós com cada um que cruza nosso caminho.

Quando o queremos controlar, tudo se desfaz, nos prejudica, nos fere, nos mata. O tempo corre solto e nós ao seu lado. Não atrás, nem na frente, sempre junto, para que seja aliado e herói e não vilão.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Reescrevendo o tempo - parte 1

A vida é feita de capítulos escritos diariamente, passo a passo, letra a letra. Por vezes, precisamos ter a humildade de voltar e reescrever algumas linhas, alguns capítulos. Mas essa série não é é sobre voltar e mudar o rumo de sua vida.

Quando se escreve diversas vezes, os fatos mudam, opiniões mudam e se faz mister voltar, e reescrever o texto, atualizá-lo, segundo os dias, pensamentos e a realidade atual. Mas essa série não é sobre reescrever velhos escritos.

Na verdade, essa série é sobre tudo isso e mais alguma coisa. Escritos novos que falam da ficção da própria realidade: passado, presente e futuro interlaçados e misturados. E esta é a primeira parte.


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Desabafo....

Tempo... De vida, de decisões, alegrias e tristezas.

Tem me sido curto demais, a ponto de reorganizar meus dias para aqui escrever. Preciso rearranjar meu tempo, minhas atividades, meus dias.

Fui posto a prova, mudanças alheias a minha vontade e a paz e tranquilidade de outrora foi substituído pelo desanimo em muitos momentos.

Ser punido por querer mais, por querer evoluir, é triste. Vontade de dar um passo atrás em busca de muitos a frente.

Decisões a tomar, e hoje fica só esse desabafo e a promessa de melhores textos em breve. Obrigado por acompanhar, por ler semanalmente, mesmo que em silêncio.

Você, mesmo sem saber, é muito importante para mim...

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Carta de um avô a seu neto

Encontrei esse texto e achei uma verdadeira lição de vida. Tem-se tão pouco o hábito de ouvir os conselhos dos experientes. Julgamo-nos conhecedores da verdade ao crer que  ter experiência de vida é estar ultrapassado. 

A modernidade, trouxe o aumento do pseudo conforto e da expectativa de vida. Mas, com certeza, a diminuição dos anos felizes.  E bate uma saudade dos tempos que não vivi...

"Aos netos.
Pelo que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você me considera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro de brinquedos.

Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança.

Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro ou nora, ou quem sabe até uma lágrima de meus filhos, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena.

Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções, e a despeito de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida.

Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante.

Vale a pena viver nesses assombrosos tempos modernos, em que milagres acontecem ao virar de um botão; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de outros mundos e descobrir na humildade, que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera.

Vale a pena, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre é azedo, que o espinho fere e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu sem perder a infância.

Vale a pena, ainda que sua lembrança de mim se torne vaga. Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim, simplesmente isso:

“Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena. E não é que ele tinha razão?!”

Tinha sim razão...

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Vamos de poesia: Deus

Hoje deixo uma poesia bela que recebi. Espero que apreciem:





DEUS

Amaro Poeta

Deus fez o mundo do nada
E em seis dias terminou,
Dois terços de água em cima
O mar na terra plantou,
E o céu bordado de estrelas
Suspenso no ar deixou.

O arco íris pintou
No céu como um diadema,
O sol nascer cor de ouro
E morrer da cor de gema,
E no crepúsculo da tarde
Deixou escrito um poema.

Com sua força suprema
Deu velocidade ao vento,
Deu as aves asas soltas
Pra bailar no firmamento,
Porque o mestre é o único
De perfeição cem por cento.

Sem o seu consentimento
Nada se move na terra,
O seu projeto não falha
Sua previsão não erra,
A máquina não enferruja
E nem o seu eixo emperra.

Seja no ar ou na terra
Deus é puro e escorreito,
Deu a lua quatro faces
E nenhuma dá defeito
Toda semana ela muda
Mas não muda o seu efeito.

O universo perfeito
Pintou de todas as cores,
Fez do chão um lençol verde
E ornamentou de flores,
Com animais e florestas
E deu para os seus pastores,

Trata bem dos pecadores
Que pra Deus isso é comum,
E ainda deu um anjo
Da guarda pra cada um,
Cuida de todos os filhos
Sem se esquecer de nenhum.

Deus é três pessoas num
Pai, Filho e Espírito Santo,
Ninguém foge do seu olho
Nem escapa do seu manto,
Se transporta sem andar
E voa sem sair do canto.

A chuva que cai do manto
Pingo a pingo é peneirada,
O rio de água doce
E o mar de água salgada,
Que a natureza obedece
A quem fez tudo do nada.

Visita toda morada
No dia a dia sagrado,
Ninguém pensa qualquer coisa
Que ele não tenha pensado,
Que Deus ama o pecador
Mas aborrece o pecado.

Do poder ilimitado
O mestre é onipotente,
Do saber absoluto
Deus é o onisciente,
E por estar em toda parte
Ele é onipresente.

Deus com sua mão potente
É comandante da nave,
A bordo do globo faz
Girar o cosmo suave,
Dos desígnios e mistérios
Só ele possui a chave.
Quem do olho tira a trava
Enxerga os defeitos seus,
Que o mestre é dono de tudo
Até da fé dos ateus,
Que até quem não tem fé sabe

Que o dono do mundo é Deus.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O mundo

Você que já esteve no céu¹ 
Foi tudo divertido pra você? 
Chega a hora então de provar tudo que existe 
Tire agora os sapatos jogue tudo pro alto sinta o chão 
Aprender a andar descalço num mundo de asfalto e sem coração 
Até que o mundo gire ao seu redor 

Os momentos bons passaram. Os dias fáceis passaram. Foi divertido? Aproveitou? Agora é hora de ir ao mundo, sair da sua zona de conforto, encarar tudo que existe, as facilidades e dificuldades.

