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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Um ano mais...

Um ano mais termina, um ano mais começa. E nesse dia que é o último desse ano, gostaria de me unir a todos que nesse dia lembram dos dias que passaram e planejam o que diferente fariam.

Não, não. Não faço promessas, não sei como será o amanhã, por mais que eu saiba o que gostaria de fazer, não sou o "dono do mundo", nem o "senhor dos acontecimentos", e o que ocorre à nossa volta influencia e muito o que conseguimos ou não fazer.

Tudo o que posso prometer é tentar acertar onde errei, e errar de uma forma que não prejudique ninguém além de mim mesmo. Suporto meus erros, e aprendo com eles, não me iludo imaginando que não vou errar. Sou imperfeito e sei que errarei e muito no próximo ano, tanto ou até mais que esse ano. Mas quero erros novos, coisas que ainda não aprendi, e não repetir erros sem volta.

O que eu pediria se pudesse realizar um desejo? Pediria que assim que virasse o ano, fosse dia 1º de janeiro de 2014. Sim, dois mil e quatorze, o início desse mesmo ano que termina. Não foi o ano de nenhuma grande conquista, nem nenhum grande acontecimento em minha vida. Foi um ano comum, um ano normal, que acabou com o meu velho ciclo dos anos pares que já durava cerca de 20 anos.

Em geral, pouca coisa acontece nos anos impares para mim. Nos últimos 20 anos o único ano ímpar que aconteceu algo muito importante para mim foi 2009. Fora esse todos os anos pares nesse mesmo período teve algum acontecimento impactante em minha vida.

Quero viver novamente 2014, cometer os mesmos erros, transformar outros em acertos, cometer novos erros. Quero novamente não me sentir frustrado ao celebrar o ano novo num quarto de pousada numa cidade que mal solta fogos nesse dia, mas que é muito agradável. Quero novamente fugir do carnaval, para entrar em gélidas águas para depois ficar torcendo no ônibus, para que a Escola de Samba mais perto da minha casa não ganhasse e assim eu conseguisse chegar rápido em casa. Quero novamente me decepcionar com a arbitragem que anula gol legítimo do meu time e valida gol impedido do outro, tirando o título merecido do time que eu torço. Quero ficar irritado com quem comanda meu time por sua incompetência por não honrar o tamanho da instituição.

Quero tirar férias para poder fazer tudo que não faço. Quero comer o que posso e às vezes o que não posso, passando ou não mal por isso. Quero beber o que devo e quanto devo (ou não), mesmo sabendo das consequências. Quero repetir os muitos almoços, jantares, em casa e fora com a pessoa que amo.

Quero fazer o que sei fazer, e novamente arriscar o que não tenho prática, mesmo as custas de contusões e machucados. Quero conhecer pessoas e deixar outras que querem partir seguirem seu caminho.

Quero tanta coisa novamente... E tudo que quero simplesmente é viver, seja errando ou acertando. Esse ano, dois mil e quatorze não volta mais, por mais que eu queira. Só me resta batalhar para que o próximo ano, dois mil e quinze, possa ser melhor, quem sabe assim ao menos ele seja igual. E que assim seja a cada ano, melhor, melhor, melhor...

Um novo ano de muita paz a todos. Um ano abençoado por Deus e edificado por nós.



Um ano mais... Que todos tenham felicidades..


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

É Natal...

Natal.

Uma vez mais, é Natal. E a que Natal chegamos?

Ao natal de comidas, bebidas, presentes? Ao Natal de estarmos em família, comemorando, celebrando? Você tem o poder de decidir qual Natal você quer para você, para sua família e amigos.

Faça do Natal uma verdadeira ode a vida. Celebre a vida que você tem, agradeça por ela, agradeça pela vida das pessoas que estão contigo. Lembre-se da origem do Natal, que é celebrar o nascimento de Jesus. Independente de qual é sua religião e até mesmo se você não tem religião, deve admitir que Ele foi o cara. Nasceu pobre, mas isso não o impediu de seguir e lutar por seus ideais, pelo que era certo. Reuniu junto a si não grandes chefes, nem poderosos, e sim pescadores, trabalhadores braçais, pobres, doentes, marginalizados, pecadores ao olhos da sociedade da época. Sem fazer nenhuma revolução, revolucionou o mundo a ponto de incomodar os poderosos da época, que fizeram de tudo e não descansaram até vê-lo morto. Mal sabiam que o matando, tornaram sua presença ainda maior.

Jesus Cristo foi tão representativo na história, que até hoje influencia a vida das pessoas a ponto de até aqueles que não creem nele, param tudo quando é época de Páscoa, recordando sua morte e ressurreição, e agora, uma vez mais, para "celebrar seu nascimento", comemorar seu aniversário.

Em homenagem a esse dia especial e também ao humorista Bolanos que morreu esse ano, um vídeo de Natal de seu personagem mais famoso, deixando uma bela mensagem. Simples e pura, como era seu humor.


Desejo a vocês um Natal iluminado e de muita paz.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Nova ortografia? Por quê?

Compartilho com vocês hoje um texto enviado por um grande amigo, cujo autor eu desconheço. Caso alguém saiba por favor me informe para que eu possa dar o devido crédito.

O texto fala da questionável reforma ortográfica que tivemos em nossa língua portuguesa... Ainda me questiono por que a tivemos? Antes de minha opinião o texto:


Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.

De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa.

Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.

São muitos anos de convívio.

Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC's e PPP's me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.

Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora:  - não te esqueças de mim!

Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí.

E agora as palavras já nem parecem as mesmas.

O que é ser proativo?

Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.

Caíram hifenes e entraram RRR's que andavam errantes.

É uma união de facto, e  para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.

Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE's passaram a ser gémeos, nenhum usa (^^^) chapéu.

E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios. Assim, temos  janeiro, fevereiro, março, são tão importantes como peixe, flor, avião.

Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos.

Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.

Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto.


Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar.

Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a LÍNGUA É NOSSA ...? ! ? ! ?
 

Os ingleses não o fizeram, os franceses desde 1700 que não mexem na sua língua e porquê nós?

 Ou atão deichemos que os 35 por cento de anal fabetos  fassão com que a nova ortografia imponha se bué depréça !

No fim respondo minha pergunta: é mais fácil alterar a ortografia para todos os lusofônicos do que garantir que todos saibam-na corretamente.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os sete sem razão...

Loucura, falta de razão... Até onde consegue ir a insanidade das palavras, dos atos, das ações, dos pensamentos... Não há limite para o que possa ser ou deixar de sê-lo. Não o sou, nunca o fui, mas talvez um dia ainda o seja.

A gula, a fome de coisas materiais, que inflam o corpo, entorpecem o cérebro e destroem a alma. Tão fraca,tão servil sem serventia. Não me anima essas coisas, não me seduz, não me faz inveja. Ah! Inveja... Inveja de quem consegue levar sua vida sem se preocupar, sem saber do que se passa e sem passar da alegria a tristeza em um piscar de olhos. Inveja das conquistas que eu mesmo tive, inveja de quem age sem culpa. Pena de quem vive assim.

Quereria uma vida assim, sustentada e tranquila, sem medos nem devaneios, sem loucuras ou "sensatezas", apenas uma vida vivida. Ah! Se a tivesse, avaro seria, e essa então seria minha única avareza. Ou seria avareza cuidar e zelar pelo que é seu? Melhor não, porque me orgulho do que tenho, do que conquistei, nem tanto do que fiz ou faço, alguns erros, alguns em falso passos. Aqui dentro da mente e fora dela também. Erros conscientes, erros coniventes. Não me orgulho disso, nem de nada mais.

Pensando em tantos erros, a ira me sobe a mente, mas com ninguém além de mim. Olho ao redor, e tudo que vejo é uma luxúria desenfreada, uma luxúria sem luxo e depravada. Nas ruas, nas casas, no meio de quem deveria nos defender, quem deveria governar nosso país, estado, cidade. Mais que luxúria, a palavra certa seria "putaria" mesmo, pois a luxúria em sua origem já invadiu nossas casas pelas telas: Tvs, computadores e afins. Quem busca encontra, quem não busca também.

Perdoe-me Deus, perdoe-me. Por tanta sandice, e insanidade, por tanta entrega sem razão e resistência sem sentido. Só me resta vencer a preguiça de mudar, de ser o que sou, mas não como sou e sim como seria se simplesmente fosse.

Do fundo do ser e de qualquer pensamento que jaz por ter. Enquanto durar a chama crepitante do ser.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

É tempo do advento...

Mais um ano passa em uma velocidade difícil de acompanhar e mais uma vez chegamos ao Tempo do Advento, que são as quatro semanas que antecedem o Natal.

Tempo de reflexão, tempo de meditação, tempo de olharmos para dentro de nós e pensarmos de que forma chegaremos a mais um Natal. Melhor que no ano anterior? Igual? Pior?

Vamos deixar um pouco de lado todo esse clima consumista e glutão que embutem à festa natalina, com esse pensamento de presentes, ceia etc. Não entremos também por enquanto na parte religiosa, da celebração do nascimento de Cristo, nos concentremos em nós, como chegaremos a esse próximo Natal, em estado de espírito, humor, vida.

Há quem faça promessas nessa época, prometem fazer mais, se chatear menos e chatear menos aos outros, alguns prometem trabalhar mais, trabalhar menos, ou simplesmente trabalhar. Viver mais, não apenas manter-se vivo. Tantas promessas que se perdem ao longo do tempo, que às vezes nos entristecemos de perceber que pouco fizemos do tanto que queríamos.

