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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Fim de mais um ano...

Pensei em escrever uma mensagem para este fim de ano. Talvez, compartilhar uma prece, contar uma história ou algo do tipo. Mas acho que isso tudo já fiz, e a inspiração resolveu não ser muito amiga nos últimos dias, então vou improvisar.

Muita gente tem reclamado de 2016, que foi um ano ruim, que foi uma ano difícil... Realmente não foi dos melhores ou mais fáceis, mas se terminamos vivos já é um bom começo. Se temos saúde o suficiente para reclamar, já é motivo de agradecer. Se temos um teto, comida na mesa, já estamos melhor que muitos. No fim o mais adequado seja ser grato pelo que se tem, pelo que se conseguiu conquistar e não maldizer o ano pelo que não agradou ou não conseguiu conquistar.

Para mim foi um ano de aprendizado, em muitos aspectos.

Aprendi que se não posso mudar algo, tenho que aprender a conviver da melhor forma que me for possível e não me preocupar em demasia com isso.

Aprendi que meu tempo é valioso demais para me preocupar com coisas, pessoas ou situações imutáveis, supérfluas ou que nada me acrescentarão. Nosso tempo é curto demais e passa muito rápido para ficarmos nos preocupando com rixas, vinganças, etc. Retribuir tristezas não nos acrescenta nada, apenas prejudica a nós e a quem estiver a nosso redor.

Aprendi que não se consegue estar alegre todos os minutos do dia; o cansaço, as notícias e decepções nos drenam força e alegria. Mas se conseguirmos mesmo que por poucos minutos sorrir, podemos mudar o dia de outra pessoa. Semear um pouco de alegria, nos trará alegrias de volta. Não é porque não estou bem, que vou entristecer minha esposa ou as pessoas ao meu redor com meus problemas ou preocupações. Não é por estar decepcionado com a política (e todos estamos) ou com qualquer outra coisa, que vou transmitir essa tristeza. Por mais difícil que esteja, aprendi ao menos tentar colocar um sorriso no rosto ao olhar no rosto das pessoas que fazem parte do meu dia a dia.

É difícil mas tento manter a fé que dias melhores virão. Sem fé não haveria motivo para viver.

Sou grato pelas bençãos que tenho na vida. Diante de tantos problemas em nosso país e no mundo, somos abençoados pelo que temos. E no fim, essa é minha grande prece pelo ano que passou: Obrigado pelos momentos bons que mantém minha fé, pelos ruins que me fazem aprender. Obrigado por tudo que tenho, por cada benção que me é concedida e me permite sobreviver e viver da melhor forma que é possível.

Desejo a todos um ano realmente novo, abençoado a cada nascer do sol e que  cada por do sol traga a esperança e a certeza de um dia seguinte ainda melhor.

A Deus primeiramente e a cada um de você, meu muito obrigado.

I

sábado, 24 de dezembro de 2016

Prece de Natal

Que neste Natal,
eu possa lembrar dos que vivem em guerra,
e fazer por eles uma prece de paz.

Que eu possa lembrar dos que odeiam,
e fazer por eles uma prece de amor.

Que eu possa perdoar a todos que me magoaram,
e fazer por eles uma prece de perdão.

Que eu lembre dos desesperados,
e faça por eles uma prece de esperança.

Que eu esqueça as tristezas do ano que termina,
e faça uma prece de alegria.

Que eu possa acreditar que o mundo ainda pode ser melhor,
e faça por ele uma prece de fé.

Obrigada Senhor
Por ter alimento,
quando tantos passam o ano com fome.

Por ter saúde,
quando tantos sofrem neste momento.

Por ter um lar,
quando tantos dormem nas ruas.

Por ser feliz,
quando tantos choram na solidão.

Por ter amor,
quantos tantos vivem no ódio.

Pela minha paz,
quando tantos vivem o horror da guerra.

Proteja-nos e nos abençoe para mais e mais Natais acontecerem.

Amém

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Quarta Semana do Advento

O anúncio do nascimento de Jesus feito a José e a Maria. As leituras bíblicas e a prédica, dirigem seu olhar à disposição da Virgem Maria, diante do anúncio do nascimento do Filho dela e nos convidam a “aprender de Maria e aceitar a Cristo que é a Luz do Mundo”. Como já está tão próximo o Natal, nos reconciliamos com Deus e com nossos irmãos; agora nos resta somente esperar a grande festa. Como família devemos viver a harmonia, a fraternidade e a alegria que esta próxima celebração representa. Todos os preparativos para a festa deverão viver-se neste ambiente, com o firme propósito de aceitar a Jesus nos corações, as famílias e as comunidades. Acendemos a quarta vela da Coroa do Advento, de cor roxa.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Terceira Semana do Advento

O testemunho, que Maria, a Mãe do Senhor, vive, servindo e ajudando ao próximo. Na sexta-feira anterior a esse Domingo é a Festa da Virgem de Guadalupe, e precisamente a liturgia do Advento nos convida a recordar a figura de Maria, que se prepara para ser a Mãe de Jesus e que além disso está disposta a ajudar e a servir a todos os que necessitam. O evangelho nos relata a visita da Virgem à sua prima Isabel e nos convida a repetir como ela: “quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha a visitar-me?

Sabemos que Maria está sempre acompanhando os seus filhos na Igreja, pelo que nos dispomos a viver esta terceira semana do Advento, meditando sobre o papel que a Virgem Maria desempenhou. Propomos que fomentar a devoção à Maria, rezando o Terço em família. Acendemos como sinal de esperança gozosa a terceira vela, de cor rosa, da Coroa do Advento.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Segunda Semana do Advento

A conversão, nota predominante da predica de João Batista. Durante a segunda semana, a liturgia nos convida a refletir com a exortação do profeta João Batista: “Preparem o caminho, Jesus chega”. Qual poderia ser a melhor maneira de preparar esse caminho que busca a reconciliação com Deus? Na semana anterior nos reconciliamos com as pessoas que nos rodeiam; como seguinte passo, a Igreja nos convida a acudir ao Sacramento da Reconciliação (Confissão) que nos devolve a amizade com Deus que havíamos perdido pelo pecado. Acendemos a segunda vela roxa da Coroa do Advento, como sinal do processo de conversão que estamos vivendo.

Durante esta semana poderíamos buscar nas diferentes igrejas mais próximas, os horários de confissões disponíveis, para quando chegar o Natal, estejamos bem preparados interiormente, unindo-nos a Jesus e aos irmãos na Eucaristia.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Primeira semana do Advento

A vigilância na espera da vinda do Senhor. Durante esta primeira semana as leituras bíblicas e a prédica são um convite com as palavras do Evangelho: “Velem e estejam preparados, pois não sabem quando chegará o momento”. É importante que, como uma família, tenhamos um propósito que nos permita avançar no caminho ao Natal; por exemplo, revisando nossas relações familiares. Como resultado deveremos buscar o perdão de quem ofendemos e dá-lo a quem nos tem ofendido para começar o Advento vivendo em um ambiente de harmonia e amor familiar. Desde então, isto deverá ser extensivo também aos demais grupos de pessoas com as quais nos relacionamos diariamente, como o colégio, o trabalho, os vizinhos, etc. Esta semana, em família da mesma forma que em cada comunidade paroquial, acendemos a primeira vela da Coroa do Advento, de cor roxa, como sinal de vigilância e desejo de conversão.

Advento

Todos os grandes eventos exigem uma preparação. Por isso, a Igreja instituiu, na Liturgia, um período que antecede o Natal: o Advento que, ao longo da história da Igreja, tomou diversas formas.

Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o Jesus  é   ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.

Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.

Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de Advento.


Significado do termo

Advento - adventus, em latim - significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.

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Surgimento do Advento cristão

Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a "Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.

São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro Papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.

No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.

Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de "parusia".


O Advento nas Igrejas do Oriente

Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.

Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo Cristo Rei.jpgda Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.


O Advento na Igreja Latina

É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo. Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém,nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo: "Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do mar" (Lc 21, 25). "Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem" (Lc 21, 36). É a recomendação do Salvador.

Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Batista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.

Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a seguinte proclamação: "Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto". É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem- Deus, a Igreja pede que "a bondade do Senhor seja conhecida de todos os homens". Os paramentos são cor-de-rosa.

No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do que Ela, para nos conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.

Com esse tempo de preparação, quer a Igreja ensinar-nos que a vida neste vale de lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de acordo com a Lei de Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar, como está escrito: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam" (1Cor 2, 9).



A Coroa do Advento

Ela é tão simples quanto bonita: um círculo feito de ramos verdes, geralmente de ciprestes ou cedros. Nele coloca-se uma fita vermelha longa que, ao mesmo tempo enfeita e mantém presos à haste circular os ramos. Quatro velas de cores variadas completam essa bela guirlanda que, nos países cristãos, orna e marca há séculos a época do advento. A esta guirlanda dá-se o nome de Coroa do Advento.




Um antigo costume piedoso

Nos domingos de Advento, existe o piedoso costume de as famílias e as comunidades católicas se reunirem em torno de uma coroa para rezar. A "liturgia da coroa", como é conhecida esta oração, realiza-se de um modo muito simples. Todos os participantes da oração colocam-se em torno daquela guirlanda enfeitada e a cerimônia tem início, Em cada uma das quatro semanas do advento acende-se uma nova vela, até que todas sejam acesas.