Tire os sapatos, elimine as barreiras que te separam do mundo exterior e aprenda: o caminho é difícil, nem todas as pessoas estarão te ajudando, o mundo é sem coração, não tem pena, por isso aprenda, até que o mundo gire ao seu redor. Mas ele não vai girar...


Obrigado por passar mas estou de saída 
Tem alguma coisa nova pra fazer? 
Vamos lá então ter um dia diferente 
Eu só quero curtir ficar a toa viver numa boa 
E você quer respostas exige provas músicas novas 
Até que o mundo gire ao seu redor 

Obrigado por vir. Obrigado por me encontrar no meu espaço seguro, mas estou de saída. Buscando novos horizontes, tentando ser diferente, agir diferente para tentar coisas melhores. É o que eu quero, lutar pelo melhor, mas tudo que me exigem é o mesmo de sempre: respostas para perguntas não feitas, e o suor do meu trabalho. Até que o mundo gire ao seu redor. Até o fim.

Vão falar que você não é nada 
Vão falar que você não tem casa 
Vão falar que você não merece que anda bebendo e está perdido 
E não importa o que você dissesse 
Você seria desmentido 
Vão falar que você usa drogas e diz coisas sem sentido 
Se eu for ligar para o que é que vão falar não faço nada 


Quando tentar ser diferente, tentar fazer diferente, tentar sair do marasmo, será criticado, difamado, mal visto e mal quisto. Não importa se você terá argumentos, nem que tudo que esteja fazendo seja certo e dentro da lei, mesmo assim haverá quem te criticará. Mas se você se importar em demasiado com o que as pessoas erradas pensam de você, você fica parado, não muda, não busca o certo, não busca o que de melhor há para você.

Eu procuro tentar entender 
Porque eu sou tão importante pra você 
Já que é bem melhor ser importante pra si mesmo 
Eu não quero mudar ser mais discreto ser mais esperto 
Já cansei de propostas de dar respostas e ter que dar certo 
Até que o mundo gire ao meu redor 

Tentar entender, em meio a tantas pessoas individualistas, que não se importam com os outros, porque alguém  se importa com a gente. O mundo parece que está ficando ao contrário: o que deveria ser regra virou exceção. Bondade, preocupação com o próximo tornou-se algo raro.

Não quero mudar. Não quero ter que ser como o mundo a minha volta quer. Cansei de ser moldado à vontade da maioria, ser moldado para ser igual, pensar igual. Ser cobrado pelo sucesso de situações que não estão sobre meu controle. Até que o mundo gire ao meu redor.

Vão falar que você não é nada 
Vão falar que você não tem casa 
Vão falar que você não merece que anda bebendo e está perdido 
E não importa o que você dissesse 
Você seria desmentido 
Vão falar que você usa drogas e diz coisas sem sentido 
Se eu for ligar para o que é que vão falar não faço nada 

Não importa o que você faça, sempre será criticado. Agradando as pessoas ou não, será criticado, difamado. Agrade a si mesmo, esteja de bem consigo mesmo. Faça o que é certo, correto perante os seus princípios e aos olhos de Deus, sem fazer o mal a ninguém. Isso é o que realmente importa.


1 Música : O Mundo, Compositor: Pit Passarel

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Maturidade

Texto fantástico sobre maturidade de Ivone Boechat, que é Mestre em Educação, Pedagoga, Escritora e Conferencista.

"- Tome posse da maturidade.
 A longevidade é uma bênção! Comemore! Ser maduro é um privilégio; é a última etapa da sua vida e se você acha que não soube viver as outras, não perca tempo, viva muito bem esta. Não fique falando toda hora: "estou velho". Velho é coisa enguiçada. "Idade não é pretexto para ninguém ficar velho".
- Perdoe a você, antes de perdoar os outros. Se você falhou, pediu perdão? Deus já o perdoou e não se lembra mais. Não fique remoendo o passado... Não se importe com o julgamento dos outros.
 - Viva com inteligência todo o seu tempo. Viva a sua vida, não a do seu marido, da sua esposa, dos filhos, dos netos, dos parentes, dos vizinhos, dos amigos... Nem viva só pra eles, viva pra você também. Isto se chama amor próprio, aquilo que você sacrificou sempre! Faça o seu projeto de vida!
– Coma e beba com moderação; durma o suficiente. Tenha disciplina. Fale com muita sabedoria. Discipline sua voz: nem metálica; nem baixinha; seja agradável!
-  Do passado,  valorize só o que foi bom. Experiências caóticas, traumas, fobias, neuroses, devem ser tratadas com o psicoterapeuta.
- Não arrisque cirurgias plásticas rejuvenescedoras. Elas têm prazo curto de duração. A chance de você ficar mais feio é altíssima e a de ficar mais jovem é fugaz. Faça exercícios faciais. Tome no mínimo 8 copos de água por dia e 15min de banho de sol é indispensável.
 - Use seu dinheiro com critério. Gaste em coisas importantes e evite economizar tanto com você. Tudo o que se economizar com você será para quem? No dia em que você morrer, vai ser uma feira de Caruaru na sua casa. Vão carregar tudo. Por que não doar as roupas, abrir um brechó ou dar todas as suas bugigangas?
 - A maturidade não lhe dá o direito de ser mal educado.
- Aposentadoria não significa ociosidade. Você deve arranjar alguma ocupação interessante e que lhe dê prazer.
 - Cuidado com a nostalgia. Pessoas amargas e tristes são chatíssimas. Elogie os amigos, não fique exigindo explicações de tudo. Amigo é amigo.
- Leia. Ainda há tempo para gostar de aprender. A maturidade pode lhe trazer sabedoria.
- Seja avó do seus netos, não a mãe nem a babá. Cuidado com aquela disponibilidade que torna os outros irresponsáveis.
- Se alguém perguntar como vão seus netos, evite discorrer sobre a beleza rara e a inteligência excepcional deles. Cuidado com a idolatria de neto e o abandono dos filhos casados...
- Não seja uma sogra ou sogro chato. Nunca peça relatório de nada. Seu filho tem a família dele.
- Cuidado em atender ao telefone: se a pessoa perguntar como você vai e você responder "estou levando a vida como Deus quer"; "a vida é dura"; "estou vencendo a dureza"; você vai ver que as ligações dos amigos e dos parentes vão rarear, cada vez mais.
- A maturidade é o auge da vida, porque você tem idade, juízo, experiência, tempo e capacidade para se relacionar melhor com as pessoas. Então delete do seu computador mental o vírus da inveja, do orgulho, do egoísmo, cobranças, coisas pequenas e frustrantes para tomar posse de tudo o que você sempre sonhou:
 A felicidade.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Estatueta