Porém, o que quero hoje é que você olhe com carinho tudo que aconteceu contigo nesses meses, desde o último Natal até hoje. Lembre dos momentos bons, dos tristes, dos seus erros, seus acertos, dos bons pensamentos, dos ruins. Avalie, pense e perceba que tanta coisa aconteceu e você nem percebeu, tantas vitórias, derrotas... Sim, as derrotas fazem parte da vida, mas ao lembrar de cada queda, lembre também que você foi capaz de levantar, e a nova cicatriz que ganhou te ajudará nas batalhas futuras.

Gaste alguns minutos de seu dia para fazer essa reflexão. De hoje até a noite de Natal você tem ainda cerca de 21 dias para se preparar e chegar de coração limpo a esse dia especial. Aproveite esses dias e coloque de lado todo sentimento de mágoa, rancor, raiva, todo sentimento que te faz mal. Se o mundo não é o melhor para você, seja o melhor para o mundo e para as pessoas a seu redor, faça sua parte, pois semeando o bem, você colherá o bem. Tem feito isso e não tem visto resultado? Lembre-se que as grandes árvores que duram séculos e suportam grandes tempestades, possuem grandes raízes que demoram a se formar.

É advento, um novo tempo se avizinha, e as bençãos chegarão ao tempo certo para quem se manter aberto para elas, para quem não desistir de buscar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

De volta...

Normalmente não costumo escrever sobre coisas que fiz, fatos de minha vida. Mas esse foi um daqueles momentos que merecem ser registrados e compartilhados com meus poucos leitores, por ser um momento de retorno. E nesse caso um duplo retorno.

Depois de quase vinte anos, fui no último sábado ao Maracanã assistir um jogo. Sim, cerca de vinte anos que não entrava no estádio em dia de jogo, mesmo tendo morado a poucos metros durante grande parte de minha vida. Para ser sincero, entrei mais vezes no estádio sem jogo do que em dia de jogos. Em parte "culpa" de meu time de coração, que por ter um estádio, praticamente não joga no Maracanã, apenas os chamados clássicos, que são jogos em geral perigosos.

Aproveitando que meu time jogou no Maracanã no último sábado contra um time "pequeno" do Ceará, fui ver o jogo. Achei uma iniciativa interessante da diretoria do clube para atrair um grande público para apoiar o time nesse momento de retorno a um lugar que nunca deveria ter deixado a elite do futebol brasileiro. Não entrarei no mérito do jogo em si, péssima atuação, mas conquistou o ponto que precisava. 

Foi bom retornar a arquibancada, agora para sentar em confortáveis assentos e não mais no cimento quente, que tinha um odor misto de urina e cerveja ao sol. A organização no estádio, com pessoas orientando, pontos de venda de bebidas e alimentos, banheiros em boas condições. Realmente foi um impacto grande para quem tinha ido antes das primeiras reformas ainda para o Mundial de clubes de 2000.

A emoção de estar no meio da torcida só se comparava com o sorriso e risos de minha amada diante das manifestações exaltadas dos torcedores diante das "perebagens" dos jogadores.

Foi um dia de voltas: minha volta ao maracanã e a volta de meu amado clube à série A. Fiz meu papel e mantive minha escrita: nunca vi uma derrota de meu time no estádio, seja no Maracanã ou em São Januário. E com esse empate voltamos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Internet

A internet, assim como toda criação humana, possui um lado bom, mas também pode ser usada para o mal; temos desde o rápido acesso a informações e desenvolvimento tecnológico até o controle remoto de máquinas de guerra e a invasão de sistemas de outros.

Talvez eu seja uma das últimas senão a última geração que cresceu sem internet. Meu contato com a internet foi bem tardio se compararmos com os dias atuais. A primeira vez que acessei deve ter sido quando fazia curso técnico, mas sem frequência alguma nisso, apenas um contato superficial. Tive maior contato quando comecei a estagiar, isso lá pelos anos de 2001. Esse mundo da "grande rede"me permitiu conhecer muitas pessoas de várias partes e tipos: pessoas boas, outras nem tanto. Pude conhecer coisas que provavelmente levaria anos e muita pesquisa para saber. No fim, tive contato com o lado bom e ruim disso tudo, mas com certeza o saldo foi positivo, foi através desse mundo que conheci quem amo e com ela pude manter contato.

No entanto, parafraseando um dito popular, nem tudo são flores. Se a internet permite nos aproximarmos de quem está longe, ela também está afastando quem está perto. Com o advento da internet móvel, isso tem ficado mais evidente em todos os lugares por onde passo. Nas ruas, pessoas caminham sem olhar para onde vão, lendo e digitando nas telas de seus Smartfones, que no fim só é smart para seus fabricantes que lançam modelos diariamente para substituirmos os descartáveis e rapidamente ultrapassados equipamentos. Nos ônibus, trens, metros, e até quem dirige, todos concentrados em seus mundos particulares, confinados em suas telinhas (ou telões). No trabalho, salas de aulas, teatros, cinemas, shoppings, onde quer que estejamos podemos ver centenas de pessoas entretidas em suas redes sociais, "whatsapp", e afins, como se nada nem ninguém houvesse ao redor. E o pior de tudo dentro dos lares.

Dentro dos lares, as pessoas já não conversam, já não dedicam seu tempo livre para estarem juntos; perdem a maior parte de seu tempo enfurnados nesse mundo artificial. Pequenas coisas do dia-a-dia são deixadas de lado: pais já não veem como seus filhos estão na escola, pois ambos (pais e filhos) ficam em seus mundos paralelos dos Smartfones e computadores. Os esposos não conversam quase, não se ouvem, não sentam juntos no sofá apreciando um bom filme e por vezes até os momentos íntimos são trocados por esse agora abominável mundo irreal. Difícil acreditar? Reparem bem, observem o dia-a-dia a seu redor, inclusive o seu. Muito disso pode estar acontecendo e você nem percebe.

Talvez você que tem a minha idade ou mais, tenha tido a experiencia do olho no olho, do contato humano, as tardes de trabalho em grupo na casa de colegas ou mesmo na biblioteca da escola. Somos felizardos, porque o que tenho visto é que caminhamos para um tempo em que o "olho no olho" vai ser coisa do passado, todos viveram conectados, cada um em sua parte, conversando por seus aparelhos. Por que não? É mais fácil, mais prático, melhor para os tímidos, tão melhor que a introspecção vai se multiplicar. Na internet ninguém é tímido, ninguém tem medo do contato, ninguém tem medo de não saber o que falar (pois apaga o que escreveu errado antes de enviar), e também ninguém é feio, ninguém é ruim. O contato humano que nos molda está sendo substituído pelo contato via rede. Até onde isso será prejudicial? Não sei.

Tenho medo. Sim, tenho muito medo, pois se nós que tivemos uma época pré-computador, sem nada disso, estamos sendo afetados, imagina as novas gerações que nasceram já imersas no mundo da internet. Temo por nosso mundo, nossas famílias, nossas vidas. Entregues e expostas na "grande rede". Cada vez mais vulneráveis, cada vez mais perto de quem está longe, e cada vez mais longe de quem está perto.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Games

Apesar de nunca ter sido nenhum viciado, sempre gostei de jogos eletrônicos. Sou da época em que se saia da escola e ia até o bar/padaria/doceria para jogar fliperama. Nada melhor do que zerar o jogo e colocar suas iniciais na tela, para fazer seus amigos babarem de inveja. Não, nunca fui fera nisso, nem colocava meu nome no hall da fama dos fliperamas, mas gostava de jogar com aqueles que chamava de amigos.

Sempre fui um atrasado tecnologicamente em matéria de games, e não me envergonho disso. Quando todos meus colegas já tinham seus nintendinhos ou o brasileiríssimo "Phantom", eu estava ganhando meu velho Atari, que claro não era ATARI, e sim um Dactar. Me divertia por horas com os cartuchos multijogos (4, 16, 32). Por horas mas não todo dia, geralmente dia sim, dia não. E estava feliz assim. Quando todos já tinham seus playstations, NeoGeo e similares, alguns já começavam a ter seus consoles de 64 bits ou já jogavam em PC, eu ganhei meu 16 bits: Mega Drive. Iniciei minha paixão por jogos de esportes: futebol, basquete, corrida, jogos olímpicos etc. Claro que tinha alguns RPG, Sonic (ter um console Sega e não jogar sonic era como ter um Snes e não jogar Mario). Levei também um pouco do gosto do Fliperama para lá com jogos de luta. Lembro que o primeiro jogo de luta que joguei no MD foi MK3, por causa de uma promoção na época que ganhei o Mega Drive. Você enviava uma carta para a TecToy (que produzia o console) e eles te mandavam o Mortal Kombat 3. Não acreditei nisso, mas mandei a carta e sim, eles enviaram o jogo.

Junto com o Mega Drive entrei no mundo de códigos secretos que bombavam em revistas, jornais e entre colegas. Segredos do jogo que os programadores colocavam e que facilitavam a vida dos jogadores (como dar um fatality com um botão) ou liberavam partes diferentes do jogo (o juiz cachorro no SuperStarSoccer).

Já na faculdade, deixei um pouco os consoles de lado, e com o tempo fui me adaptando aos jogos de Dos e windows no 386 de terceira mão que ganhei. Anos depois, comprei com o dinheiro que guardara do tempo de estágio um PC que pudesse rodar os programas que me ajudariam a estudar (EWB, MatLab, Maple, CAD etc), e que também me possibilitaram voltar no tempo, com os emuladores de fliperama, de atari, e também de jogar consoles que nunca tive. Claro, sem deixar de lado minhas duas paixões: jogos de corrida e de esportes.

Já burro velho, trabalhando e casado, no auge dos consoles de nova geração (X-one e Play 4), comprei um console de geração anterior (Xbox360), para distrair a mente nas horas vagas.