O acender das velas é sempre acompanhado com um canto. Logo em seguida, lê-se uma passagem das Sagradas Escrituras que seja própria para o tempo do Advento e é feita uma pequena meditação. Depois disso é que são realizadas algumas orações e são feitos alguns louvores para encerrar a cerimônia. Geralmente a guirlanda da coroa, bem como as velas são bentas por um sacerdote.



Origem

A Coroa de Advento tem sua origem na Europa. No inverno, seus ainda bárbaros habitantes acendiam algumas velas que representavam a luz do Sol. Assim, eles afirmavam a esperança que tinham de que a luz e o calor do astro-rei voltaria a brilhar sobre eles e aquecê-los. Com o desejo de evangelizar aquelas almas, os primeiros missionários católicos que lá chegaram quiseram, a partir doscostumes dos da terra, ensinar-lhes a Fé e conduzi-los para Jesus Cristo. Foi assim que, criaram a "coroa do advento", carregada de símbolos, ensinamentos e lições de vida.



A forma circular

O círculo não tem princípio, nem fim. É interpretado como sinal do amor de Deus que é eterno, não tendo princípio e nem fim. O círculo simboliza também o amor do homem a Deus e ao prócoroa_advento.jpgximo que nunca deve se acabar, chegar ao fim. O círculo ainda traz a ideia de um "elo" de união que liga Deus e as pessoas, como uma grande "Aliança".



Ramos verdes

Verde é a cor que representa a esperança, a vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida terrena. Os ramos verdes lembram as bênçãos que sobre os homens foram derramadas por Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua primeira vinda entre nós e que, agora, com uma esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na segunda e definitiva volta dEle.



Quatro velas

O advento tem quatro semanas, cada vela colocada na coroa simboliza uma dessas quatro semanas. No início a Coroa está sem luz, sem brilho, sem vida: ela lembra a experiencia de escuridão do pecado.

À medida em que nos aproximamos do Natal, a cada semana do Advento, uma nova vela vai sendo acesa, representando a aproximação da chegada até nós Daquele que é a Luz do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem dissipa toda escuridão, é quem traz aos nossos corações a reconciliação tão esperada entre nós e Deus e, por amor a Ele, a "paz na Terra entre os homens de boa vontade".

(Fontes:Pe. Mauro Sérgio da Silva Isabel, EP; Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 18-19 / Fonte: - http://www.acidigital.com)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Curto...

Um texto curto. Poucas palavras são ditas, mas dessas poucas, múltiplos significados brotam. E continuam brotando a cada pessoa que lê, cada vez que cada pessoa lê.

Um texto curto que no fim, pode nada dizer a mim e muito dizer a ti. Um texto de sonhos.

Sonhos que já não lembro, que a aurora ao despertar-me fez esquecê-los, deixá-los ocultos no subconsciente inacessível.  Sonhos... nem sei se os tenho, por mais que a impressão muitas vezes seja de acordar no meio deles, e aos poucos ele vai esvaindo da mente como se nunca tivesse existido. E acho que nunca existiu.

De olhos abertos, olho ao redor e procuro qualquer pista cotidiana que me lembre algo, qualquer coisa que faça acender a faísca que iluminará a lembrança. E nada. Ao longo do dia ouço músicas que no fundo me dizem algo, que já não sei o que. Leio textos e notícias que despertam uma fagulha, que nunca vira fogo real. E de nada lembro.

No fim do dia, durmo sem saber se sonharei e, se sonhar, se será algo novo ou um contínuo do que já esqueci. Mas no fundo da minha alma não esquecera, ali está guardado e acumulará esse novo ou contínuo para um dia despertar na mente consciente como lembranças de dias que nunca existiram. Ou que existiram apenas no devaneio do mundo dos sonhos. O desconhecido e inebriante mundo dos sonhos. Que nada mais me dizem. Do qual não sou parte.


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Primeira paixão...

Outro dia me perguntaram se ainda gosto de ti... Sorri e sem pensar muito fui obrigado a dizer:

- Não consigo não gostar...

- Mesmo com tanta tristeza e sofrimento que já te trouxe? - me indagaram

Olhei para quem me perguntava, sorri e novamente afirmei que não tem como ser diferente, foi minha primeira paixão, meu primeiro amor. Às vezes acho que antes mesmo de nascer, já estava escrito que  conheceria, me apaixonaria e no fim seria parte de ti, independente do que acontecesse.

Claro, não sou cego para esquecer os momentos ruins, as vezes que por tua causa fiquei triste, chateado... Mas sei que no fundo a essência é boa, o mundo e as pessoas é que fazem com que nem tudo seja alegria. Mas sei se dependesse unicamente de ti,  de tua beleza, história exemplar e força,  a felicidade seria onipresente.

Sei tanto quanto ti, que os últimos dez anos não foram como esperado. Uma ou outra ocasião boa mesmo, um ano ou dois de esperança de dias melhores, de um futuro bom, mas no geral houve momentos bem ruins mesmo, que não precisaríamos passar. Novamente digo: sei que não tens culpa, muitas pessoas estavam "conspirando contra", outras poderiam ter até boas intenções, mas atrapalhadas acabaram prejudicando muito mais que ajudando. Estamos sobrevivendo, isso é o que importa.

Desde o início quis saber tudo que podia e não podia sobre ti. Mas de mim... Cheguei a conclusão que nada sabes ou conheces. Nada mesmo, a não ser o nome. Não que eu  me opusesse a que me conhecesses bem, nada disso. Mas sei que existem pessoas mais importantes para ti. Sempre existiram, e talvez sempre existirão. Não tem problema, continuarei no anonimato, então, um "amor platônico" como dizem, eternizado em mim. O sentimento não pode parar!

Uma música resume bem "nossa relação"... Porque o amor, não tem divisão!

"De todos os amores que eu tive, és o mais antigo
O Vasco é minha vida, minha história, o meu primeiro amigo
Quem não te conhece me pergunta por que eu te segui
Eu levo a Cruz-de-Malta no meu peito desde que eu nasci

E eu não páro ... Não páro, não! 
A Cruz-de-Malta ... Meu coração!
Vasco da Gama ... Minha paixão! 
Vasco da Gama ... Religião"




quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Textos incompletos

Sento e penso em escrever algo. Mas a mente começa a se esvaziar assim que começo a escrever. Paro onde estou, salvo fecho e tento mais tarde. E novamente o processo se repete, no meio do texto, a ideia se vai e fico parado, sem saber o que escrever, como continuar.

E os textos, as ideias vão virando rascunhos incompletos, esperando o dia em que poderão ser terminados e lidos. Se fosse em papel, formariam uma pilha, ou virariam bolas massadas de papel. Na tela do computador ganham uma sobrevida, uma nova chance de um dia terem forma. E vida.

As ideias nunca aparecem quando se tem como anotá-las. Certas vezes, caminhando aparecem sem que eu possa parar e anotar. E nesses momentos parecem que procriam, desenvolvem-se com coesão e beleza, para morrerem sem vida e esqueléticas quando tenho oportunidade de escrever.

Leitor, esse pequeno texto não é uma desculpa pela falta de um bom texto para leres. É um desabafo, é um pouco de mim nessas linhas, para sentires que nem sempre é fácil trazer até ti algo que possa me orgulhar e lhe entreter. Escrever é para mim algo prazeroso, relaxante, quase terapêutico, mas isso não quer dizer que seja sempre fácil.

Uma escritora que conheci, certa vez me disse que a tristeza inspira mais que a alegria, e talvez esse seja o problema e se assim for sou grato pela falta de inspiração. Mas de fato não creio muito nisso. Acredito muito nos extremos, esses sim inspiram mais.

Momentos pontuais de grande alegria ou tristeza ou qualquer outro sentimento inspira a expansão da própria alma que extravasa pelas palavras, e forma um texto belo, fluido e bom de se ler.

Os extremos acontecem. Acredite. E belos textos virão. Por enquanto peço que perdoe este que escreve, que está aqui por ti e por si. Como sempre...

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Os bons morrem jovens...

"É tão estranho / os bons morrem jovens / assim parece ser / quando me lembro de você / que acabou indo embora / cedo demais."¹

Esse verso transmite a sensação sentida ontem, com a partida de uma pessoa muito alegre, que tão cedo foi ao encontro de Deus.

Perto de tantos que sentem sua partida, eu a conhecia há bem pouco tempo, apenas uns seis anos, e há pouco mais de quatro anos passei a oficialmente fazer parte da família. E desde o primeiro momento, assim como os demais dessa família que ganhei, ela me acolheu com muita alegria.

Alegre e alegradora, divertida e divertidora. Feliz, assim era o ambiente que ela estava e assim que vou sempre me lembrar dela, os encontros em família com brincadeiras ou jogos, como no último sábado, que sem querer se tornou uma pequena festa de despedida. Lembro dela fazendo os docinhos e chocolates de meu casamento, elogiados até hoje, sempre dizendo que diferente dos dela,  "por aqui" fazem os doces tudo igual com massa de leite condensado e colocam sabor. Incentivando o pessoal a dançar, a se divertir, se integrar nas festas, nos encontros, nos natais. E eu fui um felizardo por ter te presenteado no último amigo oculto de Natal.