Para alguns aquela sala pareceria o ápice de algo sem graça. Para mim, era um canto de recolhimento e descanso, um lugar perfeito para ficar por horas e horas. A limpeza e clareza eram impecáveis: Paredes, teto e piso brancos como neve, e apenas um feixe de sol entrava por uma pequena janela.

Todos os dias ali entrava, sentava e ficava olhando ao longe. Todo ambiente era como uma gigante tela em branco que me permitia pintar mentalmente o quadro que eu quisesse, as cores que eu quisesse, as histórias que eu quisesse. E no dia seguinte, ali estava novamente tudo em branco, para começar de novo e relaxar com isso.

Um dia encontrei uma estatueta de vidro e a coloquei em uma prateleira bem alta, de forma que a luz do sol passava por ela e enchia as paredes de cores. Não sei ao certo o porquê de colocá-la ali, nem mesmo onde consegui tal objeto. Só me lembro de todo dia, entrar e ficar olhando para ela, lá no alto enchendo o lugar de cores. Já não imaginava tanto, nem criava tantas histórias para preencher aquela sala vazia, pois as cores vindas do sol atravessando a estatueta me distraiam.

De tempos em tempos, o brilho começava a sumir, e eu precisava me esforçar para alcançá-la, tirar a poeira e novamente sentir a alegria das cores inundando o local. Mesmo assim, com o tempo, o vidro foi ficando fosco por dentro, já não refletia as cores com o mesmo vigor. As paredes também estavam começando a ficar surradas, como não costumavam ficar. Precisava limpar e renovar aquele espaço que já não conseguia ter a serventia de outrora.

Saí do "lugar comum", da segurança daquele espaço que tanta alegria me trouxera. Pintei as paredes, e conforme pintava via as marcas, as lembranças de alegrias e tristezas que tivera, e que ali ficaram gravadas. Por vezes, olhava saudoso para aquela estatueta, que tanta cor trouxera àquele espaço e agora se tornara tão triste para mim. Se as paredes estavam renovadas, ela merecia também um novo espaço que pudesse iluminar, trazendo cores e alegria.

Certo dia entrei na sala, já renovada e não vi mais a estatueta, nem mesmo vestígio dela. Aquele espaço não a pertencia mais, nem ela ao espaço. Da mesma forma que um dia ali esteve, deve estar refletindo o sol de outro espaço que necessite dela.

Sem a distração de suas cores, pude voltar a imaginar histórias, paisagens e cores, nas alvas paredes da sala. Reaprendi a sonhar, a criar, sem o limite refrativo daquelas cores. Isso me distraí, me constrói.

Me faz feliz.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Padre Zezinho,scj responde ao Pastor Agenor