Você deve estar se perguntando porque estou escrevendo essa história chata que a ninguém interessa. Há um motivo por trás disso e contarei a você que teve a paciência de acompanhar até aqui. Sou da geração que começou a ter contato com essas coisas, e talvez uma das últimas que teve uma vida de verdade. Joguei jogos eletrônicos, gostava e ainda gosto, mas joguei muito mais jogos de tabuleiro, brinquei ao ar livre, em parquinhos na praça, joguei bola, pisei na grama, em areia suja. Caía, fazia careta para por mertiolate, mercúrio cromo ou iodo e voltava a brincar.

Na escola, corria o recreio inteiro, jogava bola na educação física, voltava para casa suado quando não sujo. Mas eu vivi, me diverti, e hoje me arrependo apenas de não ter suado ainda mais, me sujado ainda mais, caído e levantado mais. Tenho pena de nosso jovens com suas caras enfiadas sempre nas telas da TV, computador, celulares. Jovens e crianças que não sabem o que é viver fora de seus Smartfones, tablets, computadores. E quando deixam seus equipamentos, sentam-se na frente da Tv, como zumbis guiados pelas telas.

A vida não é um jogo eletrônico, em que quando se perde, pode-se apertar o "start" e voltar ao começo. A vida precisa ser vivida e cada dia não tem volta. Não tem nenhum "save" que possa fazer você voltar ao momento anterior do seu erro, nem nenhum "cheat" que torne as coisas mais fáceis para você. Ela precisa ser vivida a cada dia. No "jogo da vida" só se tem "uma vida" e o "game over" é eterno. E pelo que vejo no mundo, fome, violência e juventude manipulada e perdida em suas telas, já nos deram "GAME OVER"... O jogo realmente já acabou. Para sempre.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

7 Sinais de que uma mulher está te usando

Compartilho com vocês um texto interessante que encontrei na internet. Acho válido para pensar nos relacionamentos amorosos, amistosos ou profissionais, tantos os presentes quanto passados, e claro evitar certas situações futuras. 


Alguma vez você já se encontrou num relacionamento onde você estava constantemente atrás dela, se dedicando muito, sempre gentil com ela. E o que você recebia? Jogos psicológicos, drama e resposta emocional inconsistente e desigual.

Enquanto a maioria das mulheres afirma querer estar com um homem que as trata bem, é carinhoso e está disposto a se comprometer, há mulheres egoístas, oportunistas e cruéis que se aproveitam desses malditos inocentes, sugando tudo o que eles têm a oferecer, seja profissionalmente, socialmente e amorosamente.

Para acabar com isso e te ajudar realmente, resolvemos disponibilizar esse pequeno guia para que você não caia ou se já caiu, para que você possa escapar de vez das garras dessas mulheres parasitas que querem se aproveitar de você.

1• Ela desmarca compromissos com você
Ela diz diversas vezes quão interessada ela é e o quanto ela quer vê-lo, no entanto, quando vocês marcam de se encontrar, ela cancela na última hora ou algo surge sempre do nada para impedir que vocês se vejam a menos que ela precisa de algo que você tem ou pode proporcionar. A possibilidade maior nesse caso é que essa mulher não gosta da sua companhia e por essa razão evita te encontrar, porém se ela está precisando de algo de você, pode ser qualquer coisa tola, mas se ela precisar, então rapidamente ela dá um jeito de te achar.

2• Ela não retorna suas ligações
Se uma mulher raramente retorna as suas chamadas em tempo razoável, sempre está com agenda lotada e só chama quando quer alguma coisa de você, ou precisa de um favor, deve ficar claro que ela pode até estar com você, porém você não é e nunca será uma prioridade na vida dela e quando menos esperar você levará um pé na bunda, pode ser a qualquer instante. Assim que um cara mais interessante aparecer e mexer com ela, tchau pra você. Nesse tipo de situação a melhor coisa a fazer é evitar se envolver emocionalmente, já que ela está te usando, use-a também, porém se você é como a maioria dos caras que procura uma mulher séria para se comprometer, termine de vez ao invés de sofrer esperando pelo inevitável fora que você irá levar.

3• Ela só sai com você, como última opção
Uma mulher que realmente gosta de você e aprecia sua companhia, arranjará tempo para estar com você. Mas se ela só faz planos com você no último minuto, como se nada melhor apareceu ou quando os planos dela com as amigas não dão certo, você não é levado a sério e pior, você não passa de um brinquedo nas mãos dela para que ela o use sempre que estiver entediada, você deve entender que para uma mulher que te trata assim, você não é tido como Homem, você sempre será o ultimo recurso, a última opção e nada mais.

4• Ela só está interessada no que você pode fornecer
Num relacionamento normal e saudável há uma alternância na troca de energia, no investimento emocional e, é claro, no investimento financeiro, no entanto, há muitas situações em que a mulher somente enxerga o homem como um provedor, uma mera ponte, você poderá ser aquele que, consegue ingressos, alimentos, paga bebidas ou pior ainda, aquele que paga o aluguel do apartamento que ela usa para ficar com outros caras.

5• Ela faz planos, mas nenhum deles inclui você
Se ela só tem planos de curto prazo sobre relacionamento de vocês, jamais tocou no assunto sobre o futuro de vocês como casal, então claramente ela não te leva a serio, não pretende ter nada com você e talvez até se ache melhor que você.

6• Nunca te apresenta a ninguém
Não permite que você participe da vida dela, não apresenta você às amigas e nem a família, pior é quando você já está com ela há muito tempo e quando a mãe dela pergunta pra ela quem você é e imediatamente ela responde que você é só um amigo. Péssimo sinal, pois as mulheres quando gostam realmente do cara um das coisas que mais gostam de fazer é exibi-lo para as amigas e apresentá-lo a família, se ela ainda não fez isso e evita qualquer contato seu com as pessoas importantes pra ela, pode ter certeza que ela nunca te levará a sério, portanto o conselho que te dou é: PARE DE SE ILUDIR.

7• Gosta de aparecer com você pra outro cara, mas te ignora totalmente quando esse cara não está por perto
Se ela faz questão de se mostrar com você para outro cara, porém quando esse terceiro indivíduo some de vista ela começa a te negligenciar, então é porque ela não quer nada com você e mais obvio que isso impossível, você não passa de uma ferramenta que ela utiliza sem pudor algum para fazer ciúmes num otário qualquer. É muito fácil perceber quando se está nesse tipo de situação, então quero que você seja sincero consigo e resposta a seguinte pergunta: Quando vocês estão juntos ela dá mais atenção a você ou ela parece estar ligada em quem está olhando ou deixando de olhar pra ela? A resposta dessa pergunta pode esclarecer muita coisa e lhe tirar de uma grande roubada. Não se iluda meu amigo, comece a ver as coisas pelo o que elas realmente são.

Espero que essas dicas sejam de grande valia pra você e que elas sejam verdadeiras lições para que você jamais seja iludido por mulheres que não valem à pena ou vice versa.

Via: Mundo Dse

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

À quem mais lê

Não tenho tido por hábito escrever mais de um texto ao dia, mas hoje precisei. Não para dar uma opinião, nem um comentário, apenas escrever porque você merece mais que um belo texto ao dia. Você merece muito mais, por cada dia que vive, mesmo que não leias sempre o que escrevo aqui, sei que um dia lerá.

Quando comecei a escrever aqui não objetivava ter nenhum leitor frequente, apenas quereria escrever de uma forma meio egoísta mesmo: escrever porque me faz bem. Mas sei que você existe, e é por ti que também me motivo a não deixar de escrever pelo menos uma vez por semana. Sim, é para você, por você.

Você deve saber que muito do que eu escrevo se encaixa com o que você vive, com o que você viveu, assim como se encaixa comigo que escrevo. No fim, você e eu acabamos sendo um só: leitor e escritor. Vivemos alegrias, tristezas, momentos de choros e sorrisos, de desabafos. "(..) Nós dois temos os mesmos defeitos, sabemos tudo a nosso respeito. Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos. (...)¹". Confio em você para me abrir por completo em linhas e mais linhas, uma confiança que vai além das palavras, e passa ao silêncio das entrelinhas.

Sei que choras, sei que muitas vezes as coisas não acontecem como planejas, pensas ou mereces, e nessas horas busca em minhas palavras uma ajuda, um consolo para suas tristezas. Peço desculpas se nem sempre estou apto para atender suas expectativas, tenho minhas limitações e mesmo se soubesse tudo que acontece contigo, tudo que sentes e tudo que passas por tua mente, mesmo assim ficaria aquém do que precisas. Mas garanto que me esforço para não mais escrever apenas para mim, mas escrever muito mais para ti. Peço que releias com carinho muito do que já escrevi, e veja que você se identifica.

Tenho tido o hábito de colocar o link das postagens no Facebook, talvez para ganhar alguns leitores desavisados, mas meu principal motivo de ainda escrever é você, que entra e lê sem precisar de link em lugar nenhum. Entra porque gosta do que escrevo e por pura metonímia acaba gostando de mim. Agradeço por teu apreço, por tua lembrança por esse escritor errante. E saiba que gosto de você também, sabes bem disso, e se assim não fosse nem teria começado esse texto.

Se hoje lês esse texto com tristeza no coração, amanhã lerá com alegria de ter superado teus problemas. Esse é o ciclo da vida, de aprendizados, quedas, e novas lições. Isso é importante, aprendemos a sermos melhores, não para o mundo apenas, mas principalmente para nós mesmos. Aprendemos, mudamos, e certas coisas permanecem: nossos princípios, o amor de Deus por nós, o amor que tenho por escrever e por você que me inspira a escrever sempre mais, sempre melhor.

A você dedico esse texto, outros que já escrevi e alguns próximos. E quando eu for embora, não chore por mim, apenas se lembre de cada palavra escrita ou que ficou nas entrelinhas. Mais que lembrar do que foi dito ou escrito, lembre de tudo que existe dentro de si, tudo que sente, sentiu ou sentirá. Ninguém vai lhe dizer o que sentir. Guarde essa canção para si. Assim como faço a cada dia, a cada fim de texto.