É prima... você vai fazer falta... Não houve uma visita a Campos que não nos víssemos e "trocássemos" zoações por ser "torcedores rivais". Agora você está alegrando os anjos e convivas aí no céu, que nunca mais será o mesmo. Espere por nós, mas sem pressa. Prometemos nos esforçar bastante para ter a graça de um dia poder ir para junto do Pai e rever-te. Termos a graça, como já tens. Até no nome.

Uma imagem que para mim resume todo bom humor que sempre transmitiu é essa foto que recebi. Após meu casamento, eu em lua de mel, e você organizou uma "festinha" em minha casa e com ajuda de um lençol personificou "a gueixa campista resignada". Mesmo distante, como sempre, nos fez sorrir. E continuará fazendo, com as boas lembranças que deixou.









"(...) vai com os anjos! vai em paz.(...) lembro das tardes que passamos juntos / não é sempre mais eu sei / que você está bem agora / só que este ano / o verão acabou / cedo demais."¹


(1) Love In The Afternoon - Legião Urbana








quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Bom, mau...

Já disseram que sou bom. Que tenho um bom coração... Já me elogiaram por vários motivos, muitos que nem considero simplesmente por crer não estar fazendo nada excepcional.

Já me criticaram. Disseram que sou ruim, sou um lixo, que não presto. Já me condenaram por coisas que nunca fiz, por interpretações erradas sobre mim ou meus atos, e também por atos falhos não intencionais.

Não sou perfeito, sou sujeito a erros e acertos. Mas também não sou de todo bom, por mais que minha essência o seja. 

. Já menti, omiti, "enganei", já agi errado sabendo ser errado. Em geral nada de grande dano a outrem, mas já o fiz, em atos e palavras. Já me vinguei e me senti no direito de fazê-lo, mesmo me arrependendo depois. Não era necessário, e o prejuízo para mim quase foi bem pior. Um aprendizado de que não vale a pena vingança ou maldade, não há lucro em retribuir "na mesma moeda". Não sou santo, nem perfeito, me arrependi, mas no decorrer gostei. Doce no decorrer, com sabor bem amargo no fim, creio que deve ser sempre assim.

Já fui vitima de tudo isso também: mentiras, difamações, ataques verbais, ludibriações. E o pior já me culpei por isso, mas hoje não vejo culpados, pois foi tão fraqueza de quem o fez quanto minha de ter "aceito". Nada disso tem uma real importância se "do outro lado" a pessoa não aceita e recebe para si.

Hoje estou tranquilo. 

A quem eu tenha feito mal, mesmo que nunca tenha percebido que fi-lo, peço que aceite meu perdão. Não peço desculpa, pois se tive culpa preciso assumí-la e não que essa me seja retirada. Peço perdão, e prometo não repetir. Se o fizer, me avise, pois não percebi meu erro. 

A quem tenha me atingido de alguma forma, mesmo sem que eu tenha feito por merecer, eu perdoo. Não, não precisa de justificar. Está perdoado. 

Estou vivo, tenho saúde, uma vida abençoada. Não tenho porquê me preocupar e deixar corroer por algo que não prejudicou minha vida. Talvez a ofensa injusta que recebi tenha contribuído para que minha vida chegasse ao ponto que está hoje. Nesse caso, devo agradecer e não condenar quem o fez.

Quero paz. Estou em paz. É tudo que preciso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Culpa

Sou culpado. Pelo menos sempre admiti sê-lo, independente da culpa, independente se existiam culpados. Quando não existiam de fato, eu era o culpado. Por que? Se para outros era mais fácil atribuir a culpa, para mim era mais fácil assumi-la.

Aparentemente, até para mim hoje, isso pode parecer uma atitude tola, mas analisando a profundidade da situação, perde-se tal característica. Ao atribuir a culpa a alguém, você procura livrar-se de todo o comprometimento com os erros cometidos, e passa tal responsabilidade para outra pessoa, mesmo que apenas em seu pensamento. Dessa forma, você perde completamente a possibilidade de corrigi-los e tentar dar um novo direcionamento para a situação. É um caminho fácil, quando o que se deseja não há pressa ou quando a "pessoa culpada" assume a culpa e busca a solução em tempo e velocidade satisfatórios.

No fim  você perde o controle da situação. Se culpar pelos erros, dá uma falsa sensação de controle da própria vida e do que acontece nele. Uma sensação utópica de que pode por conta própria resolver o problema, mesmo quando este envolve a necessária participação de outra pessoa.

Por outro lado é muito triste quando te incutem a culpa dos erros, você aceita e quando chega a hora da "culpa" pelo que deu certo, assumem para si. Então você passa a ser sempre o dono dos ônus, o responsável pelos erros e nunca aquele que acertou, pois para esse "cargo" nunca lhe passam essa "culpa".

Fui culpado. Mas não de tudo que me culpei, que me culparam. Eu me desculpei, e estou bem com isso, mesmo nunca ter aparecido quem me desculpasse. Cada um vive com sua consciência, e mesmo convencendo alguém a assumir culpas, não deixam de serem responsáveis por seus atos e a vida cobra os ajustes no devido tempo. No fim todos pagamos por nossos atos de alguma forma, mesmo que demore ou nem demos conta em vida. Após esta, nada afirmo além de minhas crenças. Para isso não peço que sejam retiradas as culpas que minhas são, peço o perdão e misericordia Divina diante de minha fraqueza diante do que sei que é errado, e minha ignorância sobre o que ainda não aprendi o certo.

Que Deus nos abençoe e guarde sempre.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Tudo vira bosta...


Nem toda grande reflexão precisa vir de uma música ou texto de alto teor literário. Uma música simples, popular, com letra e melodia simples também pode nos presentear com uma boa reflexão.

Essa música interpretada por Rita Lee, composição dela e de Moacyr Franco, nos traz de uma forma cômica uma grande aprendizado sofre a volatilidade e superficialidade da vida e de tudo que acontece no dia a dia.

Nossas atitudes, nossa prepotência, nosso ego inflamado. Nada disso vai importar, se você come ovo frito ou caviar, se você é opressor ou o oprimido, se é famoso ou um mero desconhecido no meio da multidão.

Tudo vira bosta.

O que comemos vira bosta. Nossas atitudes super ou subvalorizadas perdem sua importância "no dia seguinte". O que somos, o que temos, o quem somos. Passa, acaba, perde sua importância, vira adubo, vira bosta.

É o ciclo e é o necessário, para que a vida continue, com novas atitudes, novos pensamentos, e por fim, novas pessoas. No fim, rico ou pobre, humilde ou soberbo, todos completam seu ciclo e passam a ser iguais: adubo. A escolha se resume apenas uma: Ser um bosta desde vivo, ou ser uma pessoa direita e deixar isso para depois.

'' O segredo da vida qual e ?A gente nasce A gente cresce A gente estuda, trabalha, arranja um emprego Ganha grana Vai ao supermercado Tosta toda a grana na comida Chega em casa faz comida Come tudo E tudo vira bosta! "

“Estava ouvindo essa música e pensando na filosofia de merda da vida...


Eu lhe pergunto, porque será que a gente se preocupa tanto com as coisas fúteis da vida, se no próximo instante tudo pode não mais existir?
A gente se preocupa em trabalhar, trabalhar, fazer herança, deixar dinheiro guardado, ter um nome, ter status, ter fama, ser o bonzão e daqui a pouco tudo se mistura e vira bosta!
Deveríamos querer dinheiro para gastarmos no instante presente de nossa vida, o instante futuro dane-se...
A gente deveria pegar o dinheiro das férias e fazer aquilo que a gente gosta de fazer, viajar para onde queremos ir e não enfiar a merda do dinheiro em uma aplicação, onde só poderemos retirar com juros e correção depois de 05 anos!
A gente deveria virar as madrugadas com os amigos, rindo, zoando, sem pensar que amanhã é segunda...O agora é o que importa!
Dane-se se vc anda a pé, de fusca, de Stilo, o importante é vc andar, voar, correr, ir para onde você quer ir...
Essa merda toda que a gente valoriza, marcas, tipos, estilos...Tudo, tudo vira bosta!
O que fica é o momento vivido, a felicidade sentida e que dinheiro nenhum poderá pagar!
Faça de tudo para que o seu momento seja o melhor... O amanhã meu amor...Ah o amanhã...
No amanhã tudo vira bosta!”

Rita Lee


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Soberba lição de vida

Inicialmente peço desculpas a meus quatro leitores (o quinto não viu publicação hoje de manhã e não volta mais). O texto que previa para hoje não ficou pronto a tempo, não vale a pena terminar às pressas e comprometer muito a qualidade.

Então resolvi escrever algo para distrair um pouco os leitores que sobraram. Contar um "causo", talvez conhecido, mas vale sua releitura:

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital. Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as  tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões.

A sua cama estava junto da única janela do quarto.

O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.

Os homens conversavam horas a fio. Falavam das suas mulheres, famílias, das suas casas, dos seus empregos, dos seus aeromodelos, onde tinham passado as férias...

E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava,passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que conseguia ver do lado de fora da janela.

O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela.

A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes, chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por
entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vislumbrada no horizonte.

Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas.

Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia a passar:
Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas.

Dias e semanas passaram. Uma manhã,a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida, o homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.

Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo.

Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.

Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira  deixou o quarto.

Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolo!

O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela.