Em resposta Pastor Agenor Duque, Padre Zezinho, scj, usou sua página no Facebook para responder à polêmica com a imagem de Nossa Senhora. Leia seu pronunciamento na íntegra:
Ecumenismo é o respeito que um crente em Deus tem pelos outros crentes, mesmo que não orem nem creiam do mesmo jeito. Basta-lhes saber que o outro ama o mesmo Deus e que Deus também ama os outros crentes. Neste sentido são irmãos de fé. E, espero, irmãos na caridade que Jesus nos ensinou a viver.Tenho 76 anos e, pela sua atuação na TV, o pastor Agenor Duque está a menos tempo pregando a fé cristã! Também não conheço seus escritos e sua formação em filosofia, sociologia ou teologia. Realmente não sei qual é a sua vertente cristã!
Mas recentemente ele nos brindou com uma agressão totalmente desnecessária ao ridicularizar uma de nossas imagens de Maria. Temos muitas imagens dela através do mundo mostrando que a mãe de Jesus é mãe para negros, índios, europeus, esquimós, árabes, escravos e libertos, porque a vemos vestindo a dores, as vestes e as cruzes de quem sofre.
O pastor Duque também se veste de mendigo e supostamente quer dizer alguma coisa com aquelas vestes de quem sofre e não visa riqueza nem lucro!
Mas recentemente ele COMPAROU A IMAGEM DE NOSSA SENHORA APARECIDA COM UMA GARRAFA DE COCA-COLA, simbolicamente deixou cair a garrafa dizendo que aquela garrafa não ora, nem ouve, nem pode ajudar a sua plateia-assembleia! É claro que estava ridicularizando nossas imagens e símbolos e também nossa Bíblia, porque a nossa Bíblia e as Bíblias que imagina que ele usa também não falam porque são feitas de papel.
-
Quis dizer que é mais fiel a Jesus do que nós católicos porque ele não pede oração à mãe de Jesus nem acredita na intercessão dos santos do céu, embora ele mesmo na TV intercede por seus fiéis como santo pastor da terra que ele afirma ser! Quem ora pelo seus fiéis está intercedendo. Maria faz a mesma coisa no céu onde o Filho a levou. Ou será que o pastor acha que Jesus ainda não levou sua mãe para o céu???
****
1-Esse tipo de pregação ridicularizando Maria raramente dá certo. Até mesmo entre seus ouvintes e fiéis haverá crentes chocados com o desrespeito do pregador pela mãe de Jesus que entre católicos é representada em mais de 300 imagens através do mundo. Mas é a mesma mãe vestida de outras vestes, como o pastor Duque faz com seu terno, ou com sua túnica de saco!
2- Se um advogado católico quiser processa-lo por desprezo à religião e aos símbolos da outra igreja ele terá enorme dificuldade em provar que não agrediu a nossa fé.
3- Uma coisa é repercutir um vídeo de outra igreja e mostrar o que eles estão pregando; e outra coisa é vilipendiar um culto de outra igreja. Num caso é informação reproduzida da internet e outra é fazer uma pregação induzindo os fiéis da sua Igreja a agredirem a outra!
O pastor Agenor Duque, que se veste de mendigo humilde, nos ofendeu e chamou-nos de ignorantes porque ousamos representar Maria negra em veste azul.
Acho que ele não lembrou que ele também é uma imagem exótica, quando ele mesmo entra naquele palco vestido de mendigo para anunciar sua igreja!
Fonte: Facebook

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Amor de Índio.







AMOR DE ÍNDIO 
Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo o cuidado
Meu amor


Para captar melhor o sentimento dos autores desta belíssima canção, necessitamos mergulhar na mente de um índio.

Não só o ar, a água, o fogo que arde, também as montanhas e os animais, tudo é sagrado para ele.

No seu pensar, existe uma força maior que tudo rege e sustenta com sua força em perfeita harmonia.

O índio respeita tanto esse equilíbrio da natureza que até mesmo para subtrair um item, no intuito de saciar a própria fome, pede permissão para o espírito da floresta, antes de abater um peixe ou um animalzinho. Tirar uma vida só se for para suprir sua necessidade mais vital. Ao contrário do homem branco, ele procura preservar todas as coisas, não produzindo lixo, poluindo ou alterando o meio ambiente.

Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com arco da promessa
Do azul pintado
Pra durar

E esse amor entre eles é eterno, enquanto a chama da vida arder no interior de cada um deles. Muitas são as histórias de casais indígenas em que o homem prefere morrer junto à esposa a viver sem ela. Se estava escrito na constelação aquele enlace, deveriam viver juntos sempre e partir também acompanhados um ao outro.

O arco é para o índio sua defesa contra as feras bravias com as quais se defronta. O arco da promessa é uma referência ao arco-íris, que colore o horizonte azul, como o símbolo da promessa duradoura que Deus fez com os homens.

Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor
E ser todo

Neste exato momento, está ocorrendo um fenômeno mundial: o desaparecimento das abelhas (vejam mais sobre este assunto no link abaixo). Pouco a pouco, elas estão sumindo por conta dos agrotóxicos e outros fatores climáticos. Caso isso venha a ocorrer por completo, será iniciado um ciclo catastrófico para a humanidade. A abelha é tão importante que: “Se não existisse o homem no planeta, nada mudaria. Faltando as abelhas, sem a polinização, seriam extintas a flora e a fauna, não haveria florestas, lagos e rios. A terra seria um deserto”

Por saber o valor do mel e toda sua utilidade para a saúde, tanto os índios como as civilizações antigas as consideravam sagradas e em alguns países eram vistas como símbolo de riqueza.

Nos meses mais frios, o céu fica limpíssimo, e a vista do teto celeste noturno é espetacular. Contemplar o firmamento, enquanto se namora, talvez seja um dos momentos mais românticos que exista. Assim como todos nós, os índios também têm o hábito de fazer um pedido quando um estrela risca o céu.

Quando se faz um pedido com fé, tudo se realiza, como nosso destino, principalmente porque são duas mentes irmanadas e focadas no mesmo alvo.

E nada mais gostoso que estar no calor da pessoa amada. O tempo e tudo mais para, nada mais importa. Apenas queremos viver aquele momento único, todo inclusivo.

Todo dia é de viver
Para ser o que for
E ser tudo

Segundo as próprias palavras do Beto Guedes: “Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo” estes versos expressavam o lado primitivo e puro que ainda havia em cada uma das pessoas, como um canto de louvor à vida”.

Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado
Meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor

O amor é o sentimento mais lindo. Por amor é que realizamos tudo. Se não fosse o amor, seríamos apenas matéria.