1 Pra ser sincero - Composição: Humberto Gessinger / Augusto Licks

Tentação

No começo a via de longe, tão longe que normalmente nem notava sua presença, mesmo sabendo que estava ali. Algumas vezes me aproximava por ser meu caminho, minha direção e acabava vendo-a mais de perto, mas nada que despertasse por muito tempo meu desejo.

De uns meses para cá, tudo começou a mudar. Sua presença passou a ser mais impulsiva, a via mais perto de mim, mais vezes ao dia, quase toda vez que estou na rua. Se antes só a percebia direito quando saia do trabalho, agora não importava a hora, ali está ela me provocando, seja antes do trabalho, na hora do almoço ou em qualquer outro momento que eu precise cruzar a porta do prédio onde trabalho.

Cada vez que chego ao trabalho, cada vez que saio para almoçar ou estou voltando do almoço, tenho resistido bravamente ao desejo de... "pegá-la". Sim, admito, meu desejo é forte e ardente, quero "pegá-la". Fico horas no trabalho e me vejo pensando nela, em estar dentro dela, sentindo o calor que emana de suas entranhas. Quentes, suaves que me levam ao paraíso na terra.

Sei que se eu procurar pelas ruas verei outras que me dariam prazer similar, algumas de uma forma mais demorada, outras de forma mais rápida. Ah! A tentação é igual, a carne é fraca, o espírito voa longe nessas horas. Não posso mentir mais. Sim inúmeras vezes já sucumbi a tentação dela... delas... Sim de todas elas, admito que depois do trabalho já sai com elas, já as "peguei"... Mas mesmo assim, continuam me provocando cada vez que chego ao trabalho, cada vez que cruzo a porta de onde trabalho, mesmo sabendo que não posso... não agora, não naquela hora...

E hoje tenho um encontro marcado com uma delas. Não sei com qual ainda, mas no fim do dia saberei. Será a primeira linha de ônibus que passar em direção a minha casa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Música Ambiente




Todas as vezes que a ouço essa música, me invade um misto de alegria e tristeza. No contexto que ela foi escrita, no declínio da saúde do compositor, o sentimento de que a vida é curta para esquecermos de valorizar as pequenas coisas, o pequenos fatos cotidianos que são os que nos trazem as grandes alegrias.

Não. Não é preciso analisar, não é preciso explicar, apenas ouvir e sentir por si só. E dedico essa bela música para alguém muito especial, com quem fiz muitos planos e ao mesmo tempo plano nenhum além de viver. Mesmo nos momentos longe fisicamente, está sempre comigo. "Tenho mais do que preciso / Estar contigo é o bastante." Tudo que quero e preciso... Hoje e sempre.


"Se um dia fores embora
 Te amarei bem mais do que esta hora
 Me lembrarei de tudo que eu não disse
 E de quando havia tudo que existe

 Quando choramos abraçados
 E caminhamos lado a lado
 Por favor amor me acredite
 Não há palavras para explicar o que eu sinto

 Mesmo que tenhamos planejado
 Um caminho diferente
 Tenho mais do que eu preciso
 Estar contigo é o bastante

 Certas coisas de todo dia
 Nos trazem a alegria
 De caminharmos juntos lado a lado por amor

 E quando eu for embora
 Não, não chore por mim."

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Via Láctea

Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz

Mas não me diga isso

Hoje a tristeza
Não é passageira
Hoje fiquei com febre
A tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela
Parecerá uma lágrima

Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza
Das coisas com humor

Mas não me diga isso

É só hoje e isso passa
Só me deixe aqui quieto
Isso passa
Amanhã é um outro dia
Não é?

Eu nem sei porque
Me sinto assim
Vem de repente um anjo
Triste perto de mim

E essa febre que não passa
E meu sorriso sem graça
Não me dê atenção
Mas obrigado
Por pensar em mim

Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido
Eu me sinto tão sozinho
Quando tudo está perdido
Não quero mais ser
Quem eu sou

Mas não me diga isso
Não me dê atenção
E obrigado
Por pensar em mim

Não me diga isso
Não me dê atenção
E obrigado
Por pensar em mim

Essa foi a primeira música desse álbum que escutei, e numa época em que me sentia mesmo assim: perdido, cheio de perguntas sem respostas, "sozinho mesmo quando acompanhado"...

Sempre achei uma bela música, e até hoje tem dias que me identifico enormemente com seus versos. Quem de fato não teve dias assim? Uma tristeza sem tamanho, sem entender bem o porquê... Aquela sensação de querer estar sozinho por se achar diferente do mundo, diferente desse mundo de gente que parece sorrir diante de tanta tristeza, tanta injustiça. E os pensamentos voam, massacrando mais ainda com seu peso sem fim. A própria tristeza massacra, começa a vir a sensação de não ter o direito de sentir-se mal, tem gente em situação pior sorrindo...

Será que o mundo é injusto a ponto de só eu ter problemas? Será que eu sou o problema por me preocupar demais? Sou errado por não conseguir sorrir, por não achar justo sorrir sem vontade, para alegrar quem está a meu redor?

Quantas dúvidas, perguntas, questionamentos... E ninguém a responder. E demoramos muito a perceber que realmente, quando tudo parece perdido, existe um caminho, uma luz. Uma porta se fecha, mas Deus sempre abre uma janela, basta que a enxerguemos. Mas hoje não dá.. Isso passa, amanhã é um novo dia, e com certeza esse caminho, essa luz, estará mais fácil de enxergar. Mais tranquilo, com fé renovada em mim mesmo, enxergarei e seguirei meu rumo. E obrigado por pensar em mim...




segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Eleições, Sinodo e polêmicas- parte 2

No último texto falei sobre as eleições, candidatos que defendiam suas opiniões independente da perda ou não de votos e da triste escolha que teremos no segundo turno. Nessa linha, um candidato que chamou muito a atenção nesse primeiro turno foi o candidato a presidente Levy Fidelix, que deu uma declaração de forma "atabalhoada" em um debate. Chamo de declaração atabalhoada pelo fato de ter expressado sua opinião de forma um tanto agressiva, mas que não fugiu muito da realidade que vivemos: apologias erotizadas e "gayzistas".

Estamos em uma época em que a erotização anda em alta, com novos jovens e crianças sendo expostos a novelas, músicas e situações antes eram proibidas a menores. E com isso perde-se muito da bela inocência infantil, que pouco a pouco ia tendo contato com os temas adultos no seu devido tempo. Não me considero preconceituoso mas sou contra a distribuição das chamadas cartilhas "gays" para crianças, da mesma forma que seria contra uma cartilha heterossexual. Se bem me lembro, nas aulas de ciências da 7ª série (hoje seria 8ª) era tratado o assunto reprodução humana, e, pelo menos onde estudei, de forma bem didática, espontânea e sem maiores tabus. E não perdi nada não tendo cartilhas antes disso, nem deixamos de respeitar qualquer colega que parecesse não interessado no sexo oposto. Todo mundo zoava um ao outro sem que isso fosse causa de preconceito, bullying ou nome que hoje quiserem dar: um era zoado por ser gordinho, outro por ser baixinho, outro por tirar notas altas, baixas, por ser feio, por ser "fresco" ou querer parecer machão demais. Tudo se resolvia entre os alunos nas brincadeiras, quando essas passavam do ponto, professor ou inspetor intervinha, e só saía dali se a coisa fosse mais séria como agressão física ou algo parecido, e chegava até os pais.

Polícia e político discutindo zoação entre estudantes? Nem pensar. Polícia era para correr atrás de bandido, político para votar leis para melhorar segurança, saúde, educação etc. Para que se preocuparem com possível opção sexual de estudantes? Bullying? Meu Deus! Isso é palavra nova para designar coisas que todos passamos quando estávamos na escola e isso não nos fez mais ou menos traumatizados, pelo contrário, nos ensinou a lidar com nossos próprios problemas. Creio que o que passei, me fez aprender a lidar com os problemas maiores que surgiram depois de adulto.

O assunto é polêmico, então não exitarei de dar minha opinião sobre: sou contra todo tipo de discriminação, ou segregação. Já expliquei isso no texto Cotas, marchas e afins. Somos todos iguais independente de cor de pele, religião, sexo e opção sexual. Respeito quem é diferente de mim, quem pensa diferente e espero ser respeitado. Não devemos conceder privilégios nem "superpoderes" a quem se acha "minoria". Quem se acha "minoria" deve querer fazer parte e "derrotar" a quem ele ser "maioria".

E dentro desses assuntos polêmicos de diferenças de pensamento, iniciou-se semana passada o primeiro Sínodo do papado de Francisco. A 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família começou no dia 5 de outubro e terminará no dia 19 de outubro, com a beatificação do papa Paulo VI.

Dentre os 250 participantes, entres bispos, cardeais e sacerdotes, estão alguns tradicionalistas e outros que defendem uma "maior abertura da igreja para o mundo", com ideias como a comunhão para casais de segunda união e a discussão sobre uniões homo afetivas.

Não sei o que sairá desse embate entre tradicionalistas, liberais e "libertinos", mas me preocupa o rumo que isso pode dar. Sempre digo que é melhor prezar por qualidade que quantidade, querer atrair fiéis adaptando a Igreja ao mundo é um erro. Modernizar é algo diferente de esquecer seus fundamentos em prol de agradar quem não segue a religião.