A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. Talvez quisesse apenas dar-lhe coragem...

Moral da História:

Há uma felicidade tremenda em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas.

A dor partilhada é metade da tristeza, mas a felicidade, quando partilhada, é dobrada.

Se te queres sentir rico, conta todas as coisas que tens que o dinheiro não pode comprar.

" O dia de hoje é uma dádiva, por isso é que o chamam de presente."

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Contrários

Quero compartilhar com vocês hoje uma bela música interpretada pelo Padre Fábio de Melo, scj.

Essa música não precisa nem de comentário ou tentativa de interpretação. Quem nunca passou pelas situações de que fala a música? E continuamos seguindo em frente, com um grande aprendizado com certeza.

Ouça a música, acompanhe a letra e reflita.









Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais

Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar

E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema há solução
E o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar

Quem no pouco se encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema há solução
E o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Apenas um sorriso

Sou uma pessoa normal. Tem dias que acordo bem, outros nem tão bem. Há dias que acordo de mau humor, cansado, com dor... Mas tento levar tudo numa boa e não deixar que isso transpareça muito ou "contamine" quem está a meu redor, seja minha esposa, ou as pessoas que encontro ao longo do meu dia, conhecidas ou meras passantes.

Ninguém tem culpa se estou de mau humor, com dor, cansado ou indisposto logo pela manhã. Tento manter um sorriso no rosto  para disparar em quem cruzar meu caminho, por mais que certas vezes seja difícil mantê-lo.

Não sou inerte ao que acontece a meu redor, não me armo com um sorriso e ignoro o mundo a minha volta, até gostaria de sê-lo mas não o sou. Por isso fico triste quando vejo pessoas que já de manhã estão sisudas ou parecem chateadas. Sei que cada um tem sua vida, e seus motivos, não pretendo ter a prepotência de achar que meus problemas são maiores do que os de ninguém, mas custa tentar ao menos manter o mínimo de humor, e às vezes educação? Tantos que dormem e não mais acordam, tantos não têm a oportunidade de ter saúde, pelo menos o suficiente para estar de pé. Custa um pouco que seja de gratidão por isso?

Há anos, uma amiga me disse que sou como uma "esponja" que absorve a "energia do ambiente" em que estou. Se o ambiente está alegre, as pessoas sorrindo e de bom humor, fico bem, se as pessoas perto de mim estão carrancudas ou de mau humor, isso me incomoda fortemente, me abatendo e deixando triste. Não acredito nisso, pelo menos meu lado racional não consegue acreditar fielmente nisso, por mais que pareça verdade. De toda forma não gosto disso, não me faz bem... Quereria ser inerte.

Inerte como já fui um dia, ou como cria que era. Metódico e indiferente a amigos (ou pseudo-amigos) que iam na mesma velocidade que vinham, principalmente quando nada mais precisavam de mim. Inerte a "vibrações" como aquela amiga chamava. No fim, parecia uma infância feliz quando assim eu era. Ou parecia ser...

Li um texto que diz que "pessoas inteligentes tem poucos amigos" (Leia aqui), não por serem anti-sociais, mas pela menor necessidade de interação social. Será que fora inteligente e não sou mais? A mim soa como piada minha própria questão. Não entendo suficientemente do assunto para concordar ou discordar da pesquisa/estudo, mas também não é sobre isso que estou escrevendo. Considero que tenho poucos, mas fiéis amigos, que mesmo ficando algum tempo sem ver ou falar, a relação não muda em nada.

O que me afeta, o que me deixa triste é meu esforço, mesmo em momentos difíceis, (de cansaço, dor ou mau humor) de não transparecer e deixar que afete a outros. Simplesmente tento manter um sorriso, uma palavra de otimismo e tratar bem as pessoas a meu redor. Me esforço e não vejo fazerem o mesmo. Não vejo a gratidão nos olhos das pessoas por estarem vivas e bem para estarem de pé, ao menos.

"Não vou me deixar embrutecer
 Eu acredito nos meus ideais
 Podem até maltratar meu coração
 Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar!" (Um dia Perfeito-Legião Urbana)

Não me deixarei embrutecer, por mais que seja o caminho mais fácil. Vivo a utopia que o mundo um dia vai aprender que pequenos gestos do dia a dia, mesmo que na base do esforço próprio, podem fazer dias melhores e um mundo melhor...



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Reflexão sobre o tempo

Esse texto que trago hoje, é uma história contada pelo Padre Fábio de Melo, scj, que acabou fazendo parte de uma das faixas do álbum Eu e o tempo. Um belo texto e uma bela reflexão, que compartilho com vocês hoje.



"Eu vivo nesse embate constante com o tempo. 

Eu me recordo que numa das noites em que eu mais pude aprender sobre o tempo, foi uma oportunidade que tive de passar uma noite com um amigo meu que estava doente. Numa fase terminal de câncer. Eu tinha ido para ali para ser útil aquela noite, cuidar dele. 

Eu me recordo que no meio da noite eu acordei com o choro dele, no meio daquele escuro. Aí fiquei assustado, e perguntei pra ele né: Robinho aconteceu alguma coisa? 

Ele me disse assim: Não! É que eu estou com um pouco de dor, já tomei o remédio. 

Aí estabeleceu-se aquele silêncio. Eu fiquei extremamente desconsertado, que na verdade eu estava ali pra cuidar dele. E eu acho que ele percebeu meu desconserto, e ele me disse assim: Meu amigo! Não se preocupe não, hoje só de saber que você está aqui dentro deste quarto, já torna minha vida um pouco mais feliz. 

Naquele momento eu experimentei o que não é do tempo. 

Porque o tempo é esta força que nos envelhece, que nos entristece, que nos mata, que nos leva embora, que nos distancia. E naquele momento eu experimentei a ausência do tempo, quando você pode ser inútil, quando você tem o direito de ser inútil para alguém, não fez o que deveria ser feito, mas o que me importa é que você está aqui do meu lado. 

Tão lindo, minha gente, quando na vida temos a oportunidade de criar essa brecha no tempo, quando nós conseguimos aliviar a nossa vida, a nossa existência a partir do amor que a gente ama, e os amantes sabem muito bem disso, quer fazer esquecer o tempo? AME! 

Por isso eu dizia aqui no início: Ele sacerdote das razões humanas – o tempo, eu sacerdote das divinas causas, que numa madrugada eu aprendi o verdadeiro significado do amor. Que concebe qualquer forma de inutilidade, não há problema. 

O importante é o que significamos um para o outro. Isso é amar. Obrigado! Obrigado por me fazer neste tempo de hoje, mais uma vez recordar, viver, que mais uma vez eu venci o tempo com a liturgia que o amor proporciona."

Padre Fábio de Melo, scj


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Análise: Um Dia Perfeito

Hoje trago minha análise de mais uma música do Legião Urbana: Um dia Perfeito.





Não sei dizer o que senti quando ouvi essa música pela primeira vez. Sua melodia tranquila, transmitindo uma paz serena, inicialmente me fez pensar no que passou pela cabeça de quem a compôs... Mas no fim isso é o que menos importa, não acha? Não sei o que quiseram expor, mas sei o que recebi, o que senti...

Quase morri
Há menos de trinta e duas horas atrás
Hoje a gente fica na varanda
Um dia perfeito com as crianças

"Quase morri / Há menos de trinta e duas horas atrás(...)". Esse é nosso dia a dia. Todo dia quase morremos, e nesse medo de "quase morrer", acabamos quase vivendo. Mas se ontem a vida nos castigou, hoje temos um dia mais tranquilo, mais sereno. "Não nos dão uma cruz que não possamos carregar". Passamos por dificuldades, apertos, tristezas, mas também temos nossos momentos de paz.

São as pequenas coisas que valem mais
É tão bom estarmos juntos
E tão simples: Dia perfeito

A grande mística da vida: São as pequenas coisas que valem mais. Tanta busca por querer mais, ganhar mais, tentar ser melhor nisso, naquilo, tanta ambição. Não é ruim querer o melhor, mas se nessa busca, certas vezes insana, deixamos de viver, de aproveitar o que temos, aproveitar as coisas simples que dão tanta satisfação, do que adianta? Acabamos por estar vivos para conquistar e nunca aproveitar o que conquistou, o que se tem de maior valor: estar vivo, estar ao lado de quem se gosta e que gosta de si. Algo tão simples para um dia perfeito...

Corre, corre, corre
Que vai chover!
Olha a chuva!

Esse trecho me lembra coisas simples de infância: brincar na calçada e de dentro de casa gritarem: "Vem pra dentro, que vai chover!" E que criança que não gosta de correr na chuva? Ou algo mais: Correr para tirar a roupa do varal antes que chova. Olha a chuva!

Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar!

Terminando com algo para se pensar: Não se deixar embrutecer. As situações da vida que nos castigam, fazem-nos perder aquela inocência e confiança pueril. É triste que acabemos por embrutecer nosso coração, e igualmente triste isso ser quase que necessário para conseguir sobreviver no mundo atual. Mas é preciso manter um pouco de fé em dias melhores, precisamos acreditar nos nossos ideais, convicções, acreditar em nossa essência boa, mesmo que diante de situações e pessoas nem tão boas. Maltratarão nossos corações, sofreremos. Sim, podem até maltratar, mas o nosso espírito, nossa fé em Deus, nossa fé no que é certo, ninguém vai conseguir quebrar. Se cada um não se deixar influenciar pelo caminho errado, pelo mal que há no mundo, as coisas podem começar a mudar. Não é fácil resistir, remar contra a corrente do que parece mais fácil e cômodo. Porém podemos engrossar a corrente oposta, do bem e da paz. Podem maltratar nosso coração, que nosso espírito ninguém conseguirá quebrar.