Deus é o próprio amor, e Ele é que nos colocou no paraíso, com tudo disponível para vivermos.

O índio nos ensina até hoje que não é preciso muito para vivermos.

Mas na nossa ânsia de querer mais, fomos expulsos do jardim de Deus, passando a viver do suor do próprio trabalho.

Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver


Poucos sabem o valor de se dormir bem. É tão essencial que, além de descansar o corpo e a mente, faz com que a pessoa pense melhor e também emagreça. Quando dormimos bem, estamos contribuindo para previnir o aparecimento de doenças, além de promover o rejuvenescimento.
Na correria que exige nossas atividades diárias,  é muito difícil descansar. Com isso, o estresse logo se instala. Por isso, devemos estar ariscos e reservar nosso horário para garantir uma boa noite de sono.
Tomando cuidado com o ambiente da dormida, podemos alcançar o objetivo com seis horas de sono profundo, que podem ser mais eficientes do que oito horas de sono mais leve. Também não vamos exagerar, pois dormir mais que o necessário não é bom e pode ser prejudicial.
Quando dormimos bem, “alimentamos de horizontes o tempo acordado de viver”.

No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto

Para quem vive constantemente em contato com a natureza, cada mudança climática é percebida. Os índios e as pessoas mais sensíveis observam melhor as estações e podem senti-las em toda plenitude.

Por isso é que os quatro períodos climáticos são vividos de forma especial pelos amantes.

Quem ama quer estar agarradinho, principalmente com as temperaturas mais frias do inverno. Já o clima mais quente do verão é um convite pra sair do aconchego. Parece que o sol nos reenergiza, e é tempo de correr, de pular e de pescar. No outono, as noites são mais longas que o dia e são apropriadas para um “conhecer” melhor o outro. Aqui as temperaturas voltam a cair, assim como as folhas, e é tempo da colheita em muitas partes do mundo. Quando chega a primavera, inicia-se um novo ciclo. Tudo se enche de cores, como se a natureza fizesse festa.

Festa maior faz o índio quando as chuvas chegam. Eles até têm a dança da chuva, quando ela tarda para chegar. Quem mora nas cidades, na selva de concreto, não dá muito valor a este bem indispensável à natureza.

O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado


O amor entre os indígenas é tão puro e sublime que é determinado pelo encontro ocorrido entre eles desde o nascimento, segundo a configuração das estrelas no firmamento, no exato momento em que vieram a existir, como homem e mulher. Eles já crescem sabendo dessa predestinação e se enamoram, e se casam, e são felizes para sempre.

Para eles, o amor é sagrado.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Tocando em frente










Ando devagar porque já tive pressa 
Levo esse sorriso porque já chorei demais 
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe?
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei. 

Já tive pressa, achava que o tempo era curto para tanta coisa que pretendia fazer, que sonhava fazer. Tantos planos, tantas ideias, e o tempo tão curto. Tanta correria que acaba-se por esquecer de ser feliz. Tentar ser como o mundo, chorar as tristezas das quedas. Cresce, aprende, se sente mais forte e capaz. Principalmente porque não nos importamos mais em querer saber tudo. Nos contentamos com que nada sabemos


Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir

A verdadeira sabedoria só vem com o tempo, conhecer o tempo, o dia a dia e as manhas para viver. Saber que existe o gosto pronto da manhã, e o preparado fruto do trabalho da massa. É preciso amor para viver, paz para sorrir e a chuva para florir. Conhecer a importância tanto do dia de sol quanto de chuva, o valor do que a natureza nos dá e do que podemos transformar.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente 
Compreender a marcha e ir tocando em frente 
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou. 

Já não me importo com antigos sonhos, expectativas do que alguém um dia pensou como minha vida poderia. Já não me importo se eu poderia ter um emprego melhor, uma casa maior, ou riquezas a mais. Não me importo... nem mais perco meu tempo tentando ser "mais". Estou feliz, tenho o essencial e o essencial para mim me basta. Quero cumprir minha vida simplesmente, tocando em frente, corrigindo o rumo da boiada, sendo feliz simplesmente.

Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Todo mundo ama um dia todo mundo chora, 
Um dia a gente chega, no outro vai embora 
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz 
De ser feliz.

Pessoas vem, pessoas vão. Amores, amigos, colegas, pessoas que passam por nossas vidas, compõem nossa história, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. Permanecem o tempo que precisam e se vão. Reter mais tempo que necessário é um erro. Se preciso, voltarão por si mesmos. Chorei a partida e distância de amigos, tanto quanto sorri a chegada de outros.

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Ando devagar porque já tive pressa 
E levo esse sorriso porque já chorei demais 
Cada um de nós compõe a sua história, 
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
de ser feliz.

Já tive pressa. Hoje não tenho mais. Caminho e levo minha vida no passo da felicidade de cada dia, de cada momento. Já chorei, mas hoje sorrio, porque isso atrai muito mais coisas boas. Colhemos o que plantamos, e tento plantar sempre um sorriso, uma alegria, mesmo quando a dor é maior, a dificuldade também. O mais importante é que cada um de nós carrega o dom mais precioso: o dom de ser capaz de ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs, 
O sabor das massas e das maçãs, 
É preciso amor pra poder pulsar, 
É preciso paz pra poder sorrir, 
É preciso a chuva para florir.

Conhecer e nunca deixar de aprender. Cada vez mais, cada dia mais.



*Composição: Almir Sater e Renato Teixeira

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Palco e personagens

Passado, presente e futuro. Três épocas distintas, três partes da vida.