Por enquanto, apenas gostaria de deixar minha opinião sobre as duas ideias "liberais" que citei. Creio que deva haver um controle mais rígido e uma orientação mais profunda a quem se dispõe a casar no religioso. Casamento não é uma festividade social e sim um sacramento, deve ser levado a sério como tal. Casamento é para sempre. Casou antes de conhecer a pessoa direito, cometeu esse equívoco, vai sofrer para sempre infeliz e fazendo o outro infeliz? Não, Deus também não quer isso. Separe-se, mas ciente que se unir-se fisicamente e/ou civilmente a outra pessoa, não poderá participar da comunhão física. Não lhe será negada a frequência às missas e cerimônias, nem a comunhão espiritual em comunidade. Mas não poderá casar-se novamente na Igreja nem comungar fisicamente.

Errado? Certo? Não discutirei isso, mas no momento que a pessoa casa no religioso está ciente disso. É a regra. Aceitou, casou na Igreja Católica, então respeite as normas.

Da mesma forma devem ser encaradas as uniões homo afetivas. A Igreja acolhe a todos, apenas não é permitida a comunhão física, nem se realizará o sacramento do matrimonio.

Esperarei o resultado do Sínodo antes de opinar mais sobre ele. Que Deus abençoe os participantes, para que a luz do Espírito Santo esteja entre eles, afastando as tentações de "modernizar" adaptando a Igreja a vontade mundana e não à vontade de Deus

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Eleições, Sinodo e polêmicas- parte 1

Nas últimas semanas tenho dedicado meus textos à análise de músicas, e com isso deixando de lado dar minha opinião sobre algumas coisas que tem acontecido. Hoje abrirei uma lacuna nesse período musical para opinar sobre situações polêmicas que tem tomado conta dos noticiários e redes sociais, e na minha opinião os assuntos se relacionam.

Passada o primeiro turno das eleições, nós eleitores nos vemos diante de uma situação deveras complicada: escolher manter o governo atual ou apostar no retorno de uma linha de governo que já provou não ser o ideal. No fim nenhuma das opções que nos restou nos dá perspectivas de um futuro melhor, tanto PT quanto PSDB mostraram em seu tempo de Planalto incapazes de administrar o Brasil como nós merecemos e acreditávamos. Mas ainda assim reside uma diferença entre eles: o roubo e corrupção.

Não caro leitor, não almejo tentar convencer que em algum dos governos não houve corrupção, em ambos houve, a diferença é que no governo do PT pudemos ter melhor acesso a  informação do roubo enquanto eles ainda estavam lá. Os processos de corrupção foram para o Tribunal e não foram simplesmente arquivados, colocando a sujeira para baixo do tapete. Além disso estamos em uma época de maior velocidade de acesso a informação, que nos possibilita saber exatamente o que acontece.

Para mim, o governo PT é péssimo e foi piorando com o passar dos anos, com tentativas de medidas populistas que prejudicaram várias áreas de nossas estatais. Por outro lado, o governo PSDB implementou o medo nas estatais com demissões em massa, arrocho salarial e outras medidas para diminuir os custos no papel e fazer que o mercado enxergasse nessas empresas possibilidades reais de lucro para não simplesmente investirem, mas brigarem por elas nos leilões de privatização. Creio que por condições não apenas financeiras, mas principalmente estratégicas e de segurança nacional, alguns setores não devem ser privatizados como Energia (eletricidade, petróleo etc) e Telecomunicações (o eixo principal das comunicações deve estar no controle do Estado).

Precisamos olhar com carinho o passado antes de fazer nossa escolha, não se prendendo apenas a um sentimento de "Fora PT" ou "PSDB nunca mais". Análise crítica e racional.

E foi com base nessa análise que não votei em nenhum dos dois no primeiro turno. Votei em alguém que sabia que poucas chances tinha de ganhar, mas que demostrou ser sincero e defender suas posições, mesmo que contra a opinião de outros. Não ganhou, mas não me arrependo do meu voto. De nenhum dos votos desse primeiro turno. Votei em quem eu cri que deveria, em quem defende ideias semelhantes as minhas mesmo que em alguns casos com um certo radicalismo. Mas não se dobra diante da opinião pública. E é disso que precisamos, gente que não se dobra para conseguir mais votos, pessoas que tem seus princípios e os defende. Concorda com os princípios do candidato, vote nele, não concorda não vote.

Para não deixar o texto demasiadamente grande, vou deixar o Sinodo e demais polemicas para outro dia, mas gostaria que opinassem a respeito de tudo que escrevi aqui e concordando ou não, seu comentário será publicado e respondido. Infelizmente deixar aberta a área de comentários tem sido um problema, pois pessoas resolvem comentar coisas fora do contexto, ofensivas, fazer propagandas entre outras coisas que não são objeto desse blog.

Nos próximos dias, escreverei sobre os demais temas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Aloha

"Aloha" é a meu ver uma complementação da música "Natália", deste mesmo álbum, da qual já falei em postagem anterior. O retrato da indignação de uma "juventude" diante das desigualdades da vida. A juventude aqui pode ser interpretada como todos que se sentem injustiçados diante do mundo a seu redor, todos que ainda se sentem com forças para lutar contra as injustiças. Creio que até os que já se sentem sem forças, também se identificam com o que diz a música.


Será que ninguém vê
O caos em que vivemos?
Os jovens são tão jovens
E fica tudo por isso mesmo
A juventude é rica, a juventude é pobre
A juventude sofre e ninguém parece perceber

Será que realmente ninguém vê, ou é mais fácil e cômodo fingir que não vê o caos? Quem ainda não se conformou que "as coisas são assim", ainda não se cansou disso tudo não é levado em consideração: "são jovens", dizem, como se dissessem : um dia se habituarão e ficarão quietos. E fica tudo por isso mesmo, porque apesar da "juventude" ser rica de vontade e ideais, é pobre de apoio e crédito. Sofre por perceber que seus esforços são em vão.

Eu tenho um coração
Eu tenho ideais
Eu gosto de cinema
E de coisas naturais
E penso sempre em sexo, oh yeah!

Conformados ou inconformados com o caos do mundo, todos somos iguais, a mesma essência, os mesmos ideias, alguns já não acreditam na mudança outros lutam por ela.

Todo adulto tem inveja, todo adulto tem inveja
Todo adulto tem inveja dos mais jovens

Inveja do tempo que era assim. Não simplesmente de sua juventude física mas sua alma jovem e voraz, sedenta de conhecimento, de justiça e de esperança...

A juventude está sozinha
Não há ninguém para ajudar
A explicar por que é que o mundo
É este desastre que aí está

Isso acontece com todo mundo: nascemos e somos "jogados" em um mundo que já estava aqui, com sua regras, limitações, seus erros e imperfeições. E ninguém sabe explicar como chegamos nessa situação: sem segurança, sem saúde, sem emprego, sem ter uma vida digna para todos.


Eu não sei, eu não sei
Dizem que eu não sei nada
Dizem que eu não tenho opinião
Me compram, me vendem, me estragam
E é tudo mentira, me deixam na mão
Não me deixam fazer nada
E a culpa é sempre minha, oh yeah!

E quando alguém questiona é taxado de nada saber, de nada entender. E deliberadamente somos comprados, com afagos, com "bolsa" isso, "bolsa" aquilo, com uma distração aqui, outra ali... E vamos ficando mal acostumados, estragados, vendidos por essa corja que quer se perpetuar no poder em benefício próprio. Agir contra isso? Você não pode, não te deixam e ainda te convencem que o errado é você.

E meus amigos parecem ter medo
De quem fala o que sentiu
De quem pensa diferente
Nos querem todos iguais
Assim é bem mais fácil nos controlar
E mentir, mentir, mentir
E matar, matar, matar
O que eu tenho de melhor: minha esperança
Que se faça o sacrifício
Que cresçam logo as crianças.

A repressão gera o medo. Nem sempre a repressão física, mas principalmente a moral: de parecer diferente, parecer deslocado, impossibilidade de fazer parte por pensar diferente. Nos querem todos iguais! Todos facilmente manipuláveis, por isso o descaso com a educação, quanto menos acesso a informação, quanto menos desenvolvido o raciocínio, mais fácil controlar, mais fácil que acreditem nas mentiras, nas calúnias, mais fácil encobrir as falcatruas, roubos e o pior assassinato de todos: de nossos sonhos, nossa esperança de dias melhores. Que sejamos objetos de sacrifício, por um mundo melhor para as novas gerações. Que cresçam as crianças, pois nossos jovens estão se cansando e bitolando cada vez mais cedo...


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Natália

Quando comecei a escrever esses textos comentando as músicas do álbum "A Tempestade (ou O Livro dos Dias), não imaginava comentar sobre essa música. Apesar de ter uma mensagem que muito semelhante aos primeiros "discos" do Legião Urbana, ela nunca me chamou muito atenção. Mas resolvi não excluí-la de minha análise, por estar relacionada (e muito) aos diversos movimentos sociais que tivemos no Brasil nos últimos tempos, e principalmente com as eleições que teremos no dia cinco de outubro.




Vamos falar de pesticidas
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma mentira
E a mentira é salvação
Beba desse sangue imundo
E você conseguirá dinheiro
E quando o circo pega fogo
Somos os animais na jaula
Mas você só quer algodão doce
Não confunda ética com éter
Quando penso em você eu tenho febre


Nessa música, "Natália" é a própria representação da juventude revoltada com as mazelas da vida, as tragédias, as doenças, as eternas promessas de melhorias dando a falsa esperança. É o retrato da indignação diante das politicagens e mentiras. Todos parecem ter as melhores intenções quando entram no círculo (ou seria circo mesmo?) da política, mas quando chegam no poder entram no esquema, "bebem o sangue imundo", e aí se tornam iguais aos que lá estão, enriquecendo às custas do povo, que vive como animais na jaula, inertes, satisfazendo-se com agrados superficiais (algodão doce), dopados como se toda ética que buscavam ao votar, se convertesse em éter, confundindo, desnorteando... Concordo com a frase... Quando penso nessa juventude que tanto briga e nada consegue, tenho febre de tristeza...