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Uma manhã

Mais uma manhã começa, e o despertador é cruel. O desligo e paro alguns segundos tentando recordar o que estava sonhando. Já se esvaiu, não me lembro.

Levanto com cuidado para não acordá-la. Ela merece dormir mais um pouco. A olho com ternura e fico tentado a dar-lhe um beijo de bom dia. Mando de longe e sem som para não despertá-la.

Começo minha rotina matinal lenta: higiene, remédios, um pão (árabe ou de forma), um pouco de tv. Gosto de ver um pouco pela manhã, desde que seja algo que me faça rir um pouco e começar o dia bem. Escovo os dente, troco de roupa e desço.

Inicio a minha caminhada matinal, em geral são de dez a quinze minutos até o metrô, tempo que uso para orar, quase sempre começo um terço que só termino já no meio da viagem. Mas hoje quero fazer diferente, caminhar sem pressa, nem que leve vinte ou até trinta minutos.

Deixo a mente fluir para longe, mais longe do que qualquer pensamento. Um enorme branco inunda minha mente e uma paz o meu ser. Já não sinto meu corpo, que parece flutuar no ar. De súbito uma forte dor toma conta de meu corpo, mas da mesma maneira que veio parece se dissolver naquele mar de paz.

Abro os olhos e enxergo pessoas que não conheço falando comigo como se conhecidos fossem. Um lugar totalmente desconhecido e as pessoas insistindo em falar comigo. Olho nos olhos de uma delas e digo: Desculpe, não te conheço. Ela me olha assustada e repito: Desculpe, eu não te conheço!


Em prantos ela se vai e os demais me olham com cara assustada. "Por que do susto? Não conheço a nenhum de vocês!" - digo. E um a um vão indo embora, através de uma porta que não consigo enxergar. Bem ao longe enxergo o último deles indo e tento segui-lo. Não sei porque, mas sinto precisar sair daquele lugar, por mais tranquilo e pacífico que seja.

Ando, mas parece não haver saída, parece que caminho por horas e horas, e apesar disso não estou cansado, me sinto cada vez mais disposto.

De repente o cenário parece que está mudando, vejo o que parece ser uma porta com vidro, coloco a mão nela, mas não há como abrir. Mesmo parado sinto meu corpo se mexendo, mas permaneço ali parado com as mãos na porta. Ela se abre e atrás de mim aparece uma multidão. Dou um passo e me vejo na estação que sempre desço para ir trabalhar. As pessoas passam por mim e eu apenas as observo, sem saber como cheguei até ali.

Caminho até o trabalho, pensando no que aconteceu, sem encontrar resposta. No trabalho, sento em "minha cadeira" e olho meu celular. Um "Bom dia"  com um emoticon me mostra que nada mais importa.

Nada mesmo

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

My Way

Essa bela música que trago hoje já foi interpretada por diversos gênios da musica, dentre eles, o grande Frank Sinatra.




My Way (Claude François/Jacques Revaux/Paul Anka) é o título em inglês da canção francesa Comme d'habitude, que foi lançada pela primeira vez pelo autor, Claude François, em 1967, na França. Em 1968, Frank Sinatra lançou sua versão em língua inglesa, adaptada por Paul Anka e que virou um de seus maiores clássicos. É uma das músicas populares mais gravadas da história.

A versão em inglês manteve somente a melodia, pois o texto é completamente diferente da versão francesa original. A versão inglesa em resumo, conta a história de um único homem que tem a convicção de ter "trilhado seu caminho" conforme sua própria vontade após uma longa vida.

Essa música me faz pensar... E em poucos minutos, prestando atenção na letra, já sinto como se fossem minhas as palavras...

E agora o fim está próximo
Então eu encaro a cortina final
Meu amigo, Eu vou falar claro
Eu irei expor meu caso do qual tenho certeza

Eu vivi uma vida por inteiro
Eu viajei por cada e em todas as estradas
Oh, mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Arrependimentos, eu tive alguns
Mas então, tão poucos para mencionar
Eu fiz, o que eu tinha que fazer
E eu vi tudo, sem exceção

Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, ao longo da estrada
Oh, mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Sim
Teve horas
Eu tenho certeza de que você sabe
Quando eu mordi mais que eu podia mastigar

Mas, entretanto, quando havia dúvidas
Eu engoli e cuspi fora
Eu encarei tudo isso e continuei altivo
E fiz do meu jeito

Eu amei, eu sorri e chorei
Tive minhas falhas, minha parte de derrotas
E agora como as lágrimas descem
Eu acho tudo tão divertido

De pensar que eu fiz tudo
E talvez eu diga, não de uma maneira tímida
Oh não, não eu
Eu fiz do meu jeito

E o que é um homem, senão o que ele tem
Se não ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguem que se ajoelha

Os registros mostram
Que eu recebi as desgraças
E fiz do meu jeito

Sim, esse era meu jeito

Vivemos e um dia sentimos que estamos perto do grande fim do espetáculo da vida... Mas como foi que vivi? O que fiz? Como fiz... e por quê?

Ah sim! Vivi a vida, percorri caminhos, experimentei sensações. Arrisquei, acertei, errei, me arrependi, mas segui em frente, não me paralisei diante da tristeza dos erros, nem da euforia dos acertos. Fiz o que tinha de ser feito, mesmo quando não me era favorável ou agradável. Tentei ser mais do que podia, foi um risco, eu sei, mas senti que era preciso. Aprendi com meus erros, tive que engolir alguns, mas outros cuspi, e segui adiante.

Amei. Chorei e sorri com isso. Tive culpa nas derrotas, mas se antes chorei de culpa e tristeza, hoje, sorrio em meio as lágrimas, porque foi divertido. Foi vida vivida. Não, caro amigo, não, caro leitor. Não fiz de tudo. Talvez você ache que o que fiz foi tão pouco perto do que muitos fazem. Talvez aches que tanta gente vive mais intensamente, tem uma vida mais divertida, mais agitada. Mas eu vivi a minha vida, do meu jeito, da minha forma de ser. Se é tímida perto de tantos aventureiros, não tem importância. Vivi do meu jeito, da minha forma de ser, que nõ precisa ser igual a de ninguém.

"(...)E o que é um homem, senão o que ele tem / Se não ele mesmo, então ele não tem nada (...)". Tentar ser quem não é para parecer ser mais divertido, para parecer ser melhor para os outros... Se não se está de bem consigo mesmo, nada, nem a vida, tem validade. Se não é sincero consigo mesmo, passa-se a ser um arremedo de si mesmo, um escravo das palavras e vontade dos outros.

Tive tristezas e alegrias. Emoções do meu jeito, Eu fiz do meu jeito. "I did my way", Fiz o meu caminho.

Embalado na emoção dessa música, deixo mais um vídeo para vocês: Pavarotti, Carreras e Placido Domingo, em 1994, cantando My Way, e emocionando o próprio Frank Sinatra que estava na platéia assistindo.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

Cinzas no campo de batalha

Manhã chuvosa. O ar úmido entrava pelas narinas e de certa forma eu já sentia que algo acontecia, mas não quis me preocupar com algo desconhecido. Em algumas horas o sol saiu dentre as nuvens e tudo parecia melhorar pouco a pouco, sob minha ignorância absoluta do que acontecia em outro extremo da cidade. Ou de outra cidade, outro país, eu já nem sabia ao certo onde. O fato é que a notícia caiu sobre mim como uma bomba, trazida por alguém que nunca fizera parte de meus dias, mas que viera como portador intrometido de tão más notícias.

Ainda assustado com a forma ríspida que uma série de palavras desnecessárias e sem fundamento, me foram ditas por esse portador intrometido, em minha mente enxerguei toda a cena: Em alguma parte do universo jazia o anjo. 

Suas asas, que tantas vezes o levaram para longe e possibilitaram seu retorno, desintegraram como se o calor do próprio universo o queimasse. Suas cascas, tantas usadas ao longo de décadas, manifestando-se em lugares e ocasiões diferentes, esfacelaram como se de areia fossem. Desapareceu e nem mais sua aura se sente.

Não foi morto. Quis morrer, quis partir para não mais voltar. Eu, que o vira em tantas frentes, em tantas batalhas longevas, agora olho e vejo escudo e espada ao chão. Seu elmo está vazio, perdeu todo o fulgor de outrora, seu brilho que me inspirava a seguir. Seguir... Não é fácil, não depois da enorme pancada que recebi, mesmo antes de sua morte. 

Sinto uma forte dor no lado, e quando olho vejo sua velha lança cravada junto a meu peito. Em meio a cena de caos não sentira quando ela transpassara meu corpo. Fui atingido com a precisão milimétrica que só meu amigo anjo tinha: preciso e profundo o suficiente para ferir sem matar. E agora morrer, não como pessoa que de fato nunca fora para mim, mas como anjo, que sempre me ajudara em todas as batalhas. Me ferindo, morreu em mim, não para mim, e sabia disso. Sucumbiu sem agonizar, sem derramar uma só gota de sangue, desfez-se como se fosse em brasa, no calor de um dia chuvoso.