A primeira, repleta de aprendizados, de erros e acertos, formada de toda uma bagagem histórica que nos modelou e nos modificou para vivermos a segunda, o presente, no qual semeamos e construímos  dia a dia a terceira parte da nossa vida: o futuro, cheio de surpresas, mas sobretudo consequências dos atos e decisões presentes. Épocas distintas, interligadas por um único elemento que somos nós, atores em constante evolução e aprendizado no grande palco da vida.

Neste grande palco, inúmeros atores contracenam conosco. Alguns permanecem por vários capítulos, outros fazem participações pontuais, mas cada um tem sua importância no seu devido tempo. Dessa forma cada personagem, nosso ou de outrem, tem o seu tempo de atuação, e tentar prolongar esse tempo, provoca consequências inadequadas e extremamente desagradáveis tanto para nós, que passamos a ser um arremedo do que podemos ser, quanto para aqueles que são os eternos e mais importantes protagonistas de nossas vidas.

Tão comum na atualidade, vários palcos distintos, "virtuais" e "reais" nos fazem criar personagens diversos: tímidos se fazem de corajosos e desinibidos quando precisam falar, sentimentais vestem uma carapuça fria para não expressarem seus sentimentos, mal informados fingem-se de sábios para não passar vergonha em uma conversa etc. No fim todos somos personagens de nós mesmos, no dia-a-dia da vida, dentro ou fora do palco virtual da internet.

Mas nenhum desses personagens pode contrariar a essência principal e princípios do seu autor/ator, pois quando isso ocorre ele se perde, a história se perde, a vida se perde, pouco a pouco, mesmo que não se perceba de imediato, e quando se dá conta, pode ser tarde demais.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Especial




Hoje, contrariando o hábito de uma postagem semanal, escrevo por ser um dia especial. Assim como tem sido todos os meus dias desde que nos "achamos", principalmente nesses últimos 1826¹ dias de convívio diário, aprendizados, erros e acertos, mas sempre juntos.

Minha capacidade poética está muito aquém para conseguir expressar de forma fidedigna o que sinto, o que é deveras merecido. Por isso, deixo essa bela canção composta por JS Bach e tão bem "letrada" e adaptada por Flávio Venturini.

Sequer me atrevo a comentar a letra, tamanha a beleza e proximidade com o que quero expressar. Obrigado por cada dia, hora, minuto e segundo. Cada momento juntos, mesmo quando longe fisicamente, sempre estamos perto em pensamento e coração.

²Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu...
Com ela veio a paz, toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você...

Meu amor..
Vou lhe dizer
Quero você 
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei

Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei

Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor nos invadiu...
Então...
Veio a certeza de amar você...

1)Para quem fez a conta dos dias, não esqueça que 2016 foi ano bissexto.
2) Céu de Santo Amaro

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Direitos, mas também deveres

Recebi esse texto algumas vezes e gostaria de compartilha-lo com vocês. Não sei ao certo a autoria, alguns dizem ser do Pe Fábio de Melo, scj, mas não tenho certeza.



“Eu cresci comendo a comida que minha mãe podia colocar na mesa, sempre respeitei minha mãe e as pessoas mais velhas…

Tive TV com 3 canais e não mexia para não quebrar, e antes de sair para escola arrumava a minha cama…

Fazia o juramento à bandeira na escola, bebia água de torneira, andava descalço, tênis barato e roupas sem marca, não tive celular, nem tablet e muitos menos computador…

Ajudava minha mãe nas tarefas de casa, e não achava que era exploração infantil, tinha horário para dormir.

Quando tirava boas notas não ganhava presentes, porque não tinha feito mais que minha obrigação. Notas baixas era castigo, apanhava quando aprontava e isso era apenas um corretivo e não caso de polícia!

E não sou revoltado, não faço analise em médico, e não falta nenhum pedaço em mim.

Menos frescura e mais disciplina para essa geração! É disso que o mundo e as crianças estão precisando!

Ordem, Respeito, Disciplina, Bondade, Educação, Obediência e Amor…

Por um mundo onde não haja só direitos, mas também Deveres!”


quarta-feira, 12 de julho de 2017

Velhos arquivos

Um raro momento de ócio, remexo velhos arquivos. Muito lixo a ser descartado em meio de algumas lembranças de tempos e pessoas diversas, de tanta coisa que me ajudou a ser quem hoje sou.

Encontro um texto que já havia me esquecido. Não fora escrito por mim, nem mesmo tinha qualquer tipo de assinatura ou identificação. Poderia ser de tanta gente, assim como poderia ser direcionado para qualquer um. Mas se estava ali, me fora enviado em alguma ocasião, e agora, possivelmente algumas décadas (ou próximo a isso) depois, me deparo com aquelas linhas, ao mesmo tempo tortas e suaves, que dizem algo para alguém que não sinto ser eu. Sinto-me sem qualquer imersão nas palavras, me sinto um mero leitor que puxa pela memória tentando lembrar algo que já passou, assim como em um livro quando tentamos recordar algo do começo já estando no epílogo. Mas ao contrário de um livro, não se tem a chance de dar uma espiadinha nas primeiras páginas para recordar.

Não, não cabe decifrar, não cabe ao momento descrever ou reproduzir o que ali continha. Mesmo não me sentindo (ou talvez nunca tendo sido) o destinatário de tal mensagem, senti vontade de respondê-la, não almejando a possibilidade de chegar a quem a redigiu, mas simplesmente escrever.