Mas quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você

Essa é a esperança. Quem sabe um dia teremos alegrias para celebrar, uma bela canção para cantar, porque nossas lutas surtiram efeito... Sonho? Por enquanto sim... 

É complicado estar só
Quem está sozinho que o diga
Quando a tristeza é sempre o ponto de partida
Quando tudo é solidão
É preciso acreditar num novo dia
Na nossa grande geração perdida
Nos meninos e meninas
Nos trevos de quatro folhas
A escuridão ainda é pior que essa luz cinza
Mas estamos vivos ainda

Complicado batalhar sozinho, cada um tem que fazer sua parte, não apenas manifestando em passeatas, mas votando conscientemente nas urnas, não elegendo os mesmos biltres que apenas querem ficar cada vez mais ricos, sugando o "sangue imundo" da corrupção. E depois de votar, exigindo que nos representem adequadamente, que lutem pelo que é melhor para o povo, não apenas para eles próprios. Precisamos acreditar que podemos mudar o cenário, se nossa geração já está perdida, temos que lutar para próxima geração. Não podemos contar apenas com a sorte (com o trevo de quatro folhas). O momento pode ser ruim, pode ser difícil, mas estamos vivos ainda, ainda podemos lutar, exigir que nos respeitem como cidadãos e seres humanos. É algo que leva tempo? Sim. São erros que vem do início? Sim. Não podemos mudar o início mas se quisermos mesmo podemos mudar o final.

E quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você
Quem sabe um dia eu escrevo
Uma canção pra você

Quem sabe, não é? Quem sabe realmente não conseguimos? E podemos começar nessas eleições, deixando de votar nos mesmos calhordas que comprovadamente nada fazem além de agir em benefício próprio. Vamos votar em quem possa, ou ao menos pareça querer mudar realmente a situação. E depois exigir que cumpram suas promessas, pois cada político eleito é um funcionário nosso, eleito por nosso voto e pago com o suor de nosso trabalho. Nosso país, nosso estado, e cada pessoa a seu redor conta com você. Faça sua parte.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Música de Trabalho

"Música de Trabalho" se destaca nesse álbum por trazer em si uma crítica bem objetiva e caricaturada, resgatando vários elementos que fizeram parte das composições de Legião Urbana.

Sem trabalho eu não sou nada
Não tenho dignidade
Não sinto o meu valor
Não tenho identidade

A realidade do mundo, a realidade do povo. O trabalho, necessário para conseguir sobreviver, necessário para ganhar um suado dinheiro para se sustentar. Mais que isso, em uma sociedade tão competitiva como a nossa, o trabalhar vai além de ser "um ganha-pão", passa a ser status, passa a ser a própria identidade da pessoa. Dependendo de qual é sua profissão, de onde você trabalha, as pessoas lhe olham diferenciado, lhe tratam melhor ou pior. Certas vezes o trabalho não "dignifica o homem" e sim o corrompe: o falso poder sobe a cabeça, e alguns se acham melhores que outros.

Mas o que eu tenho
É só um emprego
E um salário miserável
Eu tenho o meu ofício
Que me cansa de verdade
Tem gente que não tem nada
E outros que tem mais do que precisam
Tem gente que não quer saber de trabalhar

Enquanto a maioria das pessoas trabalham arduamente por um salário miserável que mal dá para sobreviver, se prepara para exercer seu ofício, aprendendo, estudando, se aprimorando, outros não querem saber de trabalhar, querem dinheiro fácil às custas de quem realmente dá seu suor e esforço para conseguir. Isso é o que cansa de verdade: as desigualdades, os roubos, assaltos e roubalheiras.

Mas quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
De todo o meu cansaço
Nossa vida não é boa
E nem podemos reclamar

E ao fim de cada dia, o único momento de alegria que muitos tem: voltar para casa, para sua família, tentar esquecer um pouco tantos problemas, tantas injustiças. Diante de tantos problemas, a ignorância seria uma dádiva, pois perceber que a vida não é boa e saber que não nos deixam nem reclamar, é algo ainda mais desanimador...


Sei que existe injustiça
Eu sei o que acontece
Tenho medo da polícia
Eu sei o que acontece
Se você não segue as ordens
Se você não obedece
E não suporta o sofrimento
Está destinado a miséria
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece

Ah! Santa ignorância que querem nos impor e não a temos! Sabemos da injustiça, resolvemos que precisamos fazer algo para mudar, e passamos a ser os foras-da-lei! Se não seguirmos as "regras", se não aceitamos desvio de verbas, não aceitamos a violência, a falta de escolas e segurança, a polícia que devia proteger é posta contra quem se manifesta, mesmo quando pacificamente. Não foi isso o que vimos? Se você discorda, está destinado a miséria. Se você não aceita o esquema, não aceita o que a própria mídia quer lhe impor você é taxado de intolerante, desumano, você passa a ser o criminoso. Acha exagero essa afirmação? Experimente balear um bandido que invada a sua casa, ou bater em um pivete que tentou lhe assaltar com um canivete. Ele passa a ser "vítima da sociedade" e você o agressor...

Quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos

No "fim do dia", no fim de tudo, o que queremos é apenas poder descansar. Chegar tranquilamente em nossas casas, sem medo, sem receio. Tudo que queremos é apenas um dia poder esquecer que todas essas injustiças existem, poder viver nossas vidas sem preocupação com tanta coisa errada. Por enquanto, vivemos o sonho de tentar nos distrair para não enlouquecer, seguindo o exemplo de nossos governantes: fingindo que não sabemos de nada.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Soul Parfisal

Parfisal, ou Perceval em português, era o nome do filho Sir Lancelot, um dos cavaleiros do lendário Rei Artur. Foi personagem de várias histórias e óperas também como a de Richard Wagner. A história mítica desse cavaleiro, não retratarei aqui, deixo para leiam (clique aqui)

"Soul Parfisal" então seria "Alma de Perceval", a essência desse cavaleiro que conta a história foi considerado o mais puro entre os cavaleiros. E a música começa assim mesmo, uma melodia suave, exalando pureza. Antes de começar a escrever sobre a letra, convido você a ouvir a música e sentir o que ela diz para você.





Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno nosso amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar

Como é bom esse momento: o coração está desperto, ninguém mais diz o que sentir ou não.  Quando o desconhecido sentimento começa a crescer em nós ficamos desnorteados, sem saber como agir. Cada um busca um jeito de lidar com isso, alguns tentam simplesmente ignorá-lo, agir por impulso, outros sentindo-se perdidos ficam quase paralisados. Sempre fui mais desse tipo, sem saber como reagir, tentando perceber como outras pessoas agiriam em situação semelhante, analisando, procurando ler sobre aquilo que eu desconhecia. Isso teve um lado muito bom, desenvolvi meu lado mais "literário", mais "romântico", mesmo que as custas de viver cada situação ao máximo. Me levou também a errar muito, me decepcionar, mas também a acertar, a ter bons momentos, a transformar erros em acertos, e por fim, abrir meus olhos, "despertar meu coração" e valorizar o que vivi, ver tudo de bom que aconteceu até nos momentos de tristeza. Perceber ao mesmo tempo o veneno que me adoecia e a beleza do luar que estava diante de mim. Serenidade do que passei, santo esse lugar especial: lembranças.

Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar

Depois de "despertar", toda a tempestade que se acreditava estar não passou de uma calmaria. As lembranças e aprendizados ficam, como estrelas que nos guiam, são marcas costuradas em nós. E depois disso, é só acordar e viver. Os sonhos são belos, mas como inspirações para fazer da realidade algo tão belo quanto. É hora de acordar! Acorde, viva, busque seu caminho, busque ser feliz.

Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração

E esse é o resumo da sensação de quem passou pela tempestade, combateu o bom combate e agora segui seu caminho. Enfrentou maus momentos, guardou consigo os ensinamentos e as lembranças boas, tem anis, hortelã, cesto de flores, jardim e canção. Toda parte boa consigo e por isso vive feliz, tem amor, mesmo que esteja só, tem amor por si, sabe o que tem, o que quer. Tem a coragem que não tinha, uma coragem especial pois é também é uma conquista, e por essa conquista sabe quem é. Traz consigo esse sentimento de superação, seu segredo, todos tem segredos, algo que às vezes esconde até de si mesmo e também sua oração por cada pessoa que o fez chegar até ali. Chegar a esse ponto, de gratidão por quem trouxe alegrias e tristezas é algo precioso. É preciso sempre praticar, para chegarmos em plenitude a isso.

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar

Superar as dificuldades, não é esquecer nem negligenciar o que se passou. É ter ciência de suas forças e limitações. Tive força, uma força quase santa mesmo para superar, como sim foi santo, foi necessário o que passei. E aí vem um desabafo sincero: foi santo o penar, quase santa a força para superar e pecado mesmo é provocar desejo, criar sonhos, expectativas e depois não fazer nada para que seja realidade, deixar passar a hora de acordar. Todos já fizemos isso, todos já passamos por isso também.

Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado

Enxergar seus próprios erros, perceber que em muitos casos não avançamos por nossa própria culpa. Orgulho, egoísmo, vaidade... Também me cansei do que eu era, de quem eu era. Me cansei da vida que criei para mim, das barreiras que eu mesmo criei para mim. Só quando consegui superar minhas próprias barreiras pude ver o mundo a meu redor e verdadeiramente seguir adiante, tentar acompanhar o mundo que seguia adiante também.

Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir

Esses três versos são talvez os mais importantes de toda música, e é repetido por Renato Russo em outra música sua, "Hoje" que ele gravou com Leila Pinheiro (ouça aqui).Essa lição deve ser guardada e nunca esquecida: respeite sua individualidade e a individualidade do próximo. Nem sempre o que dá certo para um vai dar certo para o outro. Você pode ler vários livros, teses e afins sobre como as pessoas superaram seus problemas, como conquistaram o que queriam e tirar sua inspiração dali, mas nunca usar isso como um manual de vida. Um sábio disse certa vez que se você seguir o caminho que outros seguiram, na melhor das hipóteses vai chegar a um lugar que alguém já chegou. É isso mesmo que você quer? Não queira. Queira sempre mais para si, o seu lugar, o seu espaço. Não assuma o caminho alheio, os erros e acertos alheios. Fale por si, assuma teu caminho e viva. Muitos vão criticar, alguns tentar te "puxar para baixo", te impedir de caminhar. Guarde o que te servir das críticas, as que forem construtivas e continue em frente com esses três versos em mente: "Não falo pelos outros / Só falo por mim / NINGUÉM vai me dizer o que sentir."

Tenho jasmim tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção p'rá mim"

Por fim, quem "combateu o bom combate" superou as dificuldades, "despertou seu coração", tem essa pura sensação, quase cochichada por Renato Russo. Complementando a outra estrofe, tem "um perfume na vida" (anis, jasmim, hortelã, flores, jardim), tem seu segredo, sua oração. Um anjo fraterno, que lhe guia, de quem tem saudade quando se afasta para possas crescer por si só (já escrevi sobre esse "anjo" algum tempo atrás), e ora por ele.

Acho bem curiosa a citação de "preparei erva-cidreira no café da manhã". Devido alguns problemas de saúde acabei perdendo o hábito de beber algo no café da manhã, mas quando bebo quase sempre é um chá, e claro, erva-cidreira está entre as escolhas para isso. Pode ser uma excessiva viagem minha, mas vejo um significado bem profundo dessa frase: Com a saudade de seu "anjo-guia", ele teceu uma prece pelo anjo e manteve-se tranquilo (a espera?), como se tomasse um chá de erva-cidreira para acalmar. E com isso a certeza, que desperto, ciente de si, ninguém mais vai dizer o que sentir, e a canção a ser cantada será para si, pois "já não fala pelos outros, só fala por si mesmo", seguiu o seu caminho, seu aprendizado, sua vida.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Livro dos Dias

Hoje deixo para vocês mais uma interpretação de uma música do álbum "A Tempestade ou Livro dos dias" do Legião Urbana. E a música sobre a qual escrevo é a que intitula o álbum: Livro Dos Dias.

De fato, já escrevi sobre essa música, em outra ocasião, outro tempo, em outro lugar. É uma música de uma complexidade muito grande, por isso gostaria que vocês escutassem antes de que eu escreva mais a respeito dela.




Já li em muitos lugares pessoas tentando "adivinhar" o que o Renato Russo quis expressar em cada uma das estrofes. Acho até interessante, afinal essa é a última música do último álbum que ele lançou em vida. Ele sentia seu corpo martirizado pelas dores, por perceber que o próprio corpo não mais respondia a suas vontades. Quero dar minha própria visão da letra.


Ausente o encanto antes cultivado
Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado

O encanto pela vida, antes tão cultivado e desejado agora se foi. Quantas vezes nos sentimos longe do encanto que já tivemos pela vida? Tristezas, decepções, momentos que eram para serem alegres e não foram. E segue-se a vida assim mesmo, um eterno mecanismo que teima em querer nos resgatar para a realidade, mas já perdemos a confiança no mundo, na vida, e em nós mesmos. Essa é a grande essência desse "delito" que é fugir da vida, fugir do mundo, para um lugar sagrado, só nosso, onde nada mais importa.

Meu coração não quer deixar
Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado

Ah coração! Nunca nos deixa descansar! Quando tudo que queremos é um descanso, nos isolar de tudo e todos, você aparece, querendo mostrar que não somos tão frios e independentes quanto pensamos. Nos provoca dores com esses sentimentos, só para nos mostrar que podemos ter alegrias, pois esse é teu desejo, que eu viva e não apenas me mantenha vivo...
(Ao ler essa estrofe lembro de tantas pessoas doentes que no auge de seu desespero brigam com o próprio coração que teima em bater, e com o "velho amigo" desejo de viver, de estar vivo.)

Hoje então aceitas pelo nome
O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção

Hoje aceito. Hoje aceitamos. Essa é a vida que temos, esse é o mundo que temos. E precisamos viver enquanto é tempo, enquanto nos é possível, fazer desse viver algo perfeito... mas é tarde. Sim, muitas vezes não vivemos o momento como deveríamos e depois percebemos que é tarde, o tempo passou, e perdemos a oportunidade pela dúvida, pelo medo de errar. A realidade da vida é essa: só dá certo para quem tenta. Mas não um simples tentar, e sim um tentar "embriagado pela fome", não a fome física, mas a fome de viver, sem medo de errar, sem medo de ter que pedir perdão e perdoar, no momento exato. Quem vive plenamente, o indulto é tomado como verdadeira benção, com lembranças saudosistas e felizes.


Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado

Coisa comum, infelizmente. Alguns que sempre nos disseram serem amigos, se afastam em momentos tristes, se escondem e desaparecem quando precisamos de ajuda, mesmo que essa ajuda seja apenas um pouco de atenção, uma palavra de incentivo, um pouco de cuidado.

Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores

O livro das flores... O livro que nasce, desabrocha, e um dia morre. Um livro de diferentes cheiros, diferentes belezas, pois somos diferentes, e só uma coisa nos une no fim. O próprio fim.

O livro do destino... Nosso destino, previsto, sonhado, planejado mas sempre desconhecido.

O livro de nossos dias... O livro que marca, que tem começo e fim, a cada 24 horas, a cada dia, a cada semana e ao fim de nossos anos e dias sobre a terra.

Livro de escolhas, de opções, de erros, acertos, decisões, pessoas, passos, de vivências. Nosso caminho, nossa própria vida. E no fim esse é nosso "catálogo de erros", que nos mostra quão imperfeitos somos. Somos um livro, lido diariamente pelas pessoas a nossa volta, analisados, interpretados, conforme nos mostramos ou não. Constantemente avaliados por todos, inclusive por nós mesmos.

Somos livros ansiosos por ser compreendidos, mesmo quando não nos apresentamos para leitura. Somos um livro de dias, de tempo. Somos um livro de flores, de momentos, encanto e pureza. Somos um livro de destino, que um dia é começado em seu prólogo e terminado em seu epílogo.
Somos um catálogo de erros, por justamente sermos imperfeitos.

E este é o "dia de nossos amores", o dia de viver é hoje, enquanto é tempo, enquanto estamos vivos.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Entrevista de lançamento do disco "A Tempestade (ou O Livro dos Dias)"

Achei na internet uma entrevista da época de lançamento do disco "A Tempestade (ou O Livro dos Dias)", cujas músicas tenho citado muito em meus escritos. Amanhã colocarei a "análise" de mais uma música. Hoje deixo para vocês a entrevista:

Nunca mais os filhos da revolução
Por Ricardo Alexandre.
(O Estado de São Paulo - 26 de setembro de 1996.)

Integrantes da Legião falam, com exclusividade ao "Zap!", do novo CD e do relacionamento entre eles.

Depois de três anos afastados dos estúdios, dos palcos, do showbiz e, praticamente, afastados uns dos outros, a Legião Urbana resolveu sair da toca com seu tão aguardado novo CD. A Tempestade (Ou o Livro dos Dias) é um ponto crucial para os três garotos brasilienses que amavam PIL e Jesus & Mary Chain. Não é toda hora que muitos fãs têm chance de ouvir um novo disco da banda. Mas a atenção aumenta já que, desde O Descobrimento do Brasil, muita água rolou na música pop nacional e, fora a Mãe Dinah, ninguém ousaria prever o futuro da banda. E olha que o último álbum nem foi tão bem assim, apesar de ser considerado por Renato Russo como um "ótimo disco de festas", parando nas 350 mil cópias. Mas, a julgar pela repercussão da primeira faixa de trabalho, A Via Láctea, nas rádios, o sucesso do grupo continua intacto. E, em termos de vendas também: A Tempestade chegou às lojas nesta segunda-feira, com 340 mil cópias já devidamente reservadas.

O novo trabalho abre um leque de timbres e climas até então inéditos no trabalho do trio. E boa parte dos méritos por isso é da produção de Dado Villa-Lobos, que cuidou para que cada faixa encerrasse um conceito único, por meio das válvulas, violões, violas, pedais e amplificações diversas. As letras também trafegam do depressivo semi-trágico ("Não há ninguém para ajudar a explicar porque é que o mundo é este desastre que aí está..." Ou "... Não quero mais ser quem sou..."), passam pela exaltação da vida caseira da Leila e vai aos pirilampos de festividade em Soul Parsifal - que, musicalmente, lembra algo como Rita Pavone tocando nothern soul. Há, também, um retorno clássico aos anos 80, Dezesseis, um três-acordes sobre um adolescente que explodiu seu carro, com as tradicionais referências à Brasília, o eterno amor/ desavença do trio. É o disco mais variado da banda e com uma porção de hits certeiros, perfeito para recolocar o grupo na briga do rock nacional, ainda mais por "se destacar tanto das coisas que tocam normalmente no rádio", como bem definiu Dado.

A sugestão de que fizéssemos a entrevista em separado foi do próprio guitarrista, para que Renato Russo não "monopolizasse" a conversa com seus contos e recordações. Assim, com exclusividade nacional, pincelamos do trio muitas divagações artísticas, exercícios de futurologia e, claro, observações sobre o novo disco.

PS.: Não, não perguntamos se Renato está com Aids.

Renato Russo

Qual é a diferença de A Tempestade e os últimos discos?