"(...)O sândalo perfuma o machado que o feriu(...)¹". Da mesma forma dentro de mim, guardo a lembrança dos bons dias e aprendizados. Guardo o perdão que nunca poderei pedir, e o perdão que nunca poderei dar. Se foi o anjo, se foi o companheiro de guerras, batalhas, derrotas e conquistas, mas ao contrário da música, da qual extraí esse verso, não fiquei em mil pedaços, segui e seguirei em frente. A ferida cicatriza, a marca fica, mas eu sigo adiante. Sempre.

Seu elmo, espada e escudo ficarão no campo de batalha, como testemunho de dias gloriosos, que não mais voltarão. Outros virão, continuarei combatendo o bom combate, agora solo, porque assim deve ser. Só assim poderei valorar os dois extremos: vida, minha vida, e morte, seu fim desejado.

Que assim seja




1 Mil Pedaços - Legião Urbana

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Maturidade da perda...

Hoje, 20/7/2016, completam 18 anos da morte de meu avô materno. Não, não foi meu primeiro "contato com a morte", quatro anos antes sua esposa, minha avó, falecera, e fora um choque grande para mim, que mesmo sabendo da doença dela ainda não me dera conta da mortalidade das pessoas que eu gostava. Chorara muito quando minha avó morrera sem ter noção do que sentia, vira meu avô chorar entre pedidos de ir também. Não fora fácil.

Naquela manhã de segunda-feira, quando meu avô se fora, tudo foi um pouco diferente. Na noite anterior o médico viera vê-lo, lhe prescrevera um calmante para que ele dormisse melhor e prometera voltar em alguns dias para vê-lo. Realmente ele dormira bem melhor, o suficiente para não despertar mais. Olhos fechados, expressão indolor e serena. Apenas dormira e acordara junto a Deus.

Enquanto isso eu também dormia e fora acordado, em meu horário habitual para ir para o colégio, de uma maneira nada habitual: minha mãe me acordou dizendo que eu não iria ao colégio pois meu avô havia morrido. Nem me dei tempo para pensar, levantei e disse que iria sim ao colégio.

Postura errada? Não sei, só sei que a ficha foi caindo durante o café-da-manhã e e junto as primeiras lágrimas. Mesmo assim, fui ao colégio, ao contrário dos dias habituais não fui de ônibus, meu pai me levou de carro. Tentei levar meu dia normalmente, por mais difícil que fosse e voltei para casa. Vazia. Todos haviam ido ao enterro. Assim como acontecera quando minha avó faleceu, eu não fora. Mas dessa vez, a sensação ali fora diferente.

Quatro anos antes, eu ligara a TV e fora fazer um bolo. Por que? Porque isso me lembrava minha infância quando na casa de minha avó: eu na sala brincando e vendo TV enquanto ela fazia um bolo para o lanche. Bolo, assim como todos os domingos que íamos visitá-la, ela fazia e que eu nunca conseguira repetir tal sabor.

Dessa vez nada eu precisaria para lembrar de meu avô, pois nos últimos quatro anos ele morara com a gente, dormira em meu quarto, sentara naquele mesmo sofá que ali na sala estava. E até a noite passada ele ali estivera. Ao contrário do que eu mesmo imaginara, não chorei naquela tarde, nem mais por sua ausência física, mesmo tudo ali ainda me lembrando dele. Fiz minhas atividades de colégio e curso técnico, sem nada mais pensar. Ao entrar no quarto onde ele dormia, e dormira para sempre, parecia-me ainda sentir que ele estava ali, descansando depois de almoçar. Não consegui olhar para a cama, mas se olhasse possivelmente ainda o veria tamanha sensação de sua presença.

Não fui o melhor neto do mundo, nem tentei sê-lo, nem pensava nisso. Mas pela diferença de idade para meu primo que nascera apenas três anos antes da partida dele, sou o único que me recordo bem, e tenho em mim mais dele do que os 25% que garantem a genética. Tenho o que vi, ouvi, aprendi e vivenciei. Acertos, erros e histórias de alguém que viveu em outros tempos e lugares de forma sincera com seus princípios e convicções.

E hoje, 18 anos depois de sua partida, deixo minha lembrança e prece para que junto a Deus possa interceder por nós, entre uma prosa e outra com os amigos do céu, onde com certeza está contando suas trovas e histórias, próprias, de Bocage e dos inúmeros livros que leu em seus 91 anos de vida, bem vividos.

Nos espere, vô, junto a todos os "nossos" que aí já estão. Mas nos esperem pacientemente, sem pressa, ou alarde. Ainda temos por aqui muitas histórias para viver e podê-las contar para vocês aí no Céu.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Um torneio, uma nação

No último domingo, 10/7/2016, foi a final da Eurocopa. E como já venho fazendo desde que a televisão pro aqui resolveu transmitir o torneio, assisti não apenas a final, mas os jogos que me foram possíveis assistir.

Virou algo como um hábito para mim, a cada quatro anos, enquanto muitos esperam as olimpíadas, eu aguardo ansioso pela Eurocopa, a meu ver muito melhor que a bienal Copa América. Em geral não tenho nenhuma torcida, além de ver sempre um bom futebol, e se tratando de Eurocopa, isso é praticamente garantido. Claro que em todas edições, minha torcida sempre foi pelos lusitanos, mas excluindo a edição realizada em Portugal (2004), nunca conseguiam ir muito longe, e pela qualidade conhecida das outras seleções, uma vitória era algo muito improvável. Até esse ano...

Lembro-me de doze anos atrás, a seleção portuguesa talvez com a melhor formação desde a década de 60. Jogadores como Luís Figo, Maniche, Ricardo Carvalho, Costinha, Deco e o ainda garoto Cristiano Ronaldo. Uma baita seleção, com um baita goleiro: Ricardo, o qual protagonizou uma cena inesquecível: nas quartas de final, decisão por pênaltis contra Inglaterra, o goleiro foi bater o último pênalti, fez o gol, e voltou para a meta para tentar defender o chute inglês. Olhou para a cara do batedor, tirou as luvas e defendeu.

A final daquele ano, Portugal jogando em casa, com um time muito melhor que o adversário, a Grécia. Aos doze minutos do segundo tempo, naquela tarde de primeiro de julho de 2004, os gregos conseguem um gol e se fecham na defesa. E os portugueses perdem a chance de ganhar a Euro em pleno Estádio da Luz, depois de ter eliminado Inglaterra e Holanda. E o jovem Ronaldo chora e é consolado pelo experiente Figo, já em fim de carreira.

Doze anos depois, Portugal chega a mais uma final de Euro, contra a França, na França. Aquele jovem que chorou a derrota agora lidera a equipe, mais fraca tecnicamente, mas aguerrida, que aos poucos conseguiu chegar até ali, com 3 empates na primeira fase, depois com gol na prorrogação nas oitavas de final, passando nos pênaltis contra a Polônia a seguir, e ganhando no tempo normal apenas do estreante Pais de Gales de Gareth Bale na semi.

De um lado, Portugal que já fora longe e acreditava que com muita sorte e um lampejo de seu craque (CR7) conseguiria algo. Do outro os donos da casa, confiantes que ganhariam.

Aos 8 minutos o craque português toma uma pancada no joelho. Por duas vezes sai de campo e retorna, ele quer jogar, quer ajudar a conquistar o título que lhe falta, o primeiro e talvez único pela seleção. Mas não aguenta e aos 20 minutos sai chorando de maca. Chance maior para os franceses que agora não precisariam se preocupar com o craque. Acreditavam que ganhariam o jogo mais fácil ainda. E tentaram... Por mais de 90 minutos tentaram sem sucesso fazer um gol. E foram para a prorrogação, já sentindo a obrigação de ganhar por jogar em casa... E durante mais 15 minutos nada de gol. Os portugueses começam a acreditar em um gol, nada têm a perder e partem para cima, apoiados por seu craque que agora do banco de reserva passa instruções como se técnico fosse, e torce como torcedor que é.

Tanto tentam que aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação, Éder, reserva que entrara no finalzinho do tempo normal, acerta um chute de fora da área e o goleiro francês não alcança. Festa e incredulidade... Agora só precisavam segurar mais dez minutos. Para quem aguentara a pressão francesa durante 110 minutos, aquilo seria fácil diante da desesperada equipe francesa.

Fim de jogo, e agora o jovem de 2004, que se tornara o líder daquela equipe, novamente chora, agora de alegria com o título inédito de sua seleção, o título para seu povo que há tanto esperava.

Para os franceses, restam as medalhas de prata, e a artilharia de Griezmann. Tenho certeza que ele trocaria a artilharia com seus seis gols, pelo único gol que importou na final: o único gol de Éder no torneio.

Parabéns aos portugueses natos e àqueles que, assim como eu, escolheram ser também parte desse povo lutador, agora campeão europeu de futebol. Somos campeões!



quarta-feira, 6 de julho de 2016

A ti leitor

Bom dia. Boa tarde. Boa noite.

Nunca sei ao certo quando você lê isso, a que horas lê ou mesmo porque lê. Gostaria até de saber, mas você sempre passa por aqui, lê, marca o +1 e nada mais escreve, comenta ou diz.

Mesmo sem saber quem és, ou porque estás passando por aqui fico feliz com tua visita. Você torna o hábito de escrever um pouco menos egoísta que simplesmente escrever porque quero ou por me fazer bem. Escrevo também porque alguém lê, mesmo que nunca saiba quem é.

Neste espaço, compartilho um pouco de mi, seja por opiniões, pensamentos, histórias, ou simples relatos de situações fictícias ou não. E muitas vezes escrevo por ti, para ti, e acho que no fundo você sabe disso, pois sempre retorna para ler e dar seu +1. Por isso, e por leres, quero escrever hoje, primeiro agradecendo os minutos dedicados a "essas mal traçadas linhas", depois para pedir desculpas.

Sim, desculpas. Sei que mesmo inconscientemente você espera mais de mim. Na verdade sempre esperou, mesmo que nunca tenha confessado isso. Talvez em alguns de meus escritos, eu tenha prometido um mundo de sonhos que não pude corresponder a contento com o passar do tempo. Peço que entenda, sou humano, tenho altos e baixos como qualquer um. Não sou perfeito e nem quero sê-lo de fato. Quero continuar errando e acertando, buscando sempre deixar essa "balança" positiva para o lado dos acertos, mas às vezes tropeço no meio do caminho, por ainda estar aprendendo.

Um dia esse aprendizado acabará e assim estarei pronto para próxima etapa. Aí estarei pronto para partir desse mundo em busca do desconhecido. Até lá continuaremos com esse nosso relacionamento meio às cegas onde você me conhece, sabe quem sou e eu de cá nunca sei. Mas isso não torna meu sentimento por ti menor.

Mesmo que nunca te veja, mesmo que nunca saiba quem és, sua existência é razão deste espaço existir. Agradeço o carinho e zelo por este, que não é poeta, nem mesmo um grande escritor, mas que aqui deixa uma parte de si.

Muito obrigado.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Cansado ou refém

Estou cansado. Cansado de não ter controle sobre meus próprios passos, sobre o que posso ou não fazer, o que posso ou não comer, onde posso ou não ir.

Não, não há ninguém que me impeça... Além de eu mesmo, de minhas limitações que aos poucos fui adquirindo, de forma que a cada passo levemente diverso, já devo esperar as consequências.E elas chegam mesmo quando não espero, quando não imagino que possam vir.

Estou cansado. Cansado do mundo e daqueles que acham ser de menor valia a dor alheia, de achar que tudo varia de acordo com a sensibilidade da dor para cada um. Sei o tamanho da dor, sei o tamanho do incômodo, e essa não varia de acordo com uma "sensibilidade maior" a dor que eu tenha ou não.

Estou cansado de opiniões do tipo: "isso é psicológico", "toma um calmante que ajuda", "você se aborrece muito?". Estou cansado de não compreenderem que algo que tem um fundo ou um simples gatilho emocional é tão sério quanto algo independente do psicossomático. E pode ser ainda mais sério porque não vai melhorar com um simples comprido ou tratamento de curto prazo.

Estou muito, mas muito cansado de ver o quanto eu estava errado. Já fui assim, já fui dessas pessoas que creem que o emocional nada vale para "vida física", para saúde corporal. Já acreditei ser imune a sentimentos, sensações, pensamentos e emoções. Não sou perfeito, sou um ser falho, e essa foi minha primeira grande falha: crer no que não sou. Guardei dentro de mim tantas coisas, querendo parecer o inatingível, o sensato que resolveria os problemas de forma racional, alguém capaz de resolver sua vida sem sentir, antes de pensar em emoções.

Hoje sou refém do que me tornei, após anos e décadas de contenções e poucas "explosões": alguém que alguns acham anti-social, outros contido emocionalmente, mas nada mais que um refém, não das emoções já não tão contidas (nem tão explicitas também), mas do meu próprio corpo e limitações. Refém do que como, sapiente que mesmo que nunca varia um só alimento, posso ter dias bem ruins. Variar um simples tempero pode vir a ser algo temerário e de arrependimento. Refém de tentar não me abalar nem mesmo nos dias ruins, pois isso pode ser um gatilho para disparar algo muito pior.

Refém de emoções e porções... Enquanto o mundo, ou quase todo mundo não consegue entender a real dimensão de tudo isso, a pura incerteza dos dias...

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Os Barcos

"Os Barcos" é uma letra de esperança e de um término de uma relação.


Com uma letra muito simples e interessante de se analisar, a música nos passa uma moral interessante da obsessão pelo próximo e do sofrimento causado pela perda de alguém num relacionamento amoroso.:

Você diz que tudo terminou
Você não quer mais o meu querer
Estamos medindo forças desiguais
Qualquer um pode ver
Que só terminou pra você

O término foi unilateral. Um quer, mas o outro já não quer mais. Renato diz frases interessantes como "estar medindo forças desiguais", no sentido de "estamos tentando mostrar quem é mais forte", mas ele sabe que não é, porque não se conforma com esse fim, porque como ele mesmo diz, qualquer um pode ver, que só terminou pra outra pessoa. Pra ele, esse amor ainda continua e ele sofre com esses sentimentos que ficaram.

São só palavras, texto, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto,um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
Sei o caminho dos barcos

Aqui, é a parte mais poética, dessa letra que é sobretudo uma grande genialidade retratada em música.
Renato compara a vida com um teatro, e sua falsidade de estar bem após esse fim de relacionamento, como um papel paralelo, uma vida alheia que um ator tem.
São palavras e textos as respostas automáticas de "estou bem" e "não sinto falta", e ensaios que fazem cenas quando ele deve dizer essas frases ou realmente fingir que está tudo bem e que não sente falta, a cada ato, ele encena a diferença, o que não é ele, o que não é do seu jeito normal - igual.

Do que é amor, ficou apenas um retrato, assim como seria dito por Adriana Calcanhoto em "Devolva-me". Renato finaliza essa parte dizendo que essa peça (vida) que ele atua (vive) é um improviso insensato e que a saudade que ele está tendo no momento, ele sabe de cor, de tanto que decorou esses momentos, de tanto que viveu essas lágrimas e vazio, pois ele sabe o caminho dos barcos, "o caminho que as coisas levam".

E há muito estou alheio e quem me entende
Recebe o resto exato e tão pequeno
É dor, se há, tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor, se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal, faço cidade
E insisto que é virtude o que é entulho
Baldio é o meu terreno e meu alarde
Eu vejo você se apaixonando outra vez
Eu fico com a saudade e você com outro alguém

Há muito ele se sente alheio de tudo, e após algumas ideias ditas ali, ele diz as seguintes frases: " eu faço da mentira, liberdade" ele se sente livre do outro, quando diz coisas falsas sobre si, complementando que "de qualquer quintal faz cidades", consegue fazer coisas grandes de coisas pequenas, talvez comparando isso aos seus problemas, à suas emoções e aos sentimentos que está vivendo em solidão, silêncio e vazio.

Renato diz ainda que insiste que é VIRTUDE o que é ENTULHO: Ele insiste em dizer que esse amor perdido seria virtude sabendo que isso é entulho. Ele insiste em crer que é bom e construtivo, algo que já foi usado e hoje é lixo. Vê a pessoa se apaixonando por outro e ele sente saudade do que sentiu, de quem achou que seria parte de si e agora é parte de outro. Enquanto ele sofre, ela está com outra pessoa, esquecendo-se dele.

E você diz que tudo terminou
Mas qualquer um pode ver
Só terminou pra você
Só terminou pra você


Tudo terminou, aos quatro ventos foi falado e todos sabem que tudo terminou, mas qualquer um pode notar, que só terminou apenas pra um dos lados. Que o outro lado está em desequilíbrio e total solidão.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Pagliacci...

Este texto é continuação da série:

Texto anterior: http://erranteescritor.blogspot.com.br/2016/06/a-carta.html


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Duas semanas

Volto depois de duas semanas afastado para alegria (ou não) de meus 4 leitores. Eram cinco só que com duas semanas fora um desistiu de acompanhar e não deve voltar mais, mas tudo bem, se alguns se vão, outros podem ser que venham. Ou não.

Pensei em voltar continuando aquela história meio sem pé nem cabeça que estava começando a virar uma série ou história em capítulos. Mas não voltarei com ela hoje não, pode ser que na próxima semana ou de repente na outra. Tudo a seu tempo, na sua devida hora, pelo menos para isso.

Pelo menos para os textos consigo ter esse controle, mesmo que desagrade a algum leitor esporádico. Aqui os tempos são respeitados de acordo com um cronograma bem exato de não ter cronograma algum. Apenas o tempo das palavras que saem, ora como torrentes inundatórias, ora como filetes de um córrego em tempo de seca grave.

É... Difícil crer, mas as palavras têm o controle do tempo melhor do que eu. Elas saem quando precisam, quando sentem que essa é a hora. Houve tempo que as condenei por achar que saíram na hora errada e por isso foram interpretadas erroneamente. Errado estava eu quando as culpei. As palavras sempre foram mais sábias que aparentavam.

E assim as quero: livres para voarem longe, expressarem sentimentos, pensamentos e sensações que não senti, não vivi, não sei, unicamente por aprisioná-las quando queriam ser libertas. Voem como pássaros em busca de um lugar acolhedor para seu ninho. Que nunca precisem voar como anjos para a batalha final.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Mais um dia...

Começa mais um dia e não sinto mais a "diferença de eras". Não olho mais para trás pensando no passado, nem fico vislumbrando o futuro incerto, entre sonhos e devaneios inúteis.

Cumpro minha rotina matinal e saio. Não, hoje não terei trabalho. Alguém, que não foram os trabalhadores, decidiu que hoje devemos parar para pressionar a empresa a nos dar o que ela já daria, mas que por pura política não dará até "ser pressionada" por greves. A mesma ladainha diária, o mesmo todos os anos, passados e futuros. Mesmo assim vou até lá, checo que ninguém entrou nem entrará hoje.

Resolvo caminhar um pouco, feliz pela temperatura ter baixado o suficiente para ficar suportável andar pelas ruas. Os dias quentes ficaram para trás, pelo menos por hora, o que indica ser um bom momento para fazer o que necessário for pelas tumultuadas ruas dos arredores.

Enquanto caminho, meu telefone chama. Sinto sua vibração, mas não atendo. Quando chegar a algum lugar seguro, atenderei ou olharei quem ligou. Maior parte das vezes ou são pessoas que se enganaram ou propaganda de operadoras, querendo me oferecer algum plano mega-ultra-bom, que me fará pagar mais que minha média de cerca de R$ 10,00 por mês. Não vale o risco de sequer esboçar reação de que estou com telefone.

Paro em uma loja, onde quero comprar algumas coisas e lembro do telefone. Quando pego para olhar quem ligou, ele toca novamente. Por que está me ligando? Já não sei precisar a quanto não nos falamos, mas tenho certeza que nada tenho a falar com aquela pessoa. Mesmo assim atendo, não sei bem se por educação ou curiosidade. Do outro lado uma torrente de informações, desde pedidos de desculpas à promessas de dias diferentes, algo que já escutara antes, e mais de uma vez.

Me desligo completamente do que estou ouvindo e minha mente vai ao longe, enxergando possíveis consequências de quaisquer palavras que eu diga. Enxergo como se toda aquela cena tivesse acontecido antes, em cada detalhe. Será que já aconteceu realmente e por algum motivo estou revivendo aquele momento? Ou estou tendo algum surto premonitório estranho?

Enxergo fatos, consequências, consequências de fatos, um emendando no outro sem que cessem ou se atropelem. Já não escuto mais aquela irritante voz chorosa... Será que já a ouvira antes, ou tudo não passa da minha imaginação? Não sei, não faço a mínima ideia, só sei que não há nada de bom no que vejo. Tristeza, destruição, vida de pessoas que ainda nem conheço sendo tristemente ruim. Sim, ainda não conheço, porque a sensação é de que farão parte da minha vida em algum momento, só não sei quando. E o principal naquele momento não me vejo bem, nada bem.

"Ei, você está me ouvindo?" - clama a voz ao telefone. Sim estou ouvindo, pelo menos agora. E tudo que posso dizer é a verdade. Não sei explicar o porque (seria difícil explicar sem parecer louco que enxerguei a consequência de minha resposta), mas não há palavras para um futuro bom que eu possa dizer. As desculpas podem ser aceitas, quem sou eu para condenar alguém, mas de todo o restante nada posso dizer além de "siga teu plano, siga teu rumo".

Sim, fui xingado e caluniado de todas as formas, porém senti-me bem. Foi o certo a se fazer, e no fundo senti que o certo foi adiado inutilmente. Deveras teria sido o dito anos atrás, quando algo similar acontecera, ao tocar o telefone de casa e ludibriado pelas palavras não enxergara como agora.

Ao terminar a chamada, olho para o telefone e vejo que não há qualquer chamada perdida ou recebida. Será que eu que liguei? Não, nenhuma chamada efetuada, nem mesmo aquele número nos contatos. Número? Lembro que o número fora desativado há tempos, tenho certeza disso. O que acabara de acontecer?

Ainda confuso, guardo meu telefone e continuo caminhando dentro da loja. Já não sei mais o que iria comprar ali, e na verdade pouco importa. Apenas tento entender o que se passou naqueles poucos minuto em que fiquei ali, parado com o telefone na mão.

O desenlace mental definitivo. Algo que deveria ter sido feito anos atrás, e agora enxerguei com clareza. Nada depois daquele dia fora significativo, ou tivera base suficiente, apenas desgastante. Mas o enlace mental ficara adormecido desapercebido. E agora rompera-se, anunciando dias melhores. De certa forma sentira isso naquele momento, enquanto caminhava pela minha mente agora passavam-se cenas desconhecidas de erros e acertos, mas coisas novas, erros novos, acertos novos. Uma vida que eu teria pela frente, com menos um peso a carregar.

Não, caro leitor, aquela chamada não acontecera, nem nenhuma outra após aquele dia, porém a mudança estava feita. Se eu já não era mais o mesmo depois daquele fatídico dia, desde o qual comecei a ter esses "estalos", agora tinha certeza que mais algo mudara em mim. Não sinto mais a "diferença das eras".

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Despedida em uma noite fria

Já era noite quando me despedi dela. Um abraço e o costumeiro "se cuida", que para nós sempre foi um até logo. E sempre era, durantes meses, anos e décadas.Convivíamos assim, o que era bom para ambos: sem interesses físicos, materiais ou sentimentais, apenas duas pessoas que conversavam enquanto dividiam o mesmo espaço, nada mais.

Fui caminhando para casa, afinal morava a apenas algumas quadras dali. Sempre caminhara, mesmo podendo atravessar a rua e ir de ônibus ou ainda atravessar a passarela e pegar um metro. Algumas quadras, nada que levasse mais que uma hora, mas era uma hora em que todos os pensamentos se alojavam, tudo que acontecera durante o dia encontrava seu encaixe no "cubículo" pertinente em minha mente.

Entretanto, naquela noite, algo havia de diferente. Aquele "se cuida" que dissemos ficou remoendo em minha mente, se repetindo a cada passo que dava. Um sensação de que aquele até logo mascarado, seria bem longo.

Um vento frio soprou e puxei o capuz do casaco. Havia anos que não fazia frio naquela cidade, muitos anos. Uma noite com 8°C? Não lembrava quando fora a última vez que vi. Precisava apertar o passo, caminhar me aqueceria. Mas dentro de mim, o frio de minha alma é que mais me assolava. A lugubre sensação de que algo aconteceria.

Parado sinal, vejo um carro em alta velocidade, seu farol alto ofusca minha visão por alguns segundos e só ouço-o freiar abruptamente antes do barulho da batida; alguns metros a frente bateu com força no poste. O carro quase destruído, o motorista ileso sai, já falando ao celular ou ainda falando; bem possível que dirigisse falando, por isso batera. Está bem, está vivo. Uma pequena multidão se aglomera para ver o ocorrido. Eu, continuo parado alguns momentos ainda, olhando fixo para a cena já encoberta pelos curiosos. Sei dentro de mim, que um dia ele não escapará. Por alguns segundos enxergo aquele mesmo motorista preso entre as ferragens já sem vida. Mais uma vez, eu vejo algo que ainda não aconteceu.

Retorno a caminhar, ainda estou longe e quanto mais tarde ficar mais deserta a rua ficará, e o perigo aumentará. Em minha mente ainda ecoava a despedida proferida naquela noite: ambas vozes dizendo "Se cuida. Até." Levaria ainda uns quarenta minutos até chegar em casa, então resolvi me concentrar na frase. Teria tempo de sobra para descobrir o porquê de estar tão retumbante em minha cabeça.

Comecei a lembrar de pessoas que há muito não via. Amigos, colegas e passantes que durante algum tempo fizeram parte de minha vida. Gente bacana, outros nem tanto, mas todos com sua importância na minha vida até ali, todos me ajudaram a chegar até aquele ponto de minha trajetória. Senti um vazio por dentro como se naquele momento cada um deles abandonasse meu ser, minhas lembranças; uma retirada coletiva após o reconhecimento do dever cumprido.

Senti-me leve e naquela hora tive a certeza: não voltaria a vê-la, aquela havia sido a despedida. Quem dera soubesse isso antes, mesmo tendo aquela sensação desde o momento em que saímos em direções opostas. Talvez no fundo do meu ser, eu realmente soubesse, o histórico demostrava que assim seria, porém uma parte de mim quereria acreditar que poderia ser diferente.

Naquele momento, diante da certeza que pairava em mim de que pela última vez me despedi daquela pessoa com quem convivi tanto tempo, só gostaria de ter dito mais uma palavra a ela: obrigado.

Nos últimos dez minutos de caminhada naquela noite fria, eu só desejava que aonde estivesse, por onde passasse até o fim de sua vida, ela soubesse o quanto as palavras trocadas ou a falta delas foram importantes. Assim como desejava que cada uma daquelas pessoas de quem me lembrei soubessem o mesmo.

Abri a porta do prédio em que moro, e olho uma última vez para a rua naquela noite fria, e sem perceber sorrio, já com a mente vazia. Hora de seguir adiante, e deixar as boas lembranças para trás, assim como as ruins.Que descanse em paz, sem lágrimas e sem dor.

Aos curiosos que possam querer saber, estava certo quanto a isso: aquele foi o último abraço, as últimas palavras, assim como fora com tantos outros e será com outros mais.