"Qual surpresa tive a ler tão bela mensagem. Pode ser que eu a tenha recebido antes e respondido, ou pode ser que nem a mim tenha sido direcionado, mas merece uma resposta, a qual não me sinto capaz de criar. Mas ao menos posso tentar.

Ao ler essas palavras ignorei qualquer pista que me levasse ao real escritor. Não ter assinatura, deixa você no pleno anonimato que talvez fosse tua vontade. Talvez julgaste que pelas palavras te reconheceria tão bem que a assinatura seria supérflua. 

Não importa, estou feliz de responder, estou feliz de escrever, mesmo que ao fazê-lo peque numa intromissão sem medida, por ser uma mensagem não direcionada a mim. Que eu tenha o devido perdão nesse caso.

Mas tua visão do mundo superou qualquer destinatário e seu triste tom de despedida me fez lembrar de tempos em que eu descri de mim mesmo. E talvez por isso, se minhas palavras chegarem até ti, podem ter serventia.

Sim, os dias são complicados, nos preocupamos muito com a opinião alheia, muito mais que deveríamos, mas teu foco foi o correto, em especial da pessoa principal a opinar. Precisamos disso, precisamos de alguém para dividir o fardo da escolha, da opinião, mesmo que diversa da nossa, alguém que defenderá nosso ponto de vista mesmo sendo contra. Tu tinhas e creio que ainda tens e isso manterá tua vontade de viver.

Não carregue tua cruz só. Jesus Cristo, o próprio Deus feito homem, teve ajuda para chegar ao Calvário. Tampouco peça uma cruz menor; Deus sabe o tamanho que aguentas e precisas. Peça forças e divida suas angústias com Deus e com os 'anjos humanos' que Ele colocar em teu caminho.

Força, foco e fé."

Acabo de escrever e deixo de lado o "papel e caneta". Que saudade tenho desses tempos em que era realmente papel e caneta. Fecho o texto que escrevi e salvo num arquivo. Junto ele ao arquivo que encontrara e ambos seguem para eternidade perdida dos bytes deletados. 

Estas linhas que aqui deixo foi tudo que restou de toda essa história. O texto que encontrei? Já agora não me recordo o que tinha escrito. E agora essa resposta terá um fim igual: ficará perdida entre os bytes da internet, em busca de que inspire alguém a uma réplica, ou a ignorá-lo eternamente.


quarta-feira, 5 de julho de 2017

Gotas...

Acordo e mais uma manhã chuvosa. Nas duas últimas noites, chuva de verão em pleno inverno. Ruas lameadas, pessoas que tentam limpar suas calçadas e uma infinidade de outras pessoas que aproveitaram a chuva para tirar seus casacos do armário. Não que esteja frio, pelo termômetro que vi no caminho, a temperatura caiu para incríveis 18° C.

Pela janela do ônibus sinto o leve vento que traz algumas gotas de chuva. Não me importo, não suporto andar no ônibus todo fechado por causa da chuva, dando uma sensação incômoda de abafado. Pessoas "encapotadas" andam aceleradamente sob seus guarda-chuvas.

Me permito olhar ao longe, sem foco. O ar úmido entra por minha narinas e minha mente gira, mas não de uma maneira ruim. Não, dessa vez não apago, mas sinto uma paz inundante, me sinto muito, mas muito distante dali, mesmo sem saber onde. Não tenho medo, não tenho receio do que está acontecendo. A sensação de paz é enebriante.

Vejo lugares que nunca vira, campos, casas, uma cidade iluminada e pessoas ordenadamente caminhando e se cumprimentando. Uma edificação me chama a atenção, por ser a única com placa na frente: uma velha placa de madeira talhada repousa sobre o portal. A inscrição "//" chama minha atenção por sua excentricidade.

Caminho em direção a edificação e ninguém parece perceber minha presença. Não há porta, mas uma escuridão esconde o que há lá dentro. Novamente não tenho medo ou receio, e entro.

Me vejo em uma sala de estar, nem pequena, nem muito grande. Não me parece desconhecida, mas com certeza não é um lugar habitual. Olho um calendário que está ali perto, e percebo que algo não está certo: mais de dez anos atrás. Pessoas chegam na sala, mas elas não me veem. E eu não as escuto, apenas as vejo sentar no sofá e conversarem. Tento imaginar qual seria a conversa, talvez alguma que acontecera ou não. Sim, nunca acontecera, sei disso, só não sei como sei.

Eles se levantam e saem da sala, indo pelo corredor. Tento segui-los, mesmo imaginando aonde foram, mas acabo sendo levado para outro lugar. Um jornal pendurado na banca me indica que outro tempo também. E dali começo um travessia infinita de portas e tempos... Lugares desconhecidos, cenas nunca vividas, até encontrar um portal com o mesmo símbolo "//", que me leva para fora do prédio.

Ouço um barulho forte como uma buzina, e quando me viro, estou de volta ao ônibus. No mesmo lugar que estava. Passara horas em minha mente e poucos segundos ali.

O tempo era cada vez mais relativo...

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Análise: Quase Sem querer


Esta música, composta por Renato Russo, faz parte do álbum "Dois" do Legião Urbana, tem um tom de descoberta de si mesmo.

Começa dizendo o quanto anda distraído, impaciente e indeciso. Mas apesar de ainda estar confuso, começa a enxergar com tranquilidade tudo que está descobrindo sobre si mesmo. E fica feliz com isso.

Em seguida, assume o erro de se preocupar demais com as opiniões alheias. Em sua descoberta começa a perceber que é inútil querer se justificar sempre, justificar seus atos, suas escolhas, justificar os caminhos que escolheu em sua vida, apenas para agradar a opinião pública. Quantas vezes nós não fazemos isso? Quantas vezes baseamos nossas escolhas no "que irão pensar", no lugar de basear em nossa vontade, no lugar de respeitar nossa própria essência? Acho que todos precisamos de aprender um pouco disso também...

Nessa busca de si mesmo, quebrou todo invólucro, toda a armadura que colocava diariamente em torno de si, para se isolar do mundo, para ser o que o mundo queria que fosse. Se fez em mil pedaços? Não. Já estava em mil pedaços por dentro, escondendo o que sentia, justificando o que sentia para si mesmo para conseguir convencer o mundo ao seu redor, que ele era exatamente como se mostrava. Era um personagem de si mesmo, adequado a situação, adequado ao ambiente que vivia. Mentia para si mesmo, para que seu personagem se mantivesse.

Enfim chega a fase da liberdade. A liberdade de tudo que construíra para convencer o mundo de que era o que queriam dele. Já não quer parecer o que não é. Tem a humildade de assumir que não sabe de tudo, já aprendeu que não precisa saber tudo, não precisa parecer perfeito, não precisa ter os mesmos gostos, as mesmas opiniões, as mesmas visões das pessoas com que convive. Pode ser quem é livremente, pode se livrar de velhas máscaras, pois no fim todos tem sua própria opinião e mesmo que muitos a escondam.

Sentir-se "livre" da prisão que ele mesmo criou, sentir-se pronto para encarar a vida de cara limpa, por mais difícil que seja, por mais que o mundo julgue, é "tão correto e tão bonito". É uma forma de conseguir conquistar o infinito, de trilhar o seu caminho, ter suas conquistas, não mais trilhar os caminhos que outros seguiram, buscar a conquista que outros tiveram.

Por fim, já livre de todas as amarras, entrega-se ao que sente: percebe o quanto tudo que fazia era fonte de tristeza, e quanto amor próprio tem. Sendo capaz de se amar como é, está aberto a sentir tudo que ignorava, por si mesmo e por quem estava por perto, que agora pode lhe conhecer de verdade.


Quase Sem Querer

Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso, só que agora é diferente
Estou tão tranquilo e tão contente

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços pra você juntar
E queria sempre achar explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído, fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira

Mas não sou mais
Tão criança
Oh, oh
A ponto de saber tudo

Já não me preocupo se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê
E eu sei que você sabe quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente um dos deuses mais lindos
Sei que às vezes uso palavras repetidas
Mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto

Já não me preocupo se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê
E eu sei que você sabe quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Quando tudo se apaga

Começou de repente, coisa de menos de um minuto. Primeiro uma sensação de puro pavor, estar em um lugar público e sentir a cabeça girar e ao mesmo tempo ficar mais pesada e leve, as pernas fraquejando. Em poucos segundos os olhos fecham e tudo fica preto.

Mas isso dura apenas alguns milésimos de segundo. Em seguida um grande clarão se apresenta. Não sinto meu corpo, apenas uma sensação inexplicável de leveza e tranquilidade (será assim quando se morre?). Parece que flutuo sem preocupação, sem saber para onde, sem me preocupar para onde.

Sinto como se passassem horas daquele jeito, até que as coisas começam ganhar forma na minha frente. Vejo meu corpo como inerte, sentado, de cabeça baixa, com várias pessoas ao redor; algumas parecem tentar falar comigo, mas aparentemente não percebem que não estou ali, mesmo estando sentado na frente deles. Outros falam entre si, coisas que não consigo entender.

Estranhamente não me assusto com o que está acontecendo ali: eu fora do meu corpo, enxergando aquilo. Continua minha sensação de paz inexplicável (novamente me pergunto: será assim quando se morre?). Sem dor. Sem preocupação. Sei que estou bem, apesar de minhas perguntas, sei que não morri, o porquê sei me é desconhecido. Mas estou vivo.

Olho para o lado e vejo alguém destacado do grupo, que estranhamente olha para mim. Não para meu corpo desacordado, mas nos meus olhos "flutuantes". Não consigo descrever suas feições, nem mesmo suas características. Ele olha profundamente para mim e diz:

"- Acorde. Seu trem ainda não chegou na estação."

Essa frase fica ecoando na minha cabeça, que de repente começa a doer e novamente tudo começa a ficar escuro na minha frente. Forço abrir os olhos e percebo estar no meio daquelas pessoas, algumas que falam comigo, outras que falam entre si. Imediatamente olho para o lado e percebo que quem falara comigo  enquanto flutuava, não estava ali (quem seria?). Falo a todos que estou bem, que ligaria para que me acompanhassem até em casa. Me dou conta que não se passaram nem mesmo um par de minutos desde que eu desacordara. Talvez nem mesmo um minuto, mesmo eu tendo tido a sensação que passaram-se horas e horas. Einstein estava certo: o tempo realmente é relativo, e para mim passara muito mais que para quem estava ali naquela composição.

Não sei o tipo de experiência que tive ali. Pelo que entendi, simplesmente senti uma fraqueza e alguém me ajudou a sentar-me. coisa de segundos. O que vivi naquele momento foi muito mais duradouro e inexplicável.

Mas de alguma forma criei um vinculo com aquele lugar desconhecido...