É que A Tempestade ficou mais pop. A gente gravou 25 canções, mas daí nos tocamos da inviabilidade de, num último trabalho de um contrato, lançar um álbum-duplo. Pensamos em fazer um disco dividido em dois - exonera mais, mas disco-duplo ninguém compra, porque é muito caro. Aí a gente tirou umas músicas, para que não só o pessoal mais sofisticadinho comprasse o disco novo da banda.

Você acha que o novo disco deve repetir os feitos dos trabalhos dos anos 80 da Legião, em termos de números de hits e de vendagem mastodôntica?

Eu não tenho nem idéia. Eu não sabia, por exemplo, que meu CD em italiano poderia chegar à platina-duplo já está chegando a 450 mil cópias. Nunca imaginei! Ao passo que o Stonewall (primeiro solo de Renato), eu pensei que fosse ter um desempenho melhor, mas houve problemas de distribuição, ninguém encontrava o CD nas lojas e não sei o quê. Aí formamos uma equipe para trabalhar junto à gravadora. A Odeon trabalha muito como independente inglesa, você vê pelo cast - Paralamas, Marina, a gente, Marisa Monte. Todo mundo com liberdade para fazer o que quer, sabe? É outra coisa...

Vocês parecem se preocupar bastante com essa coisa de atitude. Não fazem shows, fotos, raramente dão entrevistas. Há uma preocupação com a postura da banda, uma imagem a ser preservada?

Claro que não, é que nós levamos nossa displicência muito a sério! Então, não me peça para fazer clipe que eu não vou fazer, me deixa quieto aqui em casa.

Você não gosta nem de fazer clipe?

Eu não gosto de nada! Eu gosto é de compor, entrar no estúdio, encontrar os rapazes, trabalhar a obra, pensar na capa e pronto, coloca o disco na loja. A gente é artista de gravação. O Lou Reed falou isso: "I'm a recording artist", não é um poeta. Ele é um artista que grava e essa é a visão que eu tenho da Legião.

A Legião sempre se caracterizou por ser meio que uma turma fechada - desta vez nem produtor vocês chamaram e os discos acabaram sempre com o mesmo padrão sonoro. Não dá vontade de entrar no estúdio para fazer seu Pet Sounds (clássico da psicodelia e da engenharia sonora, lançado pelos Beach Boys em 67), subverter tudo?

Todo próximo disco da Legião vai ser o nosso Pet Sounds, mas acaba não sendo. Acho que cada trabalho de todo o artista é para ser o Pet Sounds, mas não é, entende? E também, a gente já tem as nossas formulinhas o Bonfá é bem implicante em relação a isso. Você assiste aquele Acústico da MTV e parece que ele está com prisão de ventre, detestando estar lá. Isso ninguém sabe, tipo: "Sou baterista, não percussionista! Não vou ficar lá tocando aquele sininho ridículo!"

Você ainda se mantém informado sobre a cena de Brasília? Vocês foram a cria mais emblemática do circuito de casas noturnas, selos, etc...

Não, tudo isso aconteceu depois que nós já estávamos no Rio. Depois da Legião, veio o tédio novamente e aí apareceram milhões de bandas, das quais a minha predileta é a Low Dream. Não sei como eles conseguem aquelas guitarras, meio Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine, porque a gente tenta, tenta... Tem o problema deles cantarem em inglês, mas as suas letras são tão sintéticas que eles poderiam cantar em português.

Você já tem algum próximo projeto solo em maquinação?

Não. Eu já estou exausto de ficar falando deste disco, não sei o que vai acontecer. Provavelmente, eu vou sair do País,vou embora para São Francisco, ficar lá uns dois meses e de lá vou para a Nova Zelândia. Porque, este ano, no Brasil, primeiro o cristal se quebrou (refere-se à polêmica financeira envolvendo o Paulinho da Viola na última passagem do ano carioca) e a magia se acabou. Logo depois teve o acidente com os Mamonas. Eu estava muito ligado ao João (Augusto, diretor artístico da EMI), a gente estava trabalhando no nosso projeto e ele ficou arrasado, todo mundo ficou arrasado e eu fiquei muito surpreso que ninguém tenha notado a importância deles como evento cultural brasileiro. É a mesma coisa que morrer algum dos Secos & Molhados e ninguém falar nada, só falar da multidão no enterro. Foi horrível, de qualquer forma. Aí depois vieram as enchentes, aí a chacina no Pará. E este disco novo, dizem, está tão melancólico, tão triste, tão não-sei-o-quê, que está perfeito para todos esses problemas que a gente está tendo de enfrentar.

Dado Villa-Lobos

Não enche o saco ser "o cara legal" da Legião, meio que o porta voz do grupo, a pessoa que todo mundo procura falar, ao contrário do começo, quando essa função era mais dividida?

Bem, é a primeira vez que isso acontece, porque o Bonfá não é a pessoa mais indicada para falar, por sua própria personalidade, e o Renato não está legal, prefere não falar. Mas, na verdade, eu nunca respondo pela banda, sempre procuro colocar os meus pontos de vista e opiniões particulares.

Porque o disco acabou ficando com dois nomes?

Porque eu gostava mais de O Livro dos Dias e o Renato gostava mais de A Tempestade. Eu achava mais legal o primeiro nome por causa da música. Eu não desvendei ainda seu significado, o Renato estava me dizendo que é um lance gay, mas acho que O Livro dos Dias tem a ver com calendário, com a História, com os dias tempestuosos de hoje.

Você, como bom fã de Oasis, não sente falta de trabalhar em formato mais pop, com refrõezinhos e tal?

Não, pelo contrário, estou cada vez querendo me distanciar mais disso. Mais do que Oasis, prefiro me aproximar de uma coisa mais Beck, que também não tem um formato pop. Mesmo a Legião nunca teve refrões fáceis - com exceção de Será ou Pais e FiIhos, talvez. O problema é que tem muita banda de rock querendo soar como pop, o que eu considero um desperdício. A Legião continua sendo uma banda de rock nesse sentido e nem é só a questão da música, que continua um híbrido de folk, pop e rock mas da atitude, de postura mesmo. Não tem refrãozinho.

Rolou um boato de que vocês três nem chegaram a se encontrar muito no estúdio, que cada um gravou sua parte sozinho...

O começo das gravações foi legal, tranqüilo, como sempre foi. Agora, de fato, o que rolou foi que depois das gravações das bases, com todo mundo tocando junto, eu fiquei sozinho gravando as guitarras e produzindo tudo. Normalmente, mesmo quando eu gravava as guitarras, a gente trocava idéias, conversava sobre para onde as coisas deveriam ir.

Você e o Renato chegaram até mesmo a brigar...

É, mas foi uma questão musical e estética e, de certa forma, descambou para o pessoal, porque o Renato às vezes não sabe lidar com as pessoas. Mas depois ficou tudo bem, senão a banda teria acabado, o disco não teria nem sido terminado, a gente deixava lá para EMI ver o que faria. Sabe como é, banda é como casamento. Claro que a gente não iria acabar, por várias razões profissionais e tudo, mas sempre rola briga.

Esse disco é nitidamente mais maduro do que os anteriores. Você acha que os ouvintes de 30 anos gostam do Legião, que é um grupo que se celebrizou pela empatia com o público adolescente?

Ah, com certeza, porque o cara que tem 30 anos tinha 18 quando nós começamos. E seria mesmo estranho se nós não amadurecêssemos, apesar de continuarmos falando as mesmas coisas de antes, só que com uma outra abordagem, para um público que, na verdade, vai dos 18 até os 40 anos. O problema é que os adolescentes de hoje estão muito esquisitos, só escutam música muito rala Neste sentido, a gente está distante mesmo.

Marcelo Bonfá

Como está o relacionamento entre vocês? Se vocês não se encontram como rolam os ensaios?

A gente nunca foi uma banda de "músicos", nunca rolou muito ensaio, exceto na época de Brasília. Nas gravações dos primeiros discos, o Renato, ele sempre foi meio maluco, chegava com o disco pronto na cabeça e eu (em tom surpreso): "Ah, ainda bem que o disco está pronto!" Por isso as músicas são tão retas, eu inventava um negocinho e ele: "Ah, legal, repete aí." Mas agora, tá todo mundo adulto, o Renato parou de beber, foi maravilhoso. A gente mal se vê, mas a relação é muito melhor.

Houve alguma mudança no processo de composição?

Não. Nosso processo de compor e gravar sempre foi meio que a cobra-mordendo-o-rabo. A gente tinha alguns esboços, coisas antigas que fizemos há até uns dois anos, sobre idéias que um ou outro trazia. Aí eu criava um ritmo, pegava um clique, "midiava" no teclados e gravava a música como guia. Depois o Renato fazia a idéia e desenvolvia uma linha melódica em cima. Eu gravei a bateria definitiva, tudo em uma semana e o Dado ficou lá, gravando as guitarras. Por mim e pelo Dado a gente ousaria mais. Eu dizia: "Vai lá, Dado, detona!" (risos). Mas o Renato é mais conservador, tem medo de sair muito fora dos padrões e a gente sempre voltava atrás.

Enquanto o Dado produz discos e comanda a Rock it! e o Renato grava seus disquinhos em italiano, como você ocupa seu tempo extra-legião?

Eu nunca trabalhei tanto na vida, mas eu trabalho mais para mim, para minha família, tenho uma família maravilhosa, faço tudo por ela. Eu desenho, eu pinto, nem que seja para rasgar tudo no final. Nesse tempo entre os discos, eu fiz uma casa. Nem gosto de falar sobre isso porque, no jornal, vão pensar que eu contratei alguém e só assinei o cheque. Mas não, eu projetei, bolei as portas, agora eu sei até fazer cálculo estrutural. Minha casa é minha obra de arte, desde o prego até a horta no fundo - adoro terra e